Não tive coragem de retornar para casa depois de presenciar todo o sofrimento de Karen, seu psicológico parecia mais frágil que seu estado físico e a impressão que eu tinha era a de que ela poderia se quebrar como vidro a qualquer momento. Quando começava a ficar muito tarde, fora do horário de recolher, liguei para a minha família, e avisei que passaria a noite na casa de Mark, cuidando da minha amiga gestante, em vista de que sua sogra não poderia fazer isso pois precisava trabalhar.Como enfermeira, ela havia sido obrigada a retornar ao hospital devido a um acidente com barco clandestino, muitas pessoas estavam machuvadas, então, precisavam de uma grande quantidade de profissionais para tratar dos pacientes.Após a ligação, retornei ao quarto e percebi o estranho silêncio que recaia sobre nós, os dois homens, nossos namorados, pareciam cansados e um tanto sem graça, como se não soubessem como se comportar diante daquela situação. Mark era quem mostrava-se mais inquieto, era clara a
A relação entre as irmãs melhorou praticamente da água para o vinho depois daquela conversa. Quem as visse agora jamais imaginaria que ambas passaram tanto tempo afastadas e a verdade era que nenhuma delas tinha culpa da situação em que se encontravam. O primeiro ultrassom da jovem gestante se aproximava e ambas pareciam muito ansiosas para ver pela primeira vez o corpinho da criança que era gerada, e no caso do pai, a situação não era diferente, seu rosto expressava um misto de ansiedade e felicidade que o deixava todo bobo.Um legítimo pai coruja.Karen ainda parecia sentir-se culpada pela raiva que havia nutrido pela irmã mais velha por tanto tempo, mas parecia ciente de que já havia sido perdoada, e enquanto preparavam a mala que precisaria para mudar-se, vez ou outra, seus olhos voltavam-se preocupados a irmã que parecia alheia a isso. Era clara a sua vontade de questionar mais a respeito da perda de Maya, porém, todo o sofrimento que havia presenciado em seus olhos, a impedia de
Acordei atordoada ouvindo meu nome sendo chamado, ergui a cabeça ainda confusa e me deparei com a minha mãe sentada sobre a minha casa, seus dedos longos acariciando os meus cabelos. Por algum motivo, lembrei-me que a última vez em que havia feito aquilo havia sido anos antes enquanto conversávamos sobre garotos e cuidados, coisas de namoro.– Está acordada? – questionou rindo baixo, parecia estar divertindo-se com minha cara sonolenta, mas seu próximo anúncio me alertou abruptamente. – Preciso sair a trabalho por algumas horas…Sentei-me lentamente, sentindo os músculos ainda um pouco cansados e a fitei com mais atenção, seus cabelos castanhos estavam presos em um coque bonito, usava pouca maquiagem e vestia seu costumeiro terninho cor grafite, combinando com a maleta de couro preto. Seu rosto tão semelhante ao meu, expressava preocupação e notei que desde a conversa que tivemos, ela estava evitando me deixar sozinha, demonstrava sentir-se culpada sempre que precisava me deixar sozinh
Maya…Enquanto caminhava pelo pequeno centro comercial, observando com certo desagrado o quanto nada havia mudado mesmo depois de dez anos, notei como Amora estava inquieta, parecia estar tendo muita dificuldade em se adaptar àquele novo ambiente, e passava o tempo inteiro farejando a ar à sua volta, ou rosnando para as pessoas por quem passávamos.Ela praticamente odiava tudo e todos.– Precisa relaxar ou terá um infarto – brinquei, acariciando suas orelhas peludas.Ao ouvir minha voz, sua cauda moveu-se rapidamente demonstrando que estava feliz.Parei em frente a clínica veterinária de Samanta e fitei a jovem de cabelos encaracolados conversando com um cliente. Ela anotava rapidamente algumas informações e sorria parecendo ter certo afeto pelo animal que o homem carregava nunca caixa de transporte branca. Empurrei a porta, tendo o cuidado de apertar bem a guia para que minha pequena fera não acabasse atacando alguém e então, parei diante do balcão, fitando-a.– Samanta está? – questi
Maya…Naquela noite, retornei para casa com a mente conturbada, o silêncio nas ruas era incômodo e tinha a impressão de que algo não estava certo. Abri as travas de segurança da porta e entrei, acendendo as luzes em seguida, estranhando a oscilação delas, sabendo que não era normal.O mau pressentimento retornou e lembrei-me do convite de Samanta para jantar em sua casa, e por um momento, me arrependi de não ter aceitado. Balancei a cabeça para os lados, afastando aqueles pensamentos e tratei de me ocupar para não ficar pensando bobagens.Passei um café forte, e sentei-me diante da escrivaninha ainda secando os cabelos em uma toalha após um banho morno e relaxante, liguei o notebook, abrindo a caixa de e-mails e enviei todas as fotos e o curto dossiê que consegui produzir naquele período para Tereza, imaginando que se algo acontecesse comigo, ela poderia terminar o que comecei.A internet estava estranha, caia a todo momento e tive que enviar o e-mail dezenas de vezes para, enfim, rec
Sarah... Acordei naquela manhã ouvindo vozes, por um momento, ri com o pensamento de que finalmente havia ficado esquizofrênica, mas perdi o humor assim que percebi que eram os meus pais conversando no corredor aos sussurros, e isso denotava que era algo que não queriam me contar. Então acabei ficando ainda mais curiosa, me aproximei e colei o ouvido à porta, tentando entender do que se tratava. Não conseguia entender as frases inteiramente e apenas pegava algumas palavras esporádicas a respeito de coisas como incêndio, morte e, algo relacionado ao assassino em série, ao que parecia, mais alguém havia morrido e suspeitavam dele. Juntei aquelas informações, concordando, porém, a ideia de que o serial killer estivesse envolvido em incêndios não parecia correta.Meu celular vibrou sobre o criado mudo, chamando a minha atenção e estiquei-me para pegá-lo, sorrindo ao imaginar que fossem as costumeiras mensagens matutinas de Karen, mas estava errada, era um anuncio no grupo
Fui eu quem fiz a sugestão de que não poderíamos parar as atividades na clínica, seria muito suspeito se mais nenhum atendimento fosse feito, e como estávamos basicamente sendo vigiadas, tínhamos que ter muito cuidado com nossas ações a partir daquele momento, não poderíamos cometer nenhum erro.Maya estava recuperando-se lentamente, vê-la daquela forma, tão fragilizada depois de um violento ataque e silenciada por estar tentando revelar a verdade, uma mulher que quase foi morta apenas por estar fazendo o que era correto, me mortificava, era horrível sentir aquela sensação de impotência, tendo a certeza de que o mal estava prevalecendo.A tempestade permanecia, as ruas mantinham-se silenciosas e sem vida, o medo em todos era palpável, não estava havendo aulas devido a gravidade da situação e foi decretado um toque de recolher destinado a quase todos que não estivessem relacionados a saúde e alimentação. A própria clínica ficaria fechada se não fossem pelas cirurgias já marcadas, então
O estranho sonho cheio de significados ainda era recente em minha memória, o impacto do meu corpo na água, a sensação gélida e a própria água fria molhando meus cabelos e roupas finas. Era tudo muito realista, os cheiros e toques causavam reações tão familiares que eu realmente cogitei a possibilidade de estar jogando-me, sonâmbula, em um lago desconhecido.Foi nesse momento que acordei, voltando ao mundo dos vivos, e percebi que estava em um quarto dolorosamente branco, tão luminoso que causava dor em minhas retinas. Olhei ao redor, notando que, pela segunda vez naquele ano, estava em um quarto de hospital. Quando meus olhos se voltaram para baixo, me deparei com Gabriel, dormindo com a cabeça apoiada nos braços cruzados sobre o colchão, uma de suas mãos frias pousada sobre a minha, segurando-me como se temesse meu desaparecimento.Exatamente na mesma posição que a minha mãe estava quando acordei no hospital tempos atrás. Deslizei os dedos pelos fios castanhos, os acariciando e chamei