Eu não queria aceitar essa proposta absurda, mas nos dias que seguiram minha mãe só piorava, e o fato dela ser diabética complicava mais sua situação conforme os dias passavam. Ana Cláudia me encorajava a dizer sim, mas eu tinha muito medo de ir para longe de tudo e com um desconhecido.
Minha mãe teve uma recaída, além de ir perdendo aos poucos a capacidade de enxergar, estava cada dia mais triste, e temia que estivesse entrando em depressão. Mais uma vez, aquele homem veio aqui em casa, sua insistência me deixava à beira de cometer a maior loucura da minha vida.
— Estou aqui mais uma vez e agora, esperando que me dê sua resposta. Leon insiste que entremos o mais breve possível em um avião.
— Sinto muito medo, senhor. Quantas garotas são levadas para fora e têm seus corpos vendidos para homens de fora, traficadas sexualmente ou têm seus órgãos vendidos!
— Isso não vai acontecer com você, minha palavra pode não valer, mas terá toda a segurança que precisa! Usará seu celular à vontade para comunicar-se com seus parentes aqui, pode avisar a eles e até pedir que pesquisem sobre mim e os casos que cuidei como advogado.
— Eu já fiz isso, seu nome existe e tem registro na OAB.
— Viu, se eu falhar com você, Lana, minha carreira profissional e o prestígio da minha família que tanto prezo estarão para sempre acabados!
— Mas esse tal Leon Versalles, ele parece ser uma pessoa que não existe. Por que não há nada sobre ele na internet?
— Leon é um homem que vive recluso, não gosta de se expor!
— Ele é jovem?
— Sim, tem 34 anos. — O advogado respondeu.
— Posso ver uma foto dele?
— Ser sincero com todas as jovens que levo comigo é parte do meu acordo com Leon. Ele sofreu um acidente há alguns anos e sua aparência foi comprometida, Lana.
— Eu não me importo com isso, meu medo é estar entrando em uma armadilha.
— Quanto a isso, terá que confiar em mim e no contrato que está com você.
— Minha mãe está a cada dia pior, doutor Alberto, não posso ir para fora do país e deixá-la desse jeito! Se eu concordasse e estipulasse mais algumas condições, seu cliente aceitaria?
— Estou aqui disposto a te ouvir e remover o seu desejo de recusar a oferta.
— O senhor disse que Leon está disposto a custear o tratamento, eu quero que ela seja tratada aqui em Palmas e não na Itália. Porque aqui, minha amiga Ana Cláudia irá cuidar dela para mim!
— Certo, passaremos uma quantia mensal para ela, procurarei a melhor clínica hoje mesmo e tiraremos o seu passaporte.
— Estou fazendo isso por ela, doutor, minha vida é por minha mãe. O medo vai estar comigo o tempo todo, mas tenho que confiar minha vida ao senhor!
— Eu juro, Lana, que te trarei de volta para casa, se assim for o seu desejo.
Saí com ele e encontramos uma clínica excelente e fomos levar meus documentos para tirar o passaporte. O ouvi falando ao telefone.
— Sim, Leon, ela irá!
Um passaporte demoraria seis dias úteis para ficar pronto, mas aquele homem era poderoso e conseguiu que o meu estivesse em nossas mãos, em apenas dois dias.
— Tome, este adiantamento e compre roupas de frio e o que for necessário para a viagem.
— É muito dinheiro, não é necessário que me dê tanto! Eu só me preocupo com a minha mãe.— Terá cinco mil reais em sua conta ainda esta noite, para que se sinta mais tranquila ao viajar, sabendo que sua mãe não estará desamparada e muito menos financeiramente.Ele foi embora, Ana Cláudia sempre foi a pessoa em quem mais confio neste mundo, além da minha mãe. Alberto garantiu a ela sete mil reais por mês, para cuidar da minha mãe e mais três mil para gastos extras.— Eu vou, Ana, mas quero que cuide da minha mãe e me mantenha informada sobre tudo. Se eu não der notícias por mais de um dia, chame a polícia. Diogo tem uma cópia do meu contrato e saberá como fazer legalmente para me procurarem, em dois dias irei com Alberto.— Eu vou cuidar da sua mãe, sempre gostei dela como se fosse a minha. E parte desse dinheiro, eu vou guardar para você, Lana! — Ana Cláudia estava com pena de me ver nessa situação, logo eu, tão cheia de pudores, e iria me vender a um desconhecido.— Vou dizer para minha mãe que consegui um emprego de babá, não deixe nunca que ela saiba o que estou indo fazer, na verdade.Naquela noite, fui até o quarto da minha mãe e expliquei parte do que estava prestes a fazer.— Não estou abandonando a senhora, estou indo para conseguir a sua cura! — Peguei na mão da minha mãe, ela chorava.— Eu já sou velha, posso aceitar viver na escuridão e me acostumar com isso.— De jeito nenhum, e vou trabalhar muito e Ana Cláudia vai cuidar da senhora para mim! Prometa que vai se cuidar...— Eu prometo filha, obrigada por não desistir da sua velha mãe que te ama tanto. — Eu chorei e nos abraçamos bem forte.Agora eu tenho a força que preciso para enfrentar esse tal Leon, seja ele quem for ou como for. Não consegui dormir pensando nos dias seguintes, levantei—me cedo e fui comprar algumas roupas para levar, e sequer uma mala decente eu tinha.Até comprei algumas lingeries, no contrato dizia que ele não gostava de cores muito extravagantes e que preferia que eu sempre usasse preto. Eu não gosto de estar sempre tão formal, não sei se ele vai gostar muito, mas escolhi algumas cores para os agasalhos e roupas íntimas. Cheguei em casa e lavei as roupas, fiquei deitada na cama lendo um pouco mais sobre o contrato e ele exigia que eu não fosse virgem.— Não consigo te decifrar, Leon, você é muito estranho!Não posso te tocar durante as relações sexuais a menos que me peça, não dormiremos na mesma cama e nem iremos dividir o mesmo quarto, devo almoçar com os demais empregados, não posso ouvir música alta, não posso me negar ao ato sexual a menos que esteja no período menstrual, não posso te beijar, devo escolher um dos dois métodos contraceptivos a minha livre escolha: DIU (dispositivo intrauterino) ou implante contraceptivo, e ambos devem ser trocados e/ou recolocados a cada três meses.Após ler tudo aquilo, consegui enfim dormir.No dia seguinte, Alberto me ligou e entrei em um táxi para irmos até uma clínica. Lá eu faria alguns exames de rotina, só assim eu estaria oficialmente pronta para ir. Realizei uma bateria de exames, todos negativos para doenças sexualmente transmissíveis e até para saber se eu estava grávida.— Agora, sim, está pronta para ir. Em dois dias e com seu passaporte, estaremos na primeira classe em direção à Itália.— Sim, senhor!Fiquei olhando as coisas que comprei, até a cor das minhas roupas ele queria intervir, nada poderia ser em tom muito vibrante. Sinto-me indo viver com um vampiro, escolhi como método contraceptivo o uso do implante subcutâneo.Um dia antes de ir, fui ao ginecologista e coloquei o tal implante em um procedimento tranquilo e rápido. Depois, fui até o cemitério e levei flores para o meu pai. Ele era caminhoneiro e acabou morrendo em um acidente. A falta do amor dele sempre esteve na minha vida, não que minha mãe tenha deixado de me dar todo o carinho, mas é diferente ter uma figura masculina para educar e dar amor. Nas festas do dia dos pais, ou nas comemorações da escola, eu sempre era vítima de bullying.
— Onde o senhor estiver, papai, não sinta vergonha de mim ou do que estou prestes a fazer. Minha mãe precisa e eu faria o mesmo por você! Deus, me dê forças para suportar esses 365 dias ao lado desse desconhecido, que ele seja calmo e que goste da minha companhia!
Saí do cemitério, fui fazer as unhas e ao salão de beleza. Eu tinha que chegar bem arrumada, apesar do tempo que iria levar para isso. Alberto me ligou e disse que o passaporte estava pronto e iria me buscar já bem cedinho amanhã. Sempre que falávamos no assunto, me dava um frio na barriga. Seriam 13 horas de voo sem escalas.
— Vamos chegar à noite, ficaremos em um hotel. E no dia seguinte, partiremos para Bérgamo.
— Sim, senhor! — Tão longe de tudo e todos, doutor Alberto me deu um celular, dos melhores modelos, para que eu possa me comunicar com todos aqui o quanto eu quiser.Não que isso me deixe aliviada, só vou ter certeza de que fiz bem ao assinar esse contrato quando eu estiver frente a frente com o tal Leon Versalles.
Dentro de dois dias, ela estará aqui. Pedi a Ofélia que preparasse o quarto de sempre para Lana. Todos os empregados foram comunicados sobre sua chegada. Nenhuma das minhas acompanhantes tem autorização para dar ordens, e todos os seus pedidos precisam ser submetidos a Ofélia e, depois, a mim. Me pego imaginando como será a voz dela. Telefonei para Alberto, e ele demorou para atender. Com certeza, também estava aproveitando a viagem para rever seus familiares. Não sinto falta do Brasil, mesmo tendo morado lá por um tempo durante minha infância. A Itália me proporciona tudo o que eu preciso: solidão e paz! — Leon, você tem visita. — Ofélia disse ao bater na porta e me tirar dos pensamentos. — Como sempre, diga que não estou com humor para receber visitas. — É sua prima Carla, já disse que não vai embora antes de falar com você, Leon. Conheço bem a obstinação de minha prima. Ela se tornaria ainda mais insuportável se eu não a atendesse. — Diga a ela que espere! [...] Carla sentia qu
Estávamos no aeroporto, minha mãe nos acompanhou com Ana Cláudia; mentir para ela era doloroso. Eu disse que estava indo trabalhar como garçonete e o doutor Alberto era o dono do restaurante. Anunciaram nosso voo, e meu coração parecia querer saltar de dentro do peito. Dei um forte abraço nas duas, e nossas bagagens já haviam sido despachadas. — Temos que ir agora, Lana! — Sim, senhor. — Subimos as escadas rolantes, pelo vidro eu vi aquele imenso avião, eu me levaria para tão longe de todas as pessoas que eu amo. Nossas passagens eram na primeira classe, e havia muitas pessoas elegantes. — Aqui, esses são nossos assentos! Alberto avisou-me, e ele já estava acostumado a ir e vir o tempo todo. Ele dizia que Leon mandava buscar muitas coisas no Brasil e não só mulheres. — Você está tão séria, sua expressão é de medo. Não precisa ficar assim, eu já te dei minha palavra de que pode confiar em mim. — Mas é que esse Leon… não sei por que, mas eu sinto medo só de ouvir o nome dele. É co
Eu a vi chegar, estava olhando pela janela do quarto e escondido atrás da escura persiana. Ela é muito mais bonita do que eu imaginava, percebi o modo como Fabiano olhava para Lana. Talvez, tenha sido um grande erro escolhê-la para vir.De novo essa sensação estúpida de estar cometendo um grande erro. Pelo corredor, eu ouvi os passos de Alberto e dela, e a pergunta que fez.— Esse é o Leon?— Não, esse é Denner Versalles. O pai dele! — Alberto respondeu para Lana.— Era um homem muito bonito.A dor me invadiu o peito ao ouvir aquela frase, ela é como as outras. Vai abominar estar em meus braços, o toque rugoso da minha pele dilacerada pelo fogo vai causar a ela horror. Mas vou mostrar quem dá as ordens, mesmo que odeie estar comigo, o dinheiro fará com que ela sempre esteja à minha disposição. Essa felicidade que ela ostenta irá embora em pouco tempo.Sentei-me em frente ao notebook para admirar o espetáculo, mas Ofélia bateu na porta e fechei a tela.— O que quer, Ofélia? — Perguntei
Desci as escadas usando meu vestido escuro, calcei uma sapatilha bem confortável e que me ajudou a aquecer os pés. Doutor Alberto me levou até a sala de jantar, dona Ofélia parecia não ter gostado nada de mim e deixou bem claro que eu não deveria fazer minhas refeições com o patrão. Eu li e reli o contrato várias vezes, eu sabia disso, mas ele me disse que naquela noite eu poderia e ele não iria descer para me conhecer naquela noite. Isso me deixou mais calma e até consegui comer bem, o jantar estava maravilhoso e achei que iria me deparar com coisas estranhas da culinária do país, mas não, eram todos brasileiros como eu.Depois do jantar, doutor Alberto foi falar com Leon no escritório e eu fiquei na sala olhando uns quadros na sala de estar. Conversei com Ofélia e acho que consegui conquistar a sua confiança, não quero me indispor com ninguém, já estou em uma situação desvantajosa.Eu queria muito encontrar uma foto dele entre aqueles quadros, mas não achei. Esperei um bom tempo até
Amanheceu, estava ansioso para conhecer minha nova submissa. Tomei um banho, coloquei as malhas de compressão e a máscara como sempre. Assim que me aproximei da escada, olhei para baixo e vi Fabiano e Lana flertando. Não posso admitir que a mulher que veio para ser minha, esteja se aproximando de outro. Me aproximei em silêncio, antes que ela se oferecesse ainda mais para ele. — Você não coloca um pé para fora dessa casa, sem a minha permissão. Ela me olhou assustada, ordenei a Fabiano para cuidar do serviço. Mandei que ela fosse me encontrar no quarto e Ofélia a levou, para comer na cozinha. Fui para o quarto, abri o computador e fiquei olhando meu álbum de fotografias, vendo as fotos da minha esposa e como ainda me dói a sua ausência. Fecho os olhos e ainda posso sentir o toque da pele dela, na minha, o peso do seu corpo sobre o meu. Eu daria tudo o que tenho por um minuto com ela e com os meus filhos, Lana bateu na porta e pedi que ela entrasse. Seu olhar era de pavor, percorri
Eu estava desesperada dentro daquele quarto, sinto muito medo do que esse homem pode fazer comigo. E se me prendesse aqui para sempre, o que seria da minha mãe?Não, eu não posso esperar para ver o que vai acontecer. Eu estava no primeiro andar, mas poderia conseguir passar pela janela e tentar entrar pela janela do quarto ao lado do meu, seria arriscado, mas não posso ficar parada.Me sentei na janela, seria uma queda considerável, apoiei-me do lado de fora e consegui alcançar a janela ao lado. Com muita dificuldade abri a janela e passei para dentro, restava torcer para que a porta não estivesse trancada.Caminhei pelo quarto tentando não fazer barulho, pois o quarto de Leon ficava ao lado desse. Girei o trinco da porta e consegui abrir...— Graças a Deus.Saí olhando para os lados, com pavor de ser pega por ele antes de encontrar o doutor Alberto. Até que ouvi uma discussão que parecia ser entre os dois, parei na porta do escritório e a decepção tomou conta de mim. Alberto não iria
Não sei o que me deu, a necessidade de salvá-la do perigo me fez sair de casa como há muito tempo eu não fazia. A deixei no quarto com o médico, após fazer promessas a ela, não sei como devo agir para que Lana não pense mais em ir embora daqui.Por que essa mulher difere? Por que eu não consigo ser o mesmo de antes, quando estamos perto um do outro? Ela pode ter conseguido me manipular desta vez, mas não conseguirá isso de novo.Tomei um banho, minhas roupas ficaram sujas com o sangue dela, ainda que sejam negras. Ainda embaixo do chuveiro, comecei a lembrar-me de quando estive com ela. A sensação quente e única de estar dentro do seu corpo, mesmo que contra a sua vontade. Mesmo que aqui apenas para minha própria consciência, me custa admitir esses sentimentos, nunca tive a mente tomada por uma mulher, desde que minha esposa se foi.Não posso e nem quero acreditar que, o que estou sentindo possa ser afeição ou...— Antes de amar de novo, eu prefiro arrancar o coração de dentro do meu
Segui tomando analgésicos e minha perna não doía como antes, depois que Leon veio falar comigo e me pegou daquele jeito, fiquei constrangida. Nem sei por que isso acontece comigo, ele já viu tudo!Me disse que apesar de ter conseguido a promessa de sexo menos violento e o meu celular de volta, eu não conseguiria nada, além disso. Que sou apenas mais uma das muitas mulheres que vieram ficar com ele, não entendo por que essa necessidade que há nele em repetir por tantas vezes o meu lugar em sua vida, eu nunca imaginei nada além do que está escrito naquele contrato.Assim que ele saiu do quarto e contrariando o que ele me mandou fazer, caminhei até a janela. Vi Fabiano sair e acho que para buscar coisas na cidade por ordem de Ofélia, gosto de conversar com ele. Acho que podemos ser amigos, me falta o que fazer.Leon fez questão de me dizer que os serviços sexuais que vim prestar a ele, não tem hora certa para acontecer e que eu devo me recuperar logo. Se algo nesse acidente me fez um bem