Tarcísio se apresentou no escritório de Adriano assim que viu a mensagem, ao entrar no cômodo, além das garrafas de bebida, reparou no documento embaixo dos dedos do Orleans. — Minha mãe me disse que você a ajudou a ocultar esse documento. Qual a possibilidade de que se descubra a existência desse testamento? — Adriano perguntou encarando o capataz e administrador com olhos enevoados pela bebida. — Nenhuma. Temos a lei ao nosso lado. — E as testemunhas? — Adriano questionou abrindo o documento para apontar as assinaturas. — Reconheci os nomes, são a governanta e o administrador que cuidavam da casa quando meu pai vivia. Tem certeza que são confiáveis? Quero conversar com eles e ter garantias. — A garantia é que estão mortos. — Diante do olhar surpreso de Adriano, prosseguiu: — Lembrasse-se do incêndio que dominou as casas dos colonos uns anos atrás? — Recebendo o aceno positivo do Orleans, revelou com frieza: — A da família Santos foi uma das atingida. Só sobraram os filhos e um ve
Antes do horário do almoço, preocupado com sua integridade física, o juiz de Sanmarino atravessou o portão da prisão e, após pedir para um guarda avisar Queiroz de sua chegada, permaneceu parado ao lado da mesa da secretária do delegado. Reparando no rosto suado do juiz e nas mãos inquietas, girando um envelope pardo, Tereza preocupou-se que o homem acabasse colapsando antes que Queiroz o atendesse. — Quer algo para beber? Uma água ou café? — A jovem ofereceu gentil. Girando nas mãos os papéis exigidos mais cedo, sentindo a garganta travada, recusou a oferta com a cabeça. Vindo de uma pessoa ligada ao delegado, que o ameaçou naquela de morte no dia anterior, preferia não comer e nem beber nada que ofertasse. Engoliu em seco quando Queiroz, no lugar de indicar sua passagem, saiu de seu escritório e o encarou, os olhos ameaçadores carregados de desprezo ao observa-lo de cima a baixo. Ao notar o documento em envelope pardo, com leves manchas de suor proveniente das mãos do juiz, ergue
Com o passe livre, Dalila atravessou o corredor com o sorriso ampliando-se em sua face, o coração acelerado de expectativa. Atento, Maximiliano continuou sentado, os olhos observando Dalila se aproximar com um guarda ao lado. — Bom dia, meu amor! — Dalila o cumprimentou quase eufórica de felicidade. Ignorando a saudação, Maximiliano percebeu o guarda pegando a chave para abrir a cela. — Vão me soltar? — Maximiliano perguntou se erguendo para chegar próximo a fechadura. — Mantenha-se longe — o guarda avisou parando de lidar com o molho de chave para colocar a mão em cima de sua rama. — Consegui uma autorização para passar meia hora de visita íntima. — Não! — Maximiliano bradou, fazendo o guarda recuar com receio, como se a pessoa armada fosse o homem dentro da cela. — Não quero visita íntima. Não com você — enfatizou movendo o olhar pesado para o guarda. — Pode guardar as chaves, não precisará delas. Dalila bateu o pé, o rosto contorcido de raiva. — Não pode fazer isso. Não ima
Como solicitado por Adriano, com a condenação de Maximiliano Gonzalez em suas mãos, Queiroz ligou para o telefone pessoal do herdeiro dos Orleans e o informou do fato. Não se surpreendeu quando poucos minutos depois o homem mais poderoso da região entrou em seu escritório. — Senhor Orleans, que gosto revê-lo! — Queiroz cumprimentou com um largo sorriso. Sem corresponder ao alegre cumprimento, Adriano pediu: — Me mostre à sentença. Pegando de sua mesa o documento, devolvido instante antes pela secretária, o estendeu para o filho da viúva Orleans. — Quero mostrar a condenação pessoalmente ao Maximiliano — Adriano exigiu após ler com satisfação as linhas que mantinham seu desafeto atrás das grades. — Claro! O acompanho. — Obrigado! Mantendo um sorriso malévolo, com Adriano ao seu lado, Queiroz moveu-se para a porta de metal que levava ao piso inferior, os passos sendo acompanhado pelo interesse dos presos pelos quais passava até chegar à última cela. ~*~ Na cela mal iluminada, M
Tendo recebido a mensagem de Queiroz a respeito da condenação, na sala dos Orleans, Tarcísio, tranquilo, dava às boas novas a viúva Kassandra. — O juiz deu a sentença: Trinta anos a serem cumpridos no presídio do estado. — Ótimo! Quando enviarão esse bandido para longe de nossas vidas? — Em três dias será transferido e no caminho, ao passar pelas difíceis estradas da montanha, sofrerá um fatídico acidente de percurso — Tarcísio respondeu debochado. — Com a morte desse infeliz me sentirei enfim livre da presença maligna dos Orleans — Kassandra comemorou. — Terei a mente desanuviada para planejar um modo de me vingar dos Savoia, pelo que causaram ao meu filho. E afastar de Adriano essa m*****a ideia de se casar com Joana. — Porque não o deixa casar com a senhorita Joana? — Tarcísio questionou, não vendo motivo para trabalharem contra os desejos de Adriano. — Ele não deseja o casamento porque caiu de amores por ela — zombou impressionada com a mente lenta do capataz. — A quer por vi
Assustada com o desmaio de sua amiga, Tereza largou o trabalho e correu para auxiliá-la. Adriano abaixou-se, segurou Joana em seus braços e a ergueu levando-a até o banco de ferro, depositando-a cuidadosamente sobre ele. — Chamarei o médico! — Tereza disse voltando para sua mesa após verificar a pulsação da amiga inconsciente e não encontrar nada incomum. — Posso levá-la ao hospital — Adriano indicou, mas Donato aconselhou aguardarem um pouco para ver se Joana voltava a si. — O que está acontecendo na minha prisão? — Queiroz bradou indignado com a bagunça em seu local de trabalho. — Joana desmaiou ao ouvir que condenaram Maximiliano a trinta anos de prisão — Tereza contou digitando apressada o número do médico. — Ela não tem comido muito ultimamente — Donato comentou lembrando-se de ter reclamado sobre o assunto ao reparar a palidez crescente da jovem. — Deus, isso é culpa nossa... — Adriano murmurou. — Com certeza, se não tivessem criado acusações, ela estaria feliz com o noiv
— Joana, sente-se! — Tereza aconselhou a amiga, informando em seguida: — Daqui a pouco o médico chega. — Não preciso de médico, só preciso de justiça — Joana retrucou relanceando um olhar de revolta para Queiroz e Adriano. — Ouviu a mocinha, avise que não precisamos de nenhum médico — Queiroz ordenou para Tereza. Parcialmente tranquilizada, Tereza fez o que foi pedido, ligando para cancelar a necessidade de um médico, desculpando-se e avisando que tudo se tratou de um mal-estar, o tempo todo atenta ao confronto ocorrendo. — Deveria cuidar da sua saúde, no lugar de se preocupar com um criminoso — Adriano alertou Joana. — Maximiliano não é criminoso. Está preso por acusações falsas — Joana soltou na defensiva. — E a condenação é impossível de ter saído — Donato se juntou na defesa. — Não houve um julgamento justo, não houve nada. Queiroz retornou a sua sala, pegou o documento e o mostrou ao advogado. — Verifique. Maximiliano Gonzalez foi condenado há trinta anos e solicitei a tra
Depois de passar uma noite infernal, girando de um lado para o outro da cama minúscula e desconfortável, Maximiliano sustentava olheiras profundas, devido à noite em claro, e a mente perturbada. A desforra de Adriano, a sentença e a transferência só fizeram aumentar sua angústia. Mas tudo estourou, sumiu e foi substituído por eufórica alegria ao ouvir: — Maximiliano! Reconhecendo a voz feminina, ansioso e apaixonado, se projetou até a grade encontrando o rosto bonito e Joana, que com lágrimas nos olhos lhe sorria. — Joana! Meu amor! — Movendo as mãos pelos espaços da grade segurando a face dela, puxando-a para si e beijando-a. — Não imagina a felicidade que sinto em te ver. — Odeio atrapalhar, mas temos pouco tempo para conversar — Donato os alertou. — Queiroz me mostrou um documento com sua condenação. — Ele e Adriano me mostraram mais cedo — Maximiliano informou. — Queiroz disse que serei transferido para o presídio estadual. Podem fazer isso? — Não podem, mas o documento é aut