A primeira semana após o acidente passou em um borrão de emoções conflitantes. A dor física que Maria Júlia sentia não era a única que a consumia. Sua mente estava cheia de incertezas, e o vazio que crescia entre ela e Ronaldo parecia maior a cada dia. Ele a olhava com carinho, mas algo estava diferente. O que antes era uma atenção constante se transformou em gestos rápidos e distraídos, como se ele estivesse sempre pensando em algo mais importante.Era difícil para ela expressar isso, porque ele ainda estava ali. Ainda cuidava dela de uma forma que tentava ser reconfortante. Mas as pequenas mudanças estavam começando a se acumular, e Maria Júlia não podia mais ignorá-las.Nos primeiros dias, ele estava sempre ao seu lado, ajudando-a com a cadeira de rodas, certificando-se de que ela estava confortável. Mas, com o passar do tempo, ele começou a se afastar mais e mais. Ele voltava ao trabalho, tentava retomar a rotina, mas Maria Júlia podia sentir que a conexão entre eles estava se des
Maria Júlia estava sentada na cama, o telefone em suas mãos, hesitando. Sua mente estava cheia de pensamentos desconexos e sua angústia parecia insuportável. O que estava acontecendo com ela? Com o relacionamento dela e Ronaldo? A distância entre eles só aumentava, e a dúvida que se enraizava em seu coração não a deixava em paz. Ela olhou para a tela do celular, respirou fundo e pressionou o número de Mariana, sua irmã mais nova, com quem ela sempre podia contar.O telefone tocou algumas vezes antes de Mariana atender com sua voz animada, algo que Maria Júlia quase não reconheceu naquele momento.— Oi, mana! Como você tá? — Mariana parecia animada, mas Maria Júlia sabia que sua irmã não fazia ideia do turbilhão emocional que a consumia.— Mariana... — Maria Júlia se forçou a falar, mas sua voz falhou um pouco, e ela precisou de um segundo para se recompor. — Eu... eu preciso conversar com você.Mariana percebeu a mudança de tom e a preocupação na voz de Maria Júlia. Instantaneamente,
Mariana saiu do carro e caminhou até o prédio da irmã com passos firmes. Ela havia dito que viria no dia seguinte, mas a inquietação não a deixou dormir. Algo dentro dela gritava que Maria Júlia precisava dela agora.Quando chegou à portaria, não anunciou sua chegada. O porteiro já a conhecia e não questionou quando ela passou direto, subindo pelo elevador até o apartamento de Maria Júlia e Ronaldo.Ao chegar à porta, Mariana notou que ela estava apenas encostada. Seu coração acelerou, uma sensação estranha se espalhou por seu corpo. Com cuidado, ela empurrou a porta e entrou silenciosamente. Foi então que ouviu um barulho vindo do quarto. Risadas. Sussurros.Seus olhos se estreitaram, e ela caminhou em direção ao som, sentindo o sangue ferver em suas veias.Quando empurrou a porta do quarto, a cena que viu a deixou incrédula.Ronaldo estava na cama, sem camisa, e sobre ele estava Juliana, a melhor amiga de Maria Júlia. Eles riam, trocando carícias como se nada mais no mundo existisse
Juliana Sempre fui uma mulher ambiciosa. Desde nova, eu soube que se eu não corresse atrás, ninguém faria nada por mim. Eu não nasci rica, não tive oportunidades, e tudo que consegui até hoje foi porque soube me adaptar. Quando comecei a trabalhar como secretária do Ronaldo, vi nele um homem poderoso, respeitado e, principalmente, um homem que poderia me abrir portas. Mas, no início, não passava disso. Eu o respeitava, e ele me tratava apenas como sua funcionária. Só que com o tempo... as coisas mudaram. Notei quando ele começou a me olhar diferente. No começo, fingi que não percebia, mas lá no fundo, eu sabia que aquilo poderia ser a minha chance de sair do buraco em que eu estava. Foi sutil. Primeiro, pequenas conversas no final do expediente. Depois, saídas inofensivas para um happy hour depois do trabalho. Ele me contava sobre o estresse de ser casado, sobre como Maria Júlia era grudenta, sobre como ele
Ronaldo Meu nome é Ronaldo Albuquerque. Tenho 42 anos e sou CEO da Albuquerque Empreendimentos, uma das maiores incorporadoras do país. Sou um homem de negócios, um estrategista nato, e tudo que tenho hoje não veio por acaso. Dinheiro, poder, influência... Eu conquistei tudo isso. Ou melhor, quase tudo. Porque, no começo, não fui eu que construiu esse império do zero. O capital inicial veio de outra pessoa. Maria Júlia. Minha esposa — ou melhor, minha ex-esposa. No início, eu realmente gostava dela. Maria Júlia era uma mulher bonita, educada, vinha de uma família rica e tinha tudo para ser a esposa perfeita. Quando nos casamos, eu estava apenas começando a construir minha empresa, e o dinheiro dela foi essencial para impulsionar meus negócios. Ela nunca se importou com isso. Era ingênua, achava que estávamos construindo uma vida juntos, que éramos um casal feliz.<
Mariana O caminho para casa foi silencioso. Maria Júlia estava destruída. Eu dirigia com os dedos apertando o volante, meu coração cheio de raiva. Como aquele desgraçado teve coragem de fazer isso com minha irmã? Como Juliana, a melhor amiga dela, conseguiu trair assim? Quando estacionei em frente à minha casa, olhei para o lado e vi Maria Júlia com o rosto molhado de lágrimas, os olhos vazios. — Vamos entrar, Maju — falei suavemente, tentando não transparecer toda a raiva que fervia dentro de mim. Ela assentiu sem dizer nada. Mal conseguia se mexer com a cadeira de rodas, e isso me destruiu por dentro. Ajudei-a a subir o pequeno degrau da entrada, empurrando a cadeira para dentro de casa. — Você precisa tomar um banho. Vai se sentir melhor. Ela não respondeu, apenas me olhou como se não tivesse forças nem para conte
Maria JúliaA viagem até a Suíça foi longa, silenciosa e cheia de pensamentos que me pesavam mais do que qualquer bagagem. Mariana passou o voo todo do meu lado, me olhando com aquele olhar determinado que sempre teve — o mesmo olhar que ela usava quando decidia que ia ganhar alguma coisa e, no fim, sempre ganhava. Eu não sei onde ela encontrou tanta força, mas eu me sentia segura só de tê-la ali.A gente chegou em Zurique logo cedo. O aeroporto era limpo, silencioso e cercado por um frio diferente do que eu estava acostumada. Não era só o clima — era o tipo de frio que vinha com uma sensação de recomeço. Eu olhava pela janela da van que nos levou até a clínica e me sentia uma estranha dentro de mim mesma. A cidade parecia perfeita demais, bonita demais, organizada demais. Tudo em contraste com o caos que estava vivendo por dentro.— Vai dar certo, Mari — Mariana me disse no caminho, segurando minha mão. — Eu sinto isso. Aqui é o lugar.Assenti com a cabeça. Não respondi. Ainda doía d
O mundo pareceu desacelerar no instante em que Maria Júlia viu o carro vindo em alta velocidade. O coração dela disparou, os músculos reagindo antes mesmo da mente processar o que estava acontecendo.Ronaldo estava no meio da rua, distraído, sem perceber o perigo iminente.— RONALDO, CUIDADO! — O grito escapou de sua garganta antes que pudesse pensar.E então ela correu.Tudo aconteceu rápido demais.O impacto veio como um golpe brutal, jogando Maria Júlia para longe. Seu corpo voou pelo ar antes de bater contra o asfalto com força. O barulho do choque do carro contra seu corpo ecoou em sua mente, junto com os gritos desesperados ao redor.A dor foi instantânea. Um calor insuportável percorreu sua coluna, e seu peito se contraiu com o ar que parecia não entrar nos pulmões. Ela tentou se mexer, mas um peso esmagador a impedia.Ouviu passos apressados e um desespero familiar na voz de Ronaldo.— Maria Júlia! Meu Deus, Maria Júlia! Fala comigo, amor!Os olhos dela piscavam pesadamente, a