APRIL
— Estados Unidos, chegueiiiiii! Ninguém além de mim consegue imaginar o tamanho da minha felicidade nesse exato momento. Depois de 12 anos sonhando, finalmente pisei aqui. Eu, April Perséfone Galanis Esposito, estou em Boston. Foram muitos dias de brigas, promessas, choros, desculpas esfarrapadas e imploração de dar pena. Meu avô quase infartou quando soube o que aprontei, Pela primeira vez na vida, achei que ia apanhar de verdade. Mas ele se recompôs, e daí vieram os intermináveis sermões. Mamãe e papai também ficaram à beira de um colapso, só não me mataram porque são do tipo zen,mas eu vi o olhar assassino da minha mãe. Óbvio que, quando eu voltar, estarei de castigo por um mês inteiro. Sem celular, sem computador, sem tablet. Sem vida social. Vou ter que trabalhar no restaurante do Daniel pra poder pagar meu lanche na escola, porque a mesada foi cancelada por tempo indeterminado. Mas quem liga? EU TO EM BOSTON!!! — Hannah, Gregory, para de melação e vamos logo! — rosnei, impaciente. Esses dois passaram o voo inteiro agarrados, e sério... foi nojento. Assim que saímos do aeroporto, avistei Logan. Gigante, quase dois metros de altura. Meu coração disparou. Corri. Minha mala quicou atrás de mim, mas não me importei. Joguei-me contra ele com toda a força e o abracei como se minha vida dependesse disso. — Oiii pra você também, minha Pipi — Logan riu, me apertando. — Vou fingir que não ouvi isso, seu stronzo! — murmurei, ainda grudada nele. E então fui arrancada dos braços dele. De repente, Dean me envolveu num abraço esmagador. — E eu? Só esse idiota merece um abraço? — Tava morrendo de saudade, D! — Eu também, minha baixinha. — E eu? Vou ficar sem abraço, é? — Trevor fingiu indignação. — Vem cá, ciumento! Abraços. Risadas. Provocações. Foi tudo tão rápido, tão intenso, que parecia que eu nunca tinha saído de perto deles. Fomos para os carros. Destino: lar. Assim que entramos na casa,um estouro de confetes rosa explodiu no ar. — SURPRESAAAA! Seja bem-vinda à nossa loucura! — Giulia, Alice e Sabrina gritaram em uníssono, me recebendo de braços abertos. Eu ri, sentindo meu coração aquecer. — Aiii, que saudade de vocês! Puxei as três para um abraço coletivo. Peguei Lulu no colo e a enchi de beijos. Minha segunda afilhada maravilhosa. — Meu Deus, Lulu, como você cresceu! A dinda trouxe um monte de presentes só pra você. Nos jogamos no sofá para abrir os pacotes. A felicidade dela iluminava o ambiente. E então, o café da manhã dos sonhos. A mesa lotada com todas as minhas comidas favoritas: bolo de chocolate, bolo de cenoura, croissants, sanduíches, pastelzinho, frutas, pão, queijo... e, claro, chocolate quente. Depois, foi hora da melhor parte: fofocas. — Brina, conta tudo... Como tá sendo morar com o T? Ou ele já te pediu em casamento? Sabrina corou. — Ai, Pi, você sabe que eu não sou assim... Mas ele tá sendo perfeito. Havia algo na voz dela. Uma sombra. — Mas? — incentivei. Ela respirou fundo. — É difícil. Último ano de faculdade, uma filha... Mas a gente tá indo bem. E então ela disse. Aquele nojento do seu padrasto tentou invadir o quarto dela e da Luíza. O ar pareceu evaporar dos meus pulmões. — O QUE?! — Trevor arrebentou a cara dele. Silêncio. Então, explosão. — Bem feito! — Alice rosnou. — Fez pouco até. — Alice, calma. Nem tudo se resolve com violência. — Hannah tentou apaziguar. — Ah, cala a boca, Hannah Montana! Esse cara já devia estar no inferno! — Concordo. — Giulia cruzou os braços. — E como o Trevor ficaria nessa história, hein? — Hannah ainda tentava ser a voz da razão. — Fácil. — Sorri maliciosa. — Tem uma futura advogada aqui, uma psicopata ali, uma jornalista maravilhosa para documentar tudo... e, bom, uma princesa italiana com influência suficiente pra fazer isso sumir. — Apoiado. — EIIII, eu sou a psicopata??? — Alice indignada. — ÓBVIO. Risos. E fomos felizes para o treino dos meninos no campo da faculdade. Mas o que veio depois... estragou tudo. Fui com Luíza assistir ao treino. E lá estava ele. Alexander Beaumont. Sentado na arquibancada. Esperando por mim. Senti o estômago revirar. — Oi, Ale. Ele sorriu, sarcástico. — Olha só que honra. April Perséfone falando comigo novamente. Fiz uma careta. — Não se faz de sonso. — Do que você tá falando? Eu vi. O beijo. Ele e aquela megera da Rilary na minha festa de aniversário. Logo depois da piscada safada que deu para mim. — Você viu? — ele gaguejou, pálido. Não respondo. — Não era para ter acontecido lá. — Não era pra ter acontecido lá, né? Mas em outro lugar, sim? O silêncio dele foi ensurdecedor. E então veio a facada. — Isso não tem nada a ver com você, April. Eu beijo, namoro ou fico com quem eu quiser. Você não tem que se meter na minha vida. O impacto me deixou sem ar. O peito queimou. A garganta fechou. E então... explodi. — VAI. TE. FUDER. Peguei Luíza no colo e saí sem olhar para trás. — April, espera! — ele gritou. Mas eu já tinha ido. E, por mim, nunca mais voltaria. No banheiro, joguei água no rosto. Respirei fundo. Peguei o celular e mandei um único pedido ao meu pai. "Manda o Alex sumir. Agora." Saí para a arquibancada. Ele não estava mais lá. Ótimo. Então, respirei fundo, olhei para Lulu e sorri. — Vamos ver seu papai jogar, princesa? Ela riu. — Timmmm! Apenas o que eu precisava. Focar em outra coisa. E esquecer que Alexander Beaumont algum dia existiu na minha vida.APRILDei um final de semana de férias para Sabrina e trevorAssim que os pais saíram, Lulu se animou imediatamente, querendo brincar de patinete na rua. Como sou uma dinda exemplar, mandei Dean correr atrás dela. O patinete era rápido demais para mim, e honestamente… um pouco de diversão às custas dele nunca fez mal a ninguém.— Sua cara de pau! — Dean resmungou, ofegante. — Era pra você cuidar dela, não eu!— Ah, D, por acaso eu sou a única dinda nessa casa? Não sou, né? Então todo mundo vai ajudar, e sem reclamar!Ele estreitou os olhos, mas não conseguiu rebater.— Às vezes você é bem manipuladora, sabia?— Claro que sei. Aprendi com você. — Dei um sorriso travesso.Dean revirou os olhos, mostrou o dedo do meio e desapareceu para tomar banho. Eu ri e continuei brincando com Luiza até o anoitecer.Mais tarde, depois que Lulu já estava banhada, alimentada e dormindo no meu quarto, fui até Renata. Ela tinha acabado de chegar a Boston e, pela expressão em seu rosto, percebi que Alex n
GABRIELFaz três horas que estou sentado nesta sala, olhos fixos no monitor, revendo cada segundo das gravações da boate Orfeu do dia que eu a vi pela primeira vez. E nada. Absolutamente nada.— Aaaaaah, porraaa! — O copo de uísque vazio voa da minha mão e se espatifa contra a parede.A porta se escancara com o estrondo, e Enrico entra apavorado.— Que diabos foi isso, cara?— NADA, ENRICO! — Esfrego o rosto, tentando me acalmar, mas a frustração queima dentro de mim. — E esse é o problema! Não tem nada dessa garota nas gravações!— Primo, calma. Talvez você só esteja cansado. Já faz mais de uma semana que está obcecado por essa menina… deixa eu olhar. Quem sabe encontro algo que você deixou passar?Meus olhos se estreitam.— Tá me chamando de incapaz, caralho?— Não, mano! Só tô dizendo que, como ela não é minha, talvez eu veja as coisas com mais clareza.Ele me encara, esperando minha aprovação silenciosa. Dou um aceno seco.O tempo passa. Trinta minutos. Uma hora. Duas horas.E, co
GABRIELA reunião foi um sucesso. Dentro de uma semana, começaremos as construções do que será o melhor hotel de Boston, com vista para o rio. Talvez o maior empreendimento da Salvatore nos Estados Unidos. O orgulho deveria estar transbordando em mim, mas minha mente está em outro lugar.Assim que entro no quarto do hotel, vou direto para o computador. A ansiedade pulsa nas veias como um tambor frenético.— Senhor, gostaria que eu mandasse o jantar ser servido? — Taylor pergunta, sempre atento.— Não, Taylor. Estou sem fome. Preciso resolver algo antes.Ele assente, pronto para sair, mas eu o chamo de volta.— Taylor!— Pois não, chefe?— Certifique-se de que ninguém me incomode.— Irei me certificar, senhor.— Ótimo.Assim que ele sai, fecho a porta, tranco-a e encaro a tela do computador. Agora, sou apenas eu, esse maldito pen drive e a única chance que tenho de encontrar Mia Bella.Plugando o dispositivo, seleciono os arquivos e aperto play. As imagens do dia seguinte à festa começ
APRILForam semanas incríveis com as melhores pessoas e no melhor lugar. Teve momentos em que me senti o maior lixo da face da Terra, mas todos se esforçaram para garantir que essa fosse a melhor experiência da minha vida em Boston. Até a Lulu, com seus dois aninhos, tentou de tudo para me convencer a ficar. "Não vai embora nunca mais!" foram as palavras dela.Agora eu sei: Boston é tudo que o G disse e muito mais. Assim que me formar na escola, essa será minha nova casa. O único problema? Convencer meu avô, Demetri e meus pais disso.— Vem rápido, Seff! Teus irmãos estão me deixando louca dentro daquele carro! — Renata grita da porta de casa enquanto termino de me arrumar.Hoje é o dia da despedida. Estamos voltando para a Itália. Renata vai dirigindo o carro alugado com meus irmãos, enquanto Gregory insiste em me levar ao aeroporto para um último adeus. Como todos terão compromissos cedo amanhã, decidiram fazer uma festa surpresa para mim, Colin, Rodrigo e Renata nesta tarde. Foi p
APRIL Domingo. Dia sagrado para os Esposito Castro. Todo fim de semana, as duas famílias se reúnem na casa da vovó Diana para um almoço de paz, tranquilidade e muitas risadas. Quer dizer… na teoria. Na prática, sempre tem alguma confusão. Principalmente quando minha irmã Kimberly resolve dar o ar da graça. Se dependesse de mim, eu simplesmente ia embora assim que ela aparecesse. Mas minha mãe insiste: — Uma hora você e Kimberly terão que se dar bem. Afinal, vocês são irmãs. Grandes merda isso. Ser irmã dela nunca a impediu de transformar minha infância em um inferno. Nem de mandar um cara mais velho me seguir e tentar me assediar só porque ficou com ciúmes do ex. Eu tinha 12 anos. Naquela época, meu padrinho me disse que eu precisava aprender em três anos o que um filhote de lobo aprenderia durante a vida inteira. Então, foi isso que fiz. Todo dia, treinava com ele e Kevin, o ex-namorado dela, que por acaso, também era amigo do meu padrinho. Kimberly surtou quando descobriu.
APRILAssim que Kimberly saiu, o clima ficou uma merda. Sério, parecia um velório sem corpo. Alexia e Joshua foram atrás dela, pedindo desculpas pelo showzinho da irmã. Minha avó, furiosa, foi pro quarto com meu avô Michael para tentar se acalmar (ou para planejar uma guerra, difícil dizer). Enquanto isso, vovô Alberto, vovó Susana e Demetri voltaram correndo pro castelo para reforçar a segurança da cidade, como se estivéssemos prestes a ser invadidos por um exército e não só por uma lunática de TPM.Meus irmãos e primos deram o fora rapidinho, cada um pra sua casa. Já eu, mamãe, papai e os meninos fomos direto pra igreja pedir a bênção do padre. Pois é, aparentemente minha mãe virou a mais nova fiel devota da família.Silêncio absoluto no carro. A única coisa vibrando era o grupo de mensagens que eu tinha com Colin, Rodrigo, Nina, Gaston e Matteo. E, como sempre, eles não decepcionavam na zoeira:GASTON – Gente, que caralhos foi isso?COLIN – Vovó arrasou no discurso!!!EU – Será que
APRILUMA SEMANA DEPOISO domingo chegou diferente dos outros. Sem o tradicional almoço em família, sem a presença dos meus irmãos, sem nada além do peso do silêncio. Kimberly desapareceu. Ninguém conseguiu encontrá-la. Os portões da cidade estão fechados, e a desculpa oficial é um problema na tubulação de gás. O rei garantiu que cobriria todos os prejuízos dos comerciantes até que tudo fosse resolvido e a cidade reaberta para turistas. Mas todo mundo sabe que isso é só uma fachada.Como se não bastasse, fui proibida de ir à escola por causa da "ameaça" que Kimberly representa. Meu avô reforçou minha punição, bloqueando qualquer acesso ao computador, proibindo visitas e me impedindo de sair do castelo. Comprar uma passagem escondida para Boston parecia uma ideia genial na hora, mas agora está virando um problema cada vez maior.Sem muito o que fazer, passei meus dias dentro da academia. Lutar contra os guardas do castelo se tornou meu passatempo. Criaram até uma aposta: quem conseguir
ALEXIsso não pode ser verdade. Ela não pode ter encontrado outro cara. Onde? Quando? Será que foi naquela maldita viagem? Será que é por isso que ela está tão ansiosa para voltar para lá?Não… Ela só falou isso para me magoar. E está funcionando.Saí atrás da April. Eu precisava vê-la, precisava pedir desculpas por toda a merda que fiz em Boston. Pelo beijo nojento que dei naquela cobra da Rilary. Eu sabia que ela não tinha sido convidada para a festa, sabia que estava lá apenas para estragar o aniversário da April. E, como o idiota que sou, eu a ajudei a conseguir exatamente isso.April e Rilary têm uma rixa que dura anos,por minha causa. Desde sempre, Rilary se atirou para cima de mim, e eu, burro como era, deixava. Para mim, ela nunca passou de uma distração passageira. Mas quando April apareceu na minha vida de um jeito diferente, eu nunca mais quis me sujar com aquela mulher.Por April, tentei ser o mais puro possível. Ela é Minha princesinha.Sempre cuidei dela como uma irmã. S