De volta ao Lar

O hospital parecia cada vez mais distante à medida que o carro avançava pela estrada. O céu estava nublado, e o vento frio batia contra o vidro do carro. O cheiro familiar de casa parecia ser o único alívio para Maria Júlia, mas, à medida que se aproximavam de seu apartamento, ela sabia que a vida como conhecia não seria mais a mesma.

O elevador do prédio foi uma bênção. Ronaldo pressionou o botão com uma expressão tensa, mas Maria Júlia percebeu que ele tentava manter a calma por ela. O som da porta do elevador se fechando ecoou pelo corredor silencioso, e a sensação de estar indo para casa não trazia o conforto que ela imaginara.

— Aqui estamos. — Ronaldo disse, tentando dar um sorriso reconfortante enquanto observava o rosto de Maria Júlia, pálido e cansado.

Maria Júlia olhou para o apartamento imenso que os aguardava. Ela nunca imaginou que esse lugar, que tanto representava conforto e segurança, agora fosse o cenário de sua maior luta. Ela estava na cadeira de rodas, mas sabia que não era suficiente para o desafio que estava por vir.

O apartamento era amplo, com janelas grandes e uma vista deslumbrante para a cidade, mas o que antes era um lugar de luxo, agora parecia um labirinto de dificuldades. As portas eram estreitas, o corredor apertado, e ela já sabia que seu espaço se tornaria limitado, mesmo naquele ambiente gigante. Cada passo parecia um obstáculo, mesmo que fosse só no olhar.

— Eu pensei que nossa casa fosse perfeita para nós dois, mas agora… parece que não foi feita para você. — Ronaldo murmurou, tentando ajustar a cadeira de rodas de Maria Júlia para passar por uma porta estreita.

Ela o observou, seu olhar se tornando distante. A frustração já estava tomando conta. Ele tentou ajudá-la, mas sabia que era só o começo de uma série de ajustes e desafios diários. A simples tarefa de se locomover parecia uma tarefa impossível, e Maria Júlia, sentindo-se cada vez mais impotente, olhou para ele, tentando esconder a dor no peito.

— Eu sei que você está tentando, Ronaldo… mas isso está sendo muito difícil. — A voz dela saiu quebrada, como se cada palavra fosse um peso em seu coração.

Ronaldo parou por um momento e olhou para ela, seu rosto marcado pela preocupação. Ele se abaixou na sua frente, segurando suas mãos com força.

— Eu vou te ajudar. Eu juro que vou. — Ele respirou fundo, seus olhos brilhando com sinceridade.

A dor física ainda era algo que ela podia suportar. O que estava quebrando Maria Júlia era a ideia de que as coisas que ela fazia sem nem pensar, agora pareciam impossíveis. Ela olhou para o banheiro, um dos cômodos mais distantes, e sentiu o peso da impossibilidade da situação.

— Ronaldo, eu… eu não consigo ir ao banheiro sozinha.

As palavras saíram de sua boca com um peso esmagador, e ela viu a angústia nos olhos dele. Ele não sabia como responder. Ele nunca imaginou que sua vida tomaria esse rumo, mas a realidade estava ali, diante de ambos.

Ronaldo respirou fundo, sabendo que estava enfrentando não apenas os medos de Maria Júlia, mas os seus próprios. Ele se levantou e foi até o banheiro, ajustando a cadeira de rodas para que ela pudesse passar.

— Vamos devagar, Maria Júlia. Eu não vou te deixar.

Maria Júlia fechou os olhos, tentando controlar as lágrimas que ameaçavam cair. Ela nunca imaginou que as coisas seriam assim. Ela, que sempre fora independente e cheia de vida, agora sentia que o mundo estava em suas costas.

O processo para se acomodar no banheiro foi lento e complicado. Ronaldo ajudava com paciência, mas ela sentia-se cada vez mais humilhada, como se fosse uma criança dependente de tudo. Quando finalmente conseguiu usar o banheiro, ela ficou parada ali, olhando para o espelho, vendo uma mulher diferente daquela que se olhava há poucas semanas.

Ela sentou-se no sofá, a sensação de impotência tomando conta de seu corpo.

— Eu não sou mais quem eu era. — Ela murmurou, lágrimas escorrendo pelo rosto.

Ronaldo se aproximou, agachando-se na frente dela.

— Você vai voltar a ser. Eu sei que vai. — Ele disse, tocando seu rosto com suavidade. — Eu estou aqui, Maria Júlia. Para sempre.

Ela o olhou, mas a dor ainda estava lá. A realidade a esmagava a cada segundo, e, mesmo com as palavras de Ronaldo, ela se sentia pequena, quebrada. O que ela faria agora? Como seguiria em frente?

Mais tarde naquela noite, enquanto Maria Júlia estava deitada na cama, com o olhar fixo no teto, ela ouviu a campainha tocar. Ronaldo foi até a porta, e ela ouviu a voz familiar de sua melhor amiga, Tiffany, do outro lado.

Tiffany havia sido sua amiga por anos. Elas haviam compartilhado risos, confissões e até mesmo seus maiores medos. Era natural que ela estivesse ali agora, para consolar Maria Júlia.

— Oi, amiga. Como você está? — Tiffany entrou no apartamento com um sorriso forçado, tentando esconder a preocupação.

Maria Júlia não respondeu. Ela estava cansada de sorrir, cansada de fingir que estava tudo bem. Tiffany a viu, em sua cadeira de rodas, e seu sorriso se desfez.

— Oh, Maria Júlia… — Tiffany correu até ela, abraçando-a com força. — Eu sei que as coisas parecem impossíveis agora, mas você vai se recuperar. Vai ficar tudo bem. Eu sei que você vai superar isso.

Maria Júlia se deixou abraçar, permitindo-se chorar nos ombros de Tiffany. Ela sentiu a dor da perda, da mudança, e não sabia mais como lidar com a situação.

— Eu não sei como fazer isso, Tiffany. Eu me sinto tão… perdida. Eu não sei quem eu sou mais. Eu não consigo fazer nada sozinha. Não consigo nem ir ao banheiro sem ajuda. Como eu vou viver assim?

Tiffany se afastou um pouco, segurando suas mãos.

— Amiga, eu sei que você está em um lugar muito difícil agora, mas não é o fim. Não é o fim de você, de quem você é. — Ela respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas. — Vai levar tempo, sim. Vai ser difícil. Mas você sempre foi forte. Vai ser mais forte ainda depois disso. Eu não tenho dúvidas disso.

Maria Júlia olhou para ela, absorvendo suas palavras. Mas a tristeza ainda pairava sobre ela como uma nuvem escura. Ela não sabia se conseguiria seguir em frente. Não sabia como seria possível lidar com tudo isso.

Tiffany acariciou seu cabelo e olhou para Ronaldo, que estava parado na porta, observando a cena com olhos cheios de amor e preocupação.

— Ronaldo, você tem sido incrível com ela. — Tiffany disse, sorrindo. — Ela precisa de você, e você está aqui, mostrando que o amor não é só sobre os bons momentos. É sobre os desafios também.

Ronaldo sorriu timidamente e caminhou até Maria Júlia, sentando-se ao seu lado. Ele segurou sua mão com firmeza, e, apesar da dor que ainda a consumia, Maria Júlia sentiu algo mudar. Ele estava ali, como sempre esteve. Talvez não soubesse como resolver todos os problemas, mas, naquele momento, ele sabia que o maior apoio que ela precisava era o seu amor.

— Eu vou cuidar de você. Sempre.

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