ThierryFoi tudo tão rápido naquele instante. Num minuto, estou saindo às pressas do carro do Carioca, indo em direção à minha irmã e, no outro, estou tomado por uma dor lancinante que irrompeu em meu corpo. Tudo ao meu redor se transformou em um borrão lento e arrastado e, enquanto eu lutava para manter os olhos abertos, tudo foi ficando distante, inclusive a voz da Thayla chamando pelo meu nome.A próxima coisa de que lembro é acordar em um quarto de hospital, sem saber quanto tempo depois, rodeado por aparelhos modernos zumbindo e luzes claras e fortes sob meus olhos, me causando certo incômodo. Minha mente estava confusa, minha visão um pouco turva e eu mal conseguia me mexer. Senti uma dor muito forte no abdômen. A sensação foi extremamente ruim.Minha visão focou gradualmente, e lá estavam elas, lado a lado. Minha irmã, com os olhos vermelhos, nitidamente de tanto chorar, e a minha gata, a Milena, segurando minha mão com força.A preocupação delas transparecia, e meu coração se
1 ANO DEPOIS…ANIVERSÁRIO DE ALESSANDRO:MilenaAqui, na casa do meu tio Carioca e da tia Fernanda, estou me entupindo de docinhos e salgados da festa linda do meu afilhado Alessandro, me sentindo em um estado de pura felicidade. Não há nada mais delicioso do que o típico brigadeiro brasileiro e estar junto de pessoas que amamos.Alê, como carinhosamente chamamos o príncipe da Nélis, cresce forte, saudável e sendo muito amado por todos. O único ponto negativo de morar fora do Brasil é não poder estar perto fisicamente para acompanhar o crescimento dele, mas as fotos, mensagens e chamadas de vídeo com a Antonela são praticamente diárias, para acompanhar o máximo possível de cada etapa da vida dele.Após esses meses morando em outro país, Thierry e eu viemos especialmente para a comemoração do primeiro aninho de Alessandro e ficaremos alguns dias. Mas logo retornaremos. Nossa vida agora é lá.Enquanto Thierry foi conversar com o Gabriel, meu pai e o tio Carioca, dei uma passadinha na me
AntonelaEste ano foi, sem dúvida, um dos mais incríveis da minha vida. Desde o momento em que Alessandro chegou, cada dia ao seu lado foi uma nova descoberta, uma nova lição. Eu me vi aprendendo a cada sorriso, a cada passo, a cada gargalhada dele. Tudo era novo, tudo era um aprendizado. E ainda é.Ao longo desses 12 meses, descobri uma força dentro de mim que eu nem sabia que existia. Aprendi a ser mãe de verdade, com todas as seus desafios e seu contemplamento.Passei a ver o mundo de um jeito diferente, mais colorido e cheio de sentido, através dos olhos do meu filho. Cada olhar curioso, cada movimento, cada palavra balbuciada, me fazia ver o quanto a vida é preciosa.Mas, mesmo com todas as alegrias e maravilhas que ele trouxe para minha vida, a saudade do Cold nunca me deixou. A dor pela perda dele ainda pulsa forte, mas, de alguma forma, a maternidade foi um bálsamo que ajudou a amenizar a dor. A cada dia com Alessandro, um pouco daquela dor parecia se tornar suportável. Tentei
AntonelaNa janela do meu quarto, olhando para fora enquanto a chuva fina pinta seus desenhos nas vidraças. Alessandro brinca alegremente no tapete, alheio ao turbilhão de emoções que toma conta de mim. Ao nosso redor, as malas e pertencesorganizados meticulosamente para nossa viagem.Minha mãe dá uma leve batida na porta que está aberta e entra no quarto, com um olhar preocupado e os olhos marejados. Ela e meu pai já insistiram diversas vezes para que eu não vá, mas eles sabem o quanto essa viagem significa para mim.Eles se preocupam, pois Alessandro ainda é muito pequeno, e eu sei que eles têm certa razão. Mas, desde que voltei para o Brasil e principalmente após o nascimento do meu filho, eu me sinto forte e capaz para tomar as rédeas da minha vida e saber me impor, se preciso for.— Antonela, meu amor, você tem certeza sobre essa viagem? Eu entendo que era o sonho do Alexandre conhecer esses lugares, mas viajar com Alessandro nessa idade... — ela não precisou terminar a frase, po
PRÓLOGOAponto meu fuzil na cara dele, não tem pra onde ele correr, tiro e bomba pra todo lado, está encurralado. Esse momento é a glória pra mim.Meu companheiro também tem a mira apontada pra ele.— Demorou mas chegou tua hora! — falo na cara dele.Sujeito ruim, ele me encara sem demonstrar sentir medo algum da morte.Movimento o dedo pra apertar o gatilho. Meu telefone toca, atendo sem tirar os olhos dele.Do outro lado da linha, aquela voz tão familiar:— Você não pode matar ele!A porta se abre, me viro e ele aponta a arma pra mim, volto a atenção para a ligação novamente.– Ah não? Por quê? — Pergunto rindo, mas a resposta não foi nada engraçada.DIAS ATUAISSEGUE O MOMENTO EM QUE FERNANDA LÊ A MENSAGEM NO CELULAR DE FELIPE DURANTE A COMEMORAÇÃO DO CASAMENTO.FernandaDurante a tarde, precisei subir até o quarto para colocar o meu celular para carregar e na escrivaninha da cabeceira, o celular pessoal do Felipe que estava lá, vibrou algumas vezes. Não sei se por curiosidade ou i
FernandaEle me olha perplexo, não sei se era porque eu já sabia da criança ou porque eu estava gritando. Ele vira de costas bufando e passando as mãos no cabelo. — Fala, Felipe! Com qual vagabund* você transou sem ter o mínimo de descendia de se prevenir? Arriscando me passar alguma doença, você é um escroto mesmo!— Não fala besteira, Fernanda! — Falou se virando para mim.— Ah, besteira? — eu ri ironicamente.— É besteira sim! Você acha o quê? Que eu saio comendo essas vagabund*s por aí sem me cuidar? Tá maluca?Nessa hora eu gargalhei alto.— Ah claro, você usa camisinha mas uma piranha engravidou de você, tá certo. — bati palmas. Eu estava impressionada negativamente comigo mesma, nunca fui uma pessoa que resolve as coisas gritando ou falando palavrões.— Eu te amo, caralh*! Põe isso nessa sua cabeça. A única pessoa com quem eu transo é você. – ele encheu um copo de whisky e tomou puro, sem gelo.— Nem você acredita nessa mentira que está tentando contar. A prova disso é essa cr
FernandaFui indo em direção a garagem, coloquei minha mala no carro e abri a porta do carona para entrar, mas ele a bate com força me impedindo.— Para de agir feito criança, caralh*!Olhei para ele incrédula. Felipe estava com os olhos vermelhos, não sei se por não ter dormido ou por ter usado alguma coisa.— Criança, eu? — falei um tanto debochada enquanto cruzei os braços e me escorei no carro. É, talvez eu estivesse sendo um pouco infantil mesmo, mas eu estava com muita raiva dele, então acho eu que tinha esse direito.— Você sai transando com todas as mulheres que aparecem pela frente sem se prevenir, mas eu é quem sou criança? Tá bom! — ri debochada no final.— Não fala o que você não sabe! — ele respondeu.— Felipe, vamos fingir que esse circo que você montou aqui ontem, não aconteceu, tá legal? Agora eu entendi, você fez esse teatro todo de casamento para que eu não descobrisse sobre seu “outro filho”. — falei com aspas porque estou com muito ódio e ele pegou meu braço com fo
FernandaNesta hora eu fiquei estarrecida com o que ouvi, nos olhamos alguns segundos e apertei firme a mão dela para que ela entendesse que poderia se abrir comigo, se ela se sentisse confortável para isso.— Fernanda, os primeiros anos do meu casamento foram de total infelicidade. Desde que conheci o Jorge, ele ficava com várias mulheres, mas eu me apaixonei perdidamente por ele e engravidei tão novinha que precisei casar, ou melhor, morar junto, pois sendo menor de idade eu precisaria de autorização dos meus pais e isso não era possível. Eu morava na pista com eles, não éramos ricos, mas tínhamos uma vida confortável e quando meu pai soube da gravidez, descobrindo ser de um traficante, me expulsou de casa e eu não tive outra opção, a não ser morar no morro com o Jorge.— Meu Deus, Ângela! E como o Jorge reagiu?— Ele ficou muito feliz com a gravidez, é claro, desde o começo dizia ser um menino, me levou para viver com ele no Jacarezinho e aí começou o inferno que foi o início da no