— O que disse?! — Adriano balbuciou, os braços tornando-se frouxos em volta do corpo de sua esposa. — A verdade. Aquela que todos ocultaram de você. — Ele mente! — Dalila urrou, apertando-se contra o marido, os olhos chorosos buscando os dele. — Ele tentou abusar de mim e agora coloca a culpa na vítima, como a maioria dos estupradores. Queiroz pode atestar o que digo. — Sim... — Prefiro a morte a violar ou bater em uma mulher — Maximiliano bradou cortando o oficial. — O que digo é a mais pura verdade. Dalila se ofereceu e quando a rejeitei a proposta dela de reavivar nosso passado, ela começou a se agredir, gritar e rasgar as roupas. Queiroz chegou exatamente quando me afastava do circo montado por ela. — Fugia do flagrante — Dalila bradou, esperando que sua indignação ocultasse as revelações do Gonzalez. — O que quer dizer com reavivar o passado de vocês? — Adriano questionou para Maximiliano, cada vez mais confuso com que o que ouvia. — Não o ouça, meu amor! — Dalila pediu des
Sem consideração alguma ao apoio prometido ao Gonzalez, ou a promessa feita a seu pai no leito de morte, Adriano observou Maximiliano ser levado embora de Recanto Dourado diante dos olhares curiosos dos convidados da festa de noivado do homem sendo preso. Joana, junto com os amigos de Maximiliano e Donato, tinham partido sem se despedir para soltar o Gonzalez da prisão ainda naquela noite. Ela parecia confiante na inocência dele, mesmo com o delegado afirmando ter visto o ataque e Dalila se esvaindo em lágrimas. Sua mãe se despedia dos convidados, evitando as perguntas que a visão do noivo de sua afilhada partindo escoltado pelo delegado gerou. Dalila tinha sido escoltada por Iago para dentro da mansão, a fim de se trocar antes de seguirem para fazer a ocorrência da agressão. Adriano adiava encontrar-se com a esposa. Saber que ela tinha tido um romance com Maximiliano tinha sido uma surpresa, por causa da fama do ex-contrabandista e pelas furiosas declarações de enojo ditas por Dal
Retornado ao seu quarto de casada com seu pai do lado, Dalila cobriu-se com um robe e observava Iago com desdém. Diferente dela, que tinha certeza que estava segura, seu pai andava de um lado para o outro como um bichinho encurralado. Aproveitou aquele tempo sozinhos, para dizer ao pai como deveria agir: Como um pobre pai preocupado com sua filha agredida por um criminoso. — Sua irmã ficará ao lado daquele maldito! — Iago declarou com um misto de raiva e medo. Raiva da atitude da primogênita, tomando o partido do bandido, medo de Adriano desconfiar que Dalila mentia. — Não importa! Adriano me ama e acreditará no que digo. E temos Queiroz do nosso lado — salientou. — Queiroz faz o que o beneficia. — Continuar do nosso lado o beneficiará — indicou sem um pingo de medo a caprichosa mulher. — O que preciso é que você continue a dizer que viu Maximiliano atrás de mim, não só hoje, até antes do meu compromisso com Adriano. Iago assentiu passando as mãos nervosamente entre os fios de ca
Tranquilizado com a atitude de Adriano, em aceitar a versão de Dalila para os fatos, Iago chamou os interessados em manter o herdeiro Orleans no escuro ao escritório da viúva, de forma a alinharem suas declarações. Carmem desviou o olhar com aflição, sem saber que atitude tomar diante do que o marido pedia. Não se importava em ocultar os pecados de Dalila, mas de apontar Joana como mentirosa. Proteger uma filha, culpada do que era acusada, e difamar a outra, era errado. — O Maximiliano realmente atacou Dalila? — Questionou apertando as mãos sobre o colo. — Joana não mentiria sobre algo tão sério — murmurou Carmem, encontrando forças para interceder pela honra da primogênita. — Mentiu ao ocultar a traição de Dalila — Kassandra indicou irritada em se ver no meio da imundície dos Savoia, incluindo a nora que agora carregava seu sobrenome. — Minha filha pecou por omissão e a meu pedido — confessou. — O Gonzalez é um criminoso de longa fama, como pode duvidar da palavra de sua própria
Logo cedo à aglomeração em frente à prisão de Sanmarino iniciou assim que correu no porto a informação da prisão de Maximiliano Gonzalez. Havia ali diversos tipos de pessoas: Do mais humilde até alguns com situação financeira proeminente; solteiras e discretas mulheres casadas; dos amigos aos desafetos. Todos desejavam saber os motivos da detenção e quanto tempo o ex-contrabandista passaria atrás das grades. Abrindo caminho entre a multidão, com Donato seguindo ao seu lado, Joana caminhava decidida a entrar na cadeia e apoiar o noivo. Tinham impedido sua passagem na noite anterior, mas agora não havia motivos para fazê-lo. Precisava vê-lo e ajuda-lo a retornar para casa. Ao chegar próximo à antiga construção de pedras, foi barrada por uma espécie de cordão humano feito pelos guardas de Sanmarino para conter a população de curiosos e revoltosos, impedindo-os de ultrapassar o portão. — Sou Joana Gonzalez, noiva de Maximiliano — anunciou. — Quero ver meu noivo. Ao seu lado, Donato me
Preso na última cela da prisão, Maximiliano encontrava-se sentado próximo as grades, atento a qualquer movimentação no corredor, embora desde que chegou pouco se podia ver e ouvir. A fortificação tinha poucos presos, visto que poucos crimes eram cometidos. Alguns só estavam e permaneciam ali por causa do abuso de autoridade de Queiroz. Nisso ele se incluía. — Guarda! — Maximiliano chamou ao notar um homem ao longe. — Tenho direito a falar com meu advogado e até agora não o vi. Quero falar com o Queiroz e exigir que chame Donato — gritou para o guarda no fim do corredor, que permanecia em silêncio. Aborrecido pela falta de resposta, encostou as costas na parede, o rosto de encontro às grades. Passou a noite em claro, remoendo seu descuido. Deveria ter se afastado de Dalila assim que ela apareceu na área descrita como de pouca movimentação, e que os patrões nunca iam, segundo Gabriel. Tolamente caiu na armadilha dela, claramente montada junto com Queiroz e talvez com o pai dela, que e
Tendo adiado a partida para a cidade depois do almoço, antecipando que ficariam longe da fazenda o restante do dia, Adriano passou rapidamente pelo campo para verificar como andavam os trabalhos. Ao voltar a entrar no quarto de casal não se surpreendeu com o que encontrou. As cortinas e as janelas estavam abertas, deixando passar o frescor da manhã, mas nada disso moveu sua mulher do leito. Continuava encolhida debaixo das cobertas. — Como se sente? — Adriano perguntou ao sentar ao lado dela na cama. — Igual — Dalila murmurou tristonha. Com a ponta do polegar, Adriano acariciou as olheiras escuras nos olhos inchados de sua esposa, deslizando-o pelo rastro molhado que seguia até a bochecha pálida. — Tem estado chorando. — Não consigo esquecer o horror que passei... — Prometo que ele nunca mais se aproximará de você. — Abraçou a esposa, acalentando seu corpo. Embora Maximiliano carregasse a maior parcela de culpa, tinha sido ele que possibilitou o ataque sofrido por Dalila. Talve
Escoltados por Tarcísio, Dalila e Adriano abriram passo pela multidão cercando a cadeia e, chegando à muralha imposta pelos guardas, o capataz dos Orleans abordou um dos oficiais que não deixavam ninguém passar. — Esses são o senhor e a senhora Orleans! — declarou apontando para o casal altivo, usando a posição social dos patrões para ser escutado e rapidamente atendido. — Exigem falar com o delegado Queiroz. Como imaginado, diante do poder de influência dos Orleans para conseguir o que desejavam, o homem atendeu a solicitação, indicando aos colegas que abrissem passagem. Sem ter o que fazer, e sabendo que maior que a posição dos Orleans, que facilitariam por si só o acesso, a jovem abraçada ao herdeiro de Recanto Dourado testemunharia contra o famoso preso na instalação, o guarda obediente se limitou a indicar o caminho até a sala do delegado. Deixando-os um segundo na antessala, o homem entrou na sala e depois saiu lhe dando passagem. O casal entrou na sala e encarou Queiroz, em