O som das chamas crepitando e o cheiro de fumaça enchiam o ar. Descendo da picape de Lucas, sem ter muito que fazer, Maximiliano observou sua cabana completamente em chamas. No fundo de seus olhos reluzia o medo e angústia que sua face ocultava atrás da máscara de impenetrável.A ligação de Lucas, avisando que via fumaça vinda do Monte do Diabo o preocupou, mas pensou se tratar de algo próximo ao lar que construiu com as próprias mãos, preparando-se para apagar antes que chegasse a cabana. Não estava preparado para ver as labaredas dominando sua cabana.Havia simbolismos naquela construção, feita tanto para abriga-lo quando para conectá-lo aos familiares. O pai que o ensinou carpintaria, o irmão que planejava construir uma cabana naquele exato local.Mesmo ao ganhar seu primeiro milhão, no lugar de comprar uma grande propriedade, preferiu permanecer naquele lugar, pequeno, humilde, mas que em cada parede conseguia visualizar sua família. Os ensinamentos, os sonhos que tinham para ele,
Nervosa após o telefonema de Maximiliano, como solicitado pelo noivo, Joana trancou a porta do quarto e utilizou a varanda para sair sem ser notada. Imaginou que a escolha do local tinha sido feita pensando exatamente nisso, no acesso fácil que as varandas dos quartos tinham ao jardim.Abaixou-se junto à parede, seguindo atenta a qualquer movimentação nas varandas de seus pais e a da irmã. Com o coração palpitando adrenalina pura por suas veias, agradeceu que a escuridão noturna e a lua nova ocultavam sua presença do lado de fora da residência.Joana considerava o jardim dos fundos um lugar encantador, seu refúgio para os momentos de estresse, mas nunca foi ali à noite por não ter nenhuma iluminação. Os arbustos bem cuidados, as flores cultivadas por sua mãe e o banco largo de metal abaixo de um antigo carvalho não passavam de sombras à noite.— Joana!Deu um pequeno sobressalto ao ouvir o chamado do noivo, que saia detrás do tronco da árvore. Passada a surpresa, correu para os braço
A raiva e inveja mantinha Dalila desperta, remoendo o que acontecerá nos últimos dias, a briga com Adriano sobre o divórcio, Maximiliano recusando seu amor, sua irmã tirando tudo que conseguiu.O que machucava fundo seu orgulho era ambos os homens que considerava seus estarem brigando para ficar com Joana.O pior era Adriano insistindo em um divórcio em que ela sairia sem nada.Torceu os lábios ao relembrar a prepotência de Adriano ao exigir que assinasse os papéis que incluíam uma clausula em que abria mão da metade que lhe correspondia da fortuna dele. Isso mesmo depois de ter negado assinar os papéis diante do advogado que ele enviou em sua casa. Adriano imaginou que sua presença, seus insultos e ameaças, mudaria o fato de que ela não abriria mão do dinheiro. Justo o maior e mais forte motivo que a fez casar com o Orleans.Moveu-se de lado na cama, pensando na sorte que tivera ao, querendo agradá-la, Adriano ter ignorado os pedidos da viúva e, confiante de que passariam a vida junt
Chegando ao bar Crista do Mar, depois de se banhar e comer, Maximiliano se juntou a todos os amigos, para comemorarem que aguardaria o processo em liberdade. Eram unânimes em desejar que permanecesse livre após o julgamento.Superada a alegria por estarem reunidos, deixaram a conversa seguir para o incêndio da cabana. Lucas, em contato com um bombeiro que compareceu ao local, informou que seria aberta investigação, mas, de antemão, tudo indicava se tratar de incêndio criminoso.— Sei quem foi — Maximiliano disse cruzando os braços, o olhar sombrio ao pensar em sua cabana em chamas.— Todos nós sabemos, mas provar será difícil — Beto comentou coçando o queixo. — Embora tenhamos um meio para, enfim, obter um pouco de justiça pelo que estão te fazendo há anos.Maximiliano buscou com os olhos o outro amigo antes de receber a explicação para o otimismo.Em resposta Beto indicou Gabriel, dando a ele a palavra.— Existe um testamento, feito pelo Nicolas Orleans, em que ele deixa uma pequena
De telhado em telhado, Maximiliano aproximou-se da casa, escalou o muro de acesso para os fundos da casa e encaminhou-se sorrateiro, agradecendo que Adriano estava tão determinado em vigiar os imóveis dos outros que não cuidava do local que morava.Abaixou-se próximo a janela da sala de estar ao ouvir a voz exaltada de Kassandra repreendendo Adriano. Surpreendeu-se com a intensidade da bronca. A viúva era conhecida por abrandar sua personalidade para agradar e mimar o filho, mesmo Adriano estando na casa dos trinta anos.Satisfeito em perceber o desespero vibrante no descontrole da viúva, e aproveitando que os Orleans estavam concentrados em si mesmos, moveu-se sorrateiro na direção do escritório.Forçou uma janela e invadiu a casa, seu sucesso vindo da facilidade de ter cada passagem gravada em suas memorias, pelos anos morando na ali com sua família, e pelos arrogantes Orleans não investirem em segurança. Certamente, com a polícia do lado deles, pensavam não precisarem gastar nisso.
Optando por evitar discussões e querendo tomar o café da manhã com Maximiliano, Joana madrugou, se arrumou para o trabalho, agarrou seu casaco, a bolsa estilo carteiro e encaminhou-se apressada para a porta da entrada. No entanto, burlando seu objetivo de sair sem ser notada, sua mãe, Carmen, pela divisória entre a sala de estar e a de jantar a flagrou antes que alcançasse a maçaneta.— Joana, aonde vai tão cedo? Não vai tomar o café da manhã?Joana suspirou fundo.— Mãe, não quero me indispor com o pai novamente — confessou ajeitando alça da bolsa no ombro. — Cansei dele criticar meu relacionamento com Maximiliano e me insistir em me unir ao Adriano.Carmen olhou para Joana com compreensão.— Entendo sua preocupação, meu anjo. — Se aproximou da filha e buscou uma mão, aconchegando-a com carinho. — Você tem todo o direito de ser feliz com quem escolher. E tem meu apoio incondicional.— Eu sei, mãe. Mas toda vez que eu confronto o pai, acaba em uma discussão acalorada... Não quero que
Chamando Kassandra aos berros, Adriano entrou na sala de estar, o olhar sério e preocupado combinando com a fúria prensando dolorosamente sua cabeça.Vindo da sala de jantar, seguida de perto por Shirley, Kassandra percebeu imediatamente o descontrole emocional no rosto contorcido de seu filho.— O que houve? Por que a gritaria? — questionou parando a poucos passos do filho.— Aquele maldito do Maximiliano invadiu a nossa casa, me agrediu e fugiu com o testamento do pai — Adriano cuspiu, saliva voando conforme seguia o relato exaltado. — Vamos denunciar aquela marginal, devolvê-lo para o lugar de onde nunca deveria ter saído e garantir que apodreça lá, até o fim de seus dias miseráveis. Não sabe com quem mexeu. Vou mostrar a ele que não se pode subestimar Adriano Orleans.Kassandra esfregou a mão no rosto, dando um passo para trás conforme o filho salivava sua raiva. As palavras entravam como agulhas em seu cérebro, afundando na gravidade da situação.— Como ele descobriu a senha do c
Na casa dos Savoia o clima era inverso. Em silêncio, Carmem observava o marido tomar o café da manhã, a solidão fazendo-se presente apesar da presença dele. Retornando aos velhos hábitos, Iago passou a noite fora chegou minutos antes de o café ser servido. Com a roupa em desalinho, sinais de não ter dormido e uma marca vermelha no pescoço, entrou na sala de jantar, a ignorou e pediu que Paula o servisse.Anos sendo uma boa esposa, mãe e dona de casa, e nada disso era suficiente para manter o marido fiel. Qualquer desagrado e ele sumia na noite e ao reaparecer a ignorava.Acostumada e conformada, pousou o guardanapo sobre a mesa, a fome esfarelada. Tinha algo mais importante a fazer do que se alimentar e lamentar sua sorte.— Iago... — O marido sequer levantou a cabeça ou parou de cortar a panqueca, mas Carmem se forçou a continuar dessa vez utilizando algo que atrairia o interesse dele: — Sei que gosta de agradar aos Orleans, mas peço que reconsidere o pedido de Adriano pelo bem da fe