Ricochetes
No momento em que Brenda Sullivan chegou ao palco, seguida pelo som dos aplausos, vestida com um longo cor de rosa, um belo colar e o penteado elegante, recebeu o prêmio do amigo das mãos de um importante convidado. Caminhou assim para o microfone e mirou com o seu doce olhar para uma câmera de frente para o palco.
Com a estátua do Leão nas mãos e com sua voz macia, pronunciou tais palavras:
— Boa noite a todos e para a academia que premiou essa noite o meu amigo Dan Sartori. Temos certeza que ele e todos da equipe do filme The Trump estão felizes e orgulhosos por todos os prêmios indicados desta noite e, todos sem exceções, trabalharam muito para que essa noite acontecesse e o meu amigo, o nosso querido Dan Sartori tem um recado para nós.
O olhar de Brenda seguiu para o telão, assim como as câmeras e as luzes focaram para o mesmo, a imagem de Dan Sartori surgiu.
—Boa noite, eu só quero agradecer pela oportunidade de ter feito parte desse filme e ter o reconhecimento do público que assistiu e da academia que me agraciou esta noite. Quero agradecer imensamente o diretor John Miller que é um grandioso diretor e todo o elenco que foi especial desde o início do projeto e que deu o melhor de cada um e também quero deixar o meu abraço especial para o Ernest Gordon, o grande The Trump, Helena Rios e ao pequeno William que construíram essa família tão rica e complexa com tamanha realidade, além minha amiga Brenda que está me representando esta noite. Muito obrigado por esse prêmio. Até logo.
A imagem do jovem escritor sumiu depois de um sorriso triste, ao som dos aplausos de todo aquele teatro. O brasileiro que agradeceu em inglês teve a fala legendada em diversos idiomas.
O escritor e roteirista, sempre muito reservado, era conhecido por ser dedicado e criativo na carreira literária e, que aos poucos foi ganhando admiração, espaço e respeito por onde passava e com quem trabalhava.
De certa forma, não usou o nome do irmão esportista como desculpa da sua ausência, mas muitos já imaginavam aquela declaração.
Cidade litorânea de Campos
Na casa dos Francos, todos estavam em frente da grande tela, na sala íntima da família, assistindo à premiação.
— Quem é essa moça? – indagou Jonathan, com o seu habitual charuto e óculos redondos, sentando na poltrona preferida.
— Ela é atriz e amiga do Daniel – explicou Pérola.
— Bonita moça – complementou dona Ingrid, mãe das Sisters Sun, esposa dedicada e dona de uma beleza invejável por várias mulheres daquela cidade, a ex- professora primária que abriu mão da carreira para cuidar da família Franco e do seu marido médico — E o filme levou todos os prêmios indicados. Em breve vou querer assistir.
— Eu também e pelo que notamos deve ser um primor – opinou Dona Natércia, mãe de Jonathan, matriarca da família Franco — Bom, é normal que o rapaz não tenha ido, aposto que o irmão estaria lá com ele nesse momento.
— Quem diria que os filhos do João, um pobre servente, mudariam tanto de vida e ainda com filhos famosos.
O toque de ironia na voz do médico, foi bem perceptível.
— É, meu querido filho, tem pessoas que tem estrela e um dia ela brilha, a desse rapaz iria brilhar de qualquer forma, era uma questão de tempo.
—Não sei por que tanta babação em cima desse garoto — cortou Enrico com desdém —Senão fosse pelo Vitor, essa família ainda estava morando na parte baixa dessa cidade.
No mesmo instante, todos ali presentes olharam em sua direção.
— E nem você estaria advogando aqui – respondeu Pérola num tom magoado, deixando a sala e um clima tenso no ar.
Enrico não ficou surpreso pela resposta que recebeu, porém diante da família, mostrou uma certa inocência.
— Não a culpe, é a gravidez que mexe com os hormônios e estão sendo dias de alta emoção, dê mais um tempo a ela, Enrico.
A voz calma e sábia da mulher mais velha da família, ninguém iria questionar.
Enrico concordou com a matriarca da família, a verdadeira dona das posses da família e da cidade.
— Desculpe pelo meu modo, a Pérola tem razão, caso o Vitor não tivesse feito tanto, nem eu teria vindo pra cá e nem mesmo conhecê-los. Me deem licença, vou ficar um pouco no jardim.
— Onde está a Sabine? – perguntou Natércia — Achei que ela passaria a noite aqui conosco.
—Não Dona Natercia, a menina Sabine foi embora para casa um pouco antes do jantar. – explicou a doméstica que assistia a premiação ao lado da família.
—Se é que pode chamar aquilo de casa - cortou Jonathan — Ela se esconde e anda com aquela bicicleta pra cima e pra baixo.
—Então peça pra ela voltar – cortou Ingrid — Eu gosto das minhas filhas perto de mim, a Sabine ainda é tão menina e amável. Eu tenho medo de não protegê-la de tudo.
—Ela precisa de um namorado — alfinetou Martina, que nem ligou para os olhares em sua direção de desaprovação.
Natércia de maneira tranquila, tirou os óculos, os limpou e colocou de volta e filosofou para si, mas em voz alta.
— Quem sabe … Quando menos ela esperar aquele coraçãozinho encontrará um lindo amor.
Martina deu de ombros e continuou olhando a imagem da tela grande e esqueceu do mundo ao olhar os vestido das atrizes e convidadas.
—Que vestido lindo dessa atriz, meu Deus! Eu quero um!
Sabine estava em sua casa, um pequeno sobrado de paredes de pedras que ficava um pouco longe do centro da cidade. Ela sempre fazia o percurso de bicicleta para ir à delicatelle ou para a casa dos pais. O carro era usado poucas vezes.
Contudo, naquela noite queria ficar sozinha para assistir à festa cinematográfica em paz, pois não queria ninguém comentando ou caçando o seu olhar ou medindo a sua respiração ou o seu sorriso.
Fora que sabia tudo da carreira do escritor que nasceu naquela cidade e estudou com sua irmã do meio, porém não tinha certeza da presença dele num premiação tão importante da sua carreira.
E, no momento que acompanhava a locomoção da moça para o palco para receber o prêmio de melhor Roteiro em nome de Dan Sartori, os seus olhos e ouvidos ficaram atentos. Quando a imagem mudou, foi de imediato o seu sorriso bobo e olhar atento aflorar, e foi inevitável não pensar:
Será que essa moça tem algo com o Daniel?
E ele continua tão bonito...
Numa outra casa, ali mesmo em Campos, numa sala escura, uma mulher também assistia a premiação.
A mãe de Daniel, a Ligia Flores e a última vez que se viram foi no velório de Vitor, o seu filho preferido e amado. E em nenhum momento, quis conversar com os filhos, até mesmo com Pérola foi um tanto ríspida.
A dor ainda dilacerava aquela mulher que sofria em sua bela casa e que mantinha-se em silêncio desde a tragédia na praia da Pedras.
Você não deveria ter gritado comigo, ele era o meu filho!
A última conversa dela com Daniel foi dura e carregado de mágoas.
Enquanto assistia e notou a ausência do filho, balançou a cabeça como se o filho mais novo tivesse feito a coisa certa, mesmo não ter falado em palavras, mas a sua feição era explícita do luto.
Assim que o filho terminou de falar, desligou a tevê, mas ainda permaneceu na sala escura, iluminada pelas frestas das luzes da rua.
O orgulho só a permitia sofrer na escuridão.
A chegadaO tema que envolvia os irmãos Sartori era dividia em dois assuntos: o acidente de Vitor e o prêmio de Daniel.Os dois irmãos que ainda jovens desbravaram o mundo com seus talentos, agora eram alvo de especulações de uma cidade com um cotidiano simples, turístico e comercial.Em São Paulo, Daniel antes de partir deu uma entrevista para o jornalista Paulo Dias do canal 27. Respondendo todas perguntas e aniquilando qualquer suspeita de suicídio e afastando uma ideia de que a família estaria contra a ex- noiva do irmão e agora a atual Diretora Executiva da empresa de publicidade esportista.A entrevista durou
Família Franco Alô.— Daniel?! Oi, sou eu a Pérola, soube agora que está na cidade. Chegou bem e como você está?— Oi, Pérola. Tudo bem. Cheguei essa manhã – respondia de bom agrado, mas já pensando numa maneira de não prolongar aquela conversa. — E você?— Eu estou indo, todos estamos… Eu tentei falar com você outras vezes...— Eu peguei os recados, desculpe não ter respondido antes, é que só agora as coisa estão ficando calmas.— Está sendo bem difícil, doloroso e sufocante, mas como está o seu pai?
Encontros Anoiteceu na cidade Campos. As luzes começaram iluminar ruas e vielas, sem deixar de admirar as fachadas dos comércios e pequenos prédios comercias. O trânsito tranquilo no final da jornada diária e, as praias com suas ondas calmas era o espetáculo no final do dia.Contudo, as luzes da mansão Franco estavam acesas para aquela noite, além do belo e charmoso jardim que era um charme a mais para qualquer olhar. Uma música lenta harmonizava o ambiente. O cheiro das flores suavizava ainda mais o ambiente.Naquela noite, não era um menino pobre precisando de ajuda,
Dor Daniel chegou na agência Inovare Sports por volta das dez horas naquela manhã de quinta-feira e Pérola já o esperava.— Bom dia Pérola.— Oi Daniel. Aqui estão as chaves da sala.— Você me acompanha?A chegada do escritor naquela manhã agitou alguns funcionários curiosos e outros surpresos, fora que ninguém sabia ao certo quando aquela visita iria acontecer, nem mesmo Enrico.Daniel e Pérola subiram as escadas e pararam diante da sala de Vitor, por alguns segundos, uma corrente forte passou por eles, um misto de dor e saudades.Respirar...
Desconfianças A entrevista mais aguardada do noticiário das dez naquela noite de domingo, começou com uma chamada tensa de poucos minutos que resumiu a vida de Vitor Sartori até os bombeiros o resgatando muito ferido e hipotérmico. E, por fim, a nota de falecimento.Pérola assistiu a reportagem ao lado da família, apesar das perguntas, eram as respostas que a deixavam um pouco tensa. Ainda mais quando seu nome foi citado em perguntas como:Paulo Dias:Dan, sobre as notícias passadas, aquelas que diziam que o Vitor estava passando por algum momento não muito bom na vida pessoal...Dan Sartori:O Vitor estava muito bem. Feliz
A atração— Não abrimos hoje – explicou Sabine — Na parte da manhã, adiantamos algumas coisas, arrumamos outras e depois do almoço todos se foram. Eu fiquei aqui cuidando das notas e preparando alguns docinhos.— O cheiro está bom, se quiser posso voltar em outro momento, não quero dar trabalho.— Imagina… Sente-se – Sabine era muito educada e não deixava transparecer a timidez, também controlava bem a emoção de estar ali apenas ela e ele – Vou fazer um cappuccino.Daniel ocupou a cadeira da mesma mesa que Sabine estava usando e aproveitou para observar o lugar
Amizades— A Brenda Sullivan está aqui. Agora. E na nossa casa?!— Ela chegou tem uma hora – explicava Pérola pela segunda vez — E ela está hospedada na Casa Azul, sim.— Preciso ir vê-la!A felicidade de Martina não os contagiou durante o café da manhã.— Você não vai incomodar ninguém – a mãe logo cortou aquela empolgação — Ela é uma hóspede na casa que sua avó ofereceu para o Daniel e você não foi convidada para ir até lá.— Mãe, a Brenda é uma estrela! E o Daniel foi meu colega de classe e...<
Perigos Lívia, preciso falar com você. É urgente. Não estou em São Paulo e o assunto é muito sério. Me liga assim que ouvir essa mensagem.A voz enérgica e contundente de Daniel foi ouvida pelas três mulheres, que ocupavam a bela sala de estar na casa das Castanheiras.Daniel desligou a ligação e as fitou.— Boa tarde. Não queria interromper a reunião de vocês.— Imagina Daniel – respondeu Pérola de modo gentil cercada de papéis timbrados com o slogan da agência ao lado de Brenda que o