William passou o dia inteiro empolgado e ansioso. Depois que voltou da sua checagem na obra e no projeto ao qual vinha se dedicando tanto, não conseguiu tirar da cabeça a mensagem que recebera, o presente inesperado e o que aconteceria mais tarde. Era preciso admitir: o mistério e os presentes provocativos eram o tempero daquela relação, que, com o tempo, havia esfriado. Ele sabia que parte disso era culpa sua; dedicara-se tanto a provar que era digno do amor de Isabela, que acabara esquecendo que um relacionamento era muito mais do que gestos de carinho e esforço.Mas Isabela havia lhe dado um lembrete. Um lembrete tão claro quanto a mensagem enigmática que recebera no celular: "Chegue em casa no horário. Quero você para mim esta noite."Assim que cruzou a porta de casa, sentiu o coração acelerar de uma forma que quase podia ouvi-lo em seus ouvidos, como se ele fosse explodir do peito. A antecipação era avassaladora. E lá estava ela, tão linda naquele vestido de seda vermelho que par
Tudo parecia estar em perfeita harmonia para William e Isabela. Contudo, nos bastidores, vozes se levantavam contra ele, sussurrando planos e ressentimentos. Entre essas vozes, uma se destacava com uma intensidade singular: Natalia. Ela era implacável em sua dedicação, calculista em suas ações. Passara meses arquitetando o momento perfeito para dar seu golpe, para reivindicar aquilo que acreditava ser dela. E então, Isabela apareceu, como um obstáculo inesperado, destruindo tudo ao se aproximar de William.— O que você vai fazer agora? — perguntou Dominique, a voz baixa, quase cautelosa.Natalia permanecia imóvel, de costas para ele, observando o mundo brilhante e caótico de Nova York através do vidro que ia do chão ao teto. A noite estava viva lá fora, mas dentro da sala, só se ouvia o som repetitivo do salto de Natalia batendo no chão, um ritmo que acompanhava sua mente acelerada.— O que eu vou fazer? — ela repetiu, quase num sussurro, mas havia algo venenoso em sua voz. Ela se vir
Depois da noite anterior, que parecia ter saído de um sonho, William e Isabela decidiram tirar o dia para eles, longe do caos de Nova York. O plano era simples: fugir da rotina, esquecer as obrigações e se perder na liberdade que só a estrada poderia oferecer. William adorava os pais, mas não negava que a pressão deles tinha sido necessária. Ele era impulsivo, sabia disso, e provavelmente só tinha chegado tão longe por causa das expectativas que o obrigaram a amadurecer. Ainda assim, naquele momento, tudo o que ele queria era silenciar o mundo ao redor e se concentrar em Isabela. Nada de lembranças de antigos casos ou olhares desconfortáveis de quem insistia em trazer o passado à tona.Isabela, por outro lado, estava surpreendentemente tranquila. A noite anterior havia deixado nela uma leveza rara. Ela acordou com um sorriso tão sincero que até seus músculos pareceram estranhar a sensação. A proposta de William — passar o dia na moto, explorando estradas desconhecidas — não a encantav
O banheiro da lanchonete era pequeno e modesto, com um espelho antigo que refletia o rosto de Isabela, ainda corado de vergonha pelas interações no balcão. Ela lavava as mãos, tentando ignorar a sensação persistente de que estava sendo observada. Quando levantou os olhos novamente, notou duas figuras refletidas no espelho: duas mulheres altas, loiras, vestindo roupas de couro preto e jeans rasgados. Elas estavam paradas perto da porta, imóveis, apenas observando.Isabela sentiu um frio na espinha, mas tentou manter a calma. Não havia motivo para se alarmar; elas não haviam feito nada além de olhar. Mesmo assim, o silêncio era sufocante. Fingindo não se incomodar, Isabela secou as mãos rapidamente, murmurou um "com licença" baixo e saiu do banheiro.O corredor parecia mais estreito do que quando ela entrou. A luz amarelada, somada ao barulho abafado de vozes no salão principal, fazia tudo parecer ligeiramente distorcido. Isabela apressou o passo, ansiosa para voltar para junto de Willi
Natalia deslizava pela casa minúscula com a frieza de quem havia planejado cada detalhe meticulosamente. O chalé, isolado em um canto esquecido do mundo, era o cenário perfeito para o que ela tinha em mente. Ali, distante da civilização, de Nova York e da proteção de William, Isabela finalmente estava ao seu alcance. Natalia havia esperado semanas, ocultando-se nas sombras, analisando cada movimento, calculando o momento exato para atacar. Agora, com poucas horas até o ápice de seu plano, ela sentia a excitação gelada da vitória iminente.Cada passo de Natalia era guiado por um ódio que queimava silenciosamente em seu interior. Isabela tinha destruído mais do que um plano. Ela havia arruinado sua confiança de que William, como todos os homens que Natalia conhecera, poderia ser manipulado facilmente. O que começou como uma jogada simples — seduzir William, engravidar e garantir uma fatia da fortuna dele — havia se tornado uma luta pessoal. Não importava o que ela fizesse, William só ti
Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo. Mais cedo, quando falei com minha irmã, jamais imaginei que algo assim poderia ocorrer. Nós a perdermos de vista, colocá-la nas mãos de pessoas que agora, naquele exato momento, poderiam estar machucando-a. Tudo começou com uma sensação estranha, algo que eu não conseguia ignorar. Quando vi sua bolsa jogada no chão e o carro ainda estacionado no mesmo lugar, um alarme soou dentro de mim. Era suspeito demais.Pedi acesso às câmeras de segurança do local, e, naquele instante, tudo desabou. A imagem que apareceu na tela ainda estava queimando na minha mente. A cena era brutal: eles a pegando à força, arrastando-a, enquanto ela lutava, e colocando-a naquela van. Era surreal, como se eu estivesse assistindo a um filme de terror que jamais queria fazer parte.Repeti a gravação várias vezes, tentando achar alguma pista, algo que me ajudasse a entender quem eram aquelas pessoas ou para onde poderiam tê-la levado. Mas parecia inútil. Talvez f
William estava ansioso ao mesmo tempo que preocupado. Ele esperava uma ligação. Na verdade, ele já tinha mandado várias mensagens e telefonado, mas não atendeu. Isabela não costumava o deixar sem notícias. Muito menos, ela esquecia de respondê-lo ou atender o telefone. Eles não tinham obrigado. Tudo que William pensava de um relacionamento era que havia muitas brigas, mas depois tudo se resolvia na cama. E, na verdade, tinha mais a parte boa do que a parte ruim. Só que estar na frente do seu prédio, olhando as horas , encostado no seu carro conversível, o deixou muito preocupado. Então ele resolveu mais uma vez ligar. Já fazia alguns minutos, nada de resposta, nem desceu na hora, e deveriam já estar na casa dos pais dela. O celular chamou, chamou, até que foi atendido, finalmente. Ele ficou aliviado, mas isso duraria pouco. — Isabela, onde você está? — ele pergunta. Mas uma voz chorosa do outro lado da linha o deixa apavorado. — William, você tem que vir direto para a casa dos N
Já tinha-se passado muito tempo. Na verdade, o tempo, mesmo passando rápido ou devagar, era difícil de medir naquele espaço apertado, sufocante. Isabela encarava a porta à sua frente como se ela fosse o único vínculo entre ela e a realidade. A luz que emanava pelas frestas parecia zombar de sua situação, trazendo ecos distantes de vozes acaloradas do lado de fora. O tom subia e descia em discussões que pareciam intermináveis. E, entre tudo isso, havia a figura hesitante do homem que entrava para levar água ou guiá-la até o banheiro. Ele tremia. Sempre. Não era algo que Isabela precisava de muito esforço para perceber. Os movimentos rápidos e as mãos inquietas dele revelavam mais do que ele provavelmente gostaria. Dominique era o tipo de homem que não queria estar ali. Não queria fazer parte de nada daquilo. Mas ainda assim, lá estava ele, com uma tensão quase palpável no ar ao redor dele, como se a qualquer momento pudesse desabar. Do lado de fora, as vozes continuavam. Natália falav