A descrição de Dalila para a joia, que carregava uma foto e declaração de amor de Joana para Adriano Orleans, dava voltas na mente de Maximiliano, lembrando-o do colar que ficou meses em seu poder até devolver, inocentemente, para sua noiva. Joana nunca contou que o pingente se abria, e muito menos o que havia em seu interior. — Eu te amo muito Maximiliano — Dalila declarou apaixonada, ignorando o distanciamento imposto pelo ex-amante. — Pra mim nunca haverá outro como você. Palavras semelhantes às que Joana tinha declarado diversas vezes nos últimos dias. — Fique longe de mim! — Com brusquidão Maximiliano se livrou do abraço de Dalila. — Vá embora! Fora! — Trovejou. — Maximiliano... Sabe que é você que eu amo. — Levou a mão até o peito do Gonzalez, mas antes que pudesse tocá-lo teve o pulso segurado e repelido. — Casar com Joana só para me fazer ciúme é uma loucura e desnecessário. — Argumentou, supondo ser esse o motivo da frieza masculina. Um mínimo sorriso sarcástico brincou
Maximiliano saiu do escritório improvisado a passos largos, descendo as escadas velozmente e passando direto pelos amigos que bebiam junto ao balcão, saindo em disparada para fora do bar, sem nem dirigir um olhar ou palavra para qualquer um em seu caminho. — Maximiliano? Maximiliano? — Beto chamou sem obter resposta. — Bem, seja lá o que Dalila falou, foi grave — comentou Lucas coçando o queixo. — É melhor ninguém atravessar o caminho do capitão. Todos ali tinham ouvido a quebradeira no piso superior e, visto que instante antes Dalila passou com a mesma ligeireza, imaginaram que algo dito por ela causará a reação furiosa do capitão. — O que será que ela disse de tão grave? — Cristiano questionou do outro lado do balcão, imaginando que o caos causado no cômodo do piso superior não era nem metade do que dominava o Gonzalez. — Só espero que não seja nada contra a capitã — disse Beto com preocupação. — Devíamos ir atrás dele... — Para que? Concentrados em teorizar o que causou a saí
Chegando à cabana, Joana sentia a humilhação subir como fogo por sua garganta. Com a bolsa apertada embaixo do braço seguiu para o quarto, planejando tomar um banho antes da chegada de Maximiliano e a discussão que teriam. Levou um pequeno susto ao encontra-lo sentado no chão, às mãos no colo e a cabeça baixa. Parecia dormir. Imediatamente esquecida de sua intenção inicial, agachou-se, os joelhos pousando no chão e a mão tocando-o no ombro. — Max...?! — Chamou com o rosto ficando a centímetros dele. — Max, está bem? Maximiliano ergueu o rosto, nos olhos negros brilhava a mágoa da traição, a mesma que dominando seu corpo como labaredas cáusticas. — Por que mentiu pra mim? — Maximiliano urrou como uma fera pronta para o ataque, fazendo Joana recuar instintivamente. — Como pode me dizer que me ama, quando todo tempo estava pensando naquele imbecil? — Do que está falando?! — Pare de bancar a inocente! — Ele exigiu, cada músculo tenso pelo autocontrole que se exigia para não chacoalha
Ouvindo o jipe de Maximiliano se afastar, parada no mesmo lugar com o colar que deixou ele furioso pressionado na palma de sua mão, Joana tentou compreender como o objeto desencadeou tamanha raiva em seu noivo. Porém, ao contrário de tudo que sua mente perturbada desejava, Joana seguiu pelas veredas de seu coração magoado minutos antes de entrar naquela cabana. Sentou na cama e abriu a mão, expondo o camafeu que prejudicou seu noivado, enquanto sua mente se movia para o motivo que iniciou o relacionamento: Dalila. Sua irmã que a visitou no trabalho com revelações dolorosas sobre seu noivado. ~ Depois de ouvir sua irmã afirmar que Maximiliano queria prender Kassandra, foi acometida por um riso descrente. — Essa é a mentira que acha que acabará com meu noivado? Se esforce mais da próxima vez — disse desdenhosa. — Ouvi de uma pessoa próxima a ele e aquele grupo de marginais... — Não fale assim dos meus amigos — Joana a cortou. Dalila carregou a face com um sorriso plastificado. —
Incerto de em que lugar engolir sua frustração, Maximiliano optou por seguir o planejado para aquele dia. Como perdeu a manhã e grande parte da tarde com as irmãs Savoia, foi para o escritório de Donato resolver o que faltava para legalizar seu negócio e comprar os bens planejados para mudar de vida. Subiu com passadas largas a escadaria de pedra que levava a parte da frente, onde o advogado instalou seu pequeno escritório, e ao tocar a campainha da residência do Herrera, martelava em sua mente se valia a pena todo o esforço, agora que Joana também se mostrou falsa e ardilosa como a irmã. Quem garantia que não o trairia como Dalila fez? Suas batidas fortes na porta foram rapidamente atendidas pelo Herrera. O advogado lhe deu passagem, guiando-o até uma cadeira, antes de sentar-se e receber a pasta estendida pelo Gonzalez. — Boa tarde, Donato! Vim saber como está o processo para minha tão esperada vida de homem de bem — explicou acomodando-se. O tom carregado de sarcasmo não passou
Assobios ecoaram no salão, todos os olhos se voltaram para a escada que levava a entrada do bar, por onde Joana descia de cabeça erguida, embora seus receosos olhos e sua palidez deixassem evidente o desconforto. Atônico com a ousadia da noiva do Gonzalez, Beto ergueu-se e aproximou-se dela. — Joana, o que faz aqui? — Estou à procura do Max — ela respondeu puxando a barra da manga de sua blusa de frio. — Ele está aqui? — Não! Saiu a mais de duas horas. — Ah... — murmurou chegando à conclusão que ele saiu dali para bombardeá-la com acusações e depois sumiu. — Nós discutimos e achei que ele estaria aqui... Talvez esteja no Diablo... Moveu-se para retornar e ir para o porto, mas Lucas a deteve. — Nesse horário as ruas são perigosas. — Não deveria nem ter vindo aqui. O capitão se irritará se souber que andou sozinha por essas ruas — Beto sinalizou e em busca de uma escapatória benéfica para todos questionou: — Telefonou pra ele? — Ele não me atende — respondeu envergonhada. — Co
Na cozinha do bar Crista do Mar, Margô observava Maria lavando a pilha de copos que tinha recolhido instantes antes. — Porque não vem comigo para a casa que Maximiliano vai comprar? — Margô sugeriu para Maria. — Lógico que terá de trabalhar, fazer a limpeza ou algo assim, mas estará ao meu lado. E ele está muito grato pelo seu auxílio com o que houve... naquele lugar. — Pensarei a respeito — Maria disse sem deixar sua tarefa de lado e não querendo falar sobre como se conheceram. Estava grata pelo dinheiro dado pelo Gonzalez como agradecimento, e o trabalho no Crista do Mar a agradava, por ter maior proteção contra qualquer tentativa de Queiroz ou Tarcísio em sequestra-la de novo. Pensava comprar uma casinha, mas por enquanto, morar ali a agradava. — Com isso também ficará mais protegida — Margô prometeu, alertando para terror de Maria: — Maximiliano me disse que o Salão Real ainda está em funcionamento e Tarcísio está caçando as garotas que fugiram. A porta se abriu, o que fez Mar
Beto retornou apressado ao salão, porém não a tempo de impedir o que acontecia no segundo piso. Ao voltar para o salão foi avisado da conversa entre Margô e Joana, junto com as primeiras e comprometedoras declarações. Tentou ligar para Maximiliano, mas não obteve retorno e suas mensagens apareciam como não lidas. Cristiano, pensando em dar ao grupo privacidade caso Maximiliano fosse para o bar, fechou o estabelecimento e com a ajuda dos amigos retirou os clientes restantes. Preocupados com o quanto Margô sabia, mesmo eles nunca tendo incluído a jovem nas conversas, aguardaram as duas mulheres voltarem ao salão. A primeira a descer foi Margô, que ignorou o chamado de todos do grupo e sumiu pela porta de acesso para a cozinha. Gilberto e Baltasar foram atrás dela, verificar o tamanho do problema que a jovem causou. Lançou um olhar agradecido aos amigos, esperando que Margô tivesse contado somente coisas superficiais, embora Maximiliano fosse ficar uma fera de qualquer forma. Pouco de