G4Essa história do meu pai ter outro filho é sinistra demais, mas é possível mesmo, afinal, num vacilo pode aparecer um filho. Eu mesmo, já vacilei algumas vezes.Hoje acordei mais cedo do que o normal, quero falar com a Thayla antes de ela ir pra faculdade.Mandei flores e ela não falou nada, nem uma mensagem agradecendo ou me xingando, absolutamente nada.Espero por ela do outro lado da viela, em frente à lanchonete da Célia. Assim que ela saiu, me viu e desviou o olhar.— Thayla! — chamei — Preciso trocar uma ideia contigo! — falei me aproximando ainda de moto, já que ela não veio até mim.— Fala, Gabriel!— Recebeu as flores?— Recebi, são lindas!— Nem falou nada, achei que não tivesse gostado.— Como eu disse, as flores são lindas, obrigada. Era um agradecimento que você queria?— Não, não é um agradecimento que que eu quero. O que eu quero é você!— Não começa, Gabriel. Eu tenho que ir, não posso perder o ônibus, tenho um trabalho para entregar na faculdade hoje. — ela falou e
ColdDou uma tragada forte no baseado enquanto tiro de dentro do envelope de papel pardo a foto da filha daquele desgraçado. Aquela que pagaria com a vida pela morte do meu pai, que foi tirada pelo pai dela.E que porrä era essa?Pego meu celular e seleciono o contato do Lincon.— Que brincadeira idiotä é essa? — Já mando na lata antes mesmo dele dizer "alô".Olho pra filha do desgraçado, encolhida, tremendo inteira.Mais uma tragada e jogo a bituca no chão, pisando em cima pra apagar, puto com quem tinha feito essa "gracinha" e que seria cobrado sem dó.— Qual foi, Cold? Não tá tudo no esquema como tu mandou? — Lincon pergunta, parecendo preocupado.— E essa palhaçada de foto aqui, é o quê? Tá tentando tirar onda com a minha cara, filho da putä?— Jamais, Cold! Tu não queria uma foto da garota quando ela saísse da Penha, hoje? A foto que deixei na mesa da salinha é a foto que o X9 tirou dela quando ela tava saindo da favela. E é de hoje mesmo.Olho de novo a foto que já tava um pouco
CariocaEntramos no postinho de saúde tirando do nosso caminho tudo que pudesse atrasar o atendimento do Gabriel. Do lado de fora, o meu exército fazia a segurança do local.Um dos médicos que presta esse serviço pra gente já estava a caminho. Hoje viria o cirurgião e tudo que precisasse pra salvar a vida do meu filho, era só pedir que eu daria um jeito de trazer, incluindo equipamentos e mais profissionais.Tentei entrar na sala pra acompanhar, mas fui contido. Eu virei um bicho querendo quebrar tudo. Japah e LC me seguraram, e eu saí feito um maluco pro lado de fora.A favela ficou tomada por homens e armas, mas a maior parte era do meu bonde, isso porque o Japah, o LC e até mesmo o Cristiano, filho do meu parça PH, enviaram os homens do morro deles pra ajudar a eliminar cada um desse bando que invadiu a minha comunidade. E juntos, matamos praticamente todos.Foi um banho de sangue total e os poucos invasores que não morreram, recuaram e conseguiram fugir.Do lado de fora, sent
Antonela A pistola fria na minha testa, a mão do Alexandre tremendo e o meu coração acelerado. Essa era a definição do momento. O coração dele devia estar acelerado também. O dia mais triste da minha vida era hoje. Não por saber que ia morrer, pois isso acontece com todos em algum momento da vida, mas morrer na mão do homem que amo, o homem para o qual entreguei meu corpo, meu coração e até mesmo minha alma, era destruidor pra mim. O olhar dele fixo estava no meu quando disse que me amava, mas o ódio pelo meu pai é maior. Deve ser verdade. Eu sei que meu pai tem muitos inimigos e já matou várias pessoas, então talvez tenha mesmo matado o pai do Alexandre. Mas quando eu poderia imaginar que me apaixonaria por um desses inimigos? Essa possibilidade é quase inacreditável. Ele chora e eu também. Não pode ter sido tudo em vão. Não, não foi. O olhar de Alexandre e a mão trêmula ao segurar a arma, me diziam que tudo foi verdade. Cada sensação, cada toque, cada carícia,
ThaylaMilena e eu fomos à casa do Thierry e não o encontramos, então fomos ao mercado onde ele trabalhava e, para nossa surpresa, fomos informadas de que ele havia pedido demissão há alguns dias, ou seja, não conseguimos encontrá-lo.Durante o trajeto, ficamos sabendo que estava tendo uma invasão na Penha. Era a primeira vez, desde que me mudei para lá, que isso acontecia, e eu não tinha ideia de como seria esse momento.Milena não me deixou voltar. Ela disse que eu não conseguiria entrar no morro naquele momento, então me levou para a casa dela.Eu estava morrendo de preocupação pela invasão e também pelo sumiço do Thierry. Logo agora que, possivelmente, encontrou o pai dele, ele some. Tudo isso é muito estranho. Meu irmão sempre fez isso de ficar sem fazer contato, mas, agora que está com a Milena e toda a situação estava sendo resolvida, achei que seria diferente.Ele não responde a nenhuma das minhas mensagens, nem às da Milena, que está profundamente preocupada e até mesmo decep
ColdSaí transtornado daquele lugar sem ter ideia de onde ir ou o que fazer. Subi na moto e andei pelo morro todo, repetindo o mesmo trajeto diversas vezes, andando sem rumo, apenas sentindo o vento no rosto, sem saber onde parar, como se eu estivesse em um labirinto sem conseguir achar a saída.Mas era isso mesmo, minha mente era um labirinto, que não conseguia me deixar raciocinar.O que eu faria agora?Tudo, absolutamente tudo que eu planejei desmoronou quando eu tirei aquele saco da cabeça dela. Não, tá errado, o meu plano desmoronou quando eu fiquei com a Chocolatinho atrás do camarote do baile, na primeira vez em que ela veio na Pedreira. É isso, foi ali que tudo começou a dar errado, e piorou quando eu me apaixonei por ela.Meu corpo começou a sentir o cansaço de pilotar por tanto tempo sem parar, então decidi ir pra casa. Eu precisava de um banho e tentar dormir até conseguir decidir o que faria.Enquanto espero o portão eletrônico abrir, olho pra casa do MT e vejo luzes
AntonelaAo sair pela porta do cativeiro, o pai da Rafa e eu, nos olhamos.O olhar dele era indecifrável.O meu, expressava gratidão.Quando a Rafa me colocou no carro dela, eu estava numa espécie de choque, ou em transe, não sei ao certo. Assim que cheguei na casa deles, fui muito bem recebida pela mãe da Rafa. Eu estava sem reação, meus movimentos pareciam estar todos no automático e a minha amiga me ajudou a tomar um banho e me emprestou uma camisola da Minie, um modelo estilo camiseta.Sentadas na cama dela, enquanto ela penteava meus cabelos molhados, fui contando o que aconteceu. Mas eu sabia que faltava algo, nem tudo se encaixava nessa história.Rafa estava tão impressionada quanto eu com o que havia acontecido. Ela soube da invasão na Penha e ligou para a Milena para avisar que eu estava na casa dela aqui na Pedreira.Milena não sabe exatamente o que aconteceu comigo e não eu entendi muito bem, mas parece que ela disse para minha mãe que eu estava na VK. Depois contarei
15 DIAS DEPOIS...Fernanda15 dias se passaram, os 15 piores e mais aterrorizantes dias da minha vida.Naquele maldito dia da invasão, onde o Gabriel foi gravemente ferido, eu estava na pista e precisei passar a noite por lá, então fui para o apartamento da Ângela.No dia seguinte, nas primeiras horas da manhã, a Antonela chegou e se assustou ao me ver. Ela não fazia ideia de que eu estava ali e correu em minha direção, chorando e me abraçando. Minha filha estava com uma aparência horrível, destruída e muito abalada. Eu fiquei confusa, porque, até então, eu pensei que ela estava na VK.E então, tivemos uma longa conversa, não uma conversa apenas de mãe e filha, mas sim de mulheres. Eu sempre tive uma relação muito aberta com meus filhos, e agora não seria diferente.Ela me contou que está apaixonada...Me contou tudo nos mínimos detalhes, desde quando e como conheceu o rapaz, e eu fiquei estarrecida. Não podia ser o que estava passando pela minha cabeça. Não podia. Mas eram coi