Ouvindo o jipe de Maximiliano se afastar, parada no mesmo lugar com o colar que deixou ele furioso pressionado na palma de sua mão, Joana tentou compreender como o objeto desencadeou tamanha raiva em seu noivo. Porém, ao contrário de tudo que sua mente perturbada desejava, Joana seguiu pelas veredas de seu coração magoado minutos antes de entrar naquela cabana. Sentou na cama e abriu a mão, expondo o camafeu que prejudicou seu noivado, enquanto sua mente se movia para o motivo que iniciou o relacionamento: Dalila. Sua irmã que a visitou no trabalho com revelações dolorosas sobre seu noivado. ~ Depois de ouvir sua irmã afirmar que Maximiliano queria prender Kassandra, foi acometida por um riso descrente. — Essa é a mentira que acha que acabará com meu noivado? Se esforce mais da próxima vez — disse desdenhosa. — Ouvi de uma pessoa próxima a ele e aquele grupo de marginais... — Não fale assim dos meus amigos — Joana a cortou. Dalila carregou a face com um sorriso plastificado. —
Incerto de em que lugar engolir sua frustração, Maximiliano optou por seguir o planejado para aquele dia. Como perdeu a manhã e grande parte da tarde com as irmãs Savoia, foi para o escritório de Donato resolver o que faltava para legalizar seu negócio e comprar os bens planejados para mudar de vida. Subiu com passadas largas a escadaria de pedra que levava a parte da frente, onde o advogado instalou seu pequeno escritório, e ao tocar a campainha da residência do Herrera, martelava em sua mente se valia a pena todo o esforço, agora que Joana também se mostrou falsa e ardilosa como a irmã. Quem garantia que não o trairia como Dalila fez? Suas batidas fortes na porta foram rapidamente atendidas pelo Herrera. O advogado lhe deu passagem, guiando-o até uma cadeira, antes de sentar-se e receber a pasta estendida pelo Gonzalez. — Boa tarde, Donato! Vim saber como está o processo para minha tão esperada vida de homem de bem — explicou acomodando-se. O tom carregado de sarcasmo não passou
Assobios ecoaram no salão, todos os olhos se voltaram para a escada que levava a entrada do bar, por onde Joana descia de cabeça erguida, embora seus receosos olhos e sua palidez deixassem evidente o desconforto. Atônico com a ousadia da noiva do Gonzalez, Beto ergueu-se e aproximou-se dela. — Joana, o que faz aqui? — Estou à procura do Max — ela respondeu puxando a barra da manga de sua blusa de frio. — Ele está aqui? — Não! Saiu a mais de duas horas. — Ah... — murmurou chegando à conclusão que ele saiu dali para bombardeá-la com acusações e depois sumiu. — Nós discutimos e achei que ele estaria aqui... Talvez esteja no Diablo... Moveu-se para retornar e ir para o porto, mas Lucas a deteve. — Nesse horário as ruas são perigosas. — Não deveria nem ter vindo aqui. O capitão se irritará se souber que andou sozinha por essas ruas — Beto sinalizou e em busca de uma escapatória benéfica para todos questionou: — Telefonou pra ele? — Ele não me atende — respondeu envergonhada. — Co
Na cozinha do bar Crista do Mar, Margô observava Maria lavando a pilha de copos que tinha recolhido instantes antes. — Porque não vem comigo para a casa que Maximiliano vai comprar? — Margô sugeriu para Maria. — Lógico que terá de trabalhar, fazer a limpeza ou algo assim, mas estará ao meu lado. E ele está muito grato pelo seu auxílio com o que houve... naquele lugar. — Pensarei a respeito — Maria disse sem deixar sua tarefa de lado e não querendo falar sobre como se conheceram. Estava grata pelo dinheiro dado pelo Gonzalez como agradecimento, e o trabalho no Crista do Mar a agradava, por ter maior proteção contra qualquer tentativa de Queiroz ou Tarcísio em sequestra-la de novo. Pensava comprar uma casinha, mas por enquanto, morar ali a agradava. — Com isso também ficará mais protegida — Margô prometeu, alertando para terror de Maria: — Maximiliano me disse que o Salão Real ainda está em funcionamento e Tarcísio está caçando as garotas que fugiram. A porta se abriu, o que fez Mar
Beto retornou apressado ao salão, porém não a tempo de impedir o que acontecia no segundo piso. Ao voltar para o salão foi avisado da conversa entre Margô e Joana, junto com as primeiras e comprometedoras declarações. Tentou ligar para Maximiliano, mas não obteve retorno e suas mensagens apareciam como não lidas. Cristiano, pensando em dar ao grupo privacidade caso Maximiliano fosse para o bar, fechou o estabelecimento e com a ajuda dos amigos retirou os clientes restantes. Preocupados com o quanto Margô sabia, mesmo eles nunca tendo incluído a jovem nas conversas, aguardaram as duas mulheres voltarem ao salão. A primeira a descer foi Margô, que ignorou o chamado de todos do grupo e sumiu pela porta de acesso para a cozinha. Gilberto e Baltasar foram atrás dela, verificar o tamanho do problema que a jovem causou. Lançou um olhar agradecido aos amigos, esperando que Margô tivesse contado somente coisas superficiais, embora Maximiliano fosse ficar uma fera de qualquer forma. Pouco de
Limpando as mesas do salão do Crista do Mar, Maria observava a porta da cozinha, em que quase todos do grupo de Maximiliano Gonzalez cercavam Margô de perguntas e recriminações. O único que ficou de fora era o dono do bar, Cristiano Silva parecia mais interessado em ajudá-la na limpeza do que ficar do lado ou contra Margô. Pelo pouco que escutou, quando Gilberto e Baltasar entraram na cozinha atrás dela, Margô falou algo para Joana que tinha o poder de destruir o casamento de Maximiliano. Pelo clima tenso circulando no bar, tudo indicava que obtivera sucesso em macular o relacionamento do casal. — Foi grave o que Margô fez? — Questionou quando ele começou a colocar as cadeiras em cima de uma mesa próxima. — O suficiente para destruir não só o futuro casamento do capitão, como também movimentações estratégicas dele — respondeu Cristiano com desconforto por parecer crítico a amiga, que enxergava como uma irmã menor. Tinham um passado de pobreza e maltrato semelhantes em muitos pontos,
Precisando de um pouco de ar marítimo para amenizar a aflição que o dominava, no lugar de seguir direto para sua cabana, dirigiu até a praia. Descendo do jipe, caminhou aproveitando o ar fresco do anoitecer acariciando sua pele, os sons do mar acalmando seu coração. Sentou na areia, num ponto em que a água salgada molhava seus pés. Com os olhos perdidos no movimento furioso das águas contra as rochas mais adiante, lamentou a situação em que estava. Aquele dia começou tão bem, cheio de planos e esperança para o futuro... Planos e esperança que incluíam uma mulher apaixonada por outro, pelo filho de sua maior inimiga. Planos e esperança que alimentava enquanto ela desejava outro em seu lugar. “Sempre será meu único amor”. O Gonzalez soltou um resmungo, os dedos passando impacientes pelos fios negros, então, inesperadamente relaxou jogando o corpo para trás, os olhos se perdendo no céu estrelado. O amargor subiu por sua garganta, aglomerando-se como uma bola de canhão. Não adiantava
Uma sensação indefinível fluiu de seu peito, vibrou por cada parte de seu corpo até sair por seus lábios em forma de palavras: — O que significa isso? Estando a horas aguardando a chegada de Maximiliano, Joana ergueu-se da poltrona assim que ouviu o barulho da chave destrancando a porta, correndo para se posicionar ao lado da sua mala bem em frente a entrada. A demora de Maximiliano proporcionou tempo para pensar, repensar e tomar uma direção diante de tudo que escutou nas últimas horas. O silêncio quebrado pelas ondas do mar, a fez pensar nos dias em alto mar, como era mais simples levar sua relação com Maximiliano. Também se lembrando do que sua mãe disse certa vez, sobre os homens poderem fazer o que bem quisessem e as mulheres aceitarem as migalhas que lhes fosse lançada. Não suportaria seguir a vida assim. — É a minha mala, que preencherei com as minhas roupas dependendo do resultado da nossa conversa — ditou o mais firme que conseguia em meio às batidas frenéticas que ecoavam