A noiva obsoleta do magnata Americano
A noiva obsoleta do magnata Americano
Por: Bibi D.
O peso do Destino

A manhã no Kansas se estendia como um quadro inacabado, tingido por tons dourados e azuis. O vento soprava suave, dançando com a relva alta que ondulava até onde os olhos conseguiam alcançar. O céu, profundo e límpido, parecia se unir com a terra, criando uma imensidão sem fim. O som distante de um tratores cortando o campo e o cantar das aves quebravam o silêncio sereno daquela paisagem rural.

Sarah Bennett caminhava pela estrada de terra que cortava os campos dourados. Seus passos eram firmes, mas seu coração carregava um peso imenso, quase insuportável. Ela era uma jovem de olhar profundo e sereno, mas seus olhos carregavam uma tristeza velada. O vestido simples que usava, de tecido barato e com um tom esmaecido de azul, flutuava ao vento. Sua Bíblia estava presa entre suas mãos, como se fosse uma âncora em meio ao caos que começava a tomar sua vida.

As casas ao longo da estrada estavam gastas pelo tempo, e o vento quente do Kansas assobiava por entre as fendas nas janelas. A pequena cidade de Maplewood, onde Sarah morava, parecia um refúgio isolado, sem promessas de futuros grandiosos, mas Sarah sabia que a vida ali a aprisionava. Ela sentia o peso do destino nas costas, sentia que a vida que ela sonhou um dia parecia cada vez mais distante.

A casa onde ela cresceu estava do outro lado da rua, uma construção pequena, mas marcada pela decadência. As paredes estavam rachadas e o telhado, em ruínas. O jardim antes bem cuidado, agora estava abandonado, com ervas daninhas tomando conta do espaço.

Ela entrou na casa com passos pesados. A porta rangeu ao ser aberta, revelando o ambiente mal iluminado. O cheiro de mofo e álcool era inconfundível. No sofá, sentado em uma posição desleixada, estava Ralph, seu padrasto. Ele estava absorto em mais uma partida de um jogo de azar em seu celular, sem perceber sua chegada.

Sarah suspirou e olhou para a mãe, Irene, que estava na cozinha, mexendo mecanicamente em uma panela sem muita atenção. O som do álcool sendo despejado no copo foi a única indicação de que sua mãe estava em outro de seus estados catatônicos.

— Mãe, preciso falar com você — disse Sarah, com a voz suave, mas decidida.

Irene levantou os olhos, mas seu olhar estava nublado. Ela não respondia, apenas assentiu, como se estivesse em transe. Sarah sabia que, por mais que tentasse, sua mãe nunca seria capaz de apoiá-la. A subordinação a Ralph e o vício em álcool haviam quebrado sua capacidade de lutar por si mesma.

— Sarah, não custa nada parar de reclamar — disse Ralph de forma ríspida, sem olhar para ela, ainda focado em sua tela. — Nada do que você diz vai mudar as coisas. Você sabe que a vida aqui não vai melhorar. E nem vai adiantar ficar sonhando.

— Eu não estou sonhando, Ralph! — Sarah exclamou, sentindo o fogo da raiva se acender dentro de si. — Eu não posso viver assim, com você jogando todo o dinheiro da casa fora, com a mãe afundada no álcool e o Jason pensando em baladas o tempo inteiro!

A menção de Jason, seu meio-irmão, fez com que Sarah visse sua mãe finalmente reagir. Irene colocou a garrafinha de vodka na bancada com mãos trêmulas e olhou para Sarah, mas seus olhos pareciam vazios.

Jason entrou na sala nesse momento, sorrindo, como se nada estivesse acontecendo. Ele usava uma camisa de marca, o cabelo arrumado e estava com uma expressão despreocupada, como sempre. Sarah o olhou com desgosto.

— O que foi, Sarah? Está brigando com o Ralph de novo? — Jason disse com um sorriso falso, mas cheio de desdém. — Está na hora de começar a aceitar que as coisas aqui nunca vão mudar. Eu vou para a balada mais tarde, então… não atrapalha, tá?

Sarah sentiu um nó se formar em sua garganta. Jason não se importava com nada além de seu próprio prazer. Ele só pensava em si mesmo, em aproveitar a vida, gastar dinheiro, e quando o dinheiro acabava, ele fazia mais promessas vazias de que ia mudar, que ia ajudar, mas nunca o fazia.

— Você é um egoísta, Jason. Não percebe o quanto estamos todos sufocando aqui? — Sarah respondeu, sua voz tremendo de frustração. — Um dia, você vai ver, quando o dinheiro acabar e a nossa família já estiver em pedaços, você vai se arrepender.

Jason não se importava com as palavras dela, apenas riu e saiu pela porta, como se fosse o único a ter direito a ser feliz.

Sarah se virou para sua mãe, esperando por alguma reação, mas Irene estava distante, como sempre. Não havia mais nenhuma luz nos olhos de sua mãe, que parecia ter se perdido no próprio vício. Ela sabia que era sozinha, mas ainda assim se agarrava à sua fé. Não importava o que acontecesse, ela não poderia abandonar Deus.

— Mãe, eu não posso mais viver aqui. Eu não posso mais ser a única que luta por alguma mudança. Eu preciso de um futuro, de uma chance. — Sarah falou com pesar, sua voz mais suave agora.

Mas Irene não respondeu. Sarah deixou a casa e caminhou até o pequeno galpão no fundo do terreno. Ali, ela guardava seus sonhos. Seu único refúgio eram as pequenas coisas que ela fazia para tentar melhorar a vida de sua família, e a oração. Ela sabia que tinha algo mais para ela, algo além da pequena vida de sofrimento que levava. Mas, por enquanto, o peso da responsabilidade era imenso, e o destino parecia selado.

Em outra parte da cidade, a imponente figura de Logan Carter se erguia, observando os últimos detalhes da construção de seu shopping. O sol começava a se pôr, e sua expressão estava impassível. Seu mundo era o poder e o controle, mas, como sempre, havia algo faltando.

Ele sabia o que queria, ou ao menos achava que sabia. O império que estava construindo não era apenas para expandir seus negócios, mas para preencher um vazio que nunca soubera como lidar. A morte de seus pais e as perdas que sofreu desde cedo o afastaram de qualquer vínculo emocional. Ele não acreditava mais em nada — nem em Deus, nem nas pessoas.

Mas quando seus olhos se fixaram em uma jovem mulher que caminhava com o peso do mundo nas costas, algo dentro dele mudou. Ele não sabia explicar o que sentia, mas aquela cena, aquela jovem de rosto sereno, mas com um olhar de dor, tocou um lugar que ele mantinha cuidadosamente trancado dentro de si.

Ela não o viu, mas ele a observava com uma intensidade que o surpreendeu. No entanto, ele não podia deixar que isso o afetasse. Não podia se permitir. O que mais ele tinha, senão seu império?

Mas aquela mulher… algo nela chamava a atenção de Logan, e ele sabia que isso não podia ser ignorado. Seu destino, o de Sarah, e o dele estavam prestes a se entrelaçar de uma forma que nenhum dos dois poderia imaginar.

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