Aquela conversa foi reveladora. Harvey abriu os meus olhos, e ele tinha razão. Estava na hora de parar de ter medo. Eu sempre usei o medo e a fuga como uma capa de proteção, uma forma de evitar que o mundo me atingisse de novo. Enquanto me escondesse, ninguém poderia me machucar. Ninguém iria me usar como antes. Mas eu precisava deixar o passado onde ele pertencia. Ou melhor, precisava deixar os medos no passado. Era óbvio que tudo o que vivi me moldou e me trouxe até aqui. Mas agora eu já era adulta. Já tinha conquistado tanto. E não podia, simplesmente, perder tudo o que construí tão rapidamente.Este era Harvey na minha vida. Ele chegou para mudar completamente o conceito que eu acreditava ter. Ele protegia as minhas barreiras, mesmo que, de algum jeito, tivesse sido ele a derrubá-las. E o mais estranho é que não sei exatamente quando isso aconteceu. Quando foi que me apaixonei por ele? Tudo o que sei é que entrei naquele elevador, ficamos presos... e essa foi a melhor c
Voltei a andar no meio da calçada, minhas passadas firmes como se pudessem esmagar a indignação que crescia dentro de mim. Cruzei os braços, tentando manter o controle enquanto o calor subia pelo meu pescoço, fazendo meu rosto arder de raiva. De todas as pessoas do mundo, ela escolheu logo aquele homem. Não era como se ela não soubesse quem ele era — Adam, o mesmo Adam que eu passei os últimos anos reclamando, o mesmo que eu odiava com cada fibra do meu ser. Eu contei para ela, detalhadamente, cada provocação, cada vez que ele roubou uma ideia minha, cada promoção que ele me tirou das mãos.E agora... agora eu simplesmente a vejo, confortável, no sofá com ele. Não, não pode ser. Eu ainda estava em descrença, como se meu cérebro estivesse se recusando a aceitar o que meus olhos testemunharam. Isso não podia ser real. Eu devo estar sonhando. Não, pior. Isso é um pesadelo. Um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.— Certo. Vamos tentar ficar calmos — falou Harvey
Ao voltar para casa, Harvey vinha atrás de mim, como um guarda-costas, me ajudando a subir os degraus da minha própria casa. Cada passo era uma luta, e enquanto eu subia, as lembranças voltavam à minha mente, aquelas que eu desejava apagar. Preferiria estar fazendo isso com qualquer outra pessoa no mundo. Qualquer um com quem eu tivesse ensaiado uma noite ou duas. Mas não Adam.Ele tocou a campainha, um gesto que eu deveria ter feito na primeira vez. Mas, como aquele lugar também era minha moradia, jamais imaginei que teria que tocar para entrar. Quando a porta se abriu, lá estava ela. Sua pele, suave e bronzeada, os cabelos bagunçados, mas desta vez presos no topo da cabeça. Graças a Deus, estava vestida.Eu a encarei, sentindo a raiva fervendo dentro de mim, um incêndio que poderia explodir apenas com o peso dos meus olhos. As memórias daquela noite tumultuada ainda estavam frescas, e a presença dela ali, tão tranquila, me incomodava mais do que eu queria admitir
SamantaHoje acordei cedo e saí de casa antes que Hope conseguisse acordar. Bem, ela nunca dormia até muito tarde, o que significava que eu realmente havia levantado cedo demais. Ainda não tinha processado tudo o que aconteceu na noite passada, e a ideia de olhar para o rosto dela só me trazia de volta todos aqueles sentimentos confusos. Passei as primeiras horas da manhã vagando pelo parque, com a cabeça cheia, incapaz de focar em uma única coisa. Minha possível mãe, Adam, o emprego, Harvey, a empresa... era como se tudo se misturasse, um turbilhão que fazia meu peito palpitar de ansiedade. A sensação de que eu estava prestes a explodir me acompanhava a cada passo.Coloquei meus fones de ouvido, tentando focar na música. Talvez isso ajudasse. Quando finalmente olhei as horas, percebi que era hora de pegar o metrô. Caminhei até a estação mais pró
Peguei o braço de Harvey com firmeza, arrastando-o para fora enquanto Adam ficava para trás, ainda pálido e assustado com o que eu havia acabado de fazer. Aquela minha nova postura estava gerando caos, mas eu não poderia descansar antes de colocar tudo a limpo. Harvey seria o próximo. Ele adorava agir pelas minhas costas, e eu estava decidida a descobrir a verdade.— O que você está fazendo? — ele perguntou, sendo puxado comigo para o elevador, a confusão visível em seu rosto. Eu não respondi, e ele insistiu, tentando me alcançar com o olhar. — Samanta, o que está fazendo? O que aconteceu lá dentro?Vi o elevador se abrindo novamente. Duas pessoas saíram, mas ao nos verem, especialmente em meu estado, hesitaram. A tensão no ar era palpável, como se soubessem que algo pessoal estava para acontecer ali. Apertei o botão para fechar as por
Samanta mudou completamente quando Emma chegou. Sentiu-se nervosa, perdendo toda a postura de durona de antes.Harvey soltou um sorriso abafado, que a fez dar uma cotovelada nela, que gemeu baixinho. Não havia o machucado, só chamou atenção para ele não dizer uma palavra se quer.Ela ainda processava a informação de que ele a vigiava, como um namorado obsessivo, mesmo que em suas atitudes ele fosse bem diferente. Harvey desabotoou o seu blazer, passou por Samanta, indo até a sua mãe, dando-lhe um beijo no rosto. Emma o abraçou forte, contra seu corpo. A mulher não tinha como mensurar o sentimento latente em seu peito. Estava transbordando de alegria ao saber que seu filho havia escolhido a mulher dos sonhos, para ser sua nora. Era estranho pensar que no passado ela quase adotou Samanta, e agora ela era a namorada do filho. Mas isso não significava que Emma não estivesse imensamente feliz. Afinal, Samanta era doce, leal, amorosa e merecia uma família como a que eles tinham.— Visita su
Samanta estava quieta no carro, olhando pela janela enquanto a cidade passava em flashes de luzes e sombras. Geralmente, ela falava sem parar, sua mente saltando de um assunto para outro com a energia que sempre encantava Harvey. Mas ultimamente, ela não era a mesma. Harvey percebia isso. Ele sentia falta do jeito despojado e travesso dela, das respostas irônicas que vinham com aquela provocação divertida. Agora, o silêncio parecia pesar entre os dois, e ele se preocupava.Samanta também se sentia assim, presa no tempo, no que tinha acontecido recentemente. Mary Ann, Hope com Adam, Harvey e seus segredos... a promoção que ela mal conseguiu comemorar. Ao invés disso, ela levou seu sentimento de insignificância para um momento que deveria ser feliz, deixando-se paralisada. Ela suspirou, seus pensamentos girando em círculos. Precisava mudar as coisas. Voltar a ser quem era antes, deixar de lado aquela mulher medrosa que aceitava tudo dos outros. Afinal, olhe só o que ela tinha conquistad
SamantaEra triste pensar que eu estava saindo deste lugar, depois de tudo o que passamos juntas. Hope era minha melhor amiga, alguém que eu considerava uma irmã, mas depois do que aconteceu, comecei a perceber que talvez ela sempre tivesse desejado mais privacidade, assim como eu. No início, dividir o apartamento fazia sentido. Os aluguéis em Nova York eram exorbitantes e nossos estágios mal cobriam as despesas. Além do mais, amava chegar em casa, pedir comida e compartilhar como foi o meu dia, enquanto ouvia as histórias dela. Aquilo me fazia sentir que eu tinha alguém único na minha vida. E isso não mudou, não completamente.Mas, o que trouxe de volta essa sensação de querer mais espaço foi o choque de ver Hope sentada no sofá da sala com Adam, o homem que eu mais odeio no mundo. Nunca imaginei presenciar algo assim. Claro que ela podia convidar quem quisesse para o apartamento, mas justo ele?Aquela cena tirou completamente o meu ânimo. Depois da nossa conversa, confesso que me at