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Um silêncio incômodo se instaurou em cada canto daquele palácio. Nas manhãs quentes em que todas as mulheres do harém se reuniam no jardim, não houve risadas ou conversas acaloradas, apenas uma inquietação taciturna que permeava o recinto.Entre olhares de canto trocados, movimentos mecânicos e murmúrios, os dias que sucederam à descoberta do corpo sem vida de Imani foram estranhos. A atmosfera pesada de desconfiança fez com que umas olhassem para as outras se perguntando quem poderia ser a culpada. Se já antes aterrorizadas, agora, o medo era paralisante, encaram um perigo real.Mortes que ocorriam sem nenhum sentido aumentaram a tensão depressa. Desde aquela noite fatídica, Amara não voltou a ver o sultão, ninguém mais tinha permissão de deixar os muros do palácio, todos se viram confinados em constante desconfiança por longos momentos. Estava incomodada, pensava a todo instante sobre o pedido de ajuda de Riad, imaginando como ela poderia conseguir ajudá-lo de fato. Estava tão no es
— Diga alguma coisa, Amara. Teu silêncio está me matando — Faiza sentou-se na cama ao lado da jovem com o seu olhar desconfiado — Vi quando o sultão chegou, e ele parecia muito interessado em ti mais cedo. Disse a ele tudo aquilo que conversamos? Pode ser perigoso demais se meter nesses assuntos masculinos Amara.— Nós temos um acordo. — Respondeu Amara caminhando em direção a porta decidida — Eu posso não ter sido capaz de lhe dizer tudo, mas isso não significa que não conseguirei impedir o que nos acontece agora.— Aonde está indo?A jovem fechou a porta atrás de si sem emitir uma resposta. Com passos firmes e resolutos, ela cruzou o corredor. Faiza, emergindo do quarto, seguiu-a, mantendo uma expressão neutra e inalterada. Amara avançou mais alguns metros antes de parar abruptamente diante da porta dos aposentos de Jamile. Ela estava determinada a advertir sua antagonista sobre o perigo iminente. A maneira como Jamile receberia tal aviso era de menor importância para Amara; o que r
Uma corneta ruidosa soou do alto de uma das torres.Naquele instante, todos os olhares se direcionaram para cima um tanto desconfortáveis. O som estrondoso causou a cada ser um arrepio tremendo, um medo visceral que aos poucos se tornou em desespero. Rapidamente, todos que transitavam pelos pátios e jardins do palácio adentraram assustados, um silêncio estranho fez com que todas as mulheres do harém se recolhessem apavoradas. A corneta era tocada em poucas ocasiões, dentre as mais temerosas, a possibilidade de invasão era a pior delas.Da última vez que o palácio teve sua fortaleza penetrada pelos inimigos, não restara muito aos que ali viviam, sobretudo às mulheres da ala feminina do sultão, que em suma, foram mortas ou escravizadas. O destino poderia ser assustador sempre que a corneta soava do alto de uma das quatro torres, tudo era possível, e nesse tudo, para as mulheres a situação nunca seria a melhor. Aquele som agudo estrondoso capaz de gelar os ossos, imediatamente fez com qu
— Não penso haver necessidade de tamanho Alarde, meu amigo. — Karim atravessou ao redor da mesa com um olhar sério em seu rosto — Trancar o palácio somente despertará um pânico desnecessário na cidade. Que mesmo que questionem o seu poder sobre Dhafik?O sultão sacudiu a cabeça devagar e apoiou o rosto entre as mãos, cansado de ouvir a todo momento as mesmas coisas. Estava particularmente farto de seguir conselhos inúteis, e desta vez não estava com receio de que questionassem suas capacidades de liderar as próprias terras.— Respeito a tua opinião, Karim. Contudo, não mudarei de ideia sobre isso. Ninguém sai ou entra até segunda ordem.— Mas sultão, há famílias que serão separadas por tempo indeterminado. Há muito mais em questão para se considerar...Riad se levantou aborrecido e bateu com as mãos sobre a madeira crua da mesa, ressoando um estrondoso baque seco pelo cômodo.— Ninguém mais morrerá neste palácio. Se eu tiver de interrogar cada um, cada ser, cada criado deste lugar eu
Amara olhou-o estupefata, retirou o véu estremecida e encarou o sultão. Os olhos castanhos penetrantes do homem observando-a de perto com muita atenção. Se olharam por um momento, um momento capaz de durar uma eternidade, exatamente como se fosse a primeira vez.— Como soube que era eu sob o véu? — Questionou Amara deslizando o seu lenço para baixo com a ponta dos dedos.Riad retirou uma mecha de cabelo do rosto da mulher, as pontas de seus dedos roçando de leve em sua pele com muito cuidado e ajeitando cabelo por detrás da orelha. Naquelas vestes sofisticadas, ela aprecia ainda mais bela, sua pele um pouco pálida parecia reluzir em contraste com o tecido vermelho bordado em fios dourados. As mãos muito delicadas sequer pareciam mãos de uma ladra, agora, olhando-a de perto depois de tanto tempo, seu olhar gatuno continuava o mesmo, mas não era tão selvagem; tão acanhando, a segurança que parecia minada há pouco tempo, agora parecia completamente restabelecida naqueles olhos divinos.—
— Deixem-me sair daqui! — Berrou Amara, mais uma vez trancafiada como um animal.Agarrou-se nas grades, colérica. O metal enferrujado era áspero, grosso o bastante para que não pudesse ser retorcido ou quebrado, as hastes metálicas eram presas no alto, acima de sua cabeça. O buraco que a jogaram era fétido, cheirava a urina, fezes e haviam marcas do que Amara imaginou ser unhas nas paredes, que consistiam de uma mistura de terra vermelha, palha e água.A escuridão talvez fosse o pior, não que a jovem temesse de fato o escuro, mas sim porque ouvia os passos dos soldados acima dela, suas sandálias e botas de couro contra o chão empoeirado. Às vezes, alguns mais afoitos paravam à beira da cela escurecida e iluminavam o rosto de Amara com suas tochas, alguns realizavam comentários infames sussurrados e caíam na gargalhada. Amara saltava sobre as grades feito um grande felino ferido, assustando-os para longe enquanto gritava, gritava sem parar.Mas não era ela quem gritava, os gritos que s
Audaz.Seria o que qualquer um teria pensado se previsse a fuga astuciosa das duas mulheres naquela noite febril tomada pelo caos. Contudo, ninguém a observou quebrar a corrente de sua jaula, saltar para fora com a habilidade que utilizava para escalar as montanhas de pedra. Estavam ocupados demais para mover os olhos na direção do cativeiro. Havia algo maior acontecendo, das quatro torres do palácio as trombetas alarmantes chamavam todos os soldados para as entradas de todo o lugar de modo a proteger o seu soberano. Em meio à movimentação, as duas se aproveitaram das sombras para deslizar na escuridão em direção a grande confusão que se estendia por toda parte.A orgulhosa sultana ao olhar pela primeira vez para a sua algoz, agarrou-a pelos ombros um tanto possessa.— Este vestido é meu! — Exclamou estarrecida.— Eu deveria tê-la deixado para trás. Não me faça mudar de ideia. — Rumorou Amara, puxando-a para um canto escuro, longe de toda a desordem desesperadora.Jamile ergueu o seu
Os gritos impetuosos de Riad podiam ser ouvidos de todos os corredores adjacentes do grande salão dourado. Ansioso, o sultão andava de um lado para o outro dando ordens à guarda do palácio. Esfregou a barba e praguejou baixo, seu humor volátil aumentando a tensão entre todos. A sala repleta de vizires o encarava, os homens falavam alto, discutiam entre si e pareciam se distanciar cada vez mais do assunto principal. — Basta! — sua voz ecoou sonorosa entre os presentes, chamando a atenção de todos repentinamente — Não consigo pensar com todo esse alvoroço. — Não há sobre o que pensar, sultão. Ahmad é o traidor, encontraremos o patife e pagará com a vida. — Janam disse do canto do salão, sua túnica escura o fazendo parecer um fantasma entre eles — Nunca foi nenhuma novidade que o Grão-Vizir desejava o mais alto poder do sultanato, meu senhor. — Janam está correto. — Karim tocou o ombro de Riad com um aperto firme e lhe direcionou um olhar severo, intimidador, quase não lhe dando escol