— Ayla, socorro! Me ajuda! – ela pediu sufocando quase sem ar, suas mãos tateavam o próprio pescoço em desespero, tentando se desvencilhar do que quer que estivesse aprendendo.Quando a mim, olhava ao redor, chorando sem saber o que fazer, tentei lembrar de algumas orações, pensando nas palavras da minha mãe e embolando os trechos, engasgando em meu próprio choro a cada grito dela.Ouvi passos se aproximando e quando me virei, notei que eram os rapazes, seus olhos arregalados, igualmente descrentes, caminhavam de um lado para o outro, procurando por algo que pudessem usar para ajudar a moça que tossia quase sem ar, tentando soltá-la.— Ela não está presa, está sendo sufocada... – sussurrei ignorando o medo do que eles poderiam pensar sobre mim depois de ouvir aquilo.Allen ficou estático por alguns instantes, incrédulo, mas rapidamente começou a tentar puxá-la novamente, sussurrando questionamentos que imaginei serem destinados ao espírito, continuei orando, pedindo pela nossa proteçã
FelipeNos dias que se passaram após aquele incidente, as palavras de Ayla ainda ecoavam em minha mente, causando desagradáveis noites insones, nas quais questionava-me a respeito dos fatos que ocorriam em minha vida, as vozes, as crises, eram situações que me deixavam confuso quanto ao que podia ser fantasias da minha mente, e pior, sequer podiam ser explicados pela espiritualidade.Mas se eram coisas da minha cabeça, então porque sentia-me assim?Eu não queria contar sobre aquela situação aos meus pais, muito menos aos meus padrinhos, mas logo percebi que estava fora da minha capacidade de escolha, então, depois de alguma relutância, fui arrastado para a sala de estar onde todos esperavam sentados ao redor da mesinha ovalada. E novamente eu era o centro das atenções, mas não estava gostando nenhum pouco disso.– Parece que teremos que contar a verdade afinal... – ouvi minha mãe sussurrando com apreensão, sua voz estava entrecortada e parecia incerta do que estava me dizendo. – Eu nun
Depois daquelas revelações bruscas, marquei a próxima consulta com a psicoterapeuta e tentei retomar meus estudos com mais afinco, focando em algo concreto antes que começasse a confundir a realidade novamente, imaginando que seria apenas o que faltava para me enlouquecer de verdade caso precisasse lidar além do processo de abstinência, com uma doença psiquiátrica.A expressão de surpresa no rosto da terapeuta quando contei toda a história era impagável, ela parecia prestes a pedir uma pausa em meio a aquele louco imbricamento de situações dramáticas que mais parecia uma novela mexicana, isso porque eu sequer havia contado as partes mais tendenciosas, omitindo o fato de que boa parte da minha família via espíritos.Ela concordava com os meus pais, julgando que havia uma possibilidade de ter ouvido aquelas histórias que parcialmente continham situações danosas, e mesmo que eu não me lembrasse de nada em específico, acreditava quando ela dizia que poderia ser alguma informação que ficou
– Cecília, eu preciso sair por alguns minutos! – exclamei tropeçando nas palavras, tentando não a assustar muito, mas estava realmente difícil no meu estado de nervosismo, e praticamente fugi sem responder suas perguntas.Enquanto caminhávamos pelas ruas, um flashback de tudo o que aconteceu na noite em que nos drogamos juntos passou pela minha mente, lembrei-me de Alice sentada em meu colo, mas o resto era apenas um borrão negro até o momento em que machuquei o pé na mesinha algum tempo antes de presenciar o tiroteio.Ralf agarrou o meu braço, arrastando-me rumo a uma clínica a primeira clinica que apareceu à sua frente, sequer sabíamos se era especializada em fazer exames para vírus contagiosos, ou os devidos procedimentos caso estivéssemos infectados.Assim que entramos, fizemos as fichas para aumentar o meu desespero, não havia exames marcados para aquele horário, e rapidamente formos atendidos, mas quase não tive compostura para entrar na sala de hemogramas sem tremer como um chih
Sarah…Pensei muito sobre a vida enquanto Felipe estava internado no hospital, foram quase dois meses em coma induzido que mais pareceram uma eternidade, Karen chorava baixinho debruçada sobre seu leito todos os dias, e variadas memórias me vinham à mente sempre que a via assim, lembrei de quando eu mesma achei que perderia a vida e de alguma forma me senti mais próxima do meu afiliado, agora tínhamos isso em comum.Felizmente não havia mais risco de vida, porém, ele acabou perdendo os exames para vestibular, não havia muito o que fazer em seu caso, mas consegui convencer Cecília a fazer, ela ainda estava angustiada por causa do seu estado, mas conseguiu até uma pontuação razoável e poderia iniciar a graduação no semestre seguinte.Seu sonho de tornar-se uma detetive ainda estava em curso, mas sugerimos que tentasse estudar as duas áreas pois, seria mais eficiente caso mudasse de ideia a respeito de alguma delas, e deixei claro que não a impediríamos de desistir da graduação, se a voca
Os últimos raios solares desapareciam no horizonte, lentamente dando lugar à escuridão da noite, que trazia consigo meus maiores temores. Respirei fundo ao passo que minha mão empurrava a pesada porta de mogno, antiga e imponente, como tudo naquela grande casa, e a vi abrindo com um rangido tão sombrio que arrepiou todos os pelos dos meus braços. A verdade era que aquele lugar era naturalmente assustador devido ao clima pesado em volta dele. Tranquei a porta, acendi as luzes fluorescentes, e caminhei pelos corredores que rangiam a cada passo incerto sobre o piso de madeira polida. A casa estava silenciosa, como se zombasse dos meus medos, ergui os olhos em direção à longa escadaria que, de repente, parecia maior do que o habitual, e suspirei seguindo meu caminho, tentando ao máximo não fazer barulho.Quando finalmente entrei no meu quarto, girei nos calcanhares, trancando a porta às minhas costas e tateei a parede procurando pelo interruptor enquanto meus olhos se dirigiam imediatamen
Gritei de puro horror e comecei a me arrastar pelo chão para longe daquela coisa, tateei o piso de madeira, procurando o maldito celular que caiu com a tela virada para baixo e mal iluminava um palmo a minha frente de onde estava caído, mas não o encontrava. Todos os meus pelos se arrepiavam por causa do medo, e nem sequer cogitei a ideia daquele espectro ser fruto da minha imaginação pois sua presença era tão densa que chegava a ser quase palpável.A silhueta sombria se aproximou, erguendo a mão longa e deformada em direção ao meu rosto, deixando-me ainda mais desesperada, não esperei seu toque e, cambaleando, corri em direção à porta, abrindo-a em um estrondo, sai tropegamente do quarto, e corri pelos corredores, deparando-me com a escadaria.Ouvi um novo trovão e no mesmo momento, senti um empurrão violento em minhas costas, fazendo-me rolar escada a baixo, em meio ao completo desespero. Tentei usar os braços para proteger meu pescoço e rosto durante a queda, e então, o som de peque
Os dois dias em que fiquei internada no hospital passaram lentamente, tomando soro e dormindo a maior parte do tempo, captando algumas informações nos momentos de consciência. Acordei na manhã do terceiro dia, ainda meio grogue e bocejei, sentando na cama. Quando meus sentidos retornaram, notei que minha mãe estava de pé aparentemente me esperando acordar, em uma de suas mãos havia uma bolsa de cor acinzentada que parecia ter roupas dentro, e me fitava com animação. – Você recebeu alta, querida! - exclamou carinhosa enquanto me mostrava as roupas que trouxera, dispondo-as sobre as minhas pernas. – A menos que não esteja se sentindo bem... – Não. Por favor, me leve... – pedi ficando inquieta somente por pensar na possibilidade de ficar presa mais dias naquele lugar deprimente. Assim que terminei de me vestir, e ser obrigada a comer o café da manhã que foi trazido por uma das enfermeiras, finalmente meu pai chegou, mostrando as chaves do carro, sinalizando que já poderíamos ir, passou