Maya…Enquanto caminhava pelo pequeno centro comercial, observando com certo desagrado o quanto nada havia mudado mesmo depois de dez anos, notei como Amora estava inquieta, parecia estar tendo muita dificuldade em se adaptar àquele novo ambiente, e passava o tempo inteiro farejando a ar à sua volta, ou rosnando para as pessoas por quem passávamos.Ela praticamente odiava tudo e todos.– Precisa relaxar ou terá um infarto – brinquei, acariciando suas orelhas peludas.Ao ouvir minha voz, sua cauda moveu-se rapidamente demonstrando que estava feliz.Parei em frente a clínica veterinária de Samanta e fitei a jovem de cabelos encaracolados conversando com um cliente. Ela anotava rapidamente algumas informações e sorria parecendo ter certo afeto pelo animal que o homem carregava nunca caixa de transporte branca. Empurrei a porta, tendo o cuidado de apertar bem a guia para que minha pequena fera não acabasse atacando alguém e então, parei diante do balcão, fitando-a.– Samanta está? – questi
Maya…Naquela noite, retornei para casa com a mente conturbada, o silêncio nas ruas era incômodo e tinha a impressão de que algo não estava certo. Abri as travas de segurança da porta e entrei, acendendo as luzes em seguida, estranhando a oscilação delas, sabendo que não era normal.O mau pressentimento retornou e lembrei-me do convite de Samanta para jantar em sua casa, e por um momento, me arrependi de não ter aceitado. Balancei a cabeça para os lados, afastando aqueles pensamentos e tratei de me ocupar para não ficar pensando bobagens.Passei um café forte, e sentei-me diante da escrivaninha ainda secando os cabelos em uma toalha após um banho morno e relaxante, liguei o notebook, abrindo a caixa de e-mails e enviei todas as fotos e o curto dossiê que consegui produzir naquele período para Tereza, imaginando que se algo acontecesse comigo, ela poderia terminar o que comecei.A internet estava estranha, caia a todo momento e tive que enviar o e-mail dezenas de vezes para, enfim, rec
Sarah... Acordei naquela manhã ouvindo vozes, por um momento, ri com o pensamento de que finalmente havia ficado esquizofrênica, mas perdi o humor assim que percebi que eram os meus pais conversando no corredor aos sussurros, e isso denotava que era algo que não queriam me contar. Então acabei ficando ainda mais curiosa, me aproximei e colei o ouvido à porta, tentando entender do que se tratava. Não conseguia entender as frases inteiramente e apenas pegava algumas palavras esporádicas a respeito de coisas como incêndio, morte e, algo relacionado ao assassino em série, ao que parecia, mais alguém havia morrido e suspeitavam dele. Juntei aquelas informações, concordando, porém, a ideia de que o serial killer estivesse envolvido em incêndios não parecia correta.Meu celular vibrou sobre o criado mudo, chamando a minha atenção e estiquei-me para pegá-lo, sorrindo ao imaginar que fossem as costumeiras mensagens matutinas de Karen, mas estava errada, era um anuncio no grupo
Fui eu quem fiz a sugestão de que não poderíamos parar as atividades na clínica, seria muito suspeito se mais nenhum atendimento fosse feito, e como estávamos basicamente sendo vigiadas, tínhamos que ter muito cuidado com nossas ações a partir daquele momento, não poderíamos cometer nenhum erro.Maya estava recuperando-se lentamente, vê-la daquela forma, tão fragilizada depois de um violento ataque e silenciada por estar tentando revelar a verdade, uma mulher que quase foi morta apenas por estar fazendo o que era correto, me mortificava, era horrível sentir aquela sensação de impotência, tendo a certeza de que o mal estava prevalecendo.A tempestade permanecia, as ruas mantinham-se silenciosas e sem vida, o medo em todos era palpável, não estava havendo aulas devido a gravidade da situação e foi decretado um toque de recolher destinado a quase todos que não estivessem relacionados a saúde e alimentação. A própria clínica ficaria fechada se não fossem pelas cirurgias já marcadas, então
O estranho sonho cheio de significados ainda era recente em minha memória, o impacto do meu corpo na água, a sensação gélida e a própria água fria molhando meus cabelos e roupas finas. Era tudo muito realista, os cheiros e toques causavam reações tão familiares que eu realmente cogitei a possibilidade de estar jogando-me, sonâmbula, em um lago desconhecido.Foi nesse momento que acordei, voltando ao mundo dos vivos, e percebi que estava em um quarto dolorosamente branco, tão luminoso que causava dor em minhas retinas. Olhei ao redor, notando que, pela segunda vez naquele ano, estava em um quarto de hospital. Quando meus olhos se voltaram para baixo, me deparei com Gabriel, dormindo com a cabeça apoiada nos braços cruzados sobre o colchão, uma de suas mãos frias pousada sobre a minha, segurando-me como se temesse meu desaparecimento.Exatamente na mesma posição que a minha mãe estava quando acordei no hospital tempos atrás. Deslizei os dedos pelos fios castanhos, os acariciando e chamei
Respirei fundo, lembrando dos ensinamentos que havia pesquisado sobre manter a calma em momentos complexos como aquele. Não poderia me deixar abater pelo medo e trauma, minha vida era muito mais importante. Então, resistindo a todos os meus medos, me ergui lentamente e caminhei toda torta em direção ao carro, me esforçando ao máximo para não assustar meus pais, ou meus outros visitantes. – Por favor, ignorem esse chilique! – murmurei depois de alguns minutos tremendo, fechei meus olhos e respirei fundo, tentando melhorar o estado de estresse do meu corpo, precisava retomar o controle. Eles pareciam relutantes em meio a aquela situação, a indecisão em seus olhos era óbvia, não queriam arriscar ainda mais a minha saúde mental, mas ao mesmo tempo, sabiam que me trancar em um hospital sempre foi o meu maior medo. E no final, acabaram optando por seguir com o plano inicial de terminar minha recuperação em casa.Dentro do carro, continuei lembrando das instruções que, uma v
Dezessete anos haviam se passado e as lembranças de tudo o que aconteceu na ilha de Ainu pareciam ridiculamente distantes. A vida recomeçava, e novas recordações felizes eram criadas para todos os envolvidos naqueles assustadores incidentes. Muitas coisas haviam mudado, já não éramos mais aqueles adolescentes confusos e loucos, agora tínhamos nossas próprias responsabilidades, trabalhos e filhos.Era madrugada quando finalmente cheguei em casa, soltei um suspiro cansada, tirando o casaco que pesava sobre meus ombros e o joguei no sofá enquanto despia-me também dos sapatos que apertavam meus pés doloridos. Sentei-me numa poltrona imaginando se Gabriel já havia chegado da empresa em que trabalhava, àquela altura já estávamos casados e tínhamos uma linda menina que mesclava nossas características.Ultimamente não estávamos tendo tempo para nada devido às incontáveis hora extras que nossos trabalhos nos obrigavam a cumprir e estávamos muito agradecidos por nossos pais nos ajudarem tanto na
FilipeLonge dali, sem nem ao menos saber onde eu estava, encontrava-me jogado num sofá velho que cheirava a cigarro, porém, pouco estava me importando. Na verdade, não compreendia em certo o que estava fazendo de tão entorpecido que estava pela hero*na que intoxicava minhas veias.Joguei a cabeça para trás involuntariamente ao sentir a sensação de formigamento em meu corpo, fazendo minhas pernas e braços adormecerem, voltei meus olhos a Ralf, notando que o ruivo se agarrava com uma garota mais velha, ambos chapados.Podia até imaginar o monte de porcaria que havia usado.— Já está sóbrio? – um cara, que estava me vendendo drog*s, perguntou sentando-se ao meu lado no velho móvel, Ralf havia nos apresentado, mas não consigo lembrar de seu nome. – Quer mais uma?— Meu dinheiro acabou! – comentei sussurrando como se fosse um segredo, e enfatizei puxando os bolsos vazios das minhas calças jeans.— Você pode pagar de outra forma! – ele respondeu com um sorriso perigoso e olhou diretamente p