Assim que Paula confirmou que a levaria ao endereço em que encontraria Maximiliano, abandonando sua antiga estratégia de usar disfarces, Dalila preparou-se para seduzir e fazê-lo abandonar os planos de casar com Joana. Arrumou-se com esmero, prendendo o longo cabelo acobreado em coque frouxo, com cachos soltos destacando sua nuca e pescoço, para lembra-lo do quanto ele gostava de beijar aquela parte de sua anatomia. A escolha da roupa também foi feita para atrai-lo. Na noite anterior separou um vestido pêssego de alcinhas que marcava sua cintura, com o decote em v que realçava as curvas de seus seios e que acabava bem antes de seus joelhos, deixando as longas pernas à mostra, na esperança que ele lembrasse como era tê-las em volta dele. E caprichou na maquiagem, aplicando nos lábios batom vermelho, deixando-os carnudos e convidativos. Tudo para Maximiliano pensar nas tardes e noites que passaram entregues a paixão. Para não despertar suspeitas, incluiu uma jaqueta com capuz largo,
Finalizando a limpeza de um dos quartos que Cristiano alugava para os bêbados que se sentiam incapaz de retornar para casa, Margô viu o dono do Crista do Mar levar uma mulher para o quarto do capitão Gonzalez. Como estava atrás dele, não conseguiu ver quem era. Curiosa, no lugar de se unir a Maria para verificar as tarefas restantes, entrou no quarto e por uma fresta observou o corredor, decidindo aguardar. A decisão se mostrou acertada quando Lucas, Beto e Cristiano se afastaram do quarto conversando e expondo que a mulher no quarto não era a noiva do capitão. Sem que os três notassem, Margô os ouviu claramente enquanto caminhavam pelo corredor. — Ela ainda é amante dele? — Cristiano perguntou. — Não — Beto e Lucas responderam ao mesmo tempo. — Então o que Dalila faz aqui? — Acho que quer voltar pro capitão — Lucas deduziu. — Trair o marido e a irmã? — Cristiano espantou-se — Ela foi capaz de trair o capitão. Dessa ai não espero nada de bom — Lucas disse enojado. — Só espero
A descrição de Dalila para a joia, que carregava uma foto e declaração de amor de Joana para Adriano Orleans, dava voltas na mente de Maximiliano, lembrando-o do colar que ficou meses em seu poder até devolver, inocentemente, para sua noiva. Joana nunca contou que o pingente se abria, e muito menos o que havia em seu interior. — Eu te amo muito Maximiliano — Dalila declarou apaixonada, ignorando o distanciamento imposto pelo ex-amante. — Pra mim nunca haverá outro como você. Palavras semelhantes às que Joana tinha declarado diversas vezes nos últimos dias. — Fique longe de mim! — Com brusquidão Maximiliano se livrou do abraço de Dalila. — Vá embora! Fora! — Trovejou. — Maximiliano... Sabe que é você que eu amo. — Levou a mão até o peito do Gonzalez, mas antes que pudesse tocá-lo teve o pulso segurado e repelido. — Casar com Joana só para me fazer ciúme é uma loucura e desnecessário. — Argumentou, supondo ser esse o motivo da frieza masculina. Um mínimo sorriso sarcástico brincou
Maximiliano saiu do escritório improvisado a passos largos, descendo as escadas velozmente e passando direto pelos amigos que bebiam junto ao balcão, saindo em disparada para fora do bar, sem nem dirigir um olhar ou palavra para qualquer um em seu caminho. — Maximiliano? Maximiliano? — Beto chamou sem obter resposta. — Bem, seja lá o que Dalila falou, foi grave — comentou Lucas coçando o queixo. — É melhor ninguém atravessar o caminho do capitão. Todos ali tinham ouvido a quebradeira no piso superior e, visto que instante antes Dalila passou com a mesma ligeireza, imaginaram que algo dito por ela causará a reação furiosa do capitão. — O que será que ela disse de tão grave? — Cristiano questionou do outro lado do balcão, imaginando que o caos causado no cômodo do piso superior não era nem metade do que dominava o Gonzalez. — Só espero que não seja nada contra a capitã — disse Beto com preocupação. — Devíamos ir atrás dele... — Para que? Concentrados em teorizar o que causou a saí
Chegando à cabana, Joana sentia a humilhação subir como fogo por sua garganta. Com a bolsa apertada embaixo do braço seguiu para o quarto, planejando tomar um banho antes da chegada de Maximiliano e a discussão que teriam. Levou um pequeno susto ao encontra-lo sentado no chão, às mãos no colo e a cabeça baixa. Parecia dormir. Imediatamente esquecida de sua intenção inicial, agachou-se, os joelhos pousando no chão e a mão tocando-o no ombro. — Max...?! — Chamou com o rosto ficando a centímetros dele. — Max, está bem? Maximiliano ergueu o rosto, nos olhos negros brilhava a mágoa da traição, a mesma que dominando seu corpo como labaredas cáusticas. — Por que mentiu pra mim? — Maximiliano urrou como uma fera pronta para o ataque, fazendo Joana recuar instintivamente. — Como pode me dizer que me ama, quando todo tempo estava pensando naquele imbecil? — Do que está falando?! — Pare de bancar a inocente! — Ele exigiu, cada músculo tenso pelo autocontrole que se exigia para não chacoalha
Ouvindo o jipe de Maximiliano se afastar, parada no mesmo lugar com o colar que deixou ele furioso pressionado na palma de sua mão, Joana tentou compreender como o objeto desencadeou tamanha raiva em seu noivo. Porém, ao contrário de tudo que sua mente perturbada desejava, Joana seguiu pelas veredas de seu coração magoado minutos antes de entrar naquela cabana. Sentou na cama e abriu a mão, expondo o camafeu que prejudicou seu noivado, enquanto sua mente se movia para o motivo que iniciou o relacionamento: Dalila. Sua irmã que a visitou no trabalho com revelações dolorosas sobre seu noivado. ~ Depois de ouvir sua irmã afirmar que Maximiliano queria prender Kassandra, foi acometida por um riso descrente. — Essa é a mentira que acha que acabará com meu noivado? Se esforce mais da próxima vez — disse desdenhosa. — Ouvi de uma pessoa próxima a ele e aquele grupo de marginais... — Não fale assim dos meus amigos — Joana a cortou. Dalila carregou a face com um sorriso plastificado. —
Incerto de em que lugar engolir sua frustração, Maximiliano optou por seguir o planejado para aquele dia. Como perdeu a manhã e grande parte da tarde com as irmãs Savoia, foi para o escritório de Donato resolver o que faltava para legalizar seu negócio e comprar os bens planejados para mudar de vida. Subiu com passadas largas a escadaria de pedra que levava a parte da frente, onde o advogado instalou seu pequeno escritório, e ao tocar a campainha da residência do Herrera, martelava em sua mente se valia a pena todo o esforço, agora que Joana também se mostrou falsa e ardilosa como a irmã. Quem garantia que não o trairia como Dalila fez? Suas batidas fortes na porta foram rapidamente atendidas pelo Herrera. O advogado lhe deu passagem, guiando-o até uma cadeira, antes de sentar-se e receber a pasta estendida pelo Gonzalez. — Boa tarde, Donato! Vim saber como está o processo para minha tão esperada vida de homem de bem — explicou acomodando-se. O tom carregado de sarcasmo não passou
Assobios ecoaram no salão, todos os olhos se voltaram para a escada que levava a entrada do bar, por onde Joana descia de cabeça erguida, embora seus receosos olhos e sua palidez deixassem evidente o desconforto. Atônico com a ousadia da noiva do Gonzalez, Beto ergueu-se e aproximou-se dela. — Joana, o que faz aqui? — Estou à procura do Max — ela respondeu puxando a barra da manga de sua blusa de frio. — Ele está aqui? — Não! Saiu a mais de duas horas. — Ah... — murmurou chegando à conclusão que ele saiu dali para bombardeá-la com acusações e depois sumiu. — Nós discutimos e achei que ele estaria aqui... Talvez esteja no Diablo... Moveu-se para retornar e ir para o porto, mas Lucas a deteve. — Nesse horário as ruas são perigosas. — Não deveria nem ter vindo aqui. O capitão se irritará se souber que andou sozinha por essas ruas — Beto sinalizou e em busca de uma escapatória benéfica para todos questionou: — Telefonou pra ele? — Ele não me atende — respondeu envergonhada. — Co