Assim que entrou no quarto de Dalila, Joana só viu a irmã sentada penteado seus cabelos. Após um breve espanto, Dalila sorriu com falsidade, empurrando com o pé a sacola com as roupas e peruca que retirou assim que atravessou a porta da varanda. — Porque não arrumou minhas coisas? — Disfarçou arrumando o cabelo desgrenhado pelas horas nos braços de Maximiliano. — Esqueci das roupas após um homem entrar no quarto a sua procura — Joana respondeu encarando a irmã com fúria. — O que levou esse bandido a te procurar, Dalila? Segurando a vontade de expulsar Joana de seu quarto, Dalila continuou a mirar o próprio reflexo sem dar à mínima importância a irmã. — É só um vendedor de peixe deslumbrado pela minha beleza — disse confiante e com um largo sorriso. — Um pobre coitado sem importância — Não sou idiota — Joana a interrompeu tentando a muito custo manter o tom baixo. — O que faria um vendedor de peixe te procurar em seu quarto? — Questionou irritada pela clara mentira de Dalila. —
No abrigo das frias paredes do escritório da escola religiosa, com lágrimas geladas a cobrir sua face e um sentimento total de abandono, Joana buscava no trabalho um consolo. No entanto, como em todos os outros dias, nada parecia surtir efeito. Sua mente insistia em mostrar imagens de sua irmã vestida de branco ao lado de seu amado e não conseguia terminar todos os relatórios que seriam passadas a pessoa que ficaria em seu lugar. Sendo sincera consigo, não queria sair da cidade, talvez por isso não tenha finalizado suas funções e passou muitas horas ali se avançar em nenhuma tarefa. Também era uma forma de chegar em casa só no fim do dia, evitando com isso seus pais e sua irmã. Há muito não sentia vontade de comer e passava horas em claro, trabalhando até cansar inclusive quando chegava em casa, para não sonhar com o impossível: reaver o noivo. Ao ouvir passos cada vez mais próximos, enxugou rapidamente as lágrimas e não se voltou para a porta, mantendo o olhar fixo na tela do compu
Mesmo desejando fugir de sua mãe, Joana não podia passar o dia todo trancada no quarto após chegar do trabalho, então aturava a insistência de Carmem em fazê-la desistir da viagem, embora sempre se apressasse em interrompê-la quando abusava apresentando ofertas casamenteiras. Como se o problema fosse arranjar um marido e não ter sido duramente rejeitada pelo que tinha. — Tenho certeza do que quero, pare de insistir — pediu com voz fraca, temerosa de revelar o que realmente ocorria em seu coração. O esforço que fazia para não chorar de angustia minava suas forças a cada dia, mas nunca, jamais, voltaria atrás em seus planos. Era da paz da distância que necessitava e, cedo ou tarde, convenceria Carmem de que esse era o seu destino. — Jô... Carmem calou ao ver Paula entrar apressada na sala. — Senhora, acabo de atender uma ligação da casa dos Orleans — informou afoita. — O senhor Adriano virá com um amigo ao jantar de hoje à noite. Carmem olhou para Joana, vendo o rosto de a filha em
No lugar de responder, Joana viu pela primeira vez sua irmã titubear antes de empinar o nariz e agir com o descaramento de sempre. — E isso que te interessa? Pare de me perturbar! Não devo nada a uma invejosa como você — Dalila disse com raiva, complementando com palavras cruéis que acabariam com Joana: — Quer me aborrecer porque não suporta que Adriano prefira ficar comigo, que me ame como nunca te amará e por isso rompeu aquele ridículo noivado com você. Surpreendida com a reação furiosa de Dalila, Joana decidiu não discutir e se voltou para a porta levando a pulseira consigo. Assustada, Dalila a deteve, se colocando entre ela e a porta. — Onde pensa que vai com as minhas coisas? — Posso ser hipócrita e invejosa como diz, mas não sou burra. Isso aqui não são bijuterias, são verdadeiras — respondeu com dureza. — Para provar isso vou leva-las até nossa mãe. — Espera! Não faça isso... — Dalila suplicou apavorada com a possibilidade de ser descoberta pela mãe, que acabaria contando
Momentos depois, os dois homens eram recepcionados pela empregada e guiados até a sala de estar, onde a família Savoia os aguardava para o jantar com ansiedade. — Boa noite! — Adriano cumprimentou antes de apresenta-los ao seu amigo. — Esse é meu amigo Bruno Dutra. Após cumprimentar Iago e Carmem, Bruno se dirigiu à Dalila com seu costumeiro tratamento galanteador. — Como está a mais linda das mulheres? Dalila riu diante do elogio. — Oh! Sempre tão gentil, fico feliz em revê-lo, Bruno! Adriano não gostou da intimidade que o amigo falou com ela, mas disfarçou o desagrado para não aborrecer os donos da casa. Naquele momento Joana apareceu na sala de jantar e Iago a chamou para apresenta-la a visita. Mesmo vestida com roupas mais discretas e sisudas que as usadas por Dalila, Bruno admirou a beleza da face serena da jovem, achando-a mais bonita que a irmã. Os olhos claros pareciam um céu em dia ensolarado. Impactado exclamou: — É uma honra conhecê-la! — Digo o mesmo — Joana devol
Livre do noivo e dos pais, Dalila se retirou para seu quarto, aproveitando que todos estariam dormindo para escapar sorrateiramente de novo. Com Joana na casa tinha que ter cuidado redobrado, por isso trancou seu quarto, seguiu devagar até o portão dos fundos e, encoberta pelas sombras, fugiu rumo à cabana de Maximiliano pra alertá-lo. Ainda arranjaria uma forma de encontra-lo após conseguir se casar com Adriano, mas primeiro teria de conta-lhe sobre seu relacionamento, algo que por enquanto preferia evitar. Não via motivos para estragar o pouco tempo que tinham com detalhes sem importância, que quebrariam o clima de sedução que os rodeava em cada encontro e podiam culminar com o fim antes do momento. Quando Adriano enfim a pedisse em casamento contaria e, como Maximiliano a desejava com loucura, talvez conseguisse convence-lo a permanecer como seu amante. A porta estava destrancada, então entrou sem se anunciar na cabana iluminada apenas pela luz da lua que passava pelas frestas da
No café da manhã, Joana permaneceu em silêncio, esfarelando o pão com os dedos, sem absorver nada que via ou ouvia ao seu redor. Carmem observava com preocupação o comportamento introspectivo de Joana nos últimos dias. Ela não tocava em nada que havia para comer, nem mesmo o suco tomou mais que um gole. Lamentava perceber que, mesmo que negasse, a filha sofria pelo fim do noivado. — Joana, meu bem, insisto que não deve abandonar a cidade só por causa do que houve com o Adriano. — Carmem! — Iago encarou a esposa com o semblante fechado, um alerta de que não gostava da intromissão constante dela. Porém a esposa não se conteve. — Não é justo que se castigue por causa... — Conteve-se olhando de lado para Dalila, que também parecia estranha naquela manhã. Não querendo aumentar o desconforto familiar, decidiu que era melhor não mencionar o namoro da mais nova. — Você sempre sonhou em formar uma família aqui em Sanmarino, do nosso lado. — Esse sonho acabou! — Joana pronunciou ao se leva
Maximiliano estava sentado em uma pedra no começo da encosta quando viu Joana se aproximar olhando fixamente para o mar. Ergueu-se com uma palpitante vontade de abordar a jovem no exato momento em que algo caiu dela, que parou de andar e olhou para a areia. Curioso caminhou na direção dela, mas antes que a alcançasse Joana deixou suas sandálias na areia e seguiu devagar em direção as ondas. Parou ao lado das sandálias e de um objeto em uma joia com forma de rosa, as mãos plantadas nos quadris, observando-a sendo coberta pela água e aguardando o momento em que ela retornaria. Levou alguns segundos para reparar que algo não estava normal, e mais alguns para reparar que ela estava tempo demais embaixo da água. Dominado pela urgência e preocupação, se lançou no mar atrás dela, logo a encontrando se debatendo fracamente e a puxando para a superfície. — O que pretendia fazer, Joaninha? — Maximiliano interrogou encarando-a com severidade. Imediatamente zangada com o uso do apelido desdenh