GABRIELA lua cheia iluminava a floresta densa enquanto corríamos de mãos dadas, nossos risos misturando-se ao som das folhas sob nossos pés. A adrenalina pulsava em minhas veias,finalmente estávamos juntos e livres.No horizonte, um galpão de madeira surgiu como um refúgio esquecido pelo tempo. A luz amarelada dos lampiões tremeluzia, criando sombras dançantes nas paredes envelhecidas. Meu olhar se dividia entre o caminho à frente e ela com os cabelos selvagens ao vento, os olhos brilhantes como mel derretido. A única mulher que chegou ao meu coração.Ao cruzarmos a porta, o ar morno nos envolveu. Ela me fitou, os olhos vibrando de felicidade.— Meu amor, a partir de agora estamos livres. Eu serei para sempre sua e você será para sempre meu. Nosso bebê nunca precisará viver no meio dessa guerra estúpida entre nossas famílias. Ele crescerá cercado de amor, paz e tranquilidade. Eu te amo tanto, Felipe...Meu peito gelou.Felipe?O nome ecoou na minha mente como um trovão.Então, tudo d
APRIL— Estados Unidos, chegueiiiiii!Ninguém além de mim consegue imaginar o tamanho da minha felicidade nesse exato momento. Depois de 12 anos sonhando, finalmente pisei aqui. Eu, April Perséfone Galanis Esposito, estou em Boston.Foram muitos dias de brigas, promessas, choros, desculpas esfarrapadas e imploração de dar pena. Meu avô quase infartou quando soube o que aprontei, Pela primeira vez na vida, achei que ia apanhar de verdade. Mas ele se recompôs, e daí vieram os intermináveis sermões. Mamãe e papai também ficaram à beira de um colapso, só não me mataram porque são do tipo zen,mas eu vi o olhar assassino da minha mãe.Óbvio que, quando eu voltar, estarei de castigo por um mês inteiro. Sem celular, sem computador, sem tablet. Sem vida social. Vou ter que trabalhar no restaurante do Daniel pra poder pagar meu lanche na escola, porque a mesada foi cancelada por tempo indeterminado.Mas quem liga? EU TO EM BOSTON!!!— Hannah, Gregory, para de melação e vamos logo! — rosnei, imp
APRILDei um final de semana de férias para Sabrina e trevorAssim que os pais saíram, Lulu se animou imediatamente, querendo brincar de patinete na rua. Como sou uma dinda exemplar, mandei Dean correr atrás dela. O patinete era rápido demais para mim, e honestamente… um pouco de diversão às custas dele nunca fez mal a ninguém.— Sua cara de pau! — Dean resmungou, ofegante. — Era pra você cuidar dela, não eu!— Ah, D, por acaso eu sou a única dinda nessa casa? Não sou, né? Então todo mundo vai ajudar, e sem reclamar!Ele estreitou os olhos, mas não conseguiu rebater.— Às vezes você é bem manipuladora, sabia?— Claro que sei. Aprendi com você. — Dei um sorriso travesso.Dean revirou os olhos, mostrou o dedo do meio e desapareceu para tomar banho. Eu ri e continuei brincando com Luiza até o anoitecer.Mais tarde, depois que Lulu já estava banhada, alimentada e dormindo no meu quarto, fui até Renata. Ela tinha acabado de chegar a Boston e, pela expressão em seu rosto, percebi que Alex n
GABRIELFaz três horas que estou sentado nesta sala, olhos fixos no monitor, revendo cada segundo das gravações da boate Orfeu do dia que eu a vi pela primeira vez. E nada. Absolutamente nada.— Aaaaaah, porraaa! — O copo de uísque vazio voa da minha mão e se espatifa contra a parede.A porta se escancara com o estrondo, e Enrico entra apavorado.— Que diabos foi isso, cara?— NADA, ENRICO! — Esfrego o rosto, tentando me acalmar, mas a frustração queima dentro de mim. — E esse é o problema! Não tem nada dessa garota nas gravações!— Primo, calma. Talvez você só esteja cansado. Já faz mais de uma semana que está obcecado por essa menina… deixa eu olhar. Quem sabe encontro algo que você deixou passar?Meus olhos se estreitam.— Tá me chamando de incapaz, caralho?— Não, mano! Só tô dizendo que, como ela não é minha, talvez eu veja as coisas com mais clareza.Ele me encara, esperando minha aprovação silenciosa. Dou um aceno seco.O tempo passa. Trinta minutos. Uma hora. Duas horas.E, co
GABRIELA reunião foi um sucesso. Dentro de uma semana, começaremos as construções do que será o melhor hotel de Boston, com vista para o rio. Talvez o maior empreendimento da Salvatore nos Estados Unidos. O orgulho deveria estar transbordando em mim, mas minha mente está em outro lugar.Assim que entro no quarto do hotel, vou direto para o computador. A ansiedade pulsa nas veias como um tambor frenético.— Senhor, gostaria que eu mandasse o jantar ser servido? — Taylor pergunta, sempre atento.— Não, Taylor. Estou sem fome. Preciso resolver algo antes.Ele assente, pronto para sair, mas eu o chamo de volta.— Taylor!— Pois não, chefe?— Certifique-se de que ninguém me incomode.— Irei me certificar, senhor.— Ótimo.Assim que ele sai, fecho a porta, tranco-a e encaro a tela do computador. Agora, sou apenas eu, esse maldito pen drive e a única chance que tenho de encontrar Mia Bella.Plugando o dispositivo, seleciono os arquivos e aperto play. As imagens do dia seguinte à festa começ
APRILForam semanas incríveis com as melhores pessoas e no melhor lugar. Teve momentos em que me senti o maior lixo da face da Terra, mas todos se esforçaram para garantir que essa fosse a melhor experiência da minha vida em Boston. Até a Lulu, com seus dois aninhos, tentou de tudo para me convencer a ficar. "Não vai embora nunca mais!" foram as palavras dela.Agora eu sei: Boston é tudo que o G disse e muito mais. Assim que me formar na escola, essa será minha nova casa. O único problema? Convencer meu avô, Demetri e meus pais disso.— Vem rápido, Seff! Teus irmãos estão me deixando louca dentro daquele carro! — Renata grita da porta de casa enquanto termino de me arrumar.Hoje é o dia da despedida. Estamos voltando para a Itália. Renata vai dirigindo o carro alugado com meus irmãos, enquanto Gregory insiste em me levar ao aeroporto para um último adeus. Como todos terão compromissos cedo amanhã, decidiram fazer uma festa surpresa para mim, Colin, Rodrigo e Renata nesta tarde. Foi p
APRIL Domingo. Dia sagrado para os Esposito Castro. Todo fim de semana, as duas famílias se reúnem na casa da vovó Diana para um almoço de paz, tranquilidade e muitas risadas. Quer dizer… na teoria. Na prática, sempre tem alguma confusão. Principalmente quando minha irmã Kimberly resolve dar o ar da graça. Se dependesse de mim, eu simplesmente ia embora assim que ela aparecesse. Mas minha mãe insiste: — Uma hora você e Kimberly terão que se dar bem. Afinal, vocês são irmãs. Grandes merda isso. Ser irmã dela nunca a impediu de transformar minha infância em um inferno. Nem de mandar um cara mais velho me seguir e tentar me assediar só porque ficou com ciúmes do ex. Eu tinha 12 anos. Naquela época, meu padrinho me disse que eu precisava aprender em três anos o que um filhote de lobo aprenderia durante a vida inteira. Então, foi isso que fiz. Todo dia, treinava com ele e Kevin, o ex-namorado dela, que por acaso, também era amigo do meu padrinho. Kimberly surtou quando descobriu.
APRILAssim que Kimberly saiu, o clima ficou uma merda. Sério, parecia um velório sem corpo. Alexia e Joshua foram atrás dela, pedindo desculpas pelo showzinho da irmã. Minha avó, furiosa, foi pro quarto com meu avô Michael para tentar se acalmar (ou para planejar uma guerra, difícil dizer). Enquanto isso, vovô Alberto, vovó Susana e Demetri voltaram correndo pro castelo para reforçar a segurança da cidade, como se estivéssemos prestes a ser invadidos por um exército e não só por uma lunática de TPM.Meus irmãos e primos deram o fora rapidinho, cada um pra sua casa. Já eu, mamãe, papai e os meninos fomos direto pra igreja pedir a bênção do padre. Pois é, aparentemente minha mãe virou a mais nova fiel devota da família.Silêncio absoluto no carro. A única coisa vibrando era o grupo de mensagens que eu tinha com Colin, Rodrigo, Nina, Gaston e Matteo. E, como sempre, eles não decepcionavam na zoeira:GASTON – Gente, que caralhos foi isso?COLIN – Vovó arrasou no discurso!!!EU – Será que