O suposto doente abriu os olhos e eles eram extremamente negros, sua pele pálida parecia sobrenatural, eu recuei alguns passos para trás com o susto e tropecei, caindo no chão.
Estávamos em uma meia luz, o que dava a sua aparência algo fantasmagórico, isso fez meu coração acelerar ainda mais, eu vi o doente se sentar na cama, ele voltou seu rosto em minha direção, eu estava sentada no chão, entre a visão perturbadora dele e a figura gigante de outro homem na porta.De repente as luzes se acenderam, o homem na porta deu alguns passos a frente, enquanto eu permanecia paralisada.Vi diante de mim o enfermo se levantar sorrindo, o outro homem na porta se aproximou e entregou uma toalha para o homem antes acamado.— Fez um bom trabalho, Steve. — parabenizou o homem alto.Eu olhei mais atentamente para ele.Steve limpou o rosto com a toalha, e vi chocada todo o semblante de doença ser desfeito, por Deus Steve estava até bronzeado!Essa constatação assombrosa ativou alguns parafusos em meu cérebro, que começaram a girar rapidamente.Ele sorriu para o homem diante dele e disse:— Muito obrigado Mestre Stevenson, estou dando o meu melhor.Virei meu olhar para o homem, e o reconheci da foto, seu olhar se cruzou com o meu, olhos azuis enigmáticos.Engoli em seco.Foi então que percebi que aquilo era tudo planejado, Bruce Stevenson não estava doente.Me levantei do chão e tentei sair correndo, passando por Bruce, que me deteve facilmente.Quando me tocou ficamos por alguns segundos nos encarando, e eu vi toda a astúcia em seus olhos.— Me solte... Você não está doente. — o acusei.Ele apenas me encarou, então com uma voz grave ordenou.— Sente-se ali, esposa querida.Embora tenha me chamado de "querida" não havia nenhuma afeição em sua voz, sua expressão era como gelo, fria e impassível.Ele me levou até uma poltrona e me colocou sentada.Eu arfei chocada com sua atitude, puxei meu braço de sua mão e olhei em volta.Aquilo era tudo uma encenação?— Porque ela está aqui?Sua pergunta não era dirigida a mim, apesar dele me encarar profundamente, sua pergunta foi lançada ao homem chamado Steve que segurava a toalha ainda.— Não sei mestre, estava fazendo meu papel aqui, quando ela entrou.Bruce Stevenson olhou de volta para a porta da qual entrei, ele havia entrado por outra.Ele franziu o cenho por alguns segundos, então girou seu anel de rubi algumas vezes, de repente sua expressão mudou, para compreensão.— Alguém deixou a porta aberta. — pronunciou Bruce.Eu o olhava da poltrona que havia me colocado, ele era um homem alto, mais alto que a maioria dos homens, com ombros largos e queixo forte, uma leve barba por fazer, seus cabelos eram negros e seus olhos de um azul profundo como o oceano, e pareciam serem perigosos como ele.Estava com um casaco negro e calças de hospital, quando nossos olhares se encontraram eu fiquei novamente paralisada.Estava claro que não era daquela maneira que ele pretendia me conhecer, o que me fez questionar o quão segura eu estava ali.— Por que entrou aqui? Devia ter me esperado na pequena sala, onde certamente Eliot a deixou.Sua voz era grave e nada amistosa, podia ver a irritação em seus olhos.Antes que eu pudesse responder Eliot entrou no quarto, quando se deparou com a cena e seu olhar recaiu sobre mim ficou terrivelmente pálido.Levou as mãos a cabeça e questionou:— Porque não esperou por mim? Ah mestre quando fui avisa-lo que ela estava aqui seus parentes me ocuparam no corredor com perguntas, tive que distrai-los para que não subissem para a enfermaria particular. — se explicou.Bruce apenas o olhou.Vi como ambos os homens, Steve e Eliot possuíam algo em comum, os dois tinham o mesmo olhar para o homem pelo qual denominavam de mestre.Um olhar não de medo e nem de um criado, era o olhar de respeito e ansiedade por sua aprovação.— Eliot o que aconteceu na festa?Aquela pergunta aliviou o clima tensa que havia tomado conta do ambiente, imediatamente Eliot começou sua história sobre cada detalhe da cerimônia, detalhando cada convidado que julgou importante e suas impressões, Bruce Stevenson ouvia tudo atentamente e isso me fez acreditar que eu pudesse sair de cena sem ser percebida.Estava apavorada com tudo aquilo, sem saber havia aceitado participar de uma farsa.Quando me levantei e tentei chegar até a porta senti uma mão se fechar em meu braço, então fui puxada com força batendo de encontro ao parede de músculos.Nossos olhares se encontraram e eu engoli em seco.— Não pode sair. — murmurou ele.O quarto mergulhou em um silêncio sepulcral.Então Bruce Stevenson simplesmente me ergueu nos braços como uma boneca e se voltou para seus assistentes.— Vou cuidar dela, Eliot não deixe ninguém entrar na clínica, chame os gêmeos Black para que fiquem de prontidão.Com essas últimas ordens fui levada por uma porta, onde havia um corredor mergulhado nas trevas, sem saber o que ele faria comigo após eu descobrir seu segredo.Após ser levada pelo corredor chegamos a uma porta de madeira, onde Bruce Stevenson girou uma chave.Eu me debati em seu colo e ele me colocou no chão.O quarto era bem maior que o anterior, e esse estava repleto de intimidade, com uma cama King Size, com cortinas azuis-escuras, móveis de mogno escuro, e na cama lençol de seda vermelha.Eu respirei fundo ao ouvir a voz dele.— Por hora, apenas saiba que ninguém pode saber o que você viu, entendeu?Eu me virei, e vi Bruce tirar sua camisa e o observei com mais atenção.Seus olhos eram do azul mais profundo e brilhante que já vi, suas sobrancelhas eram negras e espessas, acentuando seu olhar marcante, seu nariz era másculo e aquilino, seu queixo forte e rosto um pouco quadrado, seus traços eram um tanto clássicos, mas havia algo de muito jovial nele, quando nossos olhares se encontraram ele sorriu, lentamente.Mas seu sorriso durou apenas alguns segundos.Tentei me lembrar que Bruce havia usado sua influência e dinheiro para conseguir aq
Não conseguia respirar corretamente, sentia-o tão perto de mim que era possível sentir seu hálito quente em meu pescoço, todo o meu corpo vibrava, porque pela primeira vez na vida, estava sentindo uma sensação completamente oposta a que sentia quando era a bordada nas raras vezes que saía para festas com Susana.Eu engoli em seco quando ele correu os dedos levemente por meu pescoço, seu toque era tão suave que enviou arrepios por todo o meu corpo.— Diga-me esposa, deseja que eu a reconheça como minha esposa de modo mais... Enérgico?Sua voz era rouca, e devo dizer, carregada de algo muito profundo e sugestivo que eu não sabia bem o que era, mas meu corpo parecia saber, estando respondendo aqueles estímulos tão vivamente. — Diga-me Louise, o que deseja que eu faça com você hoje?O nome proferido por ele me fez voltar a realidade, a realidade de que eu não era a mulher que ele acreditava que eu fosse, eu não era a bela e educada Louise Willians, vinda de uma família rica, eu era uma
Idiota riquinho.Era essa a palavra.Ele havia me insultado e tinha a audácia em ficar surpreso que eu o insultasse de volta, mas já que eu já havia dito o que disse, resolvi manter minha postura.— Não disse isso, apenas que seu rosto não tem nada de atrativo.Ele me encarou, enquanto Bruce sorria, parecendo que eu havia acabado de contar uma piada muito divertida, o que aquele outro homem não achava. — Você sabe quem eu sou, garota?Suspirei, fingindo estar entediada.— O presidente?Ele bufou e caminhou a passos largos em minha direção.Não recuei. — Sou Valentine Ward, primo do seu marido, devia me tratar com mais carinho.Ele falava olhando nos meus olhos e não gostei da forma ousada como se aproximou, felizmente eu era uma órfã, então estufei o peito e disse.— Eu guardo o carinho para quem merece.Infelizmente o meu gesto de demonstrar força saiu pela culatra, Valentine desceu seu olhar na mesma hora para meus seios, como se eu, imagine só, o estivesse seduzindo.Foi nesse m
Bruce sorriu ao reparar na expressão de Louise, que sorria enquanto dormia.Ele colocou os dedos na mesa, e tamborilou de leve na Madeira de mogno, o suficiente para que ela despertasse com a visão dele, tão próximo dela.Ele a vê gritar assustada com ele, e com razão, Bruce estava pálido com o disfarce de doente, quando ele não recuou ela se levantou e a porta se abriu, um dos empregados, George encontra o olhar de Bruce, e sem dizer uma palavra fecha a porta em seguida.Mary suspira, entendo seu disfarce de doente e grita por George.— George por favor pode me trazer um lanche? Estou aqui há horas! Bruce apenas a observa, em pé olhando para a porta na esperança de George retornar, quando o empregado não aparece Bruce intervém.— George!Imediatamente a porta se abre, e o jovem de cabelos castanhos e sardas no rosto reaparece.— Sim mestre Stevenson. — Peça para que sirvam o jantar irei daqui alguns minutos com a Sra. Stevenson. Enquanto fala, ele não olha para George, seu olhar
Mary evitou olhar para Bruce por alguns segundos, enquanto o homem aguardava sua resposta, ela amaldiçoou a Sra. Willians por ter esquecido de mencionar um detalhe tão específico como aquele, ela teria que improvisar.Ela sorriu, e suavemente levantou o olhar para Bruce e esclareceu:— É isso que eu desejo que pensem senhor Bruce, as pessoas sempre buscam uma fraqueza que possam explorar, eu apenas forneci uma fraqueza falsa, para minha própria proteção.Bruce a olhou chocado com sua sagacidade.— Você tem muitos inimigos, Louise?Ele perguntou enquanto bebia seu vinho. Seu olhar azul era intenso como se estivesse a queimando, e ela suspirou, tentando controlar seus batimentos.Bruce possuía aquele estranho efeito em seu corpo, e sabia que aquilo não era somente pelo medo de ser descoberta como uma impostora.Bruce e seu olhar de diamante a deixavam nervosa, fazendo suas pernas estremecerem.Ela tomou um pouco de água e respondeu:— Todos temos.Bruce assentiu, e ela observou enquanto
Bruce ficou surpreso quando Louise bateu a porta em sua cara.As palavras dela silenciaram uma suspeita que germinava em sua mente, devido as suas atitudes anteriores, sabia que pela ficha de informações sobre ela, mesmo já tendo tido um namorado ela não se entregaria fácil.Bruce sorriu e tocou a de leve a madeira, então inclinou a cabeça de lado e ouviu a respiração arrastada de Louise.Ele sorriu mais, ao saber que a havia deixado nervosa...Bruce se afastou e voltou para o seu quarto, pensando que talvez suas suspeitas fossem inválidas.Na manhã seguinte enquanto Bruce se vestia, surgiu uma batida na porta de seu quarto, só poderia ser Eliot, porque estava batendo em código Morse.Em sua mensagem dizia que havia alguém com ele.Ele o chamou, mas Bruce estava doente demais e lhe deu uma tosse em resposta, isso lhe daria tempo.Como Bruce fingia estar doente, mesmo que trancasse seu quarto seus empregados de confiança tinha a cópia da chave, para caso ele não conseguisse abrir. Bru
Mary esperou em silêncio que ele respondesse...— Não confio em ninguém... — murmurou ele.Ela sabia que havia muito mais por trás disso, o que poderia ter acontecido de tão grave com ele ao ponto desse homem, nem mesmo conseguir pegar no sono ao seu lado? Ela se perguntava.— Não confia ao ponto de ter dificuldade para dormir ao meu lado? O que acha que vou tentar fazer, mata-lo?No instante que disse isso ela se arrependeu.Um silêncio sepulcral recaiu sobre ambos, e Mary sentiu um frio na espinha.Sua intuição lhe dizia que era isso que Bruce pensava...Ela não disse mais nada, mas assim como o homem ao seu lado, também teve dificuldades para dormir...Bruce se levantou cedo, olhou para a mulher ao seu lado e enquanto a observava ela abriu os olhos.Seus olhares se encontraram e naquele segundo seu primeiro pensamento foi:Louise tinha olhos bonitos, mesmo estando inchados devido ao sono, não eram bem seus olhos mas o seu olhar.Ele pigarreou e desviou o olhar.Se levantou e tomou u
Mary sentiu seu coração congelar, quando olhou nos olhos de Nora Stevenson, apenas viu irritação. Ela rapidamente se afastou de Bob, que não parecia nenhum pouco afetado com a presença repentina da outra mulher, já Mary se sentiu exposta. A mulher caminhava de modo altivo, e a olhava nos olhos com uma clara reprovação, quando Mary deu alguns passos e abriu a boca para falar, Nora a cortou. — É isso que faz enquanto Bruce está doente? Mary piscou, incapaz de compreender o que Nora tentava dizer. A mulher olhou de Nora para Bob, que havia se encerrado em um canto na parede, enquanto observava as duas. Foi nesse momento que Mary percebeu chocada a insinuação terrível e descabida daquela mulher autoritária. Mary sentiu seu sangue começar a ferver, enquanto o olhar insinuante e acusatório daquela mulher a fitava. Como ela ousava insinuar que Mary estava fazendo algo errado com Bob Stevenson? Quando até agora ela havia sido completamente inconveniente. Mary sabia que devia