Limpando as mesas do salão do Crista do Mar, Maria observava a porta da cozinha, em que quase todos do grupo de Maximiliano Gonzalez cercavam Margô de perguntas e recriminações. O único que ficou de fora era o dono do bar, Cristiano Silva parecia mais interessado em ajudá-la na limpeza do que ficar do lado ou contra Margô. Pelo pouco que escutou, quando Gilberto e Baltasar entraram na cozinha atrás dela, Margô falou algo para Joana que tinha o poder de destruir o casamento de Maximiliano. Pelo clima tenso circulando no bar, tudo indicava que obtivera sucesso em macular o relacionamento do casal. — Foi grave o que Margô fez? — Questionou quando ele começou a colocar as cadeiras em cima de uma mesa próxima. — O suficiente para destruir não só o futuro casamento do capitão, como também movimentações estratégicas dele — respondeu Cristiano com desconforto por parecer crítico a amiga, que enxergava como uma irmã menor. Tinham um passado de pobreza e maltrato semelhantes em muitos pontos,
Precisando de um pouco de ar marítimo para amenizar a aflição que o dominava, no lugar de seguir direto para sua cabana, dirigiu até a praia. Descendo do jipe, caminhou aproveitando o ar fresco do anoitecer acariciando sua pele, os sons do mar acalmando seu coração. Sentou na areia, num ponto em que a água salgada molhava seus pés. Com os olhos perdidos no movimento furioso das águas contra as rochas mais adiante, lamentou a situação em que estava. Aquele dia começou tão bem, cheio de planos e esperança para o futuro... Planos e esperança que incluíam uma mulher apaixonada por outro, pelo filho de sua maior inimiga. Planos e esperança que alimentava enquanto ela desejava outro em seu lugar. “Sempre será meu único amor”. O Gonzalez soltou um resmungo, os dedos passando impacientes pelos fios negros, então, inesperadamente relaxou jogando o corpo para trás, os olhos se perdendo no céu estrelado. O amargor subiu por sua garganta, aglomerando-se como uma bola de canhão. Não adiantava
Uma sensação indefinível fluiu de seu peito, vibrou por cada parte de seu corpo até sair por seus lábios em forma de palavras: — O que significa isso? Estando a horas aguardando a chegada de Maximiliano, Joana ergueu-se da poltrona assim que ouviu o barulho da chave destrancando a porta, correndo para se posicionar ao lado da sua mala bem em frente a entrada. A demora de Maximiliano proporcionou tempo para pensar, repensar e tomar uma direção diante de tudo que escutou nas últimas horas. O silêncio quebrado pelas ondas do mar, a fez pensar nos dias em alto mar, como era mais simples levar sua relação com Maximiliano. Também se lembrando do que sua mãe disse certa vez, sobre os homens poderem fazer o que bem quisessem e as mulheres aceitarem as migalhas que lhes fosse lançada. Não suportaria seguir a vida assim. — É a minha mala, que preencherei com as minhas roupas dependendo do resultado da nossa conversa — ditou o mais firme que conseguia em meio às batidas frenéticas que ecoavam
A frieza da declaração fez o sofrimento atravessando Joana duplicar. Percebeu que era fraca, inútil e insípida para Maximiliano como tantas vezes sua irmã declarou para humilhá-la. Engoliu a seco, mas sustentou um rastro de orgulho ao inclinar-se para pegar a mala. Inesperadamente Maximiliano cobriu sua mão com a dele, fechando os dedos em volta e a movendo para longe da mala, impedindo-a de prosseguir. Maximiliano se aproximou ainda mais, levando suas mãos unidas até o próprio peito, na altura do coração. — Eu te amo, Joana, mais do que achei ser possível. Não quero que vá, mas não posso deixar Kassandra impune — explicou terno, atingido pelo medo de perdê-la sem expor todos os seus motivos. — Essa mulher, que você tem tanta consideração, matou minha família, me perseguiu durante anos e só está mansa nesse momento para proteger o filho. — Está pensando com ódio e teorias maldosas — retrucou, mesmo incerta, pois até sua mãe parecia acreditar nas teorias. Mas precisava afastar aque
Os raios de sol atravessavam a cortina fina da janela do quarto, os filetes deslizando até o casal abraçado na cama, fazendo Maximiliano observar fascinado o contraste contra a face acetinada a poucos centímetros da sua. Afastou uma mecha que caia sobre as pestanas longas e grossas, bonitas como cada detalhe de sua noiva. Beijou de leve a ponta do nariz arredondado, deslizando o seu por ele e pela bochecha macia. Ela tinha demorado a dormir, ainda impactada por tudo que descobriu dos parentes, fazendo perguntas, mas sem insistir em justificativas ou procurar desculpas para o comportamento da madrinha como fazia antes. Seus carinhos a acordou, os olhos piscando alguns segundos até as brilhantes e bonitas íris azuladas focarem os orbes negros. Em silêncio, Joana tratava de conter os latidos de seu coração ao vislumbrar o noivo sorrir charmoso. — Bom dia...! — Joana soltou rouca pelo sono recente. — É sempre bom ao seu lado. Ele puxou para perto, envolvendo a cintura dela com um br
Depois de um jantar silencioso na casa dos Savoia, algo raro quando se tratava de estar no mesmo ambiente de Dalila, Carmem se retirou sem esperança do marido retornar a casa. No entanto, ele retornou, cheirando a álcool, cigarros e perfume barato. Mesmo enojada, Carmem cedeu às vontades do marido, agradecendo quando ele dormiu em seguida, a deixando em paz o restante da noite e a manhã. Desceu para encontrar a filha mais nova na mesa do café. O mutismo e a carranca na face da jovem não eram normais. Temia o significado disso. Dalila nunca foi do tipo reservada, mas estava evidentemente maquinando uma das suas. Uma fonte constante de preocupação para a matriarca Savoia. Seu marido entrou na sala de jantar com a expressão aborrecida, como sempre desde que Joana noivou com Maximiliano. Observou que estava de banho tomado. — Vai trabalhar? — Não. Prefiro continuar fugindo. — Fugindo? — A quem tenta enganar? É o que me restou fazer e, embora odeie isso, é melhor que andar de cabeça
Mesmo tendo de voltar a Recanto Dourado, para convencer sua sogra a pagar o valor cobrado pelo chantagista, Dalila também estava ansiosa em colher os frutos de sua tramoia para azedar o compromisso de Joana. — Reclamou com ele? — Não é da sua conta — Joana respondeu sem retirar a atenção da planilha em que trabalhava. — Deveria arranjar um trabalho também, pra não perturbar os dos outros. — Você é minha irmã e me importo com sua felicidade. Joana encarou Dalila com atenção, reprovando seu cinismo. No dia anterior estivera tão enojada com as revelações sobre as intenções de Maximiliano que só agora percebia que o interesse de Dalila nunca foi proteger a família. E, por causa das intrigas dela, passou pela descoberta mais constrangedora de sua vida, de que a mulher que tanto adorava, que enxergava como uma mãe, era cruel e não praticava nada do que cobrava dos demais. — Basta de fingir, Dalila! Cansei de suportar suas mentiras e veneno! — Joana disse firme e com tom moderado para nã
Atendendo o chamado de Carmem após, e imaginando o possível motivo do convite, Joana seguiu do trabalho direto para a casa de seus pais. Para seu alívio, Dalila partiu para Recanto Dourado, como tinha avisado de manhã, tornando-se menos um problema atormentando-a. — Pedi para Paula nos trazer chocolate quente e biscoitos — Carmem disse sentando a sua frente e apontando uma bandeja com pãezinhos caramelados. — Como está a vida ao lado do seu noivo? — Bem. Donato já finalizou a legalização e Maximiliano está à procura da casa em que moraremos após casar — contou transbordando de orgulho do marido e felicidade. Esfregando as mãos nervosamente em sua coxa, Carmem assentia e soltava sons imprecisos a tudo que Joana dizia sobre os planos futuros, como se a escutasse quando só ouvia os próprios temores. Depois da carta ameaçadora, tinha decidido alertar a filha mais velha. Caso o pior ocorresse, sua filha necessitaria estar atenta e impedir qualquer situação que prejudicasse a família. Me