Chamando Kassandra aos berros, Adriano entrou na sala de estar, o olhar sério e preocupado combinando com a fúria prensando dolorosamente sua cabeça.Vindo da sala de jantar, seguida de perto por Shirley, Kassandra percebeu imediatamente o descontrole emocional no rosto contorcido de seu filho.— O que houve? Por que a gritaria? — questionou parando a poucos passos do filho.— Aquele maldito do Maximiliano invadiu a nossa casa, me agrediu e fugiu com o testamento do pai — Adriano cuspiu, saliva voando conforme seguia o relato exaltado. — Vamos denunciar aquela marginal, devolvê-lo para o lugar de onde nunca deveria ter saído e garantir que apodreça lá, até o fim de seus dias miseráveis. Não sabe com quem mexeu. Vou mostrar a ele que não se pode subestimar Adriano Orleans.Kassandra esfregou a mão no rosto, dando um passo para trás conforme o filho salivava sua raiva. As palavras entravam como agulhas em seu cérebro, afundando na gravidade da situação.— Como ele descobriu a senha do c
Na casa dos Savoia o clima era inverso. Em silêncio, Carmem observava o marido tomar o café da manhã, a solidão fazendo-se presente apesar da presença dele. Retornando aos velhos hábitos, Iago passou a noite fora chegou minutos antes de o café ser servido. Com a roupa em desalinho, sinais de não ter dormido e uma marca vermelha no pescoço, entrou na sala de jantar, a ignorou e pediu que Paula o servisse.Anos sendo uma boa esposa, mãe e dona de casa, e nada disso era suficiente para manter o marido fiel. Qualquer desagrado e ele sumia na noite e ao reaparecer a ignorava.Acostumada e conformada, pousou o guardanapo sobre a mesa, a fome esfarelada. Tinha algo mais importante a fazer do que se alimentar e lamentar sua sorte.— Iago... — O marido sequer levantou a cabeça ou parou de cortar a panqueca, mas Carmem se forçou a continuar dessa vez utilizando algo que atrairia o interesse dele: — Sei que gosta de agradar aos Orleans, mas peço que reconsidere o pedido de Adriano pelo bem da fe
Depois do café da manhã compartilhado com sua noiva, Maximiliano levou Joana até o colégio em que ela trabalhava, passou rapidamente no cartório e de lá seguiu para o escritório/casa de Donato Herrera.Estacionou seu jipe em frente à construção antiga. Saiu do veículo com uma mão espalmada em sua bolsa de ombro, visivelmente ansioso. Dentro da bolsa levava o original e cópias autenticadas do testamento de Nicolas Orleans.Donato o cumprimentou e o chamou para dentro.— Pensava passar no porto a sua procura. Recebi a confirmação que os Orleans receberam a notificação judicial dos crimes descritos no dossiê ontem no fim da tarde — Donato informou sentando-se em frente ao Gonzalez. — O juiz Martin realmente está empenhado em resolver o caos que se abateu na cidade. Desde que chegou está cuidando dos processos em que vê ilegalidades e muitos envolvem os Orleans.— Terá mais trabalho quando apresentarmos as novas provas contra eles que consegui ontem.Maximiliano abriu a bolsa e retirou a
Aborrecida por Maximiliano querer impor condições, Kassandra voltou a se sentar devagar, forçando um sorriso para ouvir as tais condições e adaptá-las se necessário aos planos que tinha para reaver o documento.— Diga quais são, atenderei com prazer — disse direta, preferindo ouvir o que ele queria de uma vez sem a necessidade de rodeios e se alongar em conversas frívolas.Maximiliano relaxou na cadeira, um provocador sorriso de canto adornando seus lábios, sabendo exatamente o que se passava na mente maquiavélica da viúva. Estava preparado e vacinado para as trapaças dos Orleans.— Primeiro devo contar que tenho três cópias autenticadas do testamento — falou pegando a que deixou com Donato e a estendendo para a viúva. — Essa é a que ficará com Donato. As demais cópias e a original estarão em locais diferentes e com pessoas da minha confiança.— Não existe necessidade de tanta precaução.— Não é precaução, a palavra certa é: desconfiança — Maximiliano a corrigiu fazendo a viúva retorc
Aproveitando que a biblioteca ficava vazia até o horário do intervalo escolar, arrastando um carrinho lotado de livros, Joana devolvia os exemplares entregues no dia anterior e naquela manhã aos seus devidos lugares nas enormes prateleiras que dominavam o ambiente. Cantarolando baixinho, não notou a entrada de uma pessoa na biblioteca até ouvir a voz feminina atrás de si.— Olá, Joana! — Dalila a cumprimentou sustentando um ar de superioridade e sorriso sarcástico.Joana inspirou fundo, observando a irmã com irritação. Aquela era uma das desvantagens da biblioteca atender os estudantes e também os populares, pessoas como sua irmã podiam aparecer para atormentá-la.— O que você está fazendo aqui? — perguntou voltando a executar seu serviço, sabendo que a caçula só queria perturbá-la.Encostando o ombro no ferro de uma prateleira, Dalila analisou Joana de cima a baixo. Não entendia como Maximiliano preferia uma mulher insossa, capaz de usar roupas sem atrativos e trabalhar em um lugar s
Terminado o dia de trabalho, Joana foi para o porto, diretamente para os fundos do bar Crista do Mar. Sabia que tinha ainda algumas horas antes de Maximiliano encerrar o trabalho, o suficiente para falar a sós com Margô.Conforme se aproximava percebeu uma movimentação diferente do lado de fora portão de acesso ao quintal do bar. Mesmo de longe identificou o capataz de Recanto Dourado, Tarcísio, intimidando Maria.Lembrando-se do ataque feroz de Tarcísio contra Gabriel e a ameaça de agredi-la, preocupada, apressou o passo, observando Tarcísio, visivelmente alterado e exaltado, apontar o dedo na cara de Maria.— Vai me ajudar a encontrá-lo ou te arrasto de volta ao Salão Real se não me obedecer.Joana não compreendeu o que ele queria que Maria encontrasse, mas entendia o motivo do terror empalidecendo a face dela.— Por favor, Tarcísio... Não tenho como roubar algo que nem sei onde está... — Maria dizia nervosamente, em sua voz o vibrante medo dele cumprir a ameaça.Percebendo a aproxi
Necessitando convencer Margô a confessar o assassinato de Orlando, sabendo o quanto isso ajudaria Maximiliano, insistiu em bater na porta.— Margô, por favor, é sobre o Max — disse esperando que fosse o suficiente para fazer a outra atender seu chamado. — Você é a única que pode conseguir a liberdade dele.Decepcionada por não obter resposta, quase pensou que Cristiano se enganará, que Margô não estava no quarto, mas o som de passos a alertou que havia alguém ali.— Afinal o que quer comigo? — Margô questionou ao abrir a porta, sustentando o costumeiro olhar raivoso.— Precisamos conversar sobre o que aconteceu com Orlando Américo.A raiva sumiu dos olhos de Margô, sendo substituída por medo. Observou com desconforto o corredor e logo depois puxou Joana para dentro do pequeno cômodo.— Não sei do que você está falando — declarou encarando Joana com intensidade indócil.— Tanto sabe que me deixou entrar — revidou, decidida a não se abalar com a hostilidade de Margô.— Fiz isso para nin
O depósito indicado por um marinheiro do porto era escuro e empoeirado, cheio de caixas, contêineres e equipamentos de transporte marítimo preenchendo cada espaço. O som das ondas batendo no porto ecoava, enchendo os ouvidos de Joana enquanto adentrava o local abafado a procura de Maximiliano.Caminhava cautelosa pelos corredores do depósito, iluminados apenas pela luz fraca das lâmpadas no teto alto e a que passava pelas pequenas janelas ao longo dele.No final de um corredor, encontra uma sala com uma luz fraca em seu interior. De longe nota que existem mais caixas empilhadas ali e, no centro delas, Maximiliano está concentrado em marcar algo em uma prancheta.Com o coração palpitante, Joana deu mais alguns passos em direção a ele.Alertado pelo som, Maximiliano virou-se com a mão dentro da jaqueta. A removeu ao notar que se tratava de Joana e não algum enviado dos Orleans. — Joana! — murmurou aliviado, com um sorriso idêntico ao de sua noiva.Sem pensar duas vezes, Joana correu pa