Seus olhos pareciam estar colados um ao outro de tanto cansaço, ela tossiu pela secura na garganta e logo depois um espirro soou alto no quarto quieto. Céus, uma maldita gripe se aproximava. Culpa do tempo indeciso de Seattle. Seu telefone gritava embaixo do travesseiro.
— Alôoo — Sua voz estava completamente amarrotada pelo sono.
— Deus, Dafne. São quase 11hrs da manhã, ainda esta dormindo ? — Vitória e seu militarismo de acordar mais cedo que as galinhas.
Esfregou os olhos algumas vezes, cambaleando pelo chão duro e frio da casa.
No dia anterior havia passado boa parte dos dias procurando construtoras que pudessem reformar sua casa para vendê-la e no fim de
O mundo era um infinito obscuro, uma imensidão de nada, da escuridão e do limbo. Conforme os segundos passavam parecendo horas, no fim do túnel medonho uma luz trepidava, como faíscas no escuro, e a medida que a luz culminava pelas beiradas da escuridão, um cheiro cítrico alcoólico queimava sua narinas como as labaredas de fogo consumidas no inferno.A luz se rompeu, machucando seus olhos e devolvendo o mundo externo, libertando-a de sua própria mente, o subconsciente tenebroso quase intocável de sua mente. Um bip soava em seus ouvidos, com alguns tilintares próximos, próximos demais zunindo como abelhas.— Ela está acordando, chame a enfermeira! — A voz estava surpresa
Havia um bebê dentro de seu corpo, evoluindo, crescendo e se tornando saudável.Não sentia nada de especial, nem um sintoma ou resquício de que uma vida se alimentava dela. Sua última consulta havia dado negativo, como poderia estar grávida depois de um exame de boa precisão ? Não era possível, mas Alaric não era um homem de mentiras. Se ele dissesse que dinossauros andavam sobre a terra, então dinossauros estariam andando sobre a terra, e ele teria razão no final.Seus olhos continuavam a se abrirem à medida que o bip ainda acelerava.— Impossível... o...o...o exame deu negativo, Alaric! — Sussurros, sua voz era apenas sussurros agora. O cheiro do álcool havia ficado um tanto familiar com o passar do tempo no hospital, mas nada comparado ao cheiro de cravo e canela que tinha em sua nova residência temporária.O Apartamento ficava no último andar. A Única coisa que separava sua enorme sala das nuvens do lado de fora, eram paredes de vidro fumê que iam de uma ponta à outra do apartamento, dando uma vista espetacular da cidade de Seattle que Dafne arriscava poder ver até Washington.Era alto.Muito alto.Seria difícil se acostumar, não só com a vista, mas com aquele ambiente.Nem mesmo se economizasse seu salário pelo resto da vida, seria capaz de comprar um im&20
O sol era intenso, e mesmo que os raios causassem certo incômodo com a quentura de meio dia, seus dias já se encontravam nublados a muito tempo e era só questão de tempo até a tempestade começar a ruir.Embora os sintomas derivados escassos, suas visitas ao hospital eram sempre por incentivo de sua mãe ou Cassiel, já que a vida para ele havia se tornado um quadro preto e branco monótono desde a partida de alguém que achou que seria presente por toda sua vida.Não que aqueles que partiram antes se tornaram irrelevantes, mas fora só mais um peso para que afundasse e se encontrasse no fundo do poço, onde muito mal chegava ar e luz.Visto que as crises de ansiedade se tornavam severas, Alaric acabou por se isolar mais do que já havia feito, não era justo com as pessoas que o conheceram a anos atrás conhecessem uma versão desestruturada do que um dia j&aa
Adentrou a casa de sua mãe sem mesmo bater, visto que era apenas ela e faxineira, não havia problemas em chegar de supetão.Amara tinha conhecimento da doença de seu filho e acompanhava cada exame de perto.Depois de um ano de quimioterapia e transfusões de sangue dolorosas deixando marcas já quase invisíveis em seus braços, havia chegado a hora de novos exames que infelizmente para uma mulher relatavam seu maior pesadelo, mas para Alaric, seria seu descanso eterno, paz pela primeira vez em muito tempo.Chegou na cozinha espaçosa com Cassiel que vinha logo atrás.Não saberia a reação de Amara ao dar a notícia, então qualquer ajuda seria bem vinda caso precisasse ampará-la, afinal, sua mãe não era mais uma adolescente.A chamou aguardando que ela descesse, bateu os dedos na mármore de forma insistente e sabia que sua começava
Jurava que seu pai não tinha tanta coisa, mas depois que encher o quarto com caixas lotadas de roupa e outras coisas, teve que mudar de ideia.O cheiro peculiar de alecrim de seu pai era inconfundível, o quarto estava dominado.Já era quase dez horas da manhã, não havia ido trabalhar já que se encontrava de luto pelo falecimento do patriarca.Mesmo que viver fosse necessário, Dafne não queria.Algo a instigava a se deitar no chão em meio a tantas roupas, fotos e chorar lembrando de cada uma das lições que seu pai sempre havia passado com maestria.Abandonado por sua mãe logo após o nascimento de Elain, Blake criou as duas da melhor forma que pode, tendo ajudado a mais velha a se formar em Filosofia enquanto Elain só o dava desgosto depois de ter largado o ensino médio assim que descobriram a doença de seu pai.Nunca houve visto o pai se bene
— E você aceitou ? — Cassiel definitivamente estava surpreso, e isso não era algo que Alaric conseguia com facilidade.O Rowen esfregou os olhos ainda cansado pela manhã, apoiando o cotovelo na mesa de mármore dando pequenos goles no copo de café que já estava quase no final.— E o que mais eu diria pra ela ? — Indagou olhando os carros que aguardavam no sinal do outro lado da rua — "Não mãe, você vai ficar sozinha porque eu sou egoista".As tentativas de Alaric de ser irônico sempre se tornavam cômicas.— Acha que ainda vai dar certo mesmo depois das quimioterapias… — Seu melhor amigo, senta
(...)O sol estava quente e Dafne atrasada. Seu telefone só dava desligado e ele não fazia o tipo de pessoa que insistia ligando o tempo inteiro, atraso não era do feitio dela. Teria levantado para bater em retirada, se a inconfundível cabeleira negra presa em um coque não tivesse surgido em meio a multidão na calçada do outro lado da rua.O sorriso inevitável da morena toda vez que o via estava ausente agora, Cassiel não julgava, ela havia acabado de perder o pai. Mas ainda sim, ele sabia que a confortava com sua companhia, afinal, eram amigos há tantos anos.&nbs