Mariana saiu do carro e caminhou até o prédio da irmã com passos firmes. Ela havia dito que viria no dia seguinte, mas a inquietação não a deixou dormir. Algo dentro dela gritava que Maria Júlia precisava dela agora.Quando chegou à portaria, não anunciou sua chegada. O porteiro já a conhecia e não questionou quando ela passou direto, subindo pelo elevador até o apartamento de Maria Júlia e Ronaldo.Ao chegar à porta, Mariana notou que ela estava apenas encostada. Seu coração acelerou, uma sensação estranha se espalhou por seu corpo. Com cuidado, ela empurrou a porta e entrou silenciosamente. Foi então que ouviu um barulho vindo do quarto. Risadas. Sussurros.Seus olhos se estreitaram, e ela caminhou em direção ao som, sentindo o sangue ferver em suas veias.Quando empurrou a porta do quarto, a cena que viu a deixou incrédula.Ronaldo estava na cama, sem camisa, e sobre ele estava Juliana, a melhor amiga de Maria Júlia. Eles riam, trocando carícias como se nada mais no mundo existisse
Juliana Sempre fui uma mulher ambiciosa. Desde nova, eu soube que se eu não corresse atrás, ninguém faria nada por mim. Eu não nasci rica, não tive oportunidades, e tudo que consegui até hoje foi porque soube me adaptar. Quando comecei a trabalhar como secretária do Ronaldo, vi nele um homem poderoso, respeitado e, principalmente, um homem que poderia me abrir portas. Mas, no início, não passava disso. Eu o respeitava, e ele me tratava apenas como sua funcionária. Só que com o tempo... as coisas mudaram. Notei quando ele começou a me olhar diferente. No começo, fingi que não percebia, mas lá no fundo, eu sabia que aquilo poderia ser a minha chance de sair do buraco em que eu estava. Foi sutil. Primeiro, pequenas conversas no final do expediente. Depois, saídas inofensivas para um happy hour depois do trabalho. Ele me contava sobre o estresse de ser casado, sobre como Maria Júlia era grudenta, sobre como ele
Ronaldo Meu nome é Ronaldo Albuquerque. Tenho 42 anos e sou CEO da Albuquerque Empreendimentos, uma das maiores incorporadoras do país. Sou um homem de negócios, um estrategista nato, e tudo que tenho hoje não veio por acaso. Dinheiro, poder, influência... Eu conquistei tudo isso. Ou melhor, quase tudo. Porque, no começo, não fui eu que construiu esse império do zero. O capital inicial veio de outra pessoa. Maria Júlia. Minha esposa — ou melhor, minha ex-esposa. No início, eu realmente gostava dela. Maria Júlia era uma mulher bonita, educada, vinha de uma família rica e tinha tudo para ser a esposa perfeita. Quando nos casamos, eu estava apenas começando a construir minha empresa, e o dinheiro dela foi essencial para impulsionar meus negócios. Ela nunca se importou com isso. Era ingênua, achava que estávamos construindo uma vida juntos, que éramos um casal feliz.<
Mariana O caminho para casa foi silencioso. Maria Júlia estava destruída. Eu dirigia com os dedos apertando o volante, meu coração cheio de raiva. Como aquele desgraçado teve coragem de fazer isso com minha irmã? Como Juliana, a melhor amiga dela, conseguiu trair assim? Quando estacionei em frente à minha casa, olhei para o lado e vi Maria Júlia com o rosto molhado de lágrimas, os olhos vazios. — Vamos entrar, Maju — falei suavemente, tentando não transparecer toda a raiva que fervia dentro de mim. Ela assentiu sem dizer nada. Mal conseguia se mexer com a cadeira de rodas, e isso me destruiu por dentro. Ajudei-a a subir o pequeno degrau da entrada, empurrando a cadeira para dentro de casa. — Você precisa tomar um banho. Vai se sentir melhor. Ela não respondeu, apenas me olhou como se não tivesse forças nem para conte
Maria JúliaA viagem até a Suíça foi longa, silenciosa e cheia de pensamentos que me pesavam mais do que qualquer bagagem. Mariana passou o voo todo do meu lado, me olhando com aquele olhar determinado que sempre teve — o mesmo olhar que ela usava quando decidia que ia ganhar alguma coisa e, no fim, sempre ganhava. Eu não sei onde ela encontrou tanta força, mas eu me sentia segura só de tê-la ali.A gente chegou em Zurique logo cedo. O aeroporto era limpo, silencioso e cercado por um frio diferente do que eu estava acostumada. Não era só o clima — era o tipo de frio que vinha com uma sensação de recomeço. Eu olhava pela janela da van que nos levou até a clínica e me sentia uma estranha dentro de mim mesma. A cidade parecia perfeita demais, bonita demais, organizada demais. Tudo em contraste com o caos que estava vivendo por dentro.— Vai dar certo, Mari — Mariana me disse no caminho, segurando minha mão. — Eu sinto isso. Aqui é o lugar.Assenti com a cabeça. Não respondi. Ainda doía d
O mundo pareceu desacelerar no instante em que Maria Júlia viu o carro vindo em alta velocidade. O coração dela disparou, os músculos reagindo antes mesmo da mente processar o que estava acontecendo.Ronaldo estava no meio da rua, distraído, sem perceber o perigo iminente.— RONALDO, CUIDADO! — O grito escapou de sua garganta antes que pudesse pensar.E então ela correu.Tudo aconteceu rápido demais.O impacto veio como um golpe brutal, jogando Maria Júlia para longe. Seu corpo voou pelo ar antes de bater contra o asfalto com força. O barulho do choque do carro contra seu corpo ecoou em sua mente, junto com os gritos desesperados ao redor.A dor foi instantânea. Um calor insuportável percorreu sua coluna, e seu peito se contraiu com o ar que parecia não entrar nos pulmões. Ela tentou se mexer, mas um peso esmagador a impedia.Ouviu passos apressados e um desespero familiar na voz de Ronaldo.— Maria Júlia! Meu Deus, Maria Júlia! Fala comigo, amor!Os olhos dela piscavam pesadamente, a
Maria Júlia O silêncio no quarto de hospital era sufocante. O barulho dos monitores cardíacos ecoava ao fundo, misturado ao cheiro característico de medicamentos e desinfetante. Eu sentia o peso da realidade cair sobre mim como uma avalanche, esmagando qualquer esperança que tentasse surgir."Você perdeu os movimentos das pernas.""Não podemos afirmar se a recuperação será total.""Precisamos de paciência e dedicação."As palavras do médico martelavam minha cabeça, repetindo-se como um eco implacável. Pisquei algumas vezes, sentindo o coração martelar contra o peito, como se tentasse escapar daquela prisão invisível.Tentei me mexer.Nada.Tentei mais uma vez, fechando os olhos com força, implorando silenciosamente para que fosse apenas um erro, um engano. Mas nada mudou. Meus membros inferiores estavam completamente dormentes, alheios à minha vontade.O desespero subiu pela minha garganta, queimando como fogo.— Isso é um pesadelo, né? — Minha voz saiu fraca, quase um sussurro.O Dr
O hospital parecia cada vez mais distante à medida que o carro avançava pela estrada. O céu estava nublado, e o vento frio batia contra o vidro do carro. O cheiro familiar de casa parecia ser o único alívio para Maria Júlia, mas, à medida que se aproximavam de seu apartamento, ela sabia que a vida como conhecia não seria mais a mesma.O elevador do prédio foi uma bênção. Ronaldo pressionou o botão com uma expressão tensa, mas Maria Júlia percebeu que ele tentava manter a calma por ela. O som da porta do elevador se fechando ecoou pelo corredor silencioso, e a sensação de estar indo para casa não trazia o conforto que ela imaginara.— Aqui estamos. — Ronaldo disse, tentando dar um sorriso reconfortante enquanto observava o rosto de Maria Júlia, pálido e cansado.Maria Júlia olhou para o apartamento imenso que os aguardava. Ela nunca imaginou que esse lugar, que tanto representava conforto e segurança, agora fosse o cenário de sua maior luta. Ela estava na cadeira de rodas, mas sabia qu