Encapuzado, seguindo sorrateiramente pelo monte do diabo, Gabriel aproximou-se da cabana do Gonzalez e bateu na porta, vasculhando ao redor por qualquer pessoa que pudesse estar por perto. Embora, se tivesse sido seguido ou houvesse alguém vigiando Joana, teria facilmente percebido pela falta de esconderijos além de finas palmeiras e vegetação baixa após a íngreme subida. Motivo que, após pensarem em várias alternativas para Gabriel repassar o que acontecia na prisão, chegaram à conclusão que, embora fosse à noiva de Maximiliano, Joana era o melhor disfarce. Joana abriu a porta e, segurando o braço dele, o puxou para dentro da residência. — Como foi no trabalho? Falou com o Max? — Joana questionou tão ansiosa que abandonou todas as recomendações de boa educação com visitantes. — Vi e conversei com ele. — Venha! Sente-se e me conte tudo — pediu indicando a cozinha. Gabriel fez o que foi pedido. Joana colocou um prato com biscoitos e serviu café, sentando-se ao lado dele para escuta
Tarcísio se apresentou no escritório de Adriano assim que viu a mensagem, ao entrar no cômodo, além das garrafas de bebida, reparou no documento embaixo dos dedos do Orleans. — Minha mãe me disse que você a ajudou a ocultar esse documento. Qual a possibilidade de que se descubra a existência desse testamento? — Adriano perguntou encarando o capataz e administrador com olhos enevoados pela bebida. — Nenhuma. Temos a lei ao nosso lado. — E as testemunhas? — Adriano questionou abrindo o documento para apontar as assinaturas. — Reconheci os nomes, são a governanta e o administrador que cuidavam da casa quando meu pai vivia. Tem certeza que são confiáveis? Quero conversar com eles e ter garantias. — A garantia é que estão mortos. — Diante do olhar surpreso de Adriano, prosseguiu: — Lembrasse-se do incêndio que dominou as casas dos colonos uns anos atrás? — Recebendo o aceno positivo do Orleans, revelou com frieza: — A da família Santos foi uma das atingida. Só sobraram os filhos e um ve
Antes do horário do almoço, preocupado com sua integridade física, o juiz de Sanmarino atravessou o portão da prisão e, após pedir para um guarda avisar Queiroz de sua chegada, permaneceu parado ao lado da mesa da secretária do delegado. Reparando no rosto suado do juiz e nas mãos inquietas, girando um envelope pardo, Tereza preocupou-se que o homem acabasse colapsando antes que Queiroz o atendesse. — Quer algo para beber? Uma água ou café? — A jovem ofereceu gentil. Girando nas mãos os papéis exigidos mais cedo, sentindo a garganta travada, recusou a oferta com a cabeça. Vindo de uma pessoa ligada ao delegado, que o ameaçou naquela de morte no dia anterior, preferia não comer e nem beber nada que ofertasse. Engoliu em seco quando Queiroz, no lugar de indicar sua passagem, saiu de seu escritório e o encarou, os olhos ameaçadores carregados de desprezo ao observa-lo de cima a baixo. Ao notar o documento em envelope pardo, com leves manchas de suor proveniente das mãos do juiz, ergue
Com o passe livre, Dalila atravessou o corredor com o sorriso ampliando-se em sua face, o coração acelerado de expectativa. Atento, Maximiliano continuou sentado, os olhos observando Dalila se aproximar com um guarda ao lado. — Bom dia, meu amor! — Dalila o cumprimentou quase eufórica de felicidade. Ignorando a saudação, Maximiliano percebeu o guarda pegando a chave para abrir a cela. — Vão me soltar? — Maximiliano perguntou se erguendo para chegar próximo a fechadura. — Mantenha-se longe — o guarda avisou parando de lidar com o molho de chave para colocar a mão em cima de sua rama. — Consegui uma autorização para passar meia hora de visita íntima. — Não! — Maximiliano bradou, fazendo o guarda recuar com receio, como se a pessoa armada fosse o homem dentro da cela. — Não quero visita íntima. Não com você — enfatizou movendo o olhar pesado para o guarda. — Pode guardar as chaves, não precisará delas. Dalila bateu o pé, o rosto contorcido de raiva. — Não pode fazer isso. Não ima
Como solicitado por Adriano, com a condenação de Maximiliano Gonzalez em suas mãos, Queiroz ligou para o telefone pessoal do herdeiro dos Orleans e o informou do fato. Não se surpreendeu quando poucos minutos depois o homem mais poderoso da região entrou em seu escritório. — Senhor Orleans, que gosto revê-lo! — Queiroz cumprimentou com um largo sorriso. Sem corresponder ao alegre cumprimento, Adriano pediu: — Me mostre à sentença. Pegando de sua mesa o documento, devolvido instante antes pela secretária, o estendeu para o filho da viúva Orleans. — Quero mostrar a condenação pessoalmente ao Maximiliano — Adriano exigiu após ler com satisfação as linhas que mantinham seu desafeto atrás das grades. — Claro! O acompanho. — Obrigado! Mantendo um sorriso malévolo, com Adriano ao seu lado, Queiroz moveu-se para a porta de metal que levava ao piso inferior, os passos sendo acompanhado pelo interesse dos presos pelos quais passava até chegar à última cela. ~*~ Na cela mal iluminada, M
Tendo recebido a mensagem de Queiroz a respeito da condenação, na sala dos Orleans, Tarcísio, tranquilo, dava às boas novas a viúva Kassandra. — O juiz deu a sentença: Trinta anos a serem cumpridos no presídio do estado. — Ótimo! Quando enviarão esse bandido para longe de nossas vidas? — Em três dias será transferido e no caminho, ao passar pelas difíceis estradas da montanha, sofrerá um fatídico acidente de percurso — Tarcísio respondeu debochado. — Com a morte desse infeliz me sentirei enfim livre da presença maligna dos Orleans — Kassandra comemorou. — Terei a mente desanuviada para planejar um modo de me vingar dos Savoia, pelo que causaram ao meu filho. E afastar de Adriano essa m*****a ideia de se casar com Joana. — Porque não o deixa casar com a senhorita Joana? — Tarcísio questionou, não vendo motivo para trabalharem contra os desejos de Adriano. — Ele não deseja o casamento porque caiu de amores por ela — zombou impressionada com a mente lenta do capataz. — A quer por vi
Assustada com o desmaio de sua amiga, Tereza largou o trabalho e correu para auxiliá-la. Adriano abaixou-se, segurou Joana em seus braços e a ergueu levando-a até o banco de ferro, depositando-a cuidadosamente sobre ele. — Chamarei o médico! — Tereza disse voltando para sua mesa após verificar a pulsação da amiga inconsciente e não encontrar nada incomum. — Posso levá-la ao hospital — Adriano indicou, mas Donato aconselhou aguardarem um pouco para ver se Joana voltava a si. — O que está acontecendo na minha prisão? — Queiroz bradou indignado com a bagunça em seu local de trabalho. — Joana desmaiou ao ouvir que condenaram Maximiliano a trinta anos de prisão — Tereza contou digitando apressada o número do médico. — Ela não tem comido muito ultimamente — Donato comentou lembrando-se de ter reclamado sobre o assunto ao reparar a palidez crescente da jovem. — Deus, isso é culpa nossa... — Adriano murmurou. — Com certeza, se não tivessem criado acusações, ela estaria feliz com o noiv
— Joana, sente-se! — Tereza aconselhou a amiga, informando em seguida: — Daqui a pouco o médico chega. — Não preciso de médico, só preciso de justiça — Joana retrucou relanceando um olhar de revolta para Queiroz e Adriano. — Ouviu a mocinha, avise que não precisamos de nenhum médico — Queiroz ordenou para Tereza. Parcialmente tranquilizada, Tereza fez o que foi pedido, ligando para cancelar a necessidade de um médico, desculpando-se e avisando que tudo se tratou de um mal-estar, o tempo todo atenta ao confronto ocorrendo. — Deveria cuidar da sua saúde, no lugar de se preocupar com um criminoso — Adriano alertou Joana. — Maximiliano não é criminoso. Está preso por acusações falsas — Joana soltou na defensiva. — E a condenação é impossível de ter saído — Donato se juntou na defesa. — Não houve um julgamento justo, não houve nada. Queiroz retornou a sua sala, pegou o documento e o mostrou ao advogado. — Verifique. Maximiliano Gonzalez foi condenado há trinta anos e solicitei a tra