Tendo adiado a partida para a cidade depois do almoço, antecipando que ficariam longe da fazenda o restante do dia, Adriano passou rapidamente pelo campo para verificar como andavam os trabalhos. Ao voltar a entrar no quarto de casal não se surpreendeu com o que encontrou. As cortinas e as janelas estavam abertas, deixando passar o frescor da manhã, mas nada disso moveu sua mulher do leito. Continuava encolhida debaixo das cobertas. — Como se sente? — Adriano perguntou ao sentar ao lado dela na cama. — Igual — Dalila murmurou tristonha. Com a ponta do polegar, Adriano acariciou as olheiras escuras nos olhos inchados de sua esposa, deslizando-o pelo rastro molhado que seguia até a bochecha pálida. — Tem estado chorando. — Não consigo esquecer o horror que passei... — Prometo que ele nunca mais se aproximará de você. — Abraçou a esposa, acalentando seu corpo. Embora Maximiliano carregasse a maior parcela de culpa, tinha sido ele que possibilitou o ataque sofrido por Dalila. Talve
Escoltados por Tarcísio, Dalila e Adriano abriram passo pela multidão cercando a cadeia e, chegando à muralha imposta pelos guardas, o capataz dos Orleans abordou um dos oficiais que não deixavam ninguém passar. — Esses são o senhor e a senhora Orleans! — declarou apontando para o casal altivo, usando a posição social dos patrões para ser escutado e rapidamente atendido. — Exigem falar com o delegado Queiroz. Como imaginado, diante do poder de influência dos Orleans para conseguir o que desejavam, o homem atendeu a solicitação, indicando aos colegas que abrissem passagem. Sem ter o que fazer, e sabendo que maior que a posição dos Orleans, que facilitariam por si só o acesso, a jovem abraçada ao herdeiro de Recanto Dourado testemunharia contra o famoso preso na instalação, o guarda obediente se limitou a indicar o caminho até a sala do delegado. Deixando-os um segundo na antessala, o homem entrou na sala e depois saiu lhe dando passagem. O casal entrou na sala e encarou Queiroz, em
A recepção, como imaginou, não foi calorosa. Seu pai foi o primeiro a vir em sua direção, mas não para abraça-la, consolar pela prisão de seu noivo ou mesmo mostrar que a amava. — O que faz aqui? — Ele questionou a Joana, indicando aborrecido: — Deixei claro que não quero você entrando na minha casa enquanto estiver com aquele marginal. Mesmo seu pai claramente querendo que fosse embora, Joana estava ali com uma missão a cumprir e só partiria após sua conclusão. — Ocorre que cansei de guardar o segredo de Dalila — anunciou de queixo erguido. Encarando a filha com preocupação, Carmem abriu a boca para saber o que Joana pretendia, mas seu marido adiantou-se confuso e irritado. — Não se atreva — Iago ordenou para a filha, pálida, porém sem um pingo de hesitação em seu corpo. — Não me atrever ao que, pai? Do que tem tanto medo? — Joana provocou, esperando que o pai tivesse a dignidade de confessar antes que ela os expusesse. Iago abriu e fechou a boca, mas nenhum som passou por sua
Permanecendo com os pais, Joana tinha vontade de chacoalha-los por insistirem e em proteger Dalila à custa da felicidade dela. Só não discutiu ainda mais por notar a palidez de sua mãe. De nada adiantaria afinal. Era sua palavra contra a de Dalila, e Adriano fez sua escolha assim como o restante de sua família o fez. Moveu-se para sair, mas seu pai agarrou seu braço, as feições contorcidas parecendo prestes a explodir. — Que tipo de chacota é essa?! — O rosto de Iago tingiu-se inesperadamente de vermelho, os olhos estreitados fixos na face dela. — Por favor, Iago, solte a Joana! — Carmem implorou preocupada com a filha. Puxando o braço, Joana conseguiu se desfazer da mão que a prendia, massageando o local dolorido pela força que ele exerceu ao agarrá-la. — Enlouqueceu? Como pode se colocar contra nós e a favor daquele marginal? — Iago perguntou entredentes, a tensão evidenciando-se no abrir e fechar das mãos junto ao corpo. — Nunca estive mais sã e feliz — Joana declarou indifere
Pela necessidade de lidarem com a prisão de Maximiliano, Cristiano não abriu o bar Crista do Mar ao público. Juntando o grupo no salão para definirem que atitude tomar, como arranjar provas da inocência dele e conseguir liberá-lo antes que Queiroz aprontasse algo contra o capitão do Diablo. Todos estavam ansiosos em saber o que acontecia com Maximiliano e resolver a confusão ocorrida dentro da propriedade da maior inimiga do Gonzalez, e justamente na festa de noivado dele. — Embora seja o único que não tenho como apresentar provas relevantes, pois sempre será a palavra da vítima contra a dele... — E a vítima é justo uma Orleans — Beto lamentou, sabendo que a família mais poderosa de Sanmarino garantiria que Maximiliano fosse condenado. — O maior problema são os outros crimes apresentados pelo delegado — Donato disse completando sua linha de pensamento, expondo ao restante dos homens o que foi dito por Queiroz. — Juntando todos os crimes, se condenado ficará anos preso. — Por isso
Conseguindo a permissão para ver Maximiliano, depois de ler todos os relatórios feitos pelos guardas, juntamente com os depoimentos de testemunhas, Donato passou para o Gonzalez as acusações apresentadas contra ele. — Testemunhas, possivelmente mancomunadas com Queiroz, dizem que viram você matando Orlando Américo. O delegado também apresentou documentos que atestam que você tem cinquenta por cento de sociedade no Salão Real. Sentado no largo e frio banco de pedra junto às grades, impactado pelas acusações criadas contra ele, Maximiliano se forçava a prestar atenção no que o advogado narrava, necessitando achar uma forma de escapar das acusações. — Isso não é verdade! — Maximiliano falou desnorteado. — Eu sei — disse Donato, continuando a contar o que descobriu. — Essas mesmas testemunhas garantem que você ajudava Orlando a sequestrar, prostituir e matar mulheres das fazendas próximas. — Impossível! Descobri sobre esse lugar somente quando estava à procura de Cristiano, Gilberto e
Correndo pelas ruas de Sanmarino, o mais rápido que suas pernas permitiam e seus pulmões suportavam, Paula chegou à casa dos Orleans e apertou desesperadamente a campainha. — Chame à senhora Dalila, por favor — pediu para a empregada da casa, entrando na residência sem aguardar permissão. — Por quê? — Aconteceu algo horrível, chamei-a! — Ordenou, o sentido de urgência enraizado em sua pele. O caos formado pela campainha e a voz desesperada de Paula, fez Kassandra e Adriano, conversando na sala, se moverem para a entrada para saber o motivo do alvoroço. — O que houve? — Ambos questionaram fitando a arfante empregada dos Savoia. Vendo Dalila aparecer, ignorando a pergunta de mãe e filho, foi até a filha de seus patrões e, controlando a angustia, contou sobre o incidente com o patriarca Savoia. Ao relatar sobre o desmaio e que foi levado para o hospital, Dalila desesperou-se. — Mas está vivo ou morto? — Continua inconsciente. Por favor, me siga até o hospital, sua mãe está desespe
Foi um ato impensado, esquecida do local, repleto de pessoas, e das consequências de fazê-lo daquela forma. O ideal era apresentar a prova ao delegado Queiroz, que ele a mostrasse ao casal Orleans, junto com a queixa de falsa acusação que Joana pediu para Donato abrir contra Dalila após reenviar para ele à mensagem de Beto. Mas não suportava mais o descaramento de sua irmã. Mesmo quem não via o que estava diante dos olhos de Adriano, podia ouvir claramente as vozes, seus significados e implicações. Os três Orleans empalideceram com o trecho: “Me mudarei para Sanmarino. Adriano tem que cuidar das colheitas e minha sogra prefere definhar aqui. Estarei sozinha lá e poderemos nos encontrar sempre que quisermos”. — Me dê isso! — Dalila pediu. Em seu desespero, tentou tirar o celular das mãos do marido. Mas ele a empurrou com tanta força, que acabou lançando-a contra a parede próxima. Adriano não pareceu perceber o que fez, seus olhos estavam cravados na pequena tela, vendo sua esposa s