Correntes invisíveis

O calor sufocante da tarde estava se intensificando à medida que o sol se movia no céu, tingindo o horizonte de uma cor âmbar. Em Maplewood, as cores da paisagem eram suaves e douradas, mas em sua vida, Sarah sentia que a escuridão começava a tomar forma. A pressão sobre ela aumentava a cada dia. O que antes parecia ser uma rotina simples de trabalho, luta e oração, agora se transformava em uma tempestade. E nem mesmo sua fé conseguia proteger seu coração das correntes invisíveis que se fechavam ao seu redor.

A situação em casa só piorava. O padrasto, Ralph, estava ainda mais viciado em jogos de azar e sua frustração com as perdas só fazia com que ele se tornasse mais cruel e imprevisível. A mãe de Sarah, Irene, afundava cada vez mais na bebida, negligenciando a filha e, com isso, o peso das responsabilidades recaía sobre os ombros dela. Jason, o meio-irmão, sempre esgueirava-se para o lado, aproveitando-se das circunstâncias e dando risada de tudo. A cada mês, as dívidas cresciam. O trio parecia estar condenado a um ciclo sem fim de falências e miséria.

Foi nesse cenário de desespero que os eventos começaram a tomar forma, sem que Sarah tivesse qualquer conhecimento de suas reais intenções. O clube onde Jason passava as noites, gastando o que tinha em apostas e bebidas, tornou-se o local onde os segredos começaram a transitar de maneira perigosa. O detetive contratado por Logan Carter, disfarçado de frequentador casual, observava de longe enquanto Jason, animado, conversava com outros homens sobre sua “grande chance” de enriquecer rapidamente.

O detetive se aproximou silenciosamente do grupo, perguntando educadamente se podia pagar uma bebida em troca de mais algumas informações sobre as transações que envolviam Jason. Ele foi recebido com um sorriso, e rapidamente uma bebida foi colocada diante dele. Enquanto Jason falava, o detetive foi tomando notas mentais e, em seu silêncio calculado, conseguiu captar algo crucial.

“Em breve, vou ser rico”, dizia Jason, com um sorriso arrogante. “O velho vai deixar a casa pra mim, o carro... e quem sabe até uma boa grana. Só preciso dar a última ajuda... tudo vai se resolver na próxima semana.”

O detetive, observando com atenção, percebeu o que estava acontecendo. O velho, como Jason se referia, não era mais que um fazendeiro da região. E a “ajuda” mencionada não era mais que um casamento forçado de Sarah. O velho, que possuía terras valiosas e um histórico de jogo viciado, estava sendo enganado. Ele acreditava que um casamento com Sarah resolveria suas dívidas, e Jason acreditava que essa transação garantiria sua ascensão financeira.

Não era apenas uma questão de dinheiro. Era uma troca. Sarah estava prestes a ser entregue em casamento para um homem idoso, tudo por causa de uma promessa de dinheiro, álcool e um carro. As peças estavam se encaixando, e o detetive sabia que Logan precisava ser informado imediatamente.

No momento em que o detetive entrou em contato com Logan Carter, o magnata estava em sua propriedade, mais uma vez contemplando a imensidão da paisagem, mas com o coração pesando em algo além dos negócios. Ele sabia que algo estava errado, mas não imaginava que Sarah estivesse sendo arrastada para algo tão sombrio.

O detetive não perdeu tempo.

— Senhor Carter, a situação é pior do que imaginávamos. Eu descobri que a jovem Sarah Bennett será forçada a casar com um fazendeiro idoso em troca de dinheiro. O casamento é uma transação, nada mais. Jason, o meio-irmão dela, está fazendo isso acontecer em troca de um benefício financeiro e de uma vida mais fácil. Ele está manipulando a família, especialmente a mãe, que está completamente perdida em seu alcoolismo.

Logan ouviu atentamente, seu semblante se fechando à medida que as palavras do detetive se desenrolavam. Uma raiva fria se instalava em seu peito. Ele não suportava ver mulheres sendo usadas como moeda de troca, e a ideia de Sarah, aquela jovem inocente, sendo forçada a tal destino, o indignava profundamente.

— Onde está ela agora? — Logan perguntou, sua voz calma, mas carregada de poder.

— No celeiro da casa. Eles planejam realizar a cerimônia mais tarde, quando o homem chegar. Mas não sabemos ao certo os detalhes. Precisamos agir rápido, senhor.

Logan sentiu um impulso urgente. Não havia mais tempo a perder. Ele precisava proteger Sarah, e agora, mais do que nunca, ele sabia que ela tinha algo a ver com seu passado. A conexão era mais do que simples coincidência. Ele não permitiria que aquele destino sombrio se concretizasse. Ele não permitiria que ela fosse arrastada para o abismo.

Enquanto isso, Sarah estava em seu quarto, sentada à beira da cama, as mãos unidas em oração. Ela não sabia que algo estava prestes a mudar em sua vida. O vento forte fazia as cortinas balançarem e, ao olhar pela janela, ela viu o céu escurecer. A sensação de que algo estava por vir, algo que não podia controlar, a envolvia. O casamento... O casamento que estava sendo imposto sobre ela era uma sentença. Ela sabia disso. Mas o que mais podia fazer? Seu coração estava apertado, mas ela ainda mantinha a fé.

A porta se abriu e, como uma sombra, Ralph entrou, o sorriso torto no rosto. Ele segurava uma garrafa de uísque, e seu hálito exalava o cheiro do álcool.

— Vai ser o seu dia de sorte, Sarah. — disse ele, com um sorriso sem alegria. — O velho vai te tirar daqui. Vai dar um jeito na vida. Vai ser melhor do que continuar aqui com essa gente... — Ele riu, as palavras soando cruéis.

Sarah tentou manter a calma, mas o medo estava crescendo dentro dela. Ela olhou para o lado, tentando se concentrar na sua fé, mas naquele momento, ela sabia que nada poderia detê-la. O que mais podia fazer senão obedecer

Logan chegou à propriedade em tempo recorde. Ele havia reunido um pequeno grupo de homens de confiança, todos prontos para agir sem hesitação. A presença deles era imponente. Eles haviam sido instruídos a agir com rapidez e precisão. Eles não permitiriam que uma injustiça fosse cometida.

Eles invadiram a propriedade sem fazer alarde. A casa estava silenciosa, exceto pelo som das risadas e conversas vindas do celeiro. No momento em que chegaram, Logan se aproximou da porta do celeiro e, com um gesto, indicou que os homens se preparassem para entrar.

Dentro, Sarah estava sozinha, sentada em um banco de madeira, com os olhos fixos no chão. Ela estava esperando. O tempo parecia se arrastar. O ruído das conversas distantes a fazia sentir-se ainda mais isolada.

A porta do celeiro se abriu com um estrondo, e a visão de Logan entrou com força. Ele olhou para ela, seu olhar penetrante, e um alívio inexplicável passou por ela ao vê-lo.

— Não se preocupe mais. Está tudo bem. — ele disse, suas palavras carregadas de autoridade. — Vou cuidar de tudo.

A tranquilidade da voz dele foi como um bálsamo para o coração aflito de Sarah. Ela sabia que nada mais poderia acontecer. Ele estava ali, e ele faria o que fosse preciso para acabar com aquele pesadelo.

Dentro de minutos, os homens de Logan haviam detido Ralph, Irene e Jason. A polícia foi chamada, e os crimes cometidos — fraude, coação e tráfico humano — foram devidamente registrados. O fazendeiro também foi preso por envolvimento ilegal.

Sarah estava livre. E, pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu que podia respirar novamente.

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