Sombras do Passado

Capítulo 2: Sombras do Passado

O céu do Kansas estava tingido de um tom laranja vibrante, enquanto o sol lentamente desaparecia por trás das colinas distantes. A paisagem parecia tranquila, quase intocada, mas o coração de Logan Carter estava longe de encontrar a paz. Ele caminhava lentamente pela varanda da casa de campo que servia como seu refúgio temporário, uma propriedade afastada da cidade, longe dos holofotes e da tensão que ele sabia estar à espreita.

Era ali, naquela imensidão silenciosa, que ele costumava se perder em seus próprios pensamentos. Mas hoje, sua mente estava longe. Sarah Bennett. A jovem que ele viu na estrada naquele dia, tão simples, tão diferente de tudo o que ele conhecia. O que ele sentia por ela era inexplicável, como uma conexão profunda que não deveria existir. Como se a conhecesse há muito tempo.

Ele não acreditava em coincidências. E a maneira como ela o tocou – não fisicamente, mas algo em sua alma – o deixou inquieto. Algo nela o lembrava de algo… alguém. Sua mente retornou a um tempo distante, um lugar que ele tinha enterrado, um passado que ele preferia manter nas sombras.

Há muitos anos, quando Logan era apenas um garoto, ele havia perdido o amor de sua vida. Madeline. Ela foi sequestrada, arrancada de sua vida sem qualquer explicação lógica. Ele ainda podia lembrar com clareza do dia em que ela desapareceu – a sensação de impotência, o desespero que tomou conta dele, a dor aguda de ver sua infância ser roubada.

Madeline não era apenas uma amiga, mas uma confidente, a primeira pessoa que ele confiou com seus sonhos e medos. A conexão que eles tinham não era apenas emocional, mas algo mais profundo, algo que transcende o que ele poderia explicar. Ela era a única pessoa que ele acreditava que o entenderia completamente. Quando ela desapareceu, ele sentiu que uma parte de sua alma se foi com ela. Nunca mais foi o mesmo.

E agora, anos depois, algo no olhar de Sarah, algo em sua postura, a fazia lembrar de Madeline. Era como se ela tivesse renascido em outra pessoa. O tom de sua pele, os olhos claros, a maneira como ela andava com um certo pesar. Não era coincidência. Ele estava certo disso.

Logan não podia ignorar aquilo.

Ele acionou seus contatos mais confiáveis e, no dia seguinte, um time de detetives particulares estava a caminho de Maplewood. Ele queria saber tudo sobre Sarah Bennett. Suas origens, sua história, seus parentes, suas amizades. Cada detalhe seria minuciosamente investigado. Logan não sabia ao certo o que estava procurando, mas sabia que não podia deixar passar.

O time de detetives foi instruído a agir discretamente. Eles não deveriam atrair atenção. A princípio, as investigações pareciam triviais – informações sobre a família de Sarah, seu emprego, seu passado escolar. Mas logo, algo curioso apareceu. A mãe de Sarah, Irene Bennett, tinha um histórico de problemas com álcool e o padrasto, Ralph, estava em sérios problemas financeiros, envolvidos com jogos de azar. Jason, seu meio-irmão, parecia ser um jovem problemático, com interesses fúteis e um comportamento que indicava uma vida sem responsabilidades.

Mas nada disso interessava a Logan naquele momento. O que ele procurava, o que ele sentia que havia em Sarah, era mais profundo.

Durante a investigação, os detetives descobriram algo interessante. Sarah havia crescido em Maplewood, em uma cidade que, até onde sabiam, não tinha nenhum vínculo direto com os acontecimentos que marcaram a vida de Logan. Mas o que os detetives não podiam prever era o quanto essa jovem parecia estar conectada a ele, de uma maneira quase sobrenatural.

Sarah, por sua parte, continuava sua vida cotidiana em meio à luta contra o peso do destino que sua família parecia ter imposto sobre ela.

Ela não sabia, mas algo estava prestes a mudar. Sem saber, ela estava no caminho de um homem que, por mais que fosse poderoso e frio, carregava um vazio profundo dentro de si – um vazio que, paradoxalmente, ela poderia ajudar a preencher.

Sarah nunca havia ouvido falar de Logan Carter, nem tinha ideia de que sua vida estava sendo vigiada. Ela estava demasiada preocupada com as dificuldades que enfrentava em casa. Seu trabalho no restaurante local, as dívidas que a afligiam, e a esperança de que, um dia, algo mudasse, eram suas únicas preocupações.

Ainda assim, havia algo diferente nela, algo que não escapava àqueles que a observavam com atenção. Ela possuía uma calma que contrastava com a turbulência de sua vida, uma fé que, mesmo testada, ainda queimava dentro dela como uma chama, frágil, mas persistente.

No entanto, o tempo de Sarah estava prestes a se cruzar com o de Logan de forma irreversível.

Na manhã seguinte, Logan foi até sua sala de estudos, um ambiente decorado com móveis escuros e pesados. O aroma de café fresco preenchia o ar, enquanto ele folheava os relatórios dos detetives. Ele lia tudo com atenção, mas nada parecia dissipar a sensação de desconforto que o invadia.

Ele olhou para a janela, onde o vento suave agitava as árvores ao redor da propriedade. A tranquilidade da natureza, longe do caos das grandes cidades, fazia-o sentir algo que não conseguia identificar. Ele sabia que estava tomando uma decisão arriscada ao se envolver de qualquer forma com Sarah. Mas ele também sabia que não poderia mais se afastar. Algo dentro dele o puxava para ela. Algo que não podia ser ignorado.

Finalmente, ele pegou o telefone e ligou para o detetive principal. A voz do detetive soou do outro lado da linha, imperturbável.

— O que encontrou? — Logan perguntou, o tom firme.

— Senhor Carter, os relatórios são intrigantes. Não conseguimos encontrar nenhum vínculo direto entre a jovem e o seu passado. Mas há algo interessante. Sarah Bennett tem uma fé muito forte. Ela é evangélica, frequentando a igreja local regularmente. Não tem amigos próximos, mas trabalha duro para sustentar a mãe, o padrasto e o meio-irmão. Ela parece estar carregando um peso muito grande.

Logan desconcertou-se por um momento. A fé da jovem, o fato de ela ser evangélica, era uma peça que ele não havia antecipado. Mas aquilo não explicava o que ele sentia. O que ele queria saber era o que fazia Sarah parecer com Madeline. Ele precisava de respostas.

— Continue investigando. Quero saber tudo sobre ela. Inclusive, quero saber de onde vem essa fé dela. Alguma conexão familiar?

O detetive assentiu.

— Certamente, senhor. Vamos continuar a investigação.

Logan desligou e olhou para a janela mais uma vez. Ele sabia que, ao tomar essa decisão, estava entrando em um território perigoso. Mas havia algo mais. Algo que ele não podia negar.

Sarah Bennett estava em seu caminho, e não havia mais como voltar atrás.

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