Ódio, puro e corrosivo, era o único sentimento que dominava Iago Savoia. Ódio pela esposa, pela primogênita inútil, pela caçula desavergonhada, mas, acima de tudo, ódio por Maximiliano Gonzalez. Estava entrevado numa cama de hospital, era chacota na cidade e dentro de sua própria casa, tudo por culpa de um novo rico que jamais passaria de um maldito ladrão. — Querido, sente-se melhor? Queria rir, mas nem mesmo isso conseguia fazer. Deitado naquela cama como um inválido, letárgico devido às medicações, sem motivação para nada, além de odiar com o que ainda lhe restava de forças. Seu nome em breve seria jogado na lama, perderia o apoio financeiro dos Orleans e cairia em desgraça aos olhos da alta sociedade, devido à depravação das filhas, da esposa e de um bandido saído do inferno. Se pudesse, erguer-se-ia e colocaria fim as vidas das imprestáveis ao seu redor, e também a do contrabandista, com as próprias mãos. — O doutor garantiu que se descansar e tomar os medicamentos nos horário
Em busca de uma escapatória para sua família, Carmem foi à casa dos Orleans. Planejara levar Dalila consigo, mas a voluntariosa jovem negou-se. Sozinha e desesperada foi recebida pela indiferença de sua prima Kassandra as suas súplicas por ajuda. — Não posso fazer nada! — Por favor, prima, ajude-me! — Diante de nova negativa, apelou para a nova e inquietante situação em que se encontrava. — Iago retorna para casa amanhã, mas continuará acamado por algum tempo, mesmo assim... Está sem falar comigo e com um olhar... — A mulher tremeu ao lembrar-se do olhar do marido durante sua passagem pelo hospital. Ao mesmo tempo em que queria a pronta recuperação do marido, temia esse dia. — Prima, temo pela minha vida e a de minhas filhas — confessou esperançosa de alcançar a misericórdia de Kassandra. Iago jamais perdoaria Joana por ficar do lado de Maximiliano e expor a família da forma que fez. — Vocês merecem isso e muito mais após tudo o que fizeram a mim e a meu filho. — Prima, tenha miser
Aproveitando o horário de almoço para se juntar ao advogado Herrera, Joana seguiu até a prisão para conseguir visitar Maximiliano. Caminhando ao lado de Donato dentro da construção de pedra, mesmo tensa e ansiosa, Joana estava contente por ter em suas mãos uma permissão do juiz que lhe garantiria ver seu amado. Queiroz permitiu a entrada do advogado e de Joana em seu escritório, o olhar movendo-se lascivo pelo corpo da noiva de Maximiliano, ao ponto que ela teve de se segurar para não olhar para si e verificar se continuava usando a calça e a camisa que colocou de manhã. — Bom dia, senhora! — Queiroz cumprimentou fitando-a daquele jeito esquisito e inapropriado na opinião dela, que o respondeu por educação. — Eu e a Joana solicitamos permissão para ver Maximiliano Gonzalez — Donato iniciou, não se surpreendendo com a resposta parcialmente negativa do delegado. — O senhor pode visitá-lo, mas não será possível a senhorita fazer o mesmo. Mesmo com o importante documento em mãos, cob
Animado com a visita de Joana e confiando na palavra dela, prevendo a tramoia cercando-o, durante a visita de Donato, Maximiliano escreveu um bilhete rápido para que Beto definisse a rota da viagem próxima sem ele caso fosse condenado. Sabia que seu imediato entenderia sua intenção por trás do recado. Sem acreditar na justiça, sempre pendendo para o lado de seus inimigos, e certo de sua condenação iminente, deixava nas mãos do amigo o que deveria ser feito para libertá-lo. Sua decisão se firmou ao ouvir todas as acusações que Queiroz apresentou contra ele, junto com a informação que teria de aguardar todo o processo atrás das grades. Tendo se despedido de Joana antes de descer para falar com Maximiliano, Donato estava satisfeito por dar aos dois um momento de alívio e felicidade. Como acréscimo para as poucas doses de alegria recebida pelo Gonzalez, brindou seu protegido com as boas notícias do caso. — Demonstrei que seus papeis estão em ordem, de forma que as acusações de enriquec
Tendo sido chamado ao escritório de Queiroz, que se negou a ir até o dele como solicitou horas antes, o juiz Motta sentiu uma ponta de satisfação ao dar ao insuportável delegado a notícia que não seguiria com os processos de contrabando, prostituição e enriquecimento ilícito que tinham aberto contra Maximiliano. — Por quê? — O advogado Donato Herrera esteve no meu escritório com comprovantes, notas e diversos documentos fiscais que comprovam que os bens do Gonzalez e os valores bancários foram obtidos legalmente e declarados em nosso território. Portanto, retirei os embargos — explicou não se surpreendo com a raiva contorcendo-se em torno do delegado. — Não deveria ter permitido isso! — Queiroz bradou erguendo-se, o olhar furioso fixando-se no juiz. — Como pegarei a fortuna do Gonzalez agora? — Não posso prejudicar minha carreira passando por cima das provas apresentadas — justificou. Ajeitou-se na cadeira, preparando-se para outra onda de raiva que atingiria o delegado. — O advoga
Não se surpreendendo com a falta de cortesia de sua madrinha, que não a convidou a se sentar, mantendo-se em pé com ela na entrada da casa, Joana pediu com a voz carregada de uma confusa mescla de súplica e revolta: — Por favor, madrinha, prove que não tem culpa nas alegações falsas contra o Max e me ajude a libertá-lo. — Me ofende com essa acusação e pedido. — Juro que se me ajudar, quando necessitar farei o mesmo — Joana insistiu, mesmo sem poder dizer o motivo que levaria Kassandra a necessitar de sua ajuda no futuro. Torceu para sua madrinha atender seu pedido. Sabia que - mesmo que tivesse culpa - o apoio da Orleans para tirar Maximiliano da cadeia seria suficiente para acabar com o processo. E se sua madrinha o fizesse, se a ajudasse a conseguir a liberdade de Maximiliano, o convenceria a esquecer da vingança e as diversas provas dos crimes cometidos por Kassandra na fazenda e na cidade. Kassandra riu com pouco caso. Agora que toda verdade veio à tona, tornando os Orleans mo
Na casa dos Orleans, alegrando Kassandra, Adriano juntou-se a ela na sala de estar antes do jantar ser servido. Logo a alegria da viúva passou ao se dar conta que ele desejava fazer perguntas sobre Maximiliano. — Mamãe, quando Maximiliano esteve em Recanto Dourado ele a ameaçou para aceitar o noivado com Joana? — Sim. Prometeu guardar segredo se eu o aceitasse na família e mostrasse a todos minha aprovação dando a festa de noivado deles — confirmou incomodada por nem preso o Gonzalez sair da mente de Adriano. — Deveria ter recusado — Adriano cobrou aborrecido. Olhando para Shirley, que chegou horas antes em resposta ao seu chamado para servi-la enquanto estivesse em Sanmarino, ordenou que a empregada se retirasse. Quando a viu sair de seu campo de visão, resolveu que era hora de ser clara com seu filho. — A mais por trás da minha decisão e é hora de que saiba. — Serviu ao filho uma xícara de chá de limão que a empregada deixou para eles. — Maximiliano cobrou essa casa para manter
Saindo do trabalho, no lugar de ir direto por sua casa, Tereza pedalou determinada e ansiosa para a cabana em que sua amiga, Joana Savoia, residia. Sabia que acabaria recebendo uma bronca dos pais, por chegar atrasada. Porém seria menor e menos calorosa que a que exigiram que mantivesse distância de Joana, e isso logo após o anúncio do noivado dela com o Gonzalez. Com a prisão do Gonzalez, como previsto ouviu broncas maiores e mais ferrenhas. Imaginava que cumpririam a ameaça de ser j**a-la na rua se soubessem do acordo que fez com o grupo de Maximiliano. Mas pouco se importava com broncas e ameaças. Joana sempre esteve ao seu lado e estaria ao lado dela enquanto desejasse. E alugar uma casa, saindo do domínio dos pais sem ser para casar, parecia uma nova e empolgante aventura. Joana atendeu assim que escutou sua voz. A abraçou com todo carinho e conforto que a amiga necessitaria naquele momento tão difícil. — Ai, Tereza, não imagina o quanto sua visita sempre me faz bem — Joana de