No caminho para a casa de Kaiser, Emília pode ver os efeitos daquela terrível guerra, e nada era como havia imaginado. Por passar tanto tempo trancada na mansão, sem acesso a qualquer aparelho eletrônico, ninguém tinha acesso à informação. Emília olhou admirada como as ruas estavam limpas, prédios sendo reconstruídos com uma velocidade inimaginável para os humanos. Todos trabalhavam de forma igual, homens e mulheres, para reconstruir tudo.
Ao contrário do que Emília havia imaginado, Kaiser não se estabeleceu em uma mansão luxuosa ou em um prédio de alto luxo. A enorme fazenda, com todos os tipos de animais, se estendia por um vasto campo. Depois de mais alguns minutos, o carro parou diante de uma mansão rústica. Emília saiu do carro e olhou ao redor, as grandes árvores que ladeavam a fazenda a faziam sentir observada e oprimida, pois ela havia lido nos romances que os lobisomens viviam nessas florestas.
Ao entrar na casa, Emília suspirou ao ver o caos e a bagunça. Roupas estavam espalhadas, pois Kaiser não estava habituado a elas, já que passou toda a sua vida em forma de lobo e naquele momento teria de assumir com mais frequência a forma humana. Um lobo jovem a guiou até um quarto no andar de cima, ele estava nervoso, pois ainda não tinha feito qualquer contato com um humano.
― Você ficará aqui, ― o jovem lobisomem disse, abrindo espaço para Emília passar e olhar ao redor. ― O quarto do senhor Kaiser é nesse andar também. Você deve ficar aqui até ele chegar e dar as ordens. ―
― Terei de ficar trancada no quarto? Não posso olhar por aí? ― Amélia disse com uma voz doce ao perceber o nervosismo daquele rapaz, que tremia e desviava o olhar, tentando conter instintos primais, reação ao cheiro diferente que vinha de Emília.
― Por favor, apenas obedeça e não saia até o senho voltar. ― assim ele saiu, trancando a porta por fora.
O quarto era grande e confortável, diferente das instalações da mansão que Emília dividia com outras dez mulheres barulhentas. Uma grande e confortável cama era um convite que Emília não conseguiu recusar, se deitando e sentindo um leve perfume floral no tecido.
Um carro luxuoso parou diante da casa, Ryker desceu do veículo e se esticou. ― Como os humanos conseguem ficar tanto tempo dentro dessa caixa? ― Nora saiu logo em seguida, jogando seus longos cabelos castanhos para trás.
― Você está mesmo perguntando isso para mim? ― a Lobisomem disse irritada. ― Esse pelo longo fica caindo nos meus olhos, é irritante.
Ryker envolveu a cintura de nora, a puxando para perto de seu corpo e afundando o nariz na curva de seu pescoço. O calor do corpo de Nora excitava o forte lobisomem, mas ele não se atreveria a ir mais longe do que aquilo, pois sabia que o coração de Nora já havia sido dado para outro.
Nora empurrou Ryker para longe, levando sua atitude como uma piada enquanto puxava um fio de couro e amarrava os longos e sedosos cabelos. ― Pare de besteiras e vamos entrar logo. Kaiser vai chegar e eu quero surpreendê-lo. ―
Ao abrirem a porta, o jovem lobo, que descia correndo as escadas, bateu de frente contra o grande e forte corpo de Ryker, que o olhou com desprezo. Um fraco ômega como aquele jamais deveria cruzar o caminho dos lobos mais fortes se quisesse continuar vivendo em paz.
― Quem permitiu que você entrasse aqui, ômega estúpido? ― Nora rosnou para o jovem com fúria emanando de seus olhos. O jovem lobisomem se encolheu, trêmulo e com lágrimas em seus olhos negros.
― O mestre pediu que eu instalasse a humana. ― Ryker se surpreendeu, pois mesmo que tenha visto o interesse de Kaiser na humana, nunca pensou que ele a levaria para sua casa.
O foco de Nora saiu do lobo deitado no chão para o topo das escadas, ela farejou e sentiu o característico cheiro de uma humana pronta para acasalar. A raiva a dominou, Ryker sabia que se Nora chegasse até a humana, a mataria e as consequências para aqueles que tocavam na propriedade do Alpha eram severas.
Ryker agarrou Nora no instante que ela tentou avançar até as escadas. ― Não faça nenhuma besteira! ― ele gritou, lutando com todas as forças para manter a fêmea sob controle. Mas Nora estava fora de si, tomada pelo ciúme e raiva.
― Que merda vocês estão fazendo na minha casa? ― a voz de Kaiser ecoou como um trovão. O poderoso Alpha olhou para cada um ali presente, enchendo seus corações de medo apenas por estarem em sua presença. ― Eu fiz uma pergunta. ―
Ryker se adiantou, disposto a assumir a responsabilidade por toda a confusão e proteger Nora, mas a loba se adiantou, saltando sobre Kaiser e o abraçando. Ryker se sentiu impotente e fraco, pois sabia que jamais poderia rivalizar contra o alpha. Já nora estava nas nuvens por ver Kaiser, seu coração batia freneticamente na presença do lobo de cabelos negros, igual à primeira vez que eles havia se encontrado há tantos anos.
― Kaiser, esse ômega estúpido disse que você trouxe uma humana para cá. ― Nora não escondeu seu desgosto ao falar sobre a situação, o que enfurece Kaiser. Ele era o Rei Alpha e como tal não devia explicações a ninguém, muito menos a uma loba sem qualquer vínculo como Nora.
Kaiser afastou a loba com brutalidade, a jogando nos braços de Ryker. ― Fora daqui, todos. ― ele disse, suas palavras, uma promessa de morte caso fossem desobedecidas.
O primeiro a sair correndo foi o fraco e pequeno Ômega, que manteve sua cabeça baixa ao passar por Kaiser. Ryker precisou arrastar Nora para fora, mas deu meia volta para olhar Kaiser, que o desafiou com os olhos. Ryker temia por sua vida, mas precisava ter certeza de que as escolhas de seu Alpha não afetariam seus planos para toda a grande alcateia.
― Kaiser, ― Ryker começou, mantendo seus olhos baixos. ― Realmente a trouxa para cá? ― Kaiser rosnou em resposta e Ryker baixou ainda mais a cabeça.
Ao se aproximar daquele lobo, que não seria nada mais do que um Beta dentro de sua hierarquia, Kaiser precisou puxar as memórias de infância. Momentos que compartilhou com seu companheiro, para que a vontade de matá-lo por questionar suas decisões se abrandasse.
― Não é da sua conta e nem da de ninguém o que eu faço. Agora, vá embora antes que eu me esqueça de quem você é, Ryker. ― o Alpha empurrou o lobo com força para fora de sua casa e bateu a porta, quase a quebrando.
Do quarto, Emília pode ouvir grande parte da comoção que acontecia no térreo, inclusive a forte batida na porta. Ela estava assustada, sem saber o que deveria fazer enquanto Kaiser subia pelas escadas, questionando ele mesmo sua inusitada decisão de levar aquela humana tão frágil para dentro de sua casa.
Ao parar diante da porta, Kaiser voltou a sentir aquele doce aroma, agora concentrado naquele cômodo. Ele não entendia como uma humana poderia exalar um aroma tão poderoso, por isso enviou um ômega para recebê-la, pois outro lobo não conseguiria se conter e tentaria tocá-la. Mesmo sem ver nada, Emília sentia a presença poderosa do Rei Alpha do outro lado daquela frágil porta.
A porta se abriu, o coração de Emília batia frenético dentro de seu peito, ela escondeu suas mãos suadas dentro dos bolsos, tentando parecer relaxada aos olhar atento de Kaiser, que conseguia sentir seu nervosismo a quilômetros de distância. O alpha sorriu para a humana, que franziu as sobrancelhas em mais uma tentativa de parecer mais durona do que realmente se sentia.
Seus olhares se cruzaram, nenhum deles entendia a estranha conexão que começou a se formar e os sentimentos que cresciam dentro deles. Emília, mesmo sabendo que Kaiser era um lobisomem, um Reis Alpha, aquele que levou sua família dela. Mesmo sabendo de tudo aquilo, a jovem ainda sentia uma atração avassaladora por aqueles misteriosos e brilhantes olhos negros. Assim como Kaiser, que sempre viu os humanos como seres estúpidos e fracos, não entendia o que aquela humana em especial tinha para atrair sua atenção ao ponto dele passar por cima de tudo o que havia planejado para estar com ela naquele momento.
― Então, ― Emília disse, quebrando o contado visual ao virar seu rosto para o outro lado do quarto, mas Kaiser permaneceu olhando fixamente para ela. ― O que exatamente eu vim fazer aqui?
Com poucos paços, Kaiser atravessou a curta distância, parando bem diante de Emília. ― Continuo pensando sobre isso. ― ele disse com um sorriso que revelava seus longos caninos brancos e deixava Emília com um misto de medo e curiosidade.
A proximidade de Kaiser fez Emília sentir calafrios por todo seu corpo, arrepiando seus pelos enquanto o Alpha e devorava com seus olhos. Kaiser ansiava em tomar a mulher humana, reivindicar cada centímetro de sua pele, mas sabia que não era daquela forma que funcionava para as mulheres humanas. Ele havia presenciado situações desagradáveis envolvendo lobisomens e humanas, por isso não desejava que fosse daquela forma com Emília. Eles permaneceram em silêncio por mais alguns momentos, então Kaiser decidiu se afastar um pouco, dar espaço para que sua presa se sentisse confortável perto dele, o que funcionou. Emília respirou profundamente, relaxando seus ombros tensos enquanto admirava a maneira que Kaiser se movia, predatório, sem nunca lhe dar as costas.A curiosidade havia tomado o lugar da raiva e da frustração dentro de Emília. A jovem desejava saber mais sobre aquela criatura que lhe causava medo e, ao mesmo tempo, acendia sentimentos diferentes dentro dela. Emília se pegou compar
13 anos depoisUm lobo jovem corria pela floresta, suas patas batiam com força contra a terra molhada. Os gritos de seus perseguidores ecoando através das árvores. Os jovens humanos criaram um sistema eficiente que os permitia saltar pelas árvores e compensar a agilidade superior dos lobisomens, mas um deles se destacava. O mais jovem do grupo humano, pequeno e magro, cobria sua cabeça e rostos do vento cortante que soprava naquele inverno. “Ele vai escapar!” gritou um dos humanos quando o pequeno lobo saltou de uma grande pedra, atravessando um rio e aterrizando do outro lado. “Merda!” ele disse quando todo o grupo se reuniu e viu o lobisomem se afastando.“Melhor deixarmos esse para lá.” Ramon, um dos mais velhos do grupo, disse desanimado. “Tenho certeza de que vamos encontrar outros vagando pela floresta.”“Aquele maldito nos viu perto do acampamento, não podemos deixar que ele vá contar aos outros da sua espécie.” Marion, o filho de um dos líderes do grupo, se adiantou e olhou a
O ar daquela manhã estava estranho, Emília sentiu que havia algo de errado quando não conseguiu ouvir as típicas brigas dos jovens. Sua filha Ava era aquela quem mais se destacava, com uma personalidade forte e sempre com uma resposta precisa para aqueles que a desafiavam. A jovem era vista por todos como um espírito livre, selvagem e indomável. Não ouvir nada era um claro sinal de alerta para Emília.Ao caminhar pelo acampamento, Emília notou que outros jovens também não estavam presentes. Ela caminhou cada vez mais rápido, o desespero começando a crescer dentro de seu peito. Outros membros do acampamento se juntaram a busca pelo grupo, mas não encontraram nenhum rastro. Um dos homens encontrou indícios de que as crianças haviam saído dos limites impostos. Os humanos conseguiram criar um sistema de segurança, que escondia seu cheiro dos lobisomens. De tempos em tempos, grupos de lobisomens rondavam as florestas em busca de humanos fugitivos. O acampamento em que Emília havia se refu
Após ser separa dos outros jovens, Ava foi levada até um quarto separado. Ela olhou ao redor, pensando em uma forma de escapar e voltar para o acampamento. Ava ainda não sabia que sua mãe já estava a caminho para resgatá-la. A jovem notou que aquele cômodo era muito confortável para uma prisioneira, mas não reclamou. Ao confirmar que não teria como escapar, a menos que alguém abrisse a porta, ela decidiu relaxar por alguns minutos.Ao lado, em seu escritório, Kaiser monitorava todos os movimentos daquela jovem que tanto o lembrava de Emília. Seu beta estava inquieto e confuso com a decisão do alpha de manter aquela jovem por perto. Todos os lobos haviam notado que Ava não era uma humana comum, seu cheiro era estranho e, ao mesmo tempo, familiar.― Meu Alpha, ― Ryker chamou a atenção de Kaiser, que não ficou nada feliz, pois já sabia qual era o assunto que o beta desejava abordar. ― Existe alguma razão para manter essa filhote humana? Todos notaram que ela tem algo estranho.― Isso é a
O pânico começou a tornar conta de Ava, que se debatia em desespero. Ela sentia que, se Kaiser se enfurecesse um pouco mais, sua vida acabaria rapidamente. Alguém fraca como ela jamais teria chance de escapar do Rei Alfa, o que não parecia nada divertido para Kaiser, que voltou a soltar a jovem no chão. ― Minha paciência já acabou. ― Kaiser ergueu sua mão, mostrando suas garras para a menina que tremia. ― Você cheira como aquela humana, me diga o motivo. Agora.― Meu alpha, ― uma loba surgiu na porta. Ao ver a cena diante dela, se arrependeu de imediato. Com as pernas trêmulas, ela tentou escapar, mas o alpha a capturou, segurando seu pescoço por trás e a girando.― Espero que você tenha uma excelente razão para aparecer na minha frente dessa forma. ― Kaiser largou a loba no chão, que se ajoelhou diante dele com o rosto no chão. Uma simples loba ômega jamais deveria se quer aparecer diante do poderoso alfa, mas lhe foi ordenado que informasse a Kaiser sobre os humanos recém-chegado
Vou ficar em silêncio Todos ficaram tensos, imóveis em seus lugares. Tanto os lobos quanto os humanos sabiam que jamais se deveria desobedecer ao rei alpha, pois as consequências seriam terríveis. Com tudo, Emília não parecia se importar tanto com aquilo, ela apenas desejava sair daquela situação e buscar por sua filha. As demais mulheres tremiam, acreditando que seriam punidas por algum trabalho executado de forma errada. ― Meu alpha,― Ryker se aproximou de Kaiser, que examinava de longe as costas das mulheres assustadas. ― O que faremos com relação a… ― O rei Alpha ergueu sua mão, calando Ryker. Falamos disse depois, apenas inicie as buscas assim que as coordenadas chegarem. ― o alpha ordenou, então se aproximou das humanas. Todas tremiam e mantinham suas cabeças baixas, desejando não chamar a atenção do lobisomem poderoso diante delas. Apenas uma parecia não se impressionar e nem se afetar com a presença de Kaiser. Sua postura relaxada e tranquila, sua cabeça coberta por um len
O silêncio se estendeu no pequeno quarto. Ava não compreendia toda aquela tensão entre Kaise e sua mãe. Ela os observava, enquanto eles competiam se encarando. Emília entendeu o que Kaiser realmente estava perguntando e ela jamais lhe diria a verdade. Foi uma gestação difícil e solitária. Sozinha, dependendo de pessoas que nunca tinha visto em sua vida, em um lugar isolado e esquecido, tão diferente do conforto que viveu nos seus então dezenove anos.Em uma noite escura, uma nevasca caia há dias, isolando a todos. Naquela noite, enquanto Ava chegava ao mundo, uma avalanche caiu próxima ao acampamento. A jovem cansada e desorientada viu aquele fenômeno natural incontrolável semelhante aos nove meses que tinha vivido, e nomeou a pequena criança com o nome de Ava. Uma força da natureza, um milagre nascido entre espécies.Sentindo seu coração apertado, Emília deu um passo adiante, desafiando abertamente o rei alpha. Kaiser apenas sorriu, esperando o que pudesse vir de pior daquela pequen
Os gritos de sofrimento e desespero dos humanos toma conta de toda a floresta. Corpos estão espalhados pelo chão, tingindo o chão da floresta de vermelho. Grupos de humanos foram separados por ordem do Alpha. O primeiro acampamento escolhido para a incursão foi aquele que acolheu Emília. Kaiser acreditava que o pai de Ava ainda estava vivo e que, por teimosia, Emília o estava protegendo. As mulheres e as crianças foram levadas primeiro, todos os homens com idade entre trinta e quarenta anos ficaram. O alpha caminhou diante deles, suas mãos ainda sujas com o sangue dos inimigos que ousaram atacá-lo. A raiva de Kaiser crescia conforme ele passava diante da fila de humanos. Ele os via como criaturas fracas e covardes, que dependiam de armas para enfrentar seus inimigos. Enquanto passava, um homem chamou a atenção do lobo. Seus olhos castanhos examinaram o grande lobo diante dele. O rei alpha parou e farejou, sentindo o cheiro de Emília e Ava naquele humano. Kaiser pegou aquele pequeno