De telhado em telhado, Maximiliano aproximou-se da casa, escalou o muro de acesso para os fundos da casa e encaminhou-se sorrateiro, agradecendo que Adriano estava tão determinado em vigiar os imóveis dos outros que não cuidava do local que morava.Abaixou-se próximo a janela da sala de estar ao ouvir a voz exaltada de Kassandra repreendendo Adriano. Surpreendeu-se com a intensidade da bronca. A viúva era conhecida por abrandar sua personalidade para agradar e mimar o filho, mesmo Adriano estando na casa dos trinta anos.Satisfeito em perceber o desespero vibrante no descontrole da viúva, e aproveitando que os Orleans estavam concentrados em si mesmos, moveu-se sorrateiro na direção do escritório.Forçou uma janela e invadiu a casa, seu sucesso vindo da facilidade de ter cada passagem gravada em suas memorias, pelos anos morando na ali com sua família, e pelos arrogantes Orleans não investirem em segurança. Certamente, com a polícia do lado deles, pensavam não precisarem gastar nisso.
Optando por evitar discussões e querendo tomar o café da manhã com Maximiliano, Joana madrugou, se arrumou para o trabalho, agarrou seu casaco, a bolsa estilo carteiro e encaminhou-se apressada para a porta da entrada. No entanto, burlando seu objetivo de sair sem ser notada, sua mãe, Carmen, pela divisória entre a sala de estar e a de jantar a flagrou antes que alcançasse a maçaneta.— Joana, aonde vai tão cedo? Não vai tomar o café da manhã?Joana suspirou fundo.— Mãe, não quero me indispor com o pai novamente — confessou ajeitando alça da bolsa no ombro. — Cansei dele criticar meu relacionamento com Maximiliano e me insistir em me unir ao Adriano.Carmen olhou para Joana com compreensão.— Entendo sua preocupação, meu anjo. — Se aproximou da filha e buscou uma mão, aconchegando-a com carinho. — Você tem todo o direito de ser feliz com quem escolher. E tem meu apoio incondicional.— Eu sei, mãe. Mas toda vez que eu confronto o pai, acaba em uma discussão acalorada... Não quero que
Chamando Kassandra aos berros, Adriano entrou na sala de estar, o olhar sério e preocupado combinando com a fúria prensando dolorosamente sua cabeça.Vindo da sala de jantar, seguida de perto por Shirley, Kassandra percebeu imediatamente o descontrole emocional no rosto contorcido de seu filho.— O que houve? Por que a gritaria? — questionou parando a poucos passos do filho.— Aquele maldito do Maximiliano invadiu a nossa casa, me agrediu e fugiu com o testamento do pai — Adriano cuspiu, saliva voando conforme seguia o relato exaltado. — Vamos denunciar aquela marginal, devolvê-lo para o lugar de onde nunca deveria ter saído e garantir que apodreça lá, até o fim de seus dias miseráveis. Não sabe com quem mexeu. Vou mostrar a ele que não se pode subestimar Adriano Orleans.Kassandra esfregou a mão no rosto, dando um passo para trás conforme o filho salivava sua raiva. As palavras entravam como agulhas em seu cérebro, afundando na gravidade da situação.— Como ele descobriu a senha do c
Na casa dos Savoia o clima era inverso. Em silêncio, Carmem observava o marido tomar o café da manhã, a solidão fazendo-se presente apesar da presença dele. Retornando aos velhos hábitos, Iago passou a noite fora chegou minutos antes de o café ser servido. Com a roupa em desalinho, sinais de não ter dormido e uma marca vermelha no pescoço, entrou na sala de jantar, a ignorou e pediu que Paula o servisse.Anos sendo uma boa esposa, mãe e dona de casa, e nada disso era suficiente para manter o marido fiel. Qualquer desagrado e ele sumia na noite e ao reaparecer a ignorava.Acostumada e conformada, pousou o guardanapo sobre a mesa, a fome esfarelada. Tinha algo mais importante a fazer do que se alimentar e lamentar sua sorte.— Iago... — O marido sequer levantou a cabeça ou parou de cortar a panqueca, mas Carmem se forçou a continuar dessa vez utilizando algo que atrairia o interesse dele: — Sei que gosta de agradar aos Orleans, mas peço que reconsidere o pedido de Adriano pelo bem da fe
Depois do café da manhã compartilhado com sua noiva, Maximiliano levou Joana até o colégio em que ela trabalhava, passou rapidamente no cartório e de lá seguiu para o escritório/casa de Donato Herrera.Estacionou seu jipe em frente à construção antiga. Saiu do veículo com uma mão espalmada em sua bolsa de ombro, visivelmente ansioso. Dentro da bolsa levava o original e cópias autenticadas do testamento de Nicolas Orleans.Donato o cumprimentou e o chamou para dentro.— Pensava passar no porto a sua procura. Recebi a confirmação que os Orleans receberam a notificação judicial dos crimes descritos no dossiê ontem no fim da tarde — Donato informou sentando-se em frente ao Gonzalez. — O juiz Martin realmente está empenhado em resolver o caos que se abateu na cidade. Desde que chegou está cuidando dos processos em que vê ilegalidades e muitos envolvem os Orleans.— Terá mais trabalho quando apresentarmos as novas provas contra eles que consegui ontem.Maximiliano abriu a bolsa e retirou a
Aborrecida por Maximiliano querer impor condições, Kassandra voltou a se sentar devagar, forçando um sorriso para ouvir as tais condições e adaptá-las se necessário aos planos que tinha para reaver o documento.— Diga quais são, atenderei com prazer — disse direta, preferindo ouvir o que ele queria de uma vez sem a necessidade de rodeios e se alongar em conversas frívolas.Maximiliano relaxou na cadeira, um provocador sorriso de canto adornando seus lábios, sabendo exatamente o que se passava na mente maquiavélica da viúva. Estava preparado e vacinado para as trapaças dos Orleans.— Primeiro devo contar que tenho três cópias autenticadas do testamento — falou pegando a que deixou com Donato e a estendendo para a viúva. — Essa é a que ficará com Donato. As demais cópias e a original estarão em locais diferentes e com pessoas da minha confiança.— Não existe necessidade de tanta precaução.— Não é precaução, a palavra certa é: desconfiança — Maximiliano a corrigiu fazendo a viúva retorc
Aproveitando que a biblioteca ficava vazia até o horário do intervalo escolar, arrastando um carrinho lotado de livros, Joana devolvia os exemplares entregues no dia anterior e naquela manhã aos seus devidos lugares nas enormes prateleiras que dominavam o ambiente. Cantarolando baixinho, não notou a entrada de uma pessoa na biblioteca até ouvir a voz feminina atrás de si.— Olá, Joana! — Dalila a cumprimentou sustentando um ar de superioridade e sorriso sarcástico.Joana inspirou fundo, observando a irmã com irritação. Aquela era uma das desvantagens da biblioteca atender os estudantes e também os populares, pessoas como sua irmã podiam aparecer para atormentá-la.— O que você está fazendo aqui? — perguntou voltando a executar seu serviço, sabendo que a caçula só queria perturbá-la.Encostando o ombro no ferro de uma prateleira, Dalila analisou Joana de cima a baixo. Não entendia como Maximiliano preferia uma mulher insossa, capaz de usar roupas sem atrativos e trabalhar em um lugar s
Terminado o dia de trabalho, Joana foi para o porto, diretamente para os fundos do bar Crista do Mar. Sabia que tinha ainda algumas horas antes de Maximiliano encerrar o trabalho, o suficiente para falar a sós com Margô.Conforme se aproximava percebeu uma movimentação diferente do lado de fora portão de acesso ao quintal do bar. Mesmo de longe identificou o capataz de Recanto Dourado, Tarcísio, intimidando Maria.Lembrando-se do ataque feroz de Tarcísio contra Gabriel e a ameaça de agredi-la, preocupada, apressou o passo, observando Tarcísio, visivelmente alterado e exaltado, apontar o dedo na cara de Maria.— Vai me ajudar a encontrá-lo ou te arrasto de volta ao Salão Real se não me obedecer.Joana não compreendeu o que ele queria que Maria encontrasse, mas entendia o motivo do terror empalidecendo a face dela.— Por favor, Tarcísio... Não tenho como roubar algo que nem sei onde está... — Maria dizia nervosamente, em sua voz o vibrante medo dele cumprir a ameaça.Percebendo a aproxi