Salvatore

GABRIEL

A lua cheia iluminava a floresta densa enquanto corríamos de mãos dadas, nossos risos misturando-se ao som das folhas sob nossos pés. A adrenalina pulsava em minhas veias,finalmente estávamos juntos e livres.

No horizonte, um galpão de madeira surgiu como um refúgio esquecido pelo tempo. A luz amarelada dos lampiões tremeluzia, criando sombras dançantes nas paredes envelhecidas. Meu olhar se dividia entre o caminho à frente e ela com os cabelos selvagens ao vento, os olhos brilhantes como mel derretido. A única mulher que chegou ao meu coração.

Ao cruzarmos a porta, o ar morno nos envolveu. Ela me fitou, os olhos vibrando de felicidade.

— Meu amor, a partir de agora estamos livres. Eu serei para sempre sua e você será para sempre meu. Nosso bebê nunca precisará viver no meio dessa guerra estúpida entre nossas famílias. Ele crescerá cercado de amor, paz e tranquilidade. Eu te amo tanto, Felipe...

Meu peito gelou.

Felipe?

O nome ecoou na minha mente como um trovão.

Então, tudo desmoronou.

A floresta, a lua cheia, o calor da sua mão... tudo se dissolveu em escuridão.

Acordei com um sobressalto, o coração martelando. Meu quarto. Meu maldito quarto. Não uma floresta. Não aquela mulher.

Passei as mãos pelo rosto, ainda tentando afastar a sensação estranha daquele sonho. Era ela. A maldita garota que fugiu de mim na boate há mais de uma semana. Ela não saía da minha cabeça. E ainda teve a audácia de errar meu nome no meu próprio sonho.

Olhei o relógio na parede: 6h30 da manhã.

— Que porra! Vou me atrasar pra reunião.

Levantei às pressas, resmungando cada insulto possível àquela desconhecida. Por que diabos ela me perseguia até nos sonhos?

Me vesti em tempo recorde e saí acelerado para a reunião dos associados das Empresas Salvatore. A reunião aconteceria em um dos hotéis da Sicília. Fiz o trajeto em tempo recorde. Enrico, do financeiro, ou Érico, do comercial, teriam que resolver as multas mais tarde. Não era problema meu isso.

A reunião foi um desperdício total de tempo, como sempre:

* Puxa-sacos bajulando em busca de favor.

* Gerentes desesperados por atenção.

* Propostas idiotas que poderiam ter sido resolvidas por e-mail.

* Meu tio Aldo exibindo o filhinho mimado como gerente da minha boate menos lucrativa.o moleque só estava lá porque, sem o emprego, logo seria preso pelo tanto de merda que faz.

Nem esperei o circo acabar. Assinei o que precisava, levantei e fui embora.

Eu sou Gabriel Salvatore, CEO das Empresas Salvatore. Nossa família domina o ramo da hotelaria, restaurantes, boates e revendas de carros de luxo. O império foi fundado pelo meu avô, Domenico, e quando ele se aposentou, meu pai assumiu com a condição de garantir cargos de prestígio para seus irmãos. Agora, seus filhos herdaram seus postos:

* Enrico e Érico – Diretores

* Matteo – Dono da maior boate da Itália

* Daniel – Dono do restaurante mais prestigiado da Sicília

* Giovanni – Dono da maior revenda de carros luxuosos da Europa

* Camillo – Gerente de uma boate qualquer

Eu nunca quis essa vida. O destino da empresa era do meu irmão mais velho, Rafael. Ele foi preparado desde criança para liderar, e era o melhor CEO que essa empresa já teve. Enquanto ele cuidava dos negócios, eu só queria festa e noites selvagens na floresta.

Porque antes de ser um Salvatore, eu era um lobo.

Desde pequeno, minha mãe contava histórias sobre meu avô Isac, o lendário lobo marrom. Mas meu pai era humano. Meu irmão, também. Pela lógica, eu nunca me transformaria.

A lógica estava errada.

Na virada dos meus 15 anos, aconteceu.

A dor foi indescritível.

Meus ossos se quebraram. Minha pele se rasgou de dentro para fora. O sangue queimava como lava em minhas veias. Meus dentes foram empurrados para fora por caninos afiados. Minhas unhas se abriram, dando lugar a garras imensas.

Foram cinco horas de puro inferno.

Quando tudo acabou, eu era uma besta de quatro patas, grande e imponente. Mas, naquele momento, mal conseguia ficar de pé. Minhas pernas falhavam, cada passo era um desastre completo. Mas eu aprendi.

E me tornei o melhor.

Na aldeia, ninguém me superava. Eu era o grande lobo negro. O melhor guerreiro, o mais letal, o líder nato. Meu objetivo era claro: me tornar Alfa.

Mas então, tudo mudou.

Meu irmão morreu em um acidente de carro.

Numa noite qualquer, depois de um jantar romântico com minha cunhada, Rafael se foi.

Eu estava cuidando das minhas sobrinhas quando a notícia chegou.

E meu mundo desmoronou.

Fui forçado a assumir tudo. A empresa. A família. O legado de Rafael. Deixei para trás a floresta, os lobos, os sonhos. Enterrei Gabriel, o guerreiro, e me tornei Gabriel, o CEO.

Mas meu avô ainda é Alfa.

Ele espera minha volta para me entregar o posto que acredita ser meu por direito. Mas há um problema: o filho do antigo Beta.

Ele sempre quis ser Alfa. Para garantir o título, engravidou a esposa cinco vezes, desesperado por um herdeiro homem. Mas só nasceram meninas e a sexta está a caminho.

O tempo está correndo. O posto de Alfa ainda está lá. Mas há uma coisa que eu sei com certeza:

Meus olhos nunca serão vermelhos. Nunca serei Alfa.

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