Amara sentiu as cordas pinicarem a sua pele, quanto mais tentava se mover, mais o material áspero cravava em sua carne. Furiosa, emitiu um grunhido que nem sequer abalou Riad. Na verdade, Riad optou por ignorá-la por todo o seu caminho, seus grunhidos e suspiros já não lhe afetavam mais desde os cinco primeiros minutos de estrada. Aquela malfeitora perversa se mostrou muito pouco agradável como companhia viajante, apesar de não dizer nem sequer uma palavra, não parou de tentar uma fuga nem por um momento. Se rebatia, andava de má vontade e o atrasava cada vez mais, Riad já começava a sentir a sua paciência se esvair depressa.
Não possuía tato para com as mulheres, tampouco paciência, nenhuma mulher antes havia lhe desafiado daquela maneira tão desgostosa. Estava mais que acostumado a viver cercado de mulheres prontas para satisfazer a cada uma de suas vontades, de concubinas, criadas e esposas, o seu círculo privado era feito. Era sempre tratado com respeito e muito decoro, a sua posição parecia impelir às mulheres ao seu redor de permanecerem afastadas dele, talvez estivessem habituadas aos castigos impostos pelo pai no palácio em razão da desobediência, que jamais foi tolerada.
Certa vez, viu uma das esposas do pai ter as mãos decepadas, simplesmente porque perdera um brinco de ouro presenteado pelo marido. A visão ainda lhe causava arrepios, impediram-na de receber qualquer tratamento, a pobre sangrou até a morte em um quarto escuro onde foi trancafiada até o seu último suspiro. A barbárie deixava Riad enojado, a crueldade do pai era sua grande marca, impunha respeito pelo medo, e ainda nos dias presentes ainda o temiam por sua crueldade exacerbada. Riad sempre se questionou de onde vinha tanto ódio, o antigo sultão tinha o seu trono embebido em sangue de centenas de pessoas; muitas delas, inocentes.
E a visão da mulher de mãos decepadas nem era sua pior lembrança envolvendo o pai, que sem um pingo de compaixão, matou até mesmo alguns de seus filhos por capricho. Dizia que os mais fracos precisavam ser varridos de sua linhagem, não suportaria que carregassem o seu nome pelo mundo como covardes privilegiados. Riad, como o bom e obediente filho, nunca interferiu, sabia bem que qualquer protesto também lhe levaria até uma dolorosa morte solitária pelas mãos de sua própria gente. Traições eram os piores dos pecados.
Aprendeu a ser forte de um jeito ou de outro. Separado de sua mãe ainda muito novo, jamais voltou a vê-la. Assim como os irmãos, foram destinados aos melhores mestres da guerra, cresceu para a selvageria, aprendeu a matar e a sobreviver. Não se orgulhava de nada disso, talvez por isso escolheu deixar o sultanato, por algum tempo, foi feliz longe de sua terra. E agora, lá estava de volta, na mais alta posição que sonhou jamais em alcançar, comandando todo o império de seu sobrenome mesmo contra a sua vontade, sendo parte daquilo que odiou sempre .
Sob o lombo de seu cavalo a cruzar o deserto, sentia-se pouco importante, e aquela sensação era um alívio, a única vida em sua responsabilidade era a de sua jovem e sedutora prisioneira. Ali, Riad não era ninguém, e estava satisfeito em não ser. Por algum tempo, permitiu-se viver na mentira criada por sua mente de que não haveriam problemas se ali continuasse. Olhou para a jovem, que naquele instante parecia tentar roer a corda ao redor de seus pulsos com os próprios dentes.
De onde havia surgido aquele ser demoníaco desprovido de medo? Que tipo de mulher era capaz de erguer a voz para um homem sem ressalva? Estava intrigado. Amara subitamente parou de andar e permitiu-se ser arrastada pelo cavalo na areia áspera, Riad sacudiu a cabeça farto e parou o corcel de imediato por medo de machucá-la.
— O que pensa estar fazendo? — Questionou ele estreitando os olhos na direção da mulher.
Ela ergueu o seu rosto na direção do homem, seu cabelo desgrenhado sacudindo com o vento forte que atingia o seu rosto.
— Uma tempestade de areia se aproxima. Precisamos nos proteger.
— Não pararemos. Cubra o rosto, seguiremos pela tempestade do mesmo modo. Não estou disposto a desperdiçar meu tempo.
— Escute-me, senhor. Não terá visibilidade, as dunas se moverão depressa e nos perderemos para sempre.
— Conheço bem o deserto. Não preciso de sua opinião.
Furiosa, Amara agarrou a corda que a prendia em seu raptor e a puxou com força, fazendo-o guinar para trás desavisado. Apesar de um homem grande e musculoso, Riad quase vacilou, um segundo a mais e teria despencado de seu cavalo.
— Precisamos nos proteger — Insistiu ela revirando os olhos — Não falo apenas de nós, mas falo pelo teu animal. Ou pretende pedir ao cavalo que também cubra o rosto? Tenho certeza de que ele entenderá perfeitamente.
— Há uma caverna na terra a talvez há uns dez minutos de caminhada, não sei ao certo talvez possa estar errada. — Amara ergueu o seu rosto na direção indicada — Está escondida entre as pedras, parcialmente coberta pela areia.
— Então acho melhor apressarmos o passo. — Falou Riad.
Amara puxou a corda um pouco mais em protesto.
— Espere.
O sultão então se virou a direção da mulher olhando-a, confuso.
— O que é agora?
Ela sacudiu a cabeça devagar. Pareceu ligeiramente envergonhada.
— Preciso fazer minhas necessidades. Talvez eu tenha tomado água demais antes de partirmos. Desculpe-me.
Riad respirou exasperadamente.
— E o que a impede de fazer o que tem de concretizar aqui mesmo?
Amara torceu o nariz, enojada. Não conseguiu crer no que o homem a sugeriu naquele instante, teve vontade de gritar.
— Eu não acredito que está mesmo me fazendo esta pergunta. Não posso urinar com você me olhando a todo momento. Isso é bem pouco cordial de sua parte.
Ele sorriu com o canto dos lábios. É claro que se viraria na hora em que fosse necessário. Riad não estava nem um pouco interessado em ver uma mulher em uma situação tão constrangedora como tal. Afinal de contas, um pouco de privacidade era necessário. Entendia muito bem. Contudo, não podia permitir que Amara fosse para muito longe, a prisioneira precisava estar por perto de forma que fosse possível manter os olhos sobre ela, certamente poderia ser somente um de seus muitos truques.
— Vou desamarrá-la, mas não tente correr. Se o fizer, eu a pegarei de uma forma ou de outra.
A garota assentiu com o seu olhar inocente, os olhos azuis muito calmos brilharam em sua direção como duas pedras preciosas. Não se permitiu afetar pelo rosto delicado e olhos hipnotizantes de menina, era como uma feiticeira perigosa presa em um corpo escultural, dotada de um rosto inofensivo e imaculado. Uma tentação perigosa escondida por detrás de olhos cor de mar. Aproximou-se devagarinho, quase como se temesse ser reduzido em cinzas por aquele olhar ingênuo.
Riad agarrou a faca de sua cintura e cortou o nó que apertava as mãos unidas da jovem. Assim que o pedaço de corda trançada caiu sobre a areia, Amara girou os punhos aliviada. Foi complicado não se compadecer pela situação da jovem, as marcas avermelhadas na pele bronzeada pareciam demasiadamente fundas, sangue brotava em pequenas fissuras. Sentiu-se culpado, prometeu a si mesmo que jamais torturaria uma mulher como parecia ser prazeroso para o pai, que o fazia apenas guiado pelo tédio leviano. Foi arrastado para os terríveis acontecimentos que presenciara, lembrou mais uma vez da mulher de mãos decepadas a gritar insana, sentiu um calafrio correr pela espinha. Sacudiu a cabeça de um lado para o outro, Amara não tinha nada de inofensiva, fez o que tinha de fazer para contê-la, tentou convencer a si mesmo disso repetidas vezes e enquanto afastava os pensamentos sombrios de sua infância.
— Obrigada. — Falou ela — Já não podia sentir os meus próprios dedos.
Riad ergueu a sobrancelha.
— Sabe melhor do que ninguém que não posso confiar em ti. Caso contrário, não seria necessário estar presa a mim.
Ela deu de ombros como se não se importasse nem um pouco com a observação vaga de seu raptor. Amara compreendia perfeitamente o ponto do homem. Essa sempre foi natureza. Sobreviveu durante tanto tempo sozinha desde a morte do pai. O que poderia esperar de uma jovem faminta que sozinha havia cavado o túmulo próprio genitor em sua terra? A fome veio, com ela a sede e a loucura. Precisou seguir sozinha, ou morreria sentada em um canto escuro do casebre, definhando depressa. Sentia-se sozinha. Não tinha ninguém. Aprendeu a não confiar em ninguém. Nunca aprendeu a ter amigos, mas aprendeu a não precisar dos outros.
O que o estranho entenderia sobre isso?
Ela mesma não confiava em si na maior parte do tempo. Nos nossos dias silenciosos em que só o som da areia se movendo nas pedras era o que enchia os cômodos de sua casa, Amara se dava conta de que por dias nem sequer ouvia a própria voz. Sendo sincera, nos últimos momentos já havia trocado mais palavras com um estranho do que já trocara por toda a sua vida.
Suspirou. Virou de costas e fez o seu caminho para longe de Riad.
— Vire-se, meu Senhor. Não espera mesmo que eu faça o que tenho de fazer sobre os seus olhares curiosos, não é mesmo?
Ele sorriu com os cantos dos lábios em divertimento.
— Certamente. — Respondeu já se virando na direção de seu Corcel, acariciando o lombo do animal.
Ouviu os passos da jovem se distanciarem devagar. Não se preocupou nos primeiros segundos, mas em pouco tempo, os passos se tornaram demasiadamente apressados. Estranhou. Virou-se depressa a tempo de ver a jovem correndo feito louca pelo deserto. A cada passo, vacilava e caia. Os dedos afundavam completamente entre a areia e o seu lenço sacudia com o vento.
Praguejou furioso pela tolice, mais uma vez havia se deixado levar na conversa daquela garota, coisa que pensou que voltaria jamais a acontecer. Sempre se achou tão esperto, mas agora havia conhecido uma garota tão esperta quanto ele. Uma criminosa oportunista de olhos hipnotizantes e convincentes que o havia enganado duas vezes.
— Volte aqui! — ele berrou furioso — sabe que não tem para onde fugir, Amara. Vou encontrá-la de qualquer modo!
Amara não recuou nem sequer por um segundo. Continuou correndo sem rumo, os braços sacudindo ao redor do corpo. Uma única oportunidade, não teria outra chance. Não poderia se permitir ser capturada mais uma vez, estava em pleno desespero. Correu até que os seus calcanhares parecessem ter se tornado areia.
Desceu a duna desnorteada, resfolegante, foi quando aquela mão agarrou o seu vestido pela altura do pescoço, puxando o lenço com o solavanco. Amara gritou. Em seguida, caiu feito uma fruta podre, rolou descontrolada como uma pedra na encosta, sentindo a areia debaixo de seus pés se mover para longe.
Seu perseguidor também não teve muita sorte. Ambos despencaram juntos e rolaram sem rumo, areia entrando em suas roupas, ouvidos, boca e nariz.
Em uma grande confusão de corpos, caíram sobre o chão fofo. Amara caiu sobre o homem. O rosto bem próximo ao dele. Seus corpos unidos, cobertos por uma fina camada de areia, se entreolharam por um breve segundo em reconhecimento. Amara praguejou. Moveu-se para longe profundamente envergonhada. Cuspiu um punhado de areia seca e sacudiu o cabelo desgrenhado.
Imediatamente, Riad saltou sobre a moça e a prendeu com os seus braços musculosos mais uma vez contra o chão. Seu corpo pesado sobre o dela de forma ameaçadora, seus olhos castanhos procurando os olhos de Amara. As bochechas da jovem envergonhada foram tomadas pelo rubor. Sua tentativa de fuga falha havia se tornado um grande desastre pelo qual teria de conviver.
— Eu disse que a alcançaria. — Sorriu ele satisfeito — Não pode mais fugir de mim.
Ela bufou furiosa.
— Eu tinha de tentar. Não é mesmo? — Sacudiu a cabeça tentando fingir algum orgulho.
O sultão ergueu-se sob os seus calcanhares e puxou a garota do chão com um solavanco. Desconcertada, a moça ajeitou o vestido. Pareceu extremamente perturbada pelo toque firme e repentino do homem. Estremeceu. Riad fingiu não notar. Tentou não imaginar coisas, quanto menos pensasse sobre o assunto, melhor seria.
— Vamos voltar. Não temos muito tempo até a caverna. Como pode pensar que fugiria de mim assim tão facilmente? — Zombou ele sacudindo a cabeça — é mesmo uma grande estúpida.
— Não seja assim tão confiante, meu senhor. Sou tão estúpida que fui capaz de enganá-lo por duas vezes, quer mesmo apostar que haverá outra chance?
Riad soltou o ar devagar pelas narinas um tanto cansado, não estava nem um pouco à vontade em responder ao desaforo da jovem. Nas mãos de um outro homem, teria levado uma grande surra, era sortuda somente por não ter ideia alguma da verdadeira identidade de seu raptor. Era honrado, pouco inclinado às terríveis crueldades executadas por sua família, não a machucaria intencionalmente jamais.
— Meus homens estão espalhados pelo deserto, provavelmente a minha espera — Alertou ele — Nenhum deles seria tão cordial quanto a mim. Entenda, Amara, por mais que não acredite, não desejo o teu mal. Enquanto estiver comigo, estará segura.
— Segura? Me arrancaste de minha casa e ainda me fala sobre segurança? Se não deseja me machucar, me permita ir embora. Prometo a você que não voltarei a roubar ou machucar forasteiros ingênuos, apenas permita-me voltar a minha terra e jamais verá o meu rosto outra vez.
— Sabe muito bem que não posso fazer isso. Não confio em tuas palavras. — ele a soltou brevemente e a empurrou para que seguisse.
— Está começando a se tornar um homem esperto — Zombou ela com um sorriso largo pouco disposta a ceder — Também não confio em ti, senhor. E para minha precaução, peço apenas que mantenha as tuas mãos longe de mim doravante.
O sultão sorriu em divertimento e ergueu as sobrancelhas frente a audácia da jovem.
— Com todo o prazer.
A abertura da caverna era quase imperceptível. Entre as colossais cadeias montanhosas que abrigavam o berço do deserto arenoso, e escondida entre espessas dunas no pé de uma montanha, uma abertura na pedra podia ser vista somente com muita atenção por olhos perspicazes. Era quase impossível ver a fresta na pedra devido à ação do tempo e do vento, que ocasionalmente movia as colinas de areia. Parecia pouco natural, como se houvesse sido escavada pelos homens há centenas de anos. Não era surpresa, haviam pelo menos uma centena de cavernas como aquelas espalhadas por toda parte no deserto até o sul do sultanato de Abal. Além de servir como moradia aos beduínos, também serviam como proteção contra as tempestades de areia e contra o frio temeroso das noites. A noite, as temperaturas despencavam drasticamente. Era necessário se aquecer em algum lugar onde o vento cortante do deserto não acertasse o seu rosto como laminas afiadas. No céu, as nuvens amarelas pinceladas de um laranja intimid
Em seu sono fraco, Amara teve uma noite turbulenta regada de pesadelos. O último sonho deixou-a completamente aflita, a angústia entalada em sua garganta alcançava o seu peito depressa e se espalhava por todo o corpo como um veneno. Em seu sonho, chegou a Dhafik junto à Riad como lhe foi prometido, contudo, algo estava errado. A cidade estava vazia. Amara direcionou o seu olhar assustado na direção de Riad, mas seus olhos muito gentis já não emitiam o mesmo brilho sincero, as órbitas estavam completamente vazias, e o escuro encarou-a como se estivesse na beira de um precipício. Deu um passo para trás muito assustada. Sentiu o coração desesperado bater depressa no peito, tentou dizer algo, mas não havia voz. Emitia apenas um ruído engasgado seco, nem uma palavra sequer pôde ser articulada. Mãos pesadas seguram os seus braços com violência, dois homens sem rosto a agarraram depressa, agradeceram à Riad com um aceno e a arrastaram para longe, seus pés congelados se arrastando contra o
O corpo de Samia repousava sobre um leito de flores, meticulosamente arranjado pelas criadas, cujas mãos habilidosas conferiam um toque de cores vibrantes e detalhes requintados. No entanto, mesmo com o esmero dedicado à preparação, seu rosto pálido e cadavérico não conseguia escapar da inescapável evidência de sua morte. Uma vez mais, uma mulher de Riad sucumbira, deixando-o imerso em um véu de mistério e desconfiança. Cada olhar discrepante e cada palavra que ressoasse de maneira desafinada se tornavam motivos para suspeita, e Riad percebia claramente a trama do assassino, urdida para semear desconfiança em seu reino. Embora não mantivesse uma proximidade íntima com Samia, a perda repetitiva de pessoas próximas estava corroendo Riad. A sensação de perder o controle, de ver as rédeas de seu sultanato e palácio escorregando de suas mãos, crescia incessantemente. O retorno de sua viagem desencadeou uma avalanche de reflexões sobre a desordem que permeava sua vida. A presença de Amara o
Ao longo de sua existência, Amara jamais repousara em uma cama tão luxuosa, adornada com lençóis imaculados. Encontrava-se em um recinto acolhedor situado nos recessos da inexpugnável fortaleza que abrigava o palácio do sultão. Roupas impecáveis foram providenciadas, seu longo cabelo foi habilmente trançado, e um banho quente aguardava por ela. Apesar do conforto ao seu redor, permaneceu serena, imersa em um silêncio permeado pelo temor. A possibilidade de que tudo fosse um ardil pairava em sua mente, talvez conduzindo-a a uma cela terrível onde sua vida seria ceifada por uma lâmina afiada em questão de instantes.As criadas observavam-na com curiosidade, manipulando seus cabelos com firmeza enquanto cochichavam discretamente. A notícia da chegada da mais recente adição ao harém do grande sultão rapidamente se espalhou pelos recantos do palácio, despertando a surpresa e curiosidade de todos. Entretanto, ela havia despertado a fúria da primeira esposa do sultão, prenunciando um destino
As quatro faces do pátio interior guardavam no centro do claustro um pequeno oásis. As colunas de pedra que erguiam as paredes formavam gigantescos arcos, que davam espaço a uma galeria de corredores extensa. Palmeiras e pequenas árvores cercavam um jardim cuidadosamente elaborado, arbustos cresciam pelas vigas se misturando com os desenhos da cerâmica das paredes brancas, pássaros exóticos bebericavam água à beira da fonte central. Ao pisar pela primeira vez naquele recinto, Amara não soube explicar o que sentiu, todas aquelas cores e cheiros como o do almíscar e incenso tomou conta de seus sentidos. Lentamente foi arrastada pela curiosidade até o centro do claustro, assustado os pássaros para longe quase de imediato. Seus olhos não puderam acreditar no que viu em seguida, bem próximo às paredes que davam início aos muros da fortaleza do palácio, crescia livremente em um canteiro uma magnífica flor do deserto. Seu caule grosso e retorcido era tão grande quanto as colunas, as flores r
Nos dias que se sucederam, Amara sentiu-se apagando devagarinho como pegadas nas areias do deserto. Enquanto conhecia a rotina das mulheres do palácio, prometeu a si mesma que não lutaria mais contra o seu destino, na verdade, começou a apreciar o fato de ter três refeições ao dia e água fresca em abundância.Decerto, não havia sobre o que reclamar. Desde que permanecesse longe de Jamile, os dias no palácio eram suportáveis. Descobriu que a esposa do sultão era adepta de longos passeios matinais pelas redondezas da cidade na companhia de um sobrinho ou tio, e toda a sua guarda pessoal. As mulheres não eram permitidas a perambularem sozinhas por qualquer lugar sem a presença de um homem de sua família.E, na verdade, Jamile era a única esposa permitida a sair das imediações da fortaleza, Faiza explicou à Amara sobre como as esposas que vinham da realeza se tornavam o topo de uma cadeia invisível que estabelecia as relações e direitos das mulheres da casa. Certamente, nenhuma das duas m
Amara foi bem sucedida em seu propósito de chamar a atenção do sultão, contudo, sempre que estão na presença um do outro, é como se não soubessem conversar. E o sultão estava particularmente intrigado com a resistência da jovem em aceitar que ele não desejava nada em troca, apenas mantê-la segura sob o seu teto já lhe era o suficiente. Por mais atraído que viesse a se sentir pela garota, não podia simplesmente perder o controle do sultanato por pura imprudência. Não importa o quanto se esforçasse, seus pensamentos sempre eram assolados por aqueles olhos azuis penetrantes que lhe vasculhavam a alma e indagam perguntas difíceis demais para responder. Mas quando estavam sozinhos, tudo pareceu tão óbvio em sua mente. Estava tão absorto em seus pensamentos sobre a intrigante garota que retornara ao seu quarto sozinho naquela noite. Em sua cama extensa, deitou-se contrariado e pôs-se a imaginar aquele rosto delicado, seus traços fortes, mas ao mesmo tempo, tão femininos, tão doce e envolve
Um silêncio incômodo se instaurou em cada canto daquele palácio. Nas manhãs quentes em que todas as mulheres do harém se reuniam no jardim, não houve risadas ou conversas acaloradas, apenas uma inquietação taciturna que permeava o recinto.Entre olhares de canto trocados, movimentos mecânicos e murmúrios, os dias que sucederam à descoberta do corpo sem vida de Imani foram estranhos. A atmosfera pesada de desconfiança fez com que umas olhassem para as outras se perguntando quem poderia ser a culpada. Se já antes aterrorizadas, agora, o medo era paralisante, encaram um perigo real.Mortes que ocorriam sem nenhum sentido aumentaram a tensão depressa. Desde aquela noite fatídica, Amara não voltou a ver o sultão, ninguém mais tinha permissão de deixar os muros do palácio, todos se viram confinados em constante desconfiança por longos momentos. Estava incomodada, pensava a todo instante sobre o pedido de ajuda de Riad, imaginando como ela poderia conseguir ajudá-lo de fato. Estava tão no es