Saindo do trabalho, no lugar de ir direto por sua casa, Tereza pedalou determinada e ansiosa para a cabana em que sua amiga, Joana Savoia, residia. Sabia que acabaria recebendo uma bronca dos pais, por chegar atrasada. Porém seria menor e menos calorosa que a que exigiram que mantivesse distância de Joana, e isso logo após o anúncio do noivado dela com o Gonzalez. Com a prisão do Gonzalez, como previsto ouviu broncas maiores e mais ferrenhas. Imaginava que cumpririam a ameaça de ser j**a-la na rua se soubessem do acordo que fez com o grupo de Maximiliano. Mas pouco se importava com broncas e ameaças. Joana sempre esteve ao seu lado e estaria ao lado dela enquanto desejasse. E alugar uma casa, saindo do domínio dos pais sem ser para casar, parecia uma nova e empolgante aventura. Joana atendeu assim que escutou sua voz. A abraçou com todo carinho e conforto que a amiga necessitaria naquele momento tão difícil. — Ai, Tereza, não imagina o quanto sua visita sempre me faz bem — Joana de
Imaginando o quanto Queiroz estava com raiva de Maximiliano, ao ponto de indica-lo como assassino de um familiar, Joana respondeu com angústia a pergunta de Tereza: — Não, não sabia. O conhecia? Tereza confirmou. — Passava muito lá na prisão. Odioso como o Queiroz e o Tarcísio. Os três sempre estavam unidos quando algo de ruim acontecia na cidade e arredores. Encarava todas as mulheres como pedaços de carne — comentou com uma careta de enojo. — Na época que prenderam o pessoal daquele bar que estivemos ontem ele foi muitas vezes a prisão junto com o Tarcísio. Luiz me disse certa vez que o Queiroz o ajudava a conseguir garotas para um negócio que tinha. — Deve ser para o prostíbulo que afirmaram ser do Max — Joana concluiu, vendo ali mais uma prova que o delegado agiu ativamente na criação de crimes que apontou serem de Maximiliano. — O envolvimento do Tarcísio com eles pode indicar que minha madrinha está mesmo envolvida nas acusações contra o Max — Joana opinou, lembrando-se das d
Cumprindo acordo feito com o grupo, Gabriel foi à cadeia para conseguir a vaga de serviços gerais. No mesmo dia recebeu a resposta confirmando que podia iniciar o trabalho naquela mesma noite. Mesmo com medo, por se tratar de se infiltrar num lugar repleto de policiais, no horário indicado chegou à prisão de Sanmarino. Ao passar pelos portões, para iniciar seu turno, foi levado até o homem de serviços gerais do turno anterior. Desde o princípio o colega de trabalho deixou claro que só estava ali por ser obrigado por um guarda, com ordens de acompanha-lo pela instalação e explicar o que teria de fazer. E o fez de má vontade resmungando o tempo todo sobre a irresponsabilidade do funcionário que partiu antes de passar suas funções. Surpreendeu-se ao descobrir que, embora a construção fosse imponente do lado de fora, por dentro era pequena, com poucas celas e ambientes. O pátio ocupava grande parte do terreno, mas tinha somente quatro carros de patrulha, três deles que estavam nas ruas d
Ao notar que o carrinho passou da nona cela e vinha até a que ocupava, Maximiliano ergueu o olhar da rodinha quebrada para o homem arrastando o trambolho emperrado. Ocultou a euforia ao se dar conta de quem era, mesmo quando o guarda, acompanhando as entregas, retornou a sua posição próxima à entrada do piso inferior, deixando claro que a cela dele não seria aberta para a entrega da refeição como foi feito com as anteriores. Observando as costas do guarda se afastando, Gabriel passou primeiro duas garrafinhas de água. — Beba uma agora, para que não fiquem duas na cela — pediu a meia voz. Sedento, Maximiliano a esvaziou em instantes e a passou discretamente, enquanto Gabriel usava o corpo para ocultar. — O que faz aqui? — Terminei meu trabalho na fazenda e aceitei uma nova missão — Gabriel respondeu entregando uma marmita. — Garantir que cumpra a promessa que me fez. Maximiliano deu um meio sorriso. — Nada me deixará mais feliz. — Olhou para além do corredor, sem ver o guarda. O
Virando a noite em seu escritório, atormentado pela revelação de sua mãe, Adriano dormiu sobre o testamento que ela entregou a ele na noite anterior. ~*~ — Adriano... — Deitado na cama, debilitado após cair acamado por culpa de uma forte pneumonia, Nicolas, ergueu a mão para passar pelos fios loiros do, mas suas forças eram insuficientes para alcançar o jovem de olhos transbordantes de lágrimas. — Filho... Cuide de... sua mãe... e Maximiliano... Prometa... — pediu tossindo, a mão que colocava sobre a boca se enchendo de sangue. — Devolva... — Não se esforce tanto, querido — Kassandra pediu ao marido, limpando a boca dele com um lenço. Mesmo fraco, Nicolas Orleans empurrou a mão da esposa, os olhos pesados tentando manter-se abertos, procurando o rosto do filho entregue a um compulsivo e desesperado choro. — Cuide dele... As terras... devol... — Filho, é melhor que saia, seu pai está muito mal — Kassandra bradou segurando Adriano pelos ombros e o levando para longe de Nicolas. — T
Encapuzado, seguindo sorrateiramente pelo monte do diabo, Gabriel aproximou-se da cabana do Gonzalez e bateu na porta, vasculhando ao redor por qualquer pessoa que pudesse estar por perto. Embora, se tivesse sido seguido ou houvesse alguém vigiando Joana, teria facilmente percebido pela falta de esconderijos além de finas palmeiras e vegetação baixa após a íngreme subida. Motivo que, após pensarem em várias alternativas para Gabriel repassar o que acontecia na prisão, chegaram à conclusão que, embora fosse à noiva de Maximiliano, Joana era o melhor disfarce. Joana abriu a porta e, segurando o braço dele, o puxou para dentro da residência. — Como foi no trabalho? Falou com o Max? — Joana questionou tão ansiosa que abandonou todas as recomendações de boa educação com visitantes. — Vi e conversei com ele. — Venha! Sente-se e me conte tudo — pediu indicando a cozinha. Gabriel fez o que foi pedido. Joana colocou um prato com biscoitos e serviu café, sentando-se ao lado dele para escuta
Tarcísio se apresentou no escritório de Adriano assim que viu a mensagem, ao entrar no cômodo, além das garrafas de bebida, reparou no documento embaixo dos dedos do Orleans. — Minha mãe me disse que você a ajudou a ocultar esse documento. Qual a possibilidade de que se descubra a existência desse testamento? — Adriano perguntou encarando o capataz e administrador com olhos enevoados pela bebida. — Nenhuma. Temos a lei ao nosso lado. — E as testemunhas? — Adriano questionou abrindo o documento para apontar as assinaturas. — Reconheci os nomes, são a governanta e o administrador que cuidavam da casa quando meu pai vivia. Tem certeza que são confiáveis? Quero conversar com eles e ter garantias. — A garantia é que estão mortos. — Diante do olhar surpreso de Adriano, prosseguiu: — Lembrasse-se do incêndio que dominou as casas dos colonos uns anos atrás? — Recebendo o aceno positivo do Orleans, revelou com frieza: — A da família Santos foi uma das atingida. Só sobraram os filhos e um ve
Antes do horário do almoço, preocupado com sua integridade física, o juiz de Sanmarino atravessou o portão da prisão e, após pedir para um guarda avisar Queiroz de sua chegada, permaneceu parado ao lado da mesa da secretária do delegado. Reparando no rosto suado do juiz e nas mãos inquietas, girando um envelope pardo, Tereza preocupou-se que o homem acabasse colapsando antes que Queiroz o atendesse. — Quer algo para beber? Uma água ou café? — A jovem ofereceu gentil. Girando nas mãos os papéis exigidos mais cedo, sentindo a garganta travada, recusou a oferta com a cabeça. Vindo de uma pessoa ligada ao delegado, que o ameaçou naquela de morte no dia anterior, preferia não comer e nem beber nada que ofertasse. Engoliu em seco quando Queiroz, no lugar de indicar sua passagem, saiu de seu escritório e o encarou, os olhos ameaçadores carregados de desprezo ao observa-lo de cima a baixo. Ao notar o documento em envelope pardo, com leves manchas de suor proveniente das mãos do juiz, ergue