Joana permaneceu deitada, os olhos fechados, o corpo mole e dolorido sem conseguir mover um dedo, ainda absorvendo o que fez, o que deixou Maximiliano fazer. Não havia retorno. Mesmo que não houvesse o acordo, mesmo que não estivesse protegendo sua família ao aceitar substituir Dalila, seus princípios tinham atravessado uma linha moral. Ela tinha sucumbido ao desejo, alimentado pelos vários sonhos que dominou seus dias desde o bendito beijo no jardim. E pior, não se arrependia. Levou um pequeno susto ao sentir algo gelado passar por entre suas pernas. Abriu os olhos e viu Maximiliano sentado ao seu lado, usando somente cueca e passando uma toalha entre suas coxas. — O que está fazendo? — Questionou procurando envergonhada algo para se vestir, mas seu vestido estava longe, acabou se encolhendo, utilizando as pernas para cobrir seus seios e sexo. — Removendo o sangue — ele respondeu parecendo aborrecido. Foi quando ela reparou a mancha na toalha e no lençol da pequena cama, o que au
Encostado ao lado da porta da cabine, Beto Alves até tentou dar uma espiada do lado de dentro, mas Maximiliano colocou-se à frente bloqueando qualquer visão da mulher que arrastou para a cabine. E fez muito mais que só arrastar, notou pelos sons que ouviu sair do interior. — Que mensagens de Sanmarino são tão importantes para me incomodar? Se for alguma notícia idiota juro que te jogo no mar — ameaçou, desconfiando que se tratasse de alguma desculpa para Beto bisbilhotar o que ocorria em sua cabine. Afastando a curiosidade, Beto entregou seu aparelho para Maximiliano. — Quase agora fui dar uma olhada se caiu alguma mensagem das minhas garotas e recebi uma enxurrada de mensagens do Cristiano — iniciou expondo as mensagens do dono do Crista do Mar. — Parece que a nossa última carga seria revistada. Lendo os diversos avisos de Cristiano, Maximiliano trincou a mandíbula, lembrando-se da encomenda feita por Orlando Américo dentro do Crista do Mar. Com certeza era algum lacaio enviado po
Depois de deixar Joana em sua cabine, lamentando que ficaria dias sem contato com os pais, Maximiliano foi para a ponte de comando com Beto, passando horas definindo a rota mais rápida de volta a Sanmarino. — Essa fornecerá um tempo menor, mas nunca passamos por ela justamente por causa desse paredão — Beto alertou quando Maximiliano apontou no mapa o caminho alternativo. — Não sabemos se a passagem é larga o suficiente. — Se for estreita, damos a volta. E ainda assim ganhamos dois dias de vantagem em comparação à rota original — retrucou decidindo que aquele seria o trajeto a seguir. — Está tão ansioso assim para esfregar sua atual noiva na cara da sua ex? Maximiliano não respondeu a provocação, simplesmente iniciou as mudanças necessárias, somente dizendo o que deveriam fazer dali em diante para garantir que chegasse o quanto antes em Sanmarino. Vingança era só parte de sua pressa. Vendo a tristeza e angústia aumentar na face de Joana, por medo dos pais se preocuparem com sua lo
Vasculhou cada centímetro da cabine, o que não era muito, antes de sair alarmado para fora, olhando ao redor a procura dela, o coração disparado diante das possibilidades que rondavam sua cabeça. Agarrou o braço do primeiro marinheiro que passou a sua frente. — Viu a mulher que estava aqui? Encarando-o assustado, o rapaz, novo na tripulação, começou a gaguejar assustado com o semblante carregado do capitão do Diablo. — A mulher... bem... ela foi na... na direção... — Fale logo, inferno! — Maximiliano bradou temendo o pior. — Onde ela está? — Cozinha... Deixando o rapaz para trás, junto com os olhares curiosos dos outros marinheiros, marchou para o local. A primeira coisa que Maximiliano captou ao abrir a porta da pequena cozinha foi o cheiro delicioso no ar, algo incomum em seu barco, cujo sabor e aroma do que era preparado costumava ser duvidoso. A segunda foi à voz melodiosa de Joana falando com Baltasar, que estava a cargo das refeições naquele dia. — Espete com o garfo e
De volta à cabine, durante o almoço, Joana surpreendeu-se que Maximiliano - no lugar de exigir silêncio enquanto comia, como seu pai fazia - quis saber mais do que ela sabia preparar. — Sei fazer bolos, tortas, curtidos, licores, reaproveitar alimentos — respondeu apontando para a sopa dele, pousada na escrivaninha. — Onde aprendeu tudo isso? — Como minha mãe, minha madrinha e com as freiras do convento. — E o que mais sabe fazer? — Costurar, fazer compras para casa, limpar, todas as funções para manter a casa em harmonia — Joana sorriu satisfeita por ter algo a ser exaltado, algo que daria orgulho a Maximiliano. Podia não ter a beleza deslumbrante de Dalila, mas superava a irmã na administração dos afazeres domésticos e em todos os talentos exigidos pela sociedade. — Também toco piano e sei um pouco de francês, espanhol e inglês. Sou formada em licenciatura e dou aulas de catequese na escola religiosa... Dava aulas. Maximiliano, diante da série de atributos que Joana possuía, po
O som de um disparo o acordou Maximiliano, de quatorze anos, no meio da noite. Levantou assustado e andou pelo corredor que levava à sala, as costas praticamente grudadas na parede para não ser visto por ninguém. Chegando perto do arco que levava ao recinto, ele viu com temor cinco homens uniformizados da polícia de Sanmarino com armas em punho. Um deles apontava sua arma em direção ao seu pai, os olhos extremamente arregalados de choque. Logo Maximiliano se deu conta que Fabiano, seu pai, segurava com esforço o corpo inerte e sangrando da esposa, Milene. — Mãe? — Sua voz saiu fraca, quase um murmúrio. Tentou se aproximar, mas foi puxado para trás por Fernando, seu irmão cinco anos mais velho. Fernando também tinha acordado com o barulho do disparo. O irmão colocou o dedo indicador sobre os próprios lábios, em um sinal de que Maximiliano deveria ficar em silêncio. Entretanto, ele encontrava-se muito assustado para calar-se, seu coração batia descontrolado no peito. — Fê, mamãe..
Movendo-se com cuidado, Maximiliano saiu da cama sem despertar Joana. Mas, no lugar de se afastar e se vestir para voltar ao comando do barco, parou um instante ao lado dela, admirando seu rosto adormecido. Parecia um anjo, doce, suave... Inspirou fundo, anjos podiam ser tentadores? Ajeitou a coberta sobre ela, inclinou-se e a beijou suavemente antes de se afastar para se vestir. Ao recolher suas roupas, pegou o vestido dela e o apertou em seus dedos voltando a observar Joana em seu sono. Colocou a peça no encosto da cadeira e moveu-se até o armário acima da cama, abrindo-o e buscando no canto um pacote azul com fita roxa em volta. Colocou o objeto sobre a escrivaninha junto com um bilhete antes de sair. ~*~ Horas depois, quando a noite dominava o lado de fora, Joana despertou confusa, piscando e esfregando os olhos para sair do sono. Tateou a mesinha até acender o abajur, iluminando o suficiente para envolver o corpo com o lençol da cama e seguir até o banheiro. Foi ao retornar p
De longe, observando Maximiliano ensinar a noiva a conduzir o barco, Beto confabulava sobre o comportamento do capitão do Diablo com Lucas. — Nunca vi o capitão tão grudado em uma mulher — Beto comentou vendo o Gonzalez abraçado a Joana, como fazia sempre que ela estava fora da cabine, provavelmente dentro também, mas de forma bem mais íntima. — É noiva dele — Lucas pontuou, ignorando a cena romântica para apreciar a paisagem ao redor do barco. — Ele nunca trouxe a outra aqui. — Trouxe uma vez. — Digo, de dia, para todos conhecerem, para cozinhar para nós. — Ele também não trouxe essa — Lucas retrucou, pontuando em seguida: — Ela subiu atrás dele e cozinha por opção, não porque ele pediu. O que agradeço — acrescentou contente por não cozinhar e nem suportar os pratos horríveis preparados pelos outros tripulantes. Desde que Joana assumiu a cozinha comia como um rei pela primeira vez desde que nasceu. — Dá no mesmo — Beto desdenhou ainda impressionado pelo comportamento de Maximi