CAPÍTULO CINCO

1896

Ella Quenyon encarou a vasta entrada de seu forte escondido sob rochas avermelhadas. Ali o calor não chegava, a magia mantinha o ambiente em temperatura natural e ela se orgulhava tanto daquilo que jorrava brilho em seus olhos escuros. Depois de duzentos anos naquele lugar, seu mestre finalmente tinha razão. O clã delas havia se propagado tanto que agora uma cidade inteira habitava aquele lugar. As matriarcas residiam no castelo principal, no alto da ponte de rochedos. Mas, embaixo existia uma pequena vila, uma mata que elas pessoalmente conseguiram criar, cultivando ervas e bem no alto apenas uma linha se enxergava o céu de tão afundadas que estavam dentro do solo. 

Sua mãe e sua avó teriam orgulho do que ela tinha se tornado e construído. Como um império de bruxas poderosas. E mais do que isso, eram temidas em todo canto que o vento levava o nome delas. 

Ella crescera em uma roda de amor, fé e energias puras. Mas, depois de toda aquela crueldade em ter sua família queimada nas piras de Salém, ela aprendera que a violência, tortura e ameaça poderiam ser mais eficazes e com resultados bem mais rápidos também. Apesar da última guerra que havia tido com um clã rival de magos acólitos de um rei, elas quase haviam perdido. Cada uma delas traziam ferimentos nos rosto como cicatrizes em linhas pelas bochechas por terem sido capturadas e torturadas. Mas, não se deixavam abater facilmente. Tiveram que fingir serem as vítimas para entrarem no reino e exterminar o problema de dentro pra fora. E de fato, realmente havia dado certo. 

Ella atravessou a passarela para sua masmorra que adorava e viu seu braço direito Katana, descendo de seu alazão negro. 

- Estão todas à sua espera na sala principal. Cinquenta guardas se colocaram a postos para guardar o fronte. Ninguém tentará nada nessa reunião. - Katana afirmou. 

Ella balançou a cabeça em dúvida. 

- Isso é o que veremos. - disse.

As duas entraram pelo caminho de pedras, que era rodeado de um fosso cheio de piranhas. Um apreço que Ella tinha por bichos violentos. Não que ela fosse muito diferente. 

Ambas apertaram o passo e o vestido marsala comprido de Ella, arrastava sua barra no chão. Apesar de estar quase sempre em constante luta, adorava estar em casa com requinte. O vestido era de mangas longas e um decote provocativo aberto em V até o umbigo. Haviam tiras segurando as bordas do tecido sob os seios, que eram cheios. Ela era vaidosa e não conteve de se olhar brevemente em um dos espelhos de prata, que ficavam pendurados nos corredores do castelo de pedras vermelhas como terracota. Os cabelos longos cacheados e naturais, corriam como um diamante sedoso e escuro por seus ombros até a cintura. A pele negra era cintilante de tão macia e ela sorriu com os grandes lábios. Não se importando que pelas delicadas bochechas haviam três cicatrizes verticais marcando sua pele. Aquilo eram marcas de batalha. Não depreciava seu rosto. Só a tornava mais bela. Disso tinha certeza. 

Quando entrou na sala de reuniões sentiu seu poder avassalador correr pela sala, arrepiando a pele de todos que ali estavam presentes. Nove líderes de nove clãs diferentes estavam ali para se unir, elas eram as mais fortes em cem grupos de bruxas que o coven havia registrado. Pelo menos pelo que ela sabia da última contagem nos registros. Tinha seu lugar principal na cadeira ao lado da rainha de todas elas. 

As bruxas se levantaram e fizeram uma reverência. Ella praticamente tinha posição de comandante diante delas. 

- É um prazer recebê-las em minha casa. Me perdoem todos os guardas, mas nos dias de hoje qualquer proteção é válida. Ainda mais para mim. - Ella esboçou um sorriso arrogante. 

Nenhuma das mulheres disse nada. Somente olharam fixamente para o nada, temendo que se abrissem a boca e soltassem algo que não deveriam poderiam ir parar nos calabouços ondem sabiam que a tortura seria cruel e predominante. 

- Bem, depois de tantos relatos de ataques, creio que um acordo entre os mais fortes clãs seria necessário. - Ella disse formalmente. 

Cléia, uma líder do clã do Norte assentiu. 

- Fomos os últimos a serem atacados. Exterminaram pelo menos metade da nossa família. Tivemos que nos mudar. Nos refugiar nas matas como selvagens. - reclamou. 

O queixo de Ella endureceu. Tinha vindo das matas e não tinha vergonha nisso. Ao ver a veia da testa da bruxa, Cléia se silenciou rapidamente. 

- Todas nós viemos de clãs mais humildes que viviam em florestas e bosques. Não têm nada de errado nisso. -Ella disse suavemente, a ameaça em seu tom de voz doce. 

Cléia engoliu em seco. 

- Senhora, perdão. Isso é verdade. Mas, me refiro a perda inestimável de entes poderosos que foram sacrificados por aquela besta. - Cléia mudou o assunto, sua expressão se tornando furiosa. 

Ella ergueu as sobrancelhas. 

- Creio que você se refira ao exército que a atacou assim como os outros, não? - indagou, ainda incerta. 

Cléia negou com a cabeça. 

- Se fosse um exército de humanos poderíamos ter acabado com eles em dois segundos. Estou me referindo a uma mulher com seus quatro seguidores que massacraram meu povo e o os outros que aqui estão nesta sala. - ela disse alto, revoltada. 

Ella segurou o riso. 

- Está dizendo que uma única mulher devastou seu clã? 

Krishna limpou a garganta. Ela pertencia a uma seita indiana mística e forte, que não se denominam bruxas, mas eram poderosas demais para serem ignoradas. 

- Isso parece uma piada. Mas, não foi o seu grupo que foi emboscado e atacado. - a pequena mulher de cabelos longos escuros murmurou. - Esta única caçadora com seus amigos cortou a cabeça de centenas de bruxas apenas com sua espada. 

Ella ficou séria. 

- E quem seria esta caçadora? Quase não ouvi mais histórias deles. - deu de ombros. 

Cléia suspirou. 

- Eles ainda estão por aí. Agem em silêncio, na calada da noite, são em maior parte vampiros que não podem sair a luz do sol e aproveitam a escuridão para encurralar um clã inteiro. - os olhos se viraram para Cléia temerosos. Todos ainda têm perdas. Somente Ella que não. - Tem alguns que a chamam de Cavaleira da Morte. Usa um manto da cor da noite e tem olhos azuis como o céu de dia. Mata sem qualquer piedade e pergunta depois. 

Ella não se deixou levar por aquela lenda. Em seus duzentos anos não havia ouvido falar daquela caçadora. Não era agora que temeria alguém assim. 

- Bem, se nos unir. Ela não terá chances. - Ella simplesmente não deu importância. 

As bruxas conversaram brevemente e não chegaram a um acordo, adiando a reunião para o dia seguinte. Quartos foram reservados e quando foram dispensadas por Ella, Krishna ficou por último e se aproximou alguns metros mais do que geralmente as pessoas fariam a uma bruxa insamentente fria como Ella. 

- Poderia ter mais respeito com todas nós que estamos de luto. - sua voz soou sem nenhum medo e muito firme. 

Ella demonstrou desdém. 

- Deveria cuidar de sua garganta, ela pode amanhecer cortada. - respondeu. 

Krishna não se moveu. 

- Pode manter sua pose. Mas, espere até que seu clã seja devastado e aí toda essa sua arrogância irá para baixo quando a lâmina da espada da Cavaleira da Morte estiver encharcado com o sangue de suas irmãs. - seu tom era baixo. 

Com isso, se virou e seguiu as outras. 

Um arrepio passou por sua coluna e incrivelmente para esta fala, Ella não tinha respostas. 

                                                 ***

Na calada da noite nossos cavalos estavam a postos. Nossa unidade em total silêncio. 

Como estava na dianteira, observei enquanto o clã de bruxas estava realizando seu ritual de sacrifício. Aquele grupo deveria ter pelo menos quinhentos anos e faziam isso todo ano no solstício de Inverno. Mas, se arriscaram a fazer isso na floresta aberta. Mesmo que fosse escuro, as fogueiras mantinham o ambiente tão claro quanto o dia e mesmo que estivessem apagadas, minha visão noturna excelente denunciaria onde cada objeto, árvore ou pessoa estaria. Estava frio e mesmo com a máscara de proteção que cobria meu rosto, o ar exalava de meu alazão marrom escuro. Benice estava em silêncio e eu amava aquele cavalo. Aprendera que os cavalos poderiam ser mais razoáveis do que seres humanos ou mesmo aqueles que compartilhavam o mundo sobrenatural comigo. 

Observei a fogueira estalar e há muito já não me afetava mais ficar presa na floresta na escuridão. No começo, logo naqueles primeiros anos em minhas missões, o pânico esmagava minha garganta e só conseguia seguir quando escutava os gritos agonizantes de humanos sendo torturados. Mas, ao pavor mudo atingir meus ouvidos, lembrava-me de que ainda poderia fazer algo para punir aqueles que machucavam sem nenhuma piedade. E assim que descia a Guardiã também não tinha nenhuma misericórdia. Isso nunca foi um problema. Aly tinha explicado que muitos ficavam horrorizados com os cortes, as cabeças decapitadas ou jogar corpos vivos na pira. Quer coisa pior do que ver fazerem isso com alguém que se ama? Qual problema seria fazer isso com outros que de fato mereciam? 

Eu não me importava com nada além de salvar aqueles que necessitava e punir os que merecessem. E fazia isso tão bem e tão naturalmente que era como respirar sangue, morte e podridão. E eu amava tudo aquilo, substituindo todos os sentimentos puros que um dia tive, para a sombras de ser caçadora e nomeada líder de nosso clã Bloodstain, o mais rápido, eficaz grupo de caçadores que a Ordem já teve desde o início. 

Havia tomado minha posição como comandante há quase cem anos, vencendo até mesmo Dean em longas lutas, correndo mais rápido que Aly e sendo tão mortal com aquela espada que ficava alojada em minhas costas, que quando ia ao forte da Catedral  - a matriz da Ordem em Londres - todos mantinham uma distância longa. As histórias já haviam se espalhado da caçadora que atacava de noite, destruindo tudo por onde passava. Quase ri ao pensar que muitos diziam que nós caçamos depois do entardecer porque éramos criaturas míticas que queimavam ao Sol. Mal sabiam que era porque a visão noturna era melhor do que qualquer invenção humana e nossa fome também se atiçava ao ver o sangue. Na escuridão, eles não viam o que chegava, e adorava a cara de surpresas daquelas criaturas más, sendo picotadas na primeira oportunidade.  

Os cânticos das bruxas chegaram aos meus ouvidos e quis amaldiçoá-los por aquelas asneiras. Dentre todas aquelas criaturas que caçava, a maioria delas foi imposta nessa vida maldita por fome, sendo transformados ou gerados por outras criaturas. Não conhecia nada além do que lhes era apresentado. Mas, as bruxas em sua maioria humanas, escolhiam representar o mal como uma segunda pele e matavam sem pensar duas vezes em nome de algum demônio que regia aquele grupo. E isso me irritava muito. Que tipo de psicopata escolhia ser tão vil a ponto de tirar existências inocentes em prol do Diabo? 

Elas estavam nuas dançando tão suavemente quanto um rio sinuoso. Seus corpos eram lindos, pintados de sangue da última vítima de seu sadismo e pela maravilhosa visão periférica, notei uma pequena gaiola com três crianças. Pela experiência, apenas demônios maiores gostavam de crianças assim. Precisava atacar antes que alguma delas incorporasse o dito cujo. 

Olhei para trás e a poucos metros, Aly estava com seu capuz levantado assim como o meu. Suas vestes escuras, como as dos outros. Dean estava paralelo a sua direção na esquerda. Os dois sempre foram meus flancos. E mais atrás, Christopher Walker um Djim calmo. Sua pele era branca como a lua acima deles e lindo como um anjo. Seus olhos eram azuis como os meus, os cabelos pretos longos e ele poderia se passar facilmente por meu irmão. Estava no clã há pouco mais de dez anos, por sua habilidade em entrar e sair de qualquer lugar sem ser notado. Isso havia me chamado a atenção e ele é levemente doce, o oposto de Dean, que era seu namorado - bem longe da Ordem, é claro. 

Mais ao fundo, para que eu não visse sua cara estava Balthazar Ecker. Um metamorfo folgado indiano, extremamente belo. De cabelos curtos preto que nem um corvo e pele oliva. Ele era cruel, temperamental e por diversas vezes ocupava espaços que não era chamado. Além de ser precipitado nas operações que eram coordenadas por mim. Se não fosse o fato dele ser querido de Rodd Rifick e sua esposa Allen Bernard - nossos líderes da Ordem nos Estados Unidos não estaria nesse grupo. E também porque abaixava a cabeça quando eu gritava demais. Embora, nem sempre tivesse paciência. Aly sempre me acalmava ao ponto de eu repensar quando queria rasgar a garganta dele. Por isso, sempre ficava atrás e por último. Mas, compensava em lutas. Pelo menos isso. 

Assenti para todos eles e sorri, não de felicidade, mas de ferocidade e arreganhei minhas presas. Dei um toque com a perna em Benice, que preparou a disparada e correu abruptamente para dentro da clareira relinchando. Ele parou com tudo, me dando impulso para saltar e abaixou sua cabeça para que eu pudesse aterrissar e no minuto que coloquei minhas botas pesadas sob o solo, foi que as bruxas viraram os rostos para mim e entenderam que alguém invadia seu rito. 

Havia cabanas aos fundos, demonstrando que mais delas estavam ali e uma delas riu ao ver que era só eu. Por enquanto. 

Tirei com tinir a Guardiã e disparei, meus pés quase não tocavam o chão enquanto ataquei a primeira bruxa nua, ela arregalou os olhos para mim. Vendo apenas a parte superior de meu rosto pela máscara que cobria meu nariz e lábios. Com a espada em mãos, segurei seu pescoço e apertei, inserindo o metal por seu estômago. O sangue escorreu pela lâmina. O cheiro denso subindo por meu nariz e minha fome me fez rosnar. Mas, eu jamais me alimentaria da caça. Ainda mais de bruxas com sangue de demônio. 

Retirei a Guardiã e joguei o corpo dela no chão, as outras que pararam de dançar correram para cima de mim e insanamente rosnei mais uma vez, passando a minha espada para cima e para os lados, cortando dois corpos e derrubando mais dois com socos. Girei meu corpo, me inclinando para baixo e passei uma rasteira na que faltava. Ao tombar de encontro com a terra úmida, ela gritou e levantei os olhos para ver que outras bruxas mais velhas seguravam flechas e arpões. Enterrei a Guardiã pela boca aberta que ainda gritava e muitas das que vinham ao meu encontro, xingaram em línguas que eu conhecia pelos estudos, mas não me importei. Sangue respingava em meus casacos, mas aquilo era como cheiro de Céu e os gritos daquelas que morriam eram minha canção de ninar todas as noites. 

Uma saraivada de flechas cortaram o ar e em uma velocidade inumana, desviei em um raio quase transparente cortando as flechas no ar e apenas uma correu para minhas pernas, mas segurei antes que me atingisse. Poderia estar envenenada e isso sim seria um problema. 

Os outros saíram da escuridão do bosque e correram para me ajudar e continuei indo em crescente rapidez, meus lábios estavam cerrados e minhas presas para fora assim como minhas garras. Assim que fiquei de frente com a bruxa velha que segurava uma arma, pisquei para ela. Minhas veias saltadas sob os olhos grandes e a prendi enterrando minhas garras em suas órbitas. Depois em seu peito e arranquei seu coração. Me livrei dela e outras duas estavam estalando os dedos, seus pés bateram no chão tremendo o solo e pulei sob uma cratera que se abriu onde eu estava e cai sobre elas, todas nós rolando pelo chão, mas peguei duas armas que estavam em um coldre na cintura e disparei antes que elas pudessem lançar mais alguma magia. Eu gostava de armas, não tanto quanto a minha Guardiã, mas elas eram úteis em agilidade. 

Continuei com a minha espada, matando uma a uma e estava coberta de sangue quando me lembrei da pequena gaiola. Os outros estavam pegando os corpos para jogar na mesma fogueira que haviam acedido para matar aquelas crianças e atravessei a clareira, guardando minhas armas. Não queria assustá-las. 

Percebi que Balthazar havia chegado primeiro e ele estava chacoalhando a gaiola, dizendo coisas ofensivas às crianças, que já estavam deturpadas o suficiente pelo massacre que haviam acabado de ver. Me movi como um fantasma e me posicionei atrás dele. Como era alta, com quase um e oitenta, ele era da minha altura. Não pude conter minha raiva e coloquei um revólver sob sua nuca. Ele levantou as mãos quando escutou o clique da trava sendo aberta. 

Por ser metamorfo, suas habilidades sensoriais eram inferiores às minhas. Ele era apenas uma hiena que enxergava no escuro e eu o próprio leão que via cada movimento seu antes mesmo que ele o fizesse. 

- O que está fazendo? - indaguei em tom baixo, suave e ameaçador. 

Ele sequer ousava respirar. 

- Eles podem ser bruxos. O que me garante que não são? - ele disse e aos meus ouvidos soou como um disparate descabido. 

Trinquei meus dentes. 

- Você sente o cheiro ocre da magia neles? Você olhou para suas feições e viu que não são descendentes daquelas mulheres? Ou não se atentou ao fato de que eles estão em gaiolas? - sussurrei pelas presas que rangiam. 

Ouvi passos e sabia que era Aly, mas nem mesmo virei meu rosto. Concentrada em querer atirar naquele idiota. 

- Ártemis. - ela chamou. 

Eu sabia que não poderia matá-lo. Não adianta. Seria culpada pela Ordem e isso não acabaria bem. Tínhamos um código de conduta rígido. Ainda mais contra nossos próprios irmãos de farda. Mas, sem paciência, abri minha mão esquerda que não estava segurando a arma, e espalmei com força em sua orelha esquerda. Ele gritou e caiu para o lado de joelhos. Encarei os olhos assustados das crianças encolhidas em um canto e tive vontade de espanca-lo no mínimo. 

- Saia da minha frente antes que eu faça uma besteira. E acho bom não ver essa sua cara por hoje. - falei duramente. 

Ele ficou irado de ódio por seus olhos e se levantou, sabendo que não poderia dizer nada por eu ser sua superior, apenas saiu e ouvi Aly xingando-o. Ela havia instruído a ele, como fez comigo e os os demais. Balthazar estava cansado de saber o protocolo. Mas toda vez fazia de propósito. Ele ria depois e se gabava do terror na cara dos humanos. Como se ele fosse algo superior, quando no fundo não passava de lixo que trocava de pele. 

Voltei minha atenção para as três meninas sujas e magras demais naquele pequeno espaço. Deixei minhas feições voltarem ao normal e abaixei meu capuz, retirando minha máscara. 

Para parecer humana e confiável a elas. 

- Vocês estão feridas? Estão bem? - perguntei. 

Discretamente, abaixei minha mão ainda mantendo contato visual com seus olhares assustados e finquei uma garra na fechadura, forçando o metal e consegui desatar a fechadura, que se abriu com um clique. 

- Estamos com fome. Minha irmã está com a perna quebrada. - uma delas disse. Parecia mais velha e a menor segurava sua perna de um jeito estranho. 

Assenti. 

- Vamos levá-las para um lugar seguro e garantir que seus ferimentos sejam limpos e cuidados. Depois que comerem e descansarem enviaremos a sua família. Se caso não tiverem alguém, há um abrigo para meninas que poderão ser encaminhadas. - repeti. Isso já era um jargão cotidiano.

Ajudei-as a sair e os outros queimavam aquele acampamento do mal, jogando tudo que encontravam no fogo e o que achavam suspeito ou interessante para Ordem guardavam. 

Cada menina foi ajeitada nos cavalos, viajando com Dean, Aly e Christopher. Aly não olhou para mim e sabia que ela deveria estar irritada pela briga com Balthazar. Não demonstrei nada além de frieza e montei em meu cavalo. O sol estava subindo ao horizonte e eu precisava descansar. Ver aquelas meninas me lembrava de minha infância que fora feliz. Não gostava de lembrar de meu pai. Não mais. Aquela parte de mim ficara guardado em uma caixinha em meu subconsciente. 

Tinha trabalho demais a fazer para revisitar aquela outra vida. 

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