Terminado o dia de trabalho, Joana foi para o porto, diretamente para os fundos do bar Crista do Mar. Sabia que tinha ainda algumas horas antes de Maximiliano encerrar o trabalho, o suficiente para falar a sós com Margô.Conforme se aproximava percebeu uma movimentação diferente do lado de fora portão de acesso ao quintal do bar. Mesmo de longe identificou o capataz de Recanto Dourado, Tarcísio, intimidando Maria.Lembrando-se do ataque feroz de Tarcísio contra Gabriel e a ameaça de agredi-la, preocupada, apressou o passo, observando Tarcísio, visivelmente alterado e exaltado, apontar o dedo na cara de Maria.— Vai me ajudar a encontrá-lo ou te arrasto de volta ao Salão Real se não me obedecer.Joana não compreendeu o que ele queria que Maria encontrasse, mas entendia o motivo do terror empalidecendo a face dela.— Por favor, Tarcísio... Não tenho como roubar algo que nem sei onde está... — Maria dizia nervosamente, em sua voz o vibrante medo dele cumprir a ameaça.Percebendo a aproxi
Necessitando convencer Margô a confessar o assassinato de Orlando, sabendo o quanto isso ajudaria Maximiliano, insistiu em bater na porta.— Margô, por favor, é sobre o Max — disse esperando que fosse o suficiente para fazer a outra atender seu chamado. — Você é a única que pode conseguir a liberdade dele.Decepcionada por não obter resposta, quase pensou que Cristiano se enganará, que Margô não estava no quarto, mas o som de passos a alertou que havia alguém ali.— Afinal o que quer comigo? — Margô questionou ao abrir a porta, sustentando o costumeiro olhar raivoso.— Precisamos conversar sobre o que aconteceu com Orlando Américo.A raiva sumiu dos olhos de Margô, sendo substituída por medo. Observou com desconforto o corredor e logo depois puxou Joana para dentro do pequeno cômodo.— Não sei do que você está falando — declarou encarando Joana com intensidade indócil.— Tanto sabe que me deixou entrar — revidou, decidida a não se abalar com a hostilidade de Margô.— Fiz isso para nin
O depósito indicado por um marinheiro do porto era escuro e empoeirado, cheio de caixas, contêineres e equipamentos de transporte marítimo preenchendo cada espaço. O som das ondas batendo no porto ecoava, enchendo os ouvidos de Joana enquanto adentrava o local abafado a procura de Maximiliano.Caminhava cautelosa pelos corredores do depósito, iluminados apenas pela luz fraca das lâmpadas no teto alto e a que passava pelas pequenas janelas ao longo dele.No final de um corredor, encontra uma sala com uma luz fraca em seu interior. De longe nota que existem mais caixas empilhadas ali e, no centro delas, Maximiliano está concentrado em marcar algo em uma prancheta.Com o coração palpitante, Joana deu mais alguns passos em direção a ele.Alertado pelo som, Maximiliano virou-se com a mão dentro da jaqueta. A removeu ao notar que se tratava de Joana e não algum enviado dos Orleans. — Joana! — murmurou aliviado, com um sorriso idêntico ao de sua noiva.Sem pensar duas vezes, Joana correu pa
Ajeitando as roupas e o cabelo antes de sair do deposito, Joana contou para Maximiliano o que aconteceu ao longo do seu dia, desde a visita inconveniente de Dalila, passando pela ameaça de Tarcísio, até chegar ao seu pedido desesperado para Margô assumir a culpa pela morte de Orlando.— Sei que quer assumir o crime, mas ela tem mais chances se sair livre após o julgamento — explicou encostando-se a uma enorme caixa próxima a porta.Ouvindo em silêncio até Joana terminar todo o relato, Maximiliano sacudiu a cabeça em negativa.— Prometi protegê-la a qualquer custo quando ela escapou do Salão — ele explicou puxando Joana para seus braços.— Incluindo sua liberdade? — Joana questionou sentindo a garganta dolorida pela frustação e medo.— Incluindo a minha liberdade — ele confirmou resoluto. — Joana, Margô faz parte da família que construí após a morte dos meus pais e do meu irmão. Não posso simplesmente abandoná-la. Preciso fazer o que acredito ser o certo.— Não vai abandoná-la — Joana
Inclinando-se para assinar o acordo, confirmando o recebimento do pagamento pelos terrenos que tinha direito em Recanto Dourado e a posse da casa em Sanmarino, Maximiliano Gonzalez sentia que sua mão era movida por seus pais e seu irmão.A longa luta contra a família Orleans em busca de justiça e pela recuperação dos bens de sua família, injustamente roubados por Kassandra Orleans, encaminhava-se em um fim vitorioso para ele.Ao seu lado, segurando a raiva pelo insucesso de impedir aquele momento, Kassandra observava o Gonzalez sendo dominada pelo antigo arrependimento de não ter se livrado dele quando não passava de um adolescente malcriado.Donato, que elaborou o documento formalizando a transferência da casa e os termos financeiros acordados, acrescentando, a pedido de Maximiliano, cláusulas que evitassem futuros desentendimentos ou disputas por parte dos Orleans, notava a tensão cercando a viúva.Durante toda a negociação nos dias anteriores ela não transpareceu nenhum sentimento,
Enquanto a comemoração no bar Crista do Mar segue, Margô observa discretamente o casal de longe, sem conseguir evitar o crescente ciúme ao testemunhar a felicidade e proximidade entre Maximiliano e Joana.Tenta disfarçar sua tristeza e inveja, sorri e conversa animadamente com os outros amigos que estão presentes, mas seu olhar persiste em voltar para Maximiliano beijando Joana, tocando-a com carinho, sorrindo e rindo.Lembra-se dos momentos especiais que compartilhou com Maximiliano no passado, que mesmo após o relacionamento sexual acabar ele continuou a trata-la com cuidado e carinho até recentemente.Tudo mudou após o episódio em que traiu a confiança dele.Tomando mais um gole de cerveja, Margô se perguntou se as coisas seriam diferentes se nunca tivesse cometido o erro de contar para Dalila informações particulares do grupo. Questiona-se se Maximiliano teria olhos apenas para ela se Joana sumisse. Esses pensamentos a invadem, criando um sentimento agridoce enquanto observa o cas
Após o término da festa no bar Crista do Mar, depois dos amigos se dispersarem e acompanhar Joana até a casa dos pais, Maximiliano voltou ao bar e tomou banho no único banheiro com chuveiro, se trocando ali mesmo antes de seguir para o quarto que ocupava.Jogando a toalha sobre o ombro, observou a jovem sentada em frente à porta, com as pernas junto ao corpo e os braços ocultando seu rosto, com irritação. Aproximou-se, agachou e a tocou no braço.— Margô!Ela ergueu o rosto. Pelo inchaço e vermelhidão dos olhos estava evidente que esteve chorando.— O que faz aqui?— Preciso falar com você. É importante.Maximiliano olha para ela com aborrecimento, mas concorda por receio que ela passasse a noite inteira ali se recusasse.— Claro! Vamos lá pra baixo.— Pode ser no seu quarto.— Lá embaixo ou nada de conversas — impôs com o semblante fechado, deixando óbvio que nem a conversa propriamente dita ele queria ter.Não vendo opção, o seguiu até o piso inferior. Não havia mais música preenche
Encontrando-se em meio a um turbilhão de emoções e conflitos familiares, Joana contava os dias para se casar e sair da casa dos pais. Amava sua mãe, mas dividir o mesmo teto que seu pai e Dalila tornava-se cada dia pior com a aproximação do casamento.A relação de seu pai com Maximiliano simplesmente azedou. Não sabia como era antes de seu noivado, mas pelas conversas com seu noivo, era melhor que a atual, em que seu pai proibia Max de passar do portão para dentro.E a relação de Iago com ela também se tornou difícil, mais do que era antes, o que por si só era preocupante. Só não discutiam porque ela, como fazia desde que começou a falar, engolia os comentários depreciativos e o respeitava, não revidando nenhum dos ataques contra seu noivado.A preferência dele por Adriano era óbvia. Todo dia ele permitia que o Orleans jantasse com eles, mesmo ela se recusando a compartilhar qualquer refeição com o primo e ex-noivo.Sua mãe tinha explicado, muito nervosa e inquieta, os motivos de seu