Desabafar com a minha mãe tirou um grande peso dos meus ombros, sorri feliz por finalmente termos aquela conversa tão necessária e fui trabalhar cheia de esperanças, sentindo que enfim, as soluções estavam aparecendo na minha vida. Quando cheguei à clínica, empurrei a maçaneta e fiquei surpresa ao perceber que estava trancada, voltei meus olhos ao relógio e notei que passava das 8h da manhã, arqueei uma sobrancelha confusa e fitei o primeiro andar onde ficava o apartamento da doutora Samanta.“– Será que aconteceu alguma coisa?”, me perguntei, ficando inquieta e mordi o lábio inferior, temendo que ela tivesse sido machucada pelo assassino em série, balancei a cabeça, afastando aqueles pensamentos ruins e estiquei-me apertando a campainha duas vezes.Em seguida, peguei meu celular dentro da bolsa, mandei algumas mensagens para ela e enquanto esperava, voltei minha atenção à vitrine, ficando surpresa ao me deparar com um vulto que se movia dentro da clínica. Espacei as mãos no vidro e ar
No caminho, meu celular vibrou dezenas de vezes, mostrando que a pessoa que tentava entrar em contato comigo precisava muito fazer isso. Mexi em minha bolsa, procurando pelo celular e quando o encontrei, percebi que a última ligação havia caído, e que vinha do número da minha melhor amiga. Uma sensação gélida tomou meu estômago e senti como se minha barriga estivesse cheia de pedras de gelo, algo sério estava acontecendo. Karen sabe que tenho problemas com ansiedade e não me assustaria daquela forma se não achasse necessário.Tentei retornar à ligação três vezes, mas a operadora sempre informava que a linha estava em uso, e a ligação não completava, deixando-me ainda mais agoniada, virei-me no banco do carona, voltando meus olhos a Gabriel e puxei sua camisa com minhas mãos trêmulas.– Alguma coisa aconteceu – murmurei ouvindo a minha voz soar de forma estranha, entrecortada e quase inaudível, estava quase entrando em pânico. – Karen tentou me ligar várias vezes, mas não consigo comple
Não tive coragem de retornar para casa depois de presenciar todo o sofrimento de Karen, seu psicológico parecia mais frágil que seu estado físico e a impressão que eu tinha era a de que ela poderia se quebrar como vidro a qualquer momento. Quando começava a ficar muito tarde, fora do horário de recolher, liguei para a minha família, e avisei que passaria a noite na casa de Mark, cuidando da minha amiga gestante, em vista de que sua sogra não poderia fazer isso pois precisava trabalhar.Como enfermeira, ela havia sido obrigada a retornar ao hospital devido a um acidente com barco clandestino, muitas pessoas estavam machuvadas, então, precisavam de uma grande quantidade de profissionais para tratar dos pacientes.Após a ligação, retornei ao quarto e percebi o estranho silêncio que recaia sobre nós, os dois homens, nossos namorados, pareciam cansados e um tanto sem graça, como se não soubessem como se comportar diante daquela situação. Mark era quem mostrava-se mais inquieto, era clara a
A relação entre as irmãs melhorou praticamente da água para o vinho depois daquela conversa. Quem as visse agora jamais imaginaria que ambas passaram tanto tempo afastadas e a verdade era que nenhuma delas tinha culpa da situação em que se encontravam. O primeiro ultrassom da jovem gestante se aproximava e ambas pareciam muito ansiosas para ver pela primeira vez o corpinho da criança que era gerada, e no caso do pai, a situação não era diferente, seu rosto expressava um misto de ansiedade e felicidade que o deixava todo bobo.Um legítimo pai coruja.Karen ainda parecia sentir-se culpada pela raiva que havia nutrido pela irmã mais velha por tanto tempo, mas parecia ciente de que já havia sido perdoada, e enquanto preparavam a mala que precisaria para mudar-se, vez ou outra, seus olhos voltavam-se preocupados a irmã que parecia alheia a isso. Era clara a sua vontade de questionar mais a respeito da perda de Maya, porém, todo o sofrimento que havia presenciado em seus olhos, a impedia de
Acordei atordoada ouvindo meu nome sendo chamado, ergui a cabeça ainda confusa e me deparei com a minha mãe sentada sobre a minha casa, seus dedos longos acariciando os meus cabelos. Por algum motivo, lembrei-me que a última vez em que havia feito aquilo havia sido anos antes enquanto conversávamos sobre garotos e cuidados, coisas de namoro.– Está acordada? – questionou rindo baixo, parecia estar divertindo-se com minha cara sonolenta, mas seu próximo anúncio me alertou abruptamente. – Preciso sair a trabalho por algumas horas…Sentei-me lentamente, sentindo os músculos ainda um pouco cansados e a fitei com mais atenção, seus cabelos castanhos estavam presos em um coque bonito, usava pouca maquiagem e vestia seu costumeiro terninho cor grafite, combinando com a maleta de couro preto. Seu rosto tão semelhante ao meu, expressava preocupação e notei que desde a conversa que tivemos, ela estava evitando me deixar sozinha, demonstrava sentir-se culpada sempre que precisava me deixar sozinh
Maya…Enquanto caminhava pelo pequeno centro comercial, observando com certo desagrado o quanto nada havia mudado mesmo depois de dez anos, notei como Amora estava inquieta, parecia estar tendo muita dificuldade em se adaptar àquele novo ambiente, e passava o tempo inteiro farejando a ar à sua volta, ou rosnando para as pessoas por quem passávamos.Ela praticamente odiava tudo e todos.– Precisa relaxar ou terá um infarto – brinquei, acariciando suas orelhas peludas.Ao ouvir minha voz, sua cauda moveu-se rapidamente demonstrando que estava feliz.Parei em frente a clínica veterinária de Samanta e fitei a jovem de cabelos encaracolados conversando com um cliente. Ela anotava rapidamente algumas informações e sorria parecendo ter certo afeto pelo animal que o homem carregava nunca caixa de transporte branca. Empurrei a porta, tendo o cuidado de apertar bem a guia para que minha pequena fera não acabasse atacando alguém e então, parei diante do balcão, fitando-a.– Samanta está? – questi
Maya…Naquela noite, retornei para casa com a mente conturbada, o silêncio nas ruas era incômodo e tinha a impressão de que algo não estava certo. Abri as travas de segurança da porta e entrei, acendendo as luzes em seguida, estranhando a oscilação delas, sabendo que não era normal.O mau pressentimento retornou e lembrei-me do convite de Samanta para jantar em sua casa, e por um momento, me arrependi de não ter aceitado. Balancei a cabeça para os lados, afastando aqueles pensamentos e tratei de me ocupar para não ficar pensando bobagens.Passei um café forte, e sentei-me diante da escrivaninha ainda secando os cabelos em uma toalha após um banho morno e relaxante, liguei o notebook, abrindo a caixa de e-mails e enviei todas as fotos e o curto dossiê que consegui produzir naquele período para Tereza, imaginando que se algo acontecesse comigo, ela poderia terminar o que comecei.A internet estava estranha, caia a todo momento e tive que enviar o e-mail dezenas de vezes para, enfim, rec
Sarah... Acordei naquela manhã ouvindo vozes, por um momento, ri com o pensamento de que finalmente havia ficado esquizofrênica, mas perdi o humor assim que percebi que eram os meus pais conversando no corredor aos sussurros, e isso denotava que era algo que não queriam me contar. Então acabei ficando ainda mais curiosa, me aproximei e colei o ouvido à porta, tentando entender do que se tratava. Não conseguia entender as frases inteiramente e apenas pegava algumas palavras esporádicas a respeito de coisas como incêndio, morte e, algo relacionado ao assassino em série, ao que parecia, mais alguém havia morrido e suspeitavam dele. Juntei aquelas informações, concordando, porém, a ideia de que o serial killer estivesse envolvido em incêndios não parecia correta.Meu celular vibrou sobre o criado mudo, chamando a minha atenção e estiquei-me para pegá-lo, sorrindo ao imaginar que fossem as costumeiras mensagens matutinas de Karen, mas estava errada, era um anuncio no grupo