Joana pulou para longe, um grito baixo de susto vencendo a rigidez dominando todo seu corpo. Mesmo sentindo as pernas trêmulas, conseguiu dar alguns passos vacilantes para longe do homem que a agarrou. Com a expressão paralisada pelo susto, Joana fixou seus olhos azulados sobre o intruso. Ambos se encaravam em silêncio, Joana com medo e Maximiliano com curiosidade. Novamente por um engano do destino, sem máscaras ou disfarces, naquele momento ocorreu o encontro de dois mundos. De um lado a pureza de Joana, criada em meio aos cuidados e restrições dos pais e de sua madrinha. Do outro, um homem temido que por vezes viu a pior face dos seres humanos. — Você?! O que faz aqui? — Joana questionou ao reconhecê-lo como o homem que viu na praia dias antes. Maximiliano observou a jovem de cima a baixo, também a reconhecendo do inusitado encontro da praia. Percebendo seu erro, Maximiliano deslizou seus olhos negros pelas vestes, face pálida, cabelos negros presos em um coque austero e com f
Ansioso, Adriano andava de um lado para o outro, aguardando impaciente a chegada dos Savoia para o jantar. — O que aconteceu com Dalila e sua família? — Questionou para sua mãe que o observava do sofá. — Eles deveriam estar aqui para jantar conosco há meia hora. — Talvez tenham se atrasado por causa da Joana. Ou nem venham... — Por quê? Pensei que já tínhamos resolvido essa situação. Joana foi bem compreensiva quando expliquei meus motivos para não seguir com o casamento. — Filho, para todos foi um golpe terrível, principalmente para Joana — esclareceu Kassandra segurando a mão do filho. — Quando soube que você retornou a cidade, ela pensou que o casamento seria celebrado rapidamente. Com sua negativa ficou desolada, ao ponto que ofereci envia-la para nossa casa em Portugal. — Em uma derradeira tentativa de fazê-lo desisti comentou: — Filho, pense melhor. Você e Joana estão juntos há tanto tempo... — Não tenho o que pensar, mãe. — Adriano a interrompeu, um sorriso bobo se moldand
Acostumado com agressões surpresa, Maximiliano tinha o sono leve. Ao ouvir passos se aproximarem de sua casa, despertou de imediato e com a arma em punho foi para a porta. Abriu e apontou para a pessoa que se aproximava na escuridão. Seu movimento instintivo, porém calculado em anos de cuidado com sua segurança, era suficiente para surpreender quem quer que fosse. — Maximiliano... Sou eu, Dalila. Reconhecendo a voz da amante, abaixou a arma e abriu espaço para ela entrar. — Como sempre, rápido e atento como um felino — ela murmurou com um sorriso. Não era a primeira vez que algo assim ocorria quando aparecia no meio da noite e torcia para não ser a última. Achava atraente o perigo que rodeava o Gonzalez. — Preciso ser — Maximiliano retrucou lhe acariciando a face. Aproximou seu corpo ao dele e acariciou o peito nu do amante. — Vim mais cedo mais não te encontrei. — Estava arrumando o Diablo para a viagem que farei depois de amanhã — contou fechando a porta. — Beije-me que já e
Assim que entrou no quarto de Dalila, Joana só viu a irmã sentada penteado seus cabelos. Após um breve espanto, Dalila sorriu com falsidade, empurrando com o pé a sacola com as roupas e peruca que retirou assim que atravessou a porta da varanda. — Porque não arrumou minhas coisas? — Disfarçou arrumando o cabelo desgrenhado pelas horas nos braços de Maximiliano. — Esqueci das roupas após um homem entrar no quarto a sua procura — Joana respondeu encarando a irmã com fúria. — O que levou esse bandido a te procurar, Dalila? Segurando a vontade de expulsar Joana de seu quarto, Dalila continuou a mirar o próprio reflexo sem dar à mínima importância a irmã. — É só um vendedor de peixe deslumbrado pela minha beleza — disse confiante e com um largo sorriso. — Um pobre coitado sem importância — Não sou idiota — Joana a interrompeu tentando a muito custo manter o tom baixo. — O que faria um vendedor de peixe te procurar em seu quarto? — Questionou irritada pela clara mentira de Dalila. —
No abrigo das frias paredes do escritório da escola religiosa, com lágrimas geladas a cobrir sua face e um sentimento total de abandono, Joana buscava no trabalho um consolo. No entanto, como em todos os outros dias, nada parecia surtir efeito. Sua mente insistia em mostrar imagens de sua irmã vestida de branco ao lado de seu amado e não conseguia terminar todos os relatórios que seriam passadas a pessoa que ficaria em seu lugar. Sendo sincera consigo, não queria sair da cidade, talvez por isso não tenha finalizado suas funções e passou muitas horas ali se avançar em nenhuma tarefa. Também era uma forma de chegar em casa só no fim do dia, evitando com isso seus pais e sua irmã. Há muito não sentia vontade de comer e passava horas em claro, trabalhando até cansar inclusive quando chegava em casa, para não sonhar com o impossível: reaver o noivo. Ao ouvir passos cada vez mais próximos, enxugou rapidamente as lágrimas e não se voltou para a porta, mantendo o olhar fixo na tela do compu
Mesmo desejando fugir de sua mãe, Joana não podia passar o dia todo trancada no quarto após chegar do trabalho, então aturava a insistência de Carmem em fazê-la desistir da viagem, embora sempre se apressasse em interrompê-la quando abusava apresentando ofertas casamenteiras. Como se o problema fosse arranjar um marido e não ter sido duramente rejeitada pelo que tinha. — Tenho certeza do que quero, pare de insistir — pediu com voz fraca, temerosa de revelar o que realmente ocorria em seu coração. O esforço que fazia para não chorar de angustia minava suas forças a cada dia, mas nunca, jamais, voltaria atrás em seus planos. Era da paz da distância que necessitava e, cedo ou tarde, convenceria Carmem de que esse era o seu destino. — Jô... Carmem calou ao ver Paula entrar apressada na sala. — Senhora, acabo de atender uma ligação da casa dos Orleans — informou afoita. — O senhor Adriano virá com um amigo ao jantar de hoje à noite. Carmem olhou para Joana, vendo o rosto de a filha em
No lugar de responder, Joana viu pela primeira vez sua irmã titubear antes de empinar o nariz e agir com o descaramento de sempre. — E isso que te interessa? Pare de me perturbar! Não devo nada a uma invejosa como você — Dalila disse com raiva, complementando com palavras cruéis que acabariam com Joana: — Quer me aborrecer porque não suporta que Adriano prefira ficar comigo, que me ame como nunca te amará e por isso rompeu aquele ridículo noivado com você. Surpreendida com a reação furiosa de Dalila, Joana decidiu não discutir e se voltou para a porta levando a pulseira consigo. Assustada, Dalila a deteve, se colocando entre ela e a porta. — Onde pensa que vai com as minhas coisas? — Posso ser hipócrita e invejosa como diz, mas não sou burra. Isso aqui não são bijuterias, são verdadeiras — respondeu com dureza. — Para provar isso vou leva-las até nossa mãe. — Espera! Não faça isso... — Dalila suplicou apavorada com a possibilidade de ser descoberta pela mãe, que acabaria contando
Momentos depois, os dois homens eram recepcionados pela empregada e guiados até a sala de estar, onde a família Savoia os aguardava para o jantar com ansiedade. — Boa noite! — Adriano cumprimentou antes de apresenta-los ao seu amigo. — Esse é meu amigo Bruno Dutra. Após cumprimentar Iago e Carmem, Bruno se dirigiu à Dalila com seu costumeiro tratamento galanteador. — Como está a mais linda das mulheres? Dalila riu diante do elogio. — Oh! Sempre tão gentil, fico feliz em revê-lo, Bruno! Adriano não gostou da intimidade que o amigo falou com ela, mas disfarçou o desagrado para não aborrecer os donos da casa. Naquele momento Joana apareceu na sala de jantar e Iago a chamou para apresenta-la a visita. Mesmo vestida com roupas mais discretas e sisudas que as usadas por Dalila, Bruno admirou a beleza da face serena da jovem, achando-a mais bonita que a irmã. Os olhos claros pareciam um céu em dia ensolarado. Impactado exclamou: — É uma honra conhecê-la! — Digo o mesmo — Joana devol