Logo cedo à aglomeração em frente à prisão de Sanmarino iniciou assim que correu no porto a informação da prisão de Maximiliano Gonzalez. Havia ali diversos tipos de pessoas: Do mais humilde até alguns com situação financeira proeminente; solteiras e discretas mulheres casadas; dos amigos aos desafetos. Todos desejavam saber os motivos da detenção e quanto tempo o ex-contrabandista passaria atrás das grades. Abrindo caminho entre a multidão, com Donato seguindo ao seu lado, Joana caminhava decidida a entrar na cadeia e apoiar o noivo. Tinham impedido sua passagem na noite anterior, mas agora não havia motivos para fazê-lo. Precisava vê-lo e ajuda-lo a retornar para casa. Ao chegar próximo à antiga construção de pedras, foi barrada por uma espécie de cordão humano feito pelos guardas de Sanmarino para conter a população de curiosos e revoltosos, impedindo-os de ultrapassar o portão. — Sou Joana Gonzalez, noiva de Maximiliano — anunciou. — Quero ver meu noivo. Ao seu lado, Donato me
Preso na última cela da prisão, Maximiliano encontrava-se sentado próximo as grades, atento a qualquer movimentação no corredor, embora desde que chegou pouco se podia ver e ouvir. A fortificação tinha poucos presos, visto que poucos crimes eram cometidos. Alguns só estavam e permaneciam ali por causa do abuso de autoridade de Queiroz. Nisso ele se incluía. — Guarda! — Maximiliano chamou ao notar um homem ao longe. — Tenho direito a falar com meu advogado e até agora não o vi. Quero falar com o Queiroz e exigir que chame Donato — gritou para o guarda no fim do corredor, que permanecia em silêncio. Aborrecido pela falta de resposta, encostou as costas na parede, o rosto de encontro às grades. Passou a noite em claro, remoendo seu descuido. Deveria ter se afastado de Dalila assim que ela apareceu na área descrita como de pouca movimentação, e que os patrões nunca iam, segundo Gabriel. Tolamente caiu na armadilha dela, claramente montada junto com Queiroz e talvez com o pai dela, que e
Tendo adiado a partida para a cidade depois do almoço, antecipando que ficariam longe da fazenda o restante do dia, Adriano passou rapidamente pelo campo para verificar como andavam os trabalhos. Ao voltar a entrar no quarto de casal não se surpreendeu com o que encontrou. As cortinas e as janelas estavam abertas, deixando passar o frescor da manhã, mas nada disso moveu sua mulher do leito. Continuava encolhida debaixo das cobertas. — Como se sente? — Adriano perguntou ao sentar ao lado dela na cama. — Igual — Dalila murmurou tristonha. Com a ponta do polegar, Adriano acariciou as olheiras escuras nos olhos inchados de sua esposa, deslizando-o pelo rastro molhado que seguia até a bochecha pálida. — Tem estado chorando. — Não consigo esquecer o horror que passei... — Prometo que ele nunca mais se aproximará de você. — Abraçou a esposa, acalentando seu corpo. Embora Maximiliano carregasse a maior parcela de culpa, tinha sido ele que possibilitou o ataque sofrido por Dalila. Talve
Escoltados por Tarcísio, Dalila e Adriano abriram passo pela multidão cercando a cadeia e, chegando à muralha imposta pelos guardas, o capataz dos Orleans abordou um dos oficiais que não deixavam ninguém passar. — Esses são o senhor e a senhora Orleans! — declarou apontando para o casal altivo, usando a posição social dos patrões para ser escutado e rapidamente atendido. — Exigem falar com o delegado Queiroz. Como imaginado, diante do poder de influência dos Orleans para conseguir o que desejavam, o homem atendeu a solicitação, indicando aos colegas que abrissem passagem. Sem ter o que fazer, e sabendo que maior que a posição dos Orleans, que facilitariam por si só o acesso, a jovem abraçada ao herdeiro de Recanto Dourado testemunharia contra o famoso preso na instalação, o guarda obediente se limitou a indicar o caminho até a sala do delegado. Deixando-os um segundo na antessala, o homem entrou na sala e depois saiu lhe dando passagem. O casal entrou na sala e encarou Queiroz, em
A recepção, como imaginou, não foi calorosa. Seu pai foi o primeiro a vir em sua direção, mas não para abraça-la, consolar pela prisão de seu noivo ou mesmo mostrar que a amava. — O que faz aqui? — Ele questionou a Joana, indicando aborrecido: — Deixei claro que não quero você entrando na minha casa enquanto estiver com aquele marginal. Mesmo seu pai claramente querendo que fosse embora, Joana estava ali com uma missão a cumprir e só partiria após sua conclusão. — Ocorre que cansei de guardar o segredo de Dalila — anunciou de queixo erguido. Encarando a filha com preocupação, Carmem abriu a boca para saber o que Joana pretendia, mas seu marido adiantou-se confuso e irritado. — Não se atreva — Iago ordenou para a filha, pálida, porém sem um pingo de hesitação em seu corpo. — Não me atrever ao que, pai? Do que tem tanto medo? — Joana provocou, esperando que o pai tivesse a dignidade de confessar antes que ela os expusesse. Iago abriu e fechou a boca, mas nenhum som passou por sua
Permanecendo com os pais, Joana tinha vontade de chacoalha-los por insistirem e em proteger Dalila à custa da felicidade dela. Só não discutiu ainda mais por notar a palidez de sua mãe. De nada adiantaria afinal. Era sua palavra contra a de Dalila, e Adriano fez sua escolha assim como o restante de sua família o fez. Moveu-se para sair, mas seu pai agarrou seu braço, as feições contorcidas parecendo prestes a explodir. — Que tipo de chacota é essa?! — O rosto de Iago tingiu-se inesperadamente de vermelho, os olhos estreitados fixos na face dela. — Por favor, Iago, solte a Joana! — Carmem implorou preocupada com a filha. Puxando o braço, Joana conseguiu se desfazer da mão que a prendia, massageando o local dolorido pela força que ele exerceu ao agarrá-la. — Enlouqueceu? Como pode se colocar contra nós e a favor daquele marginal? — Iago perguntou entredentes, a tensão evidenciando-se no abrir e fechar das mãos junto ao corpo. — Nunca estive mais sã e feliz — Joana declarou indifere
Pela necessidade de lidarem com a prisão de Maximiliano, Cristiano não abriu o bar Crista do Mar ao público. Juntando o grupo no salão para definirem que atitude tomar, como arranjar provas da inocência dele e conseguir liberá-lo antes que Queiroz aprontasse algo contra o capitão do Diablo. Todos estavam ansiosos em saber o que acontecia com Maximiliano e resolver a confusão ocorrida dentro da propriedade da maior inimiga do Gonzalez, e justamente na festa de noivado dele. — Embora seja o único que não tenho como apresentar provas relevantes, pois sempre será a palavra da vítima contra a dele... — E a vítima é justo uma Orleans — Beto lamentou, sabendo que a família mais poderosa de Sanmarino garantiria que Maximiliano fosse condenado. — O maior problema são os outros crimes apresentados pelo delegado — Donato disse completando sua linha de pensamento, expondo ao restante dos homens o que foi dito por Queiroz. — Juntando todos os crimes, se condenado ficará anos preso. — Por isso
Conseguindo a permissão para ver Maximiliano, depois de ler todos os relatórios feitos pelos guardas, juntamente com os depoimentos de testemunhas, Donato passou para o Gonzalez as acusações apresentadas contra ele. — Testemunhas, possivelmente mancomunadas com Queiroz, dizem que viram você matando Orlando Américo. O delegado também apresentou documentos que atestam que você tem cinquenta por cento de sociedade no Salão Real. Sentado no largo e frio banco de pedra junto às grades, impactado pelas acusações criadas contra ele, Maximiliano se forçava a prestar atenção no que o advogado narrava, necessitando achar uma forma de escapar das acusações. — Isso não é verdade! — Maximiliano falou desnorteado. — Eu sei — disse Donato, continuando a contar o que descobriu. — Essas mesmas testemunhas garantem que você ajudava Orlando a sequestrar, prostituir e matar mulheres das fazendas próximas. — Impossível! Descobri sobre esse lugar somente quando estava à procura de Cristiano, Gilberto e