Enquanto caminhávamos de volta em fila indiana, passamos por uma pequena trilha por dentro do bosque onde algumas pessoas gostavam de correr com cachorros durante as manhãs de verão, era um ambiente amistoso e quase todos os moradores o frequentavam. Gabriel, ao meu lado, observava as árvores com um interesse estranho, seus olhos claros estreitavam-se como se procurasse por algo que mais ninguém estava vendo, e quando percebeu que estava sendo observado, voltou-se a mim.– Está vendo aquilo? – questionou em um cochicho, ainda esticando o pescoço para visualizar melhor o ambiente a nossa volta. – Parece uma moça acenando, mas não se aproxima, será que está machucada?Ouvi suas palavras ficando ainda mais confusa, desviei meus olhos dele e voltei minha atenção na direção em que ele indicava, mas não conseguia ver nada que parecesse com uma pessoa. As intenções de Gabriel eram óbvias, mas nos embrenhar na mata seria perigoso e se fossemos pegos, certamente receberíamos alguns esporros por
Foi a primeira vez que vi algo em plena luz do dia... – murmurei, apertando as mãos em um gesto nervoso, que já estava tornando-se um hábito perceptível. – Estive pensando em conversar com alguém que entenda mais sobre isso, uma médium talvez.Gabriel ouvia minhas palavras, balançando a cabeça positivamente, mas mantinha seus olhos fixos na estrada, apertando o volante com certa força. Na verdade, ele estava em silêncio desde que conversamos a respeito da falta de segurança daquele local, havia deixado claro a sua desaprovação com a minha ideia de continuar investigando sobre os assassinatos, argumentando o quanto aquele assunto era delicado e muito mais complicado do que eu imaginava.– Diz ser complicado, mas o que você sabe sobre isso que eu não sei? – questionei voltando a tocar no assunto e notei como seus músculos pareceram enrijecer, mas mantive meu olhar firme sobre ele, esperando uma resposta. – Está me escondendo algo?– Sarah, você não percebe que esse problema é muito anti
Não era uma época de grandes chuvas, mas mesmo assim, aquele temporal repentino durou mais três dias. Rapidamente, as ruas estavam alagadas e tínhamos que retirar a água que empossava no porão, infiltrando pelas paredes de tábuas antigas, começando a fazer alguns estragos. Parecia que quanto mais a umidade entrava na casa, mais seus segredos vinham à tona, como se estivessem escondidos sob o papel de parede que descascava. Às vezes, durante a limpeza, passava a unha do indicador pela casca amarronzada que cobria a madeira, notando que ainda era a mesma matéria prima de anos atrás, quando a casa foi construída, mostrando que a reforma foi feita apenas superficialmente e, agora, a podridão daquele local começava a se mostrar. Através das grandes janelas em modelo colonial, eu podia ver as nuvens cinzentas que cobriam o sol, mantendo a cidade em um eterno estado nublado e aos poucos, névoa começava a se formar, vinda do bosque. Era como se a escuridão causada pelas forte
Desabafar com a minha mãe tirou um grande peso dos meus ombros, sorri feliz por finalmente termos aquela conversa tão necessária e fui trabalhar cheia de esperanças, sentindo que enfim, as soluções estavam aparecendo na minha vida. Quando cheguei à clínica, empurrei a maçaneta e fiquei surpresa ao perceber que estava trancada, voltei meus olhos ao relógio e notei que passava das 8h da manhã, arqueei uma sobrancelha confusa e fitei o primeiro andar onde ficava o apartamento da doutora Samanta.“– Será que aconteceu alguma coisa?”, me perguntei, ficando inquieta e mordi o lábio inferior, temendo que ela tivesse sido machucada pelo assassino em série, balancei a cabeça, afastando aqueles pensamentos ruins e estiquei-me apertando a campainha duas vezes.Em seguida, peguei meu celular dentro da bolsa, mandei algumas mensagens para ela e enquanto esperava, voltei minha atenção à vitrine, ficando surpresa ao me deparar com um vulto que se movia dentro da clínica. Espacei as mãos no vidro e ar
No caminho, meu celular vibrou dezenas de vezes, mostrando que a pessoa que tentava entrar em contato comigo precisava muito fazer isso. Mexi em minha bolsa, procurando pelo celular e quando o encontrei, percebi que a última ligação havia caído, e que vinha do número da minha melhor amiga. Uma sensação gélida tomou meu estômago e senti como se minha barriga estivesse cheia de pedras de gelo, algo sério estava acontecendo. Karen sabe que tenho problemas com ansiedade e não me assustaria daquela forma se não achasse necessário.Tentei retornar à ligação três vezes, mas a operadora sempre informava que a linha estava em uso, e a ligação não completava, deixando-me ainda mais agoniada, virei-me no banco do carona, voltando meus olhos a Gabriel e puxei sua camisa com minhas mãos trêmulas.– Alguma coisa aconteceu – murmurei ouvindo a minha voz soar de forma estranha, entrecortada e quase inaudível, estava quase entrando em pânico. – Karen tentou me ligar várias vezes, mas não consigo comple
Não tive coragem de retornar para casa depois de presenciar todo o sofrimento de Karen, seu psicológico parecia mais frágil que seu estado físico e a impressão que eu tinha era a de que ela poderia se quebrar como vidro a qualquer momento. Quando começava a ficar muito tarde, fora do horário de recolher, liguei para a minha família, e avisei que passaria a noite na casa de Mark, cuidando da minha amiga gestante, em vista de que sua sogra não poderia fazer isso pois precisava trabalhar.Como enfermeira, ela havia sido obrigada a retornar ao hospital devido a um acidente com barco clandestino, muitas pessoas estavam machuvadas, então, precisavam de uma grande quantidade de profissionais para tratar dos pacientes.Após a ligação, retornei ao quarto e percebi o estranho silêncio que recaia sobre nós, os dois homens, nossos namorados, pareciam cansados e um tanto sem graça, como se não soubessem como se comportar diante daquela situação. Mark era quem mostrava-se mais inquieto, era clara a
A relação entre as irmãs melhorou praticamente da água para o vinho depois daquela conversa. Quem as visse agora jamais imaginaria que ambas passaram tanto tempo afastadas e a verdade era que nenhuma delas tinha culpa da situação em que se encontravam. O primeiro ultrassom da jovem gestante se aproximava e ambas pareciam muito ansiosas para ver pela primeira vez o corpinho da criança que era gerada, e no caso do pai, a situação não era diferente, seu rosto expressava um misto de ansiedade e felicidade que o deixava todo bobo.Um legítimo pai coruja.Karen ainda parecia sentir-se culpada pela raiva que havia nutrido pela irmã mais velha por tanto tempo, mas parecia ciente de que já havia sido perdoada, e enquanto preparavam a mala que precisaria para mudar-se, vez ou outra, seus olhos voltavam-se preocupados a irmã que parecia alheia a isso. Era clara a sua vontade de questionar mais a respeito da perda de Maya, porém, todo o sofrimento que havia presenciado em seus olhos, a impedia de
Acordei atordoada ouvindo meu nome sendo chamado, ergui a cabeça ainda confusa e me deparei com a minha mãe sentada sobre a minha casa, seus dedos longos acariciando os meus cabelos. Por algum motivo, lembrei-me que a última vez em que havia feito aquilo havia sido anos antes enquanto conversávamos sobre garotos e cuidados, coisas de namoro.– Está acordada? – questionou rindo baixo, parecia estar divertindo-se com minha cara sonolenta, mas seu próximo anúncio me alertou abruptamente. – Preciso sair a trabalho por algumas horas…Sentei-me lentamente, sentindo os músculos ainda um pouco cansados e a fitei com mais atenção, seus cabelos castanhos estavam presos em um coque bonito, usava pouca maquiagem e vestia seu costumeiro terninho cor grafite, combinando com a maleta de couro preto. Seu rosto tão semelhante ao meu, expressava preocupação e notei que desde a conversa que tivemos, ela estava evitando me deixar sozinha, demonstrava sentir-se culpada sempre que precisava me deixar sozinh