A vingança
A vingança
Por: Roberta Del Carlo
Capitulo 01

                                                         A dor de uma família

A família estava despedaçada e nada aliviava aquela dor de impotência, sofrimento e saudades.

A dor aumentava ainda mais ao presenciarem a forma como a queda do helicóptero vinha sendo retratado pelos noticiários e todas as especulações que cercavam o nome de Vitor Sartori.

— Não dá pra acreditar que o Vitor fez uma coisa dessa. - Melissa estava pálida e inconsolável, desligou a tevê com raiva e jogou o controle de qualquer jeito sobre a mesinha. — Como vai ser de hoje em diante?

A irmã mais nova de Vitor, uma mulher adulta e independente, encarou o irmão e depois o pai, um homem de meia idade, encolhido no canto do sofá segurando em suas mãos uma fotografia do filho mais velho, falecido.

— Eu sei que ele a amava. – o homem de voz embargada precisava falar o que sentia — Ele dizia que com ela tinha sido diferente e que nenhuma outra o fazia tão feliz. Como pode um amor ser tão devastador para chegar nesse ponto? Meu filho, meu menino… Devo tanto a ele.

— Pai, não se cobre de nada o Vitor nos amava — havia carinho na voz de Melissa, que tentava de alguma maneira consolar o sofrido pai.

— Hoje fez cinco dias, meus filhos. E, vamos ter que aprender a conviver com esse vazio. Estou tão cansado.

— Pai. – interveio Daniel, o filho caçula, que estava em pé olhando a paisagem noturna da cidade, escondendo assim as lágrimas que teimavam descer — Descanse um pouco e não ligue a tevê por enquanto, o senhor sabe que assim que arrumarem outro assunto, eles vão esquecer o acidente.

João Gomes Sartori, levantou bem devagar e acabou acatando a ideia do filho, antes de seguir para o quarto, aproximou-se da filha e lhe deu um beijo na testa e quando chegou em Daniel, tocou lhe o rosto e apenas se olharam, mas não trocaram qualquer palavra.

Com passos lentos e cabisbaixo, o homem de cabelos ralos fora descansar em seu quarto, quem sabe até dormir umas duas horas interruptas.

Melissa esperou o pai deixar a sala até ouvir a porta do quarto ser fechada, para então soltar o que estava entalado na garganta:

— Eu ainda não acredito que a gente perdeu uma pessoa tão importante como o Vitor e mais uma vez aquela família vai ganhar. A empresa era do nosso irmão, não é justo deixar com a Pérola que está casada e grávida de outro homem!

Aquele nó estava ali desde o momento que chegaram do velório que aconteceu no Cemitério da Saudade, na cidade litorânea de Campos.

— Não acredito que ele tenha acabado com a própria vida. Você viu os olhares para a gente. Olhares de pena… Eu odeio tudo isso!

Daniel a escutava e não dizia nada, a história da Mel com a família da Pérola Franco nunca foi tranquila por conta da admiração que a mãe tinha pela família mais almejada da velha cidade que nasceram e cresceram.

— O que vamos fazer, meu irmão?

Daniel virou para a irmã e sem emoção alguma esclareceu:

— Ontem à tarde encontraram a caixa preta do helicóptero só que a imprensa ainda não sabe e pedi para o Braga nos auxiliar nessa investigação. Aconteceu alguma coisa durante o voo e temos que saber o que aconteceu e, se alguém tinha interesse naquele acidente temos que descobrir.

— Isso levará tempo.

— Só que temos que saber ou vamos aceitar a ideia de que ele estava depressivo e jogou aquela máquina nas pedras? O Vitor sabia voar, conhecia bem aquela rota e a gente conversou antes dele seguir viagem. Eu sei que o meu irmão não estava desesperado. Eu sei!

— O que você quer dizer?

— Eu vou voltar para a nossa querida cidade. Vou passar uma temporada em Campos. Vou acompanhar a Inovare Sports e a nossa querida Pérola, que sabe muito bem o que penso sobre aquele marido. Por isso, vai ter que me deixar por dentro de tudo da Inovare.

— Ele era amigo do nosso irmão...

— Um falso. Fugiu pra lá para não o pegarem naquela armação do Banco que ele se julga inocente.

— Tem certeza que isso faria bem para você?

— Só tentando para saber e já decidi.

— Você vai depois que voltar de Los Angeles?

— Eu não vou viajar. Eu vou ficar aqui com o nosso pai e programando a viagem para lá, o difícil vai ser rever a nossa mãe.

— Ela não quer a gente lá.

— A Dona Ligia não me perdoou e nem quero que faça e, depois quando descobrirmos quem manipulou esse acidente, então retomo à minha vida.

— Não deixe aquela família ser a vítima, não quero mais popularidade que envolva as Sister's Sun. Aquela cretina da Martina postou uma nota na internet de pêsames usando uma imagem do Vitor e ainda citou os nossos nomes. É um absurdo!

— Eu não vou me vingar da família, só quero descobrir algum ponto fraco e atacar, é isso que vou fazer. O passado tem que ficar no seu lugar e você tem que fazer o mesmo. Eu só quero limpar a imagem do nosso irmão. É só isso. A vingança é desmontar quem quer nos prejudicar ainda mais.

Melissa ficou quieta, presa em seus pensamentos, deixando o seu irmão voltar para penumbra da sala, permanecendo no silêncio por longo tempo.

Uma semana se passou e a família se mantinha em silêncio.

A imprensa não dava tréguas e os noticiários relembravam a carreira do jovem esportista com todos os troféus, vitórias, as namoradas, a família e quando ingressou no ramo publicitário, o relacionamento com Pérola Franco.

Contudo, não deixaram de citar o rompimento do relacionamento e a empresa Inovare Sports.

O seu helicóptero Tiger um EC -145 cor prata, deixou a cidade de São Paulo no domingo, com sentido a cidade de Campos, que era onde o empresário residia nos últimos anos e ao enfrentar o mal tempo, não conseguira pousar e caiu no mar.

As imagens do resgate eram dramáticas, por conta das ondas fortes e gigantescas o que dificultou muito salvamento. Apesar de Vitor ser encontrado com vida, com os cortes profundos e a hipotermia que sofrera não conseguiu resistir e faleceu na frente do irmão Daniel, que foi avisado da queda e chegou para ajudar nas buscas.

A tevê não deixava também de noticiar a premiação internacional que aconteceria nos próximos dias. O jovem escritor Dan Sartori alcançou uma categoria muito importante para a sua carreira que já era sólida e premiada, e agora ganharia mais admiradores e responsabilidades com os seus trabalhos.

Dan Sartori, nos últimos anos estava na lista dos dez mais lidos da América. Escritor e roteirista, o filho caçula de João e Lígia tinha alcançado um sonho alto, quase impossível.

Daniel publicou o seu primeiro livro aos dezessete anos de idade com o título de Soldado de Papel, em seguida A Távola, Os pequenos guerreiros e o Enigma. Quando completou dezenove anos, recebeu a proposta cinematográfica para transformar o seu primeiro livro em curta metragem internacional e, com tamanha oportunidade, ele foi morar no Exterior e fez cursos, acabou conhecendo ainda mais o mundo das produções e escritores.

Hoje, com mais de quinze títulos pulicados e com traduções para diversos países, além de mais de dois roteiros e duas séries carregando o seu nome, o jovem escritor nascido na conhecida região cidade baixa em Campos, nunca esteve na sombra do irmão esportista.

Dan Sartori, aos trinta e dois anos assinava uma série muito popular e conflitante sobre a vida de uma detetive meticuloso e sagaz que se chama O Especialista. O escritor é conhecido por escrever romances fantásticos e policiais e, agora com um roteiro elogiado por público e crítica o filme The Trump (O Trunfo) levaria o nome do escritor muito além, contudo, ninguém sabia se ele iria participar desse momento tão importante da sua vida em meio de tantos acontecimentos inesperados e muito tristes em sua vida.

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