Já tinha-se passado muito tempo. Na verdade, o tempo, mesmo passando rápido ou devagar, era difícil de medir naquele espaço apertado, sufocante. Isabela encarava a porta à sua frente como se ela fosse o único vínculo entre ela e a realidade. A luz que emanava pelas frestas parecia zombar de sua situação, trazendo ecos distantes de vozes acaloradas do lado de fora. O tom subia e descia em discussões que pareciam intermináveis. E, entre tudo isso, havia a figura hesitante do homem que entrava para levar água ou guiá-la até o banheiro. Ele tremia. Sempre. Não era algo que Isabela precisava de muito esforço para perceber. Os movimentos rápidos e as mãos inquietas dele revelavam mais do que ele provavelmente gostaria. Dominique era o tipo de homem que não queria estar ali. Não queria fazer parte de nada daquilo. Mas ainda assim, lá estava ele, com uma tensão quase palpável no ar ao redor dele, como se a qualquer momento pudesse desabar. Do lado de fora, as vozes continuavam. Natália falav
Usar este artifício era um risco não só para mim, mas para toda a família. Passei anos, ao lado de Alisson, desenvolvendo o Espião. Era um projeto secreto, quase clandestino, compartilhado apenas entre nós e, claro, Harvey. Ele era o chefe da empresa, e não havia como esconder algo assim dele. Para minha surpresa, Harvey ficou impressionado com a ideia—talvez até orgulhoso—mas também receoso. E com razão. Tudo que criamos, seja Alisson ou eu, sempre tem o potencial de ser transformado em arma. Nos dias de hoje, qualquer avanço tecnológico pode se tornar uma ameaça nas mãos erradas. O Espião era um exemplo perfeito disso.A ideia era simples: uma ferramenta projetada para inteligência militar, capaz de usar câmeras de vigilância—tanto públicas quanto privadas—para monitorar, rastrear, e, literalmente, espionar em tempo real. Uma criação poderosa, mas altamente invasiva. É claro que, oficialmente, o Espião precisaria passar por aprovações e testes rigorosos antes de ser utilizado. Ofici
Eu não posso acreditar que algo assim está acontecendo comigo. Justamente quando decido abrir meu coração pra alguém, quando finalmente permito que o amor tome conta de mim, sempre algo ruim acontece. É como uma maldição que não consigo quebrar. E agora, a pior de todas as tragédias: Isabel.Não sei onde ela está. Não sei se está viva. Não sei se os monstros que a levaram estão falando a verdade. Essa incerteza me consome como ácido. A agonia pesa no meu peito, me sufoca a cada respiração. Não dá para resolver isso com um estalar de dedos, como eu gostaria. Tudo o que eu mais queria era trazê-la de volta. Salvar Isabel e sentir aquele alívio de tê-la nos meus braços de novo.Mas aqui estou eu, impotente, preso nessa casa enorme, observando outras pessoas correrem atrás de pistas enquanto eu apenas remo contra o desespero. Não adianta me tornar mais um problema para os outros. Preciso manter a cabeça no lugar, mas cada minuto sem resposta parece um passo mais perto de um precipício.O
Os ânimos estavam à flor da pele. Quanto mais o tempo passava, mais o silêncio na casa dos Novack era sufocante. William estava sentado na beira do sofá, o rosto pálido, as mãos apertando o celular como se fosse a única coisa que o conectava à realidade. Todos na sala sabiam que a tensão estava prestes a explodir, mas ninguém ousava dizer nada. Era como se cada um estivesse preso em uma bolha de medo e incerteza.Isabela, no entanto, estava longe dali, numa sala escura e úmida. O frio da parede de concreto atrás dela parecia penetrar seus ossos, mas isso era o de menos. Ela estava com fome, com sede, e uma dor persistente latejava na base de seu pescoço, causada pela posição desconfortável em que estava sentada há horas. Mesmo assim, sua expressão era estoica. Seu silêncio era como uma afronta para Natalia, que a observava de longe, tentando entender como aquela mulher podia estar tão calma.Natalia apertou os punhos, frustrada. "Essa vadia devia estar se contorcendo de medo," pensou.
Não posso dizer que não estou ansioso e nervoso. A falta de informações concretas — apenas a foto e aquela mensagem curta, calculada para me atingir onde dói — fazia minha mente fervilhar, tentando juntar peças que ainda nem existiam. Quem seria capaz de algo assim? Quem teria coragem de me desafiar dessa maneira? Bem, seja lá quem for, essa pessoa me conhece. Conhece minha fraqueza. Ou melhor, a minha recente fraqueza. Isabela. Ela é tudo pra mim. O humor da minha vida. A mulher que me tirou daquele buraco em que eu mesmo me joguei. O tipo de buraco que não tem saída. Mas agora… agora ela foi tirada de mim. Sequestrada. Roubada. Não só de mim, mas da família Novack. E quem quer que seja, teve a ousadia de pedir um resgate. Dinheiro. Como se dinheiro fosse a questão. Para mim, dinheiro é irrelevante. Tudo que eu quero é Isabela de volta. Viva. Intacta. Só isso. Mas algo dentro de mim… algo que eu não consigo ignorar… dizia que tinha mais por trás disso. Que a história não era tão sim
Eu estava morrendo de medo. Assim que ouvi a voz de William, meu coração foi à boca. Minhas mãos suavam. Eu não podia olhar para ele ou falar com ele, pois meus olhos estavam vendados, minha boca amordaçada, meus pulsos e pés presos. Eu só conseguia ouvir e sentir aquele medo que finalmente me tomou.Ouvi todas as paredes e todas as barreiras do meu corpo. Mantive-me firme todo esse tempo porque não queria que ninguém achasse que eu era fraca. Sei que algumas vezes me provocaram esperando eu desmoronar, mas eu não fui criada para isso. Minha mãe era uma mulher forte. Meu pai, um homem que não levava desaforo para casa. E meu irmão, muito menos. Se acharam que iam pegar uma pobre coitada, estavam muito enganados.Mas confesso que naquela hora, naquele lugar, tudo mudou.Lá estava William. Eu não podia vê-lo nem tocá-lo, mas podia ouvi-lo. Sua voz. Ele estava ali e queria vir até mim o mais rápido possível, mas era impossível fazer isso. Meu maior medo era que algo desse errado, que alg
Os agentes particulares que Harvey enviara avançavam silenciosamente pela floresta densa, os olhos atentos aos mínimos movimentos entre as sombras. O local que Samanta havia identificado se mostrava ainda mais suspeito do que imaginavam. No centro da clareira, uma casa de aparência discreta, mas fortemente vigiada, indicava que algo grande acontecia ali. O líder da equipe ergueu um punho cerrado, sinalizando para que todos parassem. Eles se camuflaram entre as árvores, analisando a situação. Homens encapuzados, rostos cobertos por máscaras, patrulhavam os arredores com armas de alto calibre—equipamento militar ou, no mínimo, algo que apenas organizações criminosas bem financiadas poderiam obter. A tensão se intensificou. Ele pegou o comunicador e enviou uma mensagem direta para Harvey, que aguardava ansioso. William havia seguido com a polícia para um local completamente errado, uma distração proposital ou um erro estratégico—não importava agora. O que importava era que o alvo ver
Meu coração estava em agonia. Eu podia suportar qualquer coisa, menos perder William, ainda mais dessa forma. Sim, foi de razão, mas… e se não fosse? E se aquele homem tivesse acertado no peito dele, nas costas? E se ele tivesse morrido bem ali? Eu estaria perdida.Era incrível o quanto uma pessoa pode significar tanto para alguém. Significar o bastante para machucar e ferir. Se qualquer coisa acontecesse com ela…O hospital parecia girar ao meu redor, vozes e passos se confundiam em um ruído distante, abafado. Os médicos falavam comigo, mas eu não conseguia ouvir. Meus olhos estavam presos na porta, esperando, esperando…Por que não vão ajudar ele?Ele está bem?Eu quero ficar com ele.Eu não consegui falar. As palavras ficaram presas na garganta, sufocando-me enquanto o peso do medo esmagava meu peito.Então, em pouco tempo, eles chegaram. Meu pai, minha mãe, meu irmão… e Samanta. Assim que minha mãe me viu, veio até mim e me envolveu em um abraço apertado. Eu retribuí no mesmo inst