A dor de uma família
A família estava despedaçada e nada aliviava aquela dor de impotência, sofrimento e saudades.
A dor aumentava ainda mais ao presenciarem a forma como a queda do helicóptero vinha sendo retratado pelos noticiários e todas as especulações que cercavam o nome de Vitor Sartori.
— Não dá pra acreditar que o Vitor fez uma coisa dessa. - Melissa estava pálida e inconsolável, desligou a tevê com raiva e jogou o controle de qualquer jeito sobre a mesinha. — Como vai ser de hoje em diante?
A irmã mais nova de Vitor, uma mulher adulta e independente, encarou o irmão e depois o pai, um homem de meia idade, encolhido no canto do sofá segurando em suas mãos uma fotografia do filho mais velho, falecido.
— Eu sei que ele a amava. – o homem de voz embargada precisava falar o que sentia — Ele dizia que com ela tinha sido diferente e que nenhuma outra o fazia tão feliz. Como pode um amor ser tão devastador para chegar nesse ponto? Meu filho, meu menino… Devo tanto a ele.
— Pai, não se cobre de nada o Vitor nos amava — havia carinho na voz de Melissa, que tentava de alguma maneira consolar o sofrido pai.
— Hoje fez cinco dias, meus filhos. E, vamos ter que aprender a conviver com esse vazio. Estou tão cansado.
— Pai. – interveio Daniel, o filho caçula, que estava em pé olhando a paisagem noturna da cidade, escondendo assim as lágrimas que teimavam descer — Descanse um pouco e não ligue a tevê por enquanto, o senhor sabe que assim que arrumarem outro assunto, eles vão esquecer o acidente.
João Gomes Sartori, levantou bem devagar e acabou acatando a ideia do filho, antes de seguir para o quarto, aproximou-se da filha e lhe deu um beijo na testa e quando chegou em Daniel, tocou lhe o rosto e apenas se olharam, mas não trocaram qualquer palavra.
Com passos lentos e cabisbaixo, o homem de cabelos ralos fora descansar em seu quarto, quem sabe até dormir umas duas horas interruptas.
Melissa esperou o pai deixar a sala até ouvir a porta do quarto ser fechada, para então soltar o que estava entalado na garganta:
— Eu ainda não acredito que a gente perdeu uma pessoa tão importante como o Vitor e mais uma vez aquela família vai ganhar. A empresa era do nosso irmão, não é justo deixar com a Pérola que está casada e grávida de outro homem!
Aquele nó estava ali desde o momento que chegaram do velório que aconteceu no Cemitério da Saudade, na cidade litorânea de Campos.
— Não acredito que ele tenha acabado com a própria vida. Você viu os olhares para a gente. Olhares de pena… Eu odeio tudo isso!
Daniel a escutava e não dizia nada, a história da Mel com a família da Pérola Franco nunca foi tranquila por conta da admiração que a mãe tinha pela família mais almejada da velha cidade que nasceram e cresceram.
— O que vamos fazer, meu irmão?
Daniel virou para a irmã e sem emoção alguma esclareceu:
— Ontem à tarde encontraram a caixa preta do helicóptero só que a imprensa ainda não sabe e pedi para o Braga nos auxiliar nessa investigação. Aconteceu alguma coisa durante o voo e temos que saber o que aconteceu e, se alguém tinha interesse naquele acidente temos que descobrir.
— Isso levará tempo.
— Só que temos que saber ou vamos aceitar a ideia de que ele estava depressivo e jogou aquela máquina nas pedras? O Vitor sabia voar, conhecia bem aquela rota e a gente conversou antes dele seguir viagem. Eu sei que o meu irmão não estava desesperado. Eu sei!
— O que você quer dizer?
— Eu vou voltar para a nossa querida cidade. Vou passar uma temporada em Campos. Vou acompanhar a Inovare Sports e a nossa querida Pérola, que sabe muito bem o que penso sobre aquele marido. Por isso, vai ter que me deixar por dentro de tudo da Inovare.
— Ele era amigo do nosso irmão...
— Um falso. Fugiu pra lá para não o pegarem naquela armação do Banco que ele se julga inocente.
— Tem certeza que isso faria bem para você?
— Só tentando para saber e já decidi.
— Você vai depois que voltar de Los Angeles?
— Eu não vou viajar. Eu vou ficar aqui com o nosso pai e programando a viagem para lá, o difícil vai ser rever a nossa mãe.
— Ela não quer a gente lá.
— A Dona Ligia não me perdoou e nem quero que faça e, depois quando descobrirmos quem manipulou esse acidente, então retomo à minha vida.
— Não deixe aquela família ser a vítima, não quero mais popularidade que envolva as Sister's Sun. Aquela cretina da Martina postou uma nota na internet de pêsames usando uma imagem do Vitor e ainda citou os nossos nomes. É um absurdo!
— Eu não vou me vingar da família, só quero descobrir algum ponto fraco e atacar, é isso que vou fazer. O passado tem que ficar no seu lugar e você tem que fazer o mesmo. Eu só quero limpar a imagem do nosso irmão. É só isso. A vingança é desmontar quem quer nos prejudicar ainda mais.
Melissa ficou quieta, presa em seus pensamentos, deixando o seu irmão voltar para penumbra da sala, permanecendo no silêncio por longo tempo.
Uma semana se passou e a família se mantinha em silêncio.
A imprensa não dava tréguas e os noticiários relembravam a carreira do jovem esportista com todos os troféus, vitórias, as namoradas, a família e quando ingressou no ramo publicitário, o relacionamento com Pérola Franco.
Contudo, não deixaram de citar o rompimento do relacionamento e a empresa Inovare Sports.
O seu helicóptero Tiger um EC -145 cor prata, deixou a cidade de São Paulo no domingo, com sentido a cidade de Campos, que era onde o empresário residia nos últimos anos e ao enfrentar o mal tempo, não conseguira pousar e caiu no mar.
As imagens do resgate eram dramáticas, por conta das ondas fortes e gigantescas o que dificultou muito salvamento. Apesar de Vitor ser encontrado com vida, com os cortes profundos e a hipotermia que sofrera não conseguiu resistir e faleceu na frente do irmão Daniel, que foi avisado da queda e chegou para ajudar nas buscas.
A tevê não deixava também de noticiar a premiação internacional que aconteceria nos próximos dias. O jovem escritor Dan Sartori alcançou uma categoria muito importante para a sua carreira que já era sólida e premiada, e agora ganharia mais admiradores e responsabilidades com os seus trabalhos.
Dan Sartori, nos últimos anos estava na lista dos dez mais lidos da América. Escritor e roteirista, o filho caçula de João e Lígia tinha alcançado um sonho alto, quase impossível.
Daniel publicou o seu primeiro livro aos dezessete anos de idade com o título de Soldado de Papel, em seguida A Távola, Os pequenos guerreiros e o Enigma. Quando completou dezenove anos, recebeu a proposta cinematográfica para transformar o seu primeiro livro em curta metragem internacional e, com tamanha oportunidade, ele foi morar no Exterior e fez cursos, acabou conhecendo ainda mais o mundo das produções e escritores.
Hoje, com mais de quinze títulos pulicados e com traduções para diversos países, além de mais de dois roteiros e duas séries carregando o seu nome, o jovem escritor nascido na conhecida região cidade baixa em Campos, nunca esteve na sombra do irmão esportista.
Dan Sartori, aos trinta e dois anos assinava uma série muito popular e conflitante sobre a vida de uma detetive meticuloso e sagaz que se chama O Especialista. O escritor é conhecido por escrever romances fantásticos e policiais e, agora com um roteiro elogiado por público e crítica o filme The Trump (O Trunfo) levaria o nome do escritor muito além, contudo, ninguém sabia se ele iria participar desse momento tão importante da sua vida em meio de tantos acontecimentos inesperados e muito tristes em sua vida.
A CidadeO Daniel tem todo o direito de participar da empresa.O tom de voz da sócia-diretora da Inovare Sports não agradava muito o seu ouvinte.Agora, o futuro da marca era incerto, sobrecarregando Pérola que era a atual responsável da empresa e estava grávida de quatro meses e, mesmo com o apoio dos colaboradores externos, os problemas na diretoria pareciam longe de mitigar.O falecimento de Vitor completava dez dias e a família Sartori não retornava as ligações da família de Jonathan Franco, mas naquela manhã a agente de Daniel deixou algumas mensagens para Pérola, comunicando que o escritor est
RicochetesNo momento em que Brenda Sullivan chegou ao palco, seguida pelo som dos aplausos, vestida com um longo cor de rosa, um belo colar e o penteado elegante, recebeu o prêmio do amigo das mãos de um importante convidado. Caminhou assim para o microfone e mirou com o seu doce olhar para uma câmera de frente para o palco.Com a estátua do Leão nas mãos e com sua voz macia, pronunciou tais palavras:— Boa noite a todos e para a academia que premiou essa noite o meu amigo Dan Sartori. Temos certeza que ele e todos da equipe do filme The Trump estão felizes e orgulhosos por todos os prêmios indicados desta noite e, todos sem exce&c
A chegadaO tema que envolvia os irmãos Sartori era dividia em dois assuntos: o acidente de Vitor e o prêmio de Daniel.Os dois irmãos que ainda jovens desbravaram o mundo com seus talentos, agora eram alvo de especulações de uma cidade com um cotidiano simples, turístico e comercial.Em São Paulo, Daniel antes de partir deu uma entrevista para o jornalista Paulo Dias do canal 27. Respondendo todas perguntas e aniquilando qualquer suspeita de suicídio e afastando uma ideia de que a família estaria contra a ex- noiva do irmão e agora a atual Diretora Executiva da empresa de publicidade esportista.A entrevista durou
Família Franco Alô.— Daniel?! Oi, sou eu a Pérola, soube agora que está na cidade. Chegou bem e como você está?— Oi, Pérola. Tudo bem. Cheguei essa manhã – respondia de bom agrado, mas já pensando numa maneira de não prolongar aquela conversa. — E você?— Eu estou indo, todos estamos… Eu tentei falar com você outras vezes...— Eu peguei os recados, desculpe não ter respondido antes, é que só agora as coisa estão ficando calmas.— Está sendo bem difícil, doloroso e sufocante, mas como está o seu pai?
Encontros Anoiteceu na cidade Campos. As luzes começaram iluminar ruas e vielas, sem deixar de admirar as fachadas dos comércios e pequenos prédios comercias. O trânsito tranquilo no final da jornada diária e, as praias com suas ondas calmas era o espetáculo no final do dia.Contudo, as luzes da mansão Franco estavam acesas para aquela noite, além do belo e charmoso jardim que era um charme a mais para qualquer olhar. Uma música lenta harmonizava o ambiente. O cheiro das flores suavizava ainda mais o ambiente.Naquela noite, não era um menino pobre precisando de ajuda,
Dor Daniel chegou na agência Inovare Sports por volta das dez horas naquela manhã de quinta-feira e Pérola já o esperava.— Bom dia Pérola.— Oi Daniel. Aqui estão as chaves da sala.— Você me acompanha?A chegada do escritor naquela manhã agitou alguns funcionários curiosos e outros surpresos, fora que ninguém sabia ao certo quando aquela visita iria acontecer, nem mesmo Enrico.Daniel e Pérola subiram as escadas e pararam diante da sala de Vitor, por alguns segundos, uma corrente forte passou por eles, um misto de dor e saudades.Respirar...
Desconfianças A entrevista mais aguardada do noticiário das dez naquela noite de domingo, começou com uma chamada tensa de poucos minutos que resumiu a vida de Vitor Sartori até os bombeiros o resgatando muito ferido e hipotérmico. E, por fim, a nota de falecimento.Pérola assistiu a reportagem ao lado da família, apesar das perguntas, eram as respostas que a deixavam um pouco tensa. Ainda mais quando seu nome foi citado em perguntas como:Paulo Dias:Dan, sobre as notícias passadas, aquelas que diziam que o Vitor estava passando por algum momento não muito bom na vida pessoal...Dan Sartori:O Vitor estava muito bem. Feliz
A atração— Não abrimos hoje – explicou Sabine — Na parte da manhã, adiantamos algumas coisas, arrumamos outras e depois do almoço todos se foram. Eu fiquei aqui cuidando das notas e preparando alguns docinhos.— O cheiro está bom, se quiser posso voltar em outro momento, não quero dar trabalho.— Imagina… Sente-se – Sabine era muito educada e não deixava transparecer a timidez, também controlava bem a emoção de estar ali apenas ela e ele – Vou fazer um cappuccino.Daniel ocupou a cadeira da mesma mesa que Sabine estava usando e aproveitou para observar o lugar