O banheiro da lanchonete era pequeno e modesto, com um espelho antigo que refletia o rosto de Isabela, ainda corado de vergonha pelas interações no balcão. Ela lavava as mãos, tentando ignorar a sensação persistente de que estava sendo observada. Quando levantou os olhos novamente, notou duas figuras refletidas no espelho: duas mulheres altas, loiras, vestindo roupas de couro preto e jeans rasgados. Elas estavam paradas perto da porta, imóveis, apenas observando.Isabela sentiu um frio na espinha, mas tentou manter a calma. Não havia motivo para se alarmar; elas não haviam feito nada além de olhar. Mesmo assim, o silêncio era sufocante. Fingindo não se incomodar, Isabela secou as mãos rapidamente, murmurou um "com licença" baixo e saiu do banheiro.O corredor parecia mais estreito do que quando ela entrou. A luz amarelada, somada ao barulho abafado de vozes no salão principal, fazia tudo parecer ligeiramente distorcido. Isabela apressou o passo, ansiosa para voltar para junto de Willi
Natalia deslizava pela casa minúscula com a frieza de quem havia planejado cada detalhe meticulosamente. O chalé, isolado em um canto esquecido do mundo, era o cenário perfeito para o que ela tinha em mente. Ali, distante da civilização, de Nova York e da proteção de William, Isabela finalmente estava ao seu alcance. Natalia havia esperado semanas, ocultando-se nas sombras, analisando cada movimento, calculando o momento exato para atacar. Agora, com poucas horas até o ápice de seu plano, ela sentia a excitação gelada da vitória iminente.Cada passo de Natalia era guiado por um ódio que queimava silenciosamente em seu interior. Isabela tinha destruído mais do que um plano. Ela havia arruinado sua confiança de que William, como todos os homens que Natalia conhecera, poderia ser manipulado facilmente. O que começou como uma jogada simples — seduzir William, engravidar e garantir uma fatia da fortuna dele — havia se tornado uma luta pessoal. Não importava o que ela fizesse, William só ti
Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo. Mais cedo, quando falei com minha irmã, jamais imaginei que algo assim poderia ocorrer. Nós a perdermos de vista, colocá-la nas mãos de pessoas que agora, naquele exato momento, poderiam estar machucando-a. Tudo começou com uma sensação estranha, algo que eu não conseguia ignorar. Quando vi sua bolsa jogada no chão e o carro ainda estacionado no mesmo lugar, um alarme soou dentro de mim. Era suspeito demais.Pedi acesso às câmeras de segurança do local, e, naquele instante, tudo desabou. A imagem que apareceu na tela ainda estava queimando na minha mente. A cena era brutal: eles a pegando à força, arrastando-a, enquanto ela lutava, e colocando-a naquela van. Era surreal, como se eu estivesse assistindo a um filme de terror que jamais queria fazer parte.Repeti a gravação várias vezes, tentando achar alguma pista, algo que me ajudasse a entender quem eram aquelas pessoas ou para onde poderiam tê-la levado. Mas parecia inútil. Talvez f
William estava ansioso ao mesmo tempo que preocupado. Ele esperava uma ligação. Na verdade, ele já tinha mandado várias mensagens e telefonado, mas não atendeu. Isabela não costumava o deixar sem notícias. Muito menos, ela esquecia de respondê-lo ou atender o telefone. Eles não tinham obrigado. Tudo que William pensava de um relacionamento era que havia muitas brigas, mas depois tudo se resolvia na cama. E, na verdade, tinha mais a parte boa do que a parte ruim. Só que estar na frente do seu prédio, olhando as horas , encostado no seu carro conversível, o deixou muito preocupado. Então ele resolveu mais uma vez ligar. Já fazia alguns minutos, nada de resposta, nem desceu na hora, e deveriam já estar na casa dos pais dela. O celular chamou, chamou, até que foi atendido, finalmente. Ele ficou aliviado, mas isso duraria pouco. — Isabela, onde você está? — ele pergunta. Mas uma voz chorosa do outro lado da linha o deixa apavorado. — William, você tem que vir direto para a casa dos N
Já tinha-se passado muito tempo. Na verdade, o tempo, mesmo passando rápido ou devagar, era difícil de medir naquele espaço apertado, sufocante. Isabela encarava a porta à sua frente como se ela fosse o único vínculo entre ela e a realidade. A luz que emanava pelas frestas parecia zombar de sua situação, trazendo ecos distantes de vozes acaloradas do lado de fora. O tom subia e descia em discussões que pareciam intermináveis. E, entre tudo isso, havia a figura hesitante do homem que entrava para levar água ou guiá-la até o banheiro. Ele tremia. Sempre. Não era algo que Isabela precisava de muito esforço para perceber. Os movimentos rápidos e as mãos inquietas dele revelavam mais do que ele provavelmente gostaria. Dominique era o tipo de homem que não queria estar ali. Não queria fazer parte de nada daquilo. Mas ainda assim, lá estava ele, com uma tensão quase palpável no ar ao redor dele, como se a qualquer momento pudesse desabar. Do lado de fora, as vozes continuavam. Natália falav
Usar este artifício era um risco não só para mim, mas para toda a família. Passei anos, ao lado de Alisson, desenvolvendo o Espião. Era um projeto secreto, quase clandestino, compartilhado apenas entre nós e, claro, Harvey. Ele era o chefe da empresa, e não havia como esconder algo assim dele. Para minha surpresa, Harvey ficou impressionado com a ideia—talvez até orgulhoso—mas também receoso. E com razão. Tudo que criamos, seja Alisson ou eu, sempre tem o potencial de ser transformado em arma. Nos dias de hoje, qualquer avanço tecnológico pode se tornar uma ameaça nas mãos erradas. O Espião era um exemplo perfeito disso.A ideia era simples: uma ferramenta projetada para inteligência militar, capaz de usar câmeras de vigilância—tanto públicas quanto privadas—para monitorar, rastrear, e, literalmente, espionar em tempo real. Uma criação poderosa, mas altamente invasiva. É claro que, oficialmente, o Espião precisaria passar por aprovações e testes rigorosos antes de ser utilizado. Ofici
Eu não posso acreditar que algo assim está acontecendo comigo. Justamente quando decido abrir meu coração pra alguém, quando finalmente permito que o amor tome conta de mim, sempre algo ruim acontece. É como uma maldição que não consigo quebrar. E agora, a pior de todas as tragédias: Isabel.Não sei onde ela está. Não sei se está viva. Não sei se os monstros que a levaram estão falando a verdade. Essa incerteza me consome como ácido. A agonia pesa no meu peito, me sufoca a cada respiração. Não dá para resolver isso com um estalar de dedos, como eu gostaria. Tudo o que eu mais queria era trazê-la de volta. Salvar Isabel e sentir aquele alívio de tê-la nos meus braços de novo.Mas aqui estou eu, impotente, preso nessa casa enorme, observando outras pessoas correrem atrás de pistas enquanto eu apenas remo contra o desespero. Não adianta me tornar mais um problema para os outros. Preciso manter a cabeça no lugar, mas cada minuto sem resposta parece um passo mais perto de um precipício.O
Os ânimos estavam à flor da pele. Quanto mais o tempo passava, mais o silêncio na casa dos Novack era sufocante. William estava sentado na beira do sofá, o rosto pálido, as mãos apertando o celular como se fosse a única coisa que o conectava à realidade. Todos na sala sabiam que a tensão estava prestes a explodir, mas ninguém ousava dizer nada. Era como se cada um estivesse preso em uma bolha de medo e incerteza.Isabela, no entanto, estava longe dali, numa sala escura e úmida. O frio da parede de concreto atrás dela parecia penetrar seus ossos, mas isso era o de menos. Ela estava com fome, com sede, e uma dor persistente latejava na base de seu pescoço, causada pela posição desconfortável em que estava sentada há horas. Mesmo assim, sua expressão era estoica. Seu silêncio era como uma afronta para Natalia, que a observava de longe, tentando entender como aquela mulher podia estar tão calma.Natalia apertou os punhos, frustrada. "Essa vadia devia estar se contorcendo de medo," pensou.