A herdeira inesperada do príncipe
A herdeira inesperada do príncipe
Por: Elainne Silva
Prólogo

Prólogo.

Rhuan narrando

Eu já deveria ter aprendido que me deixar guiar pela tentação sempre causa problemas, mas quando acordo com o som de um choro de bebê, simplesmente me levanto no meio da madrugada e, sem me dar ao trabalho de colocar uma roupa mais comportada, deixo o meu quarto.

Com o coração um pouco acelerado por razões que prefiro não me aprofundar, desde que não posso fazer nada com a possível resposta, caminho sem fazer qualquer barulho em direção à ala dos empregados do palácio.

Eu só posso ter tido um tipo estranho de sonho.

Bebês?

Não há bebês no palácio. Ainda não, mas haverá quando eu me casar, algo que está muito perto de acontecer. Dessa vez, a cobrança será muito maior.

No nosso mundo, casamento é quase uma promessa de bebês, crianças que serão criadas como fomos criados: sem liberdade e sem poderem fazer escolhas próprias.

E queira Deus que essas crianças tenham sangue quente correndo nas veias e, assim como eu, pelo menos tentem respirar por conta própria, porque viver desse jeito e não ter um pingo de rebeldia, não é viver.

Embora a minha rebeldia, e tenho idade o suficiente para não negar a pessoa que eu era, tenha causado alguns problemas no decorrer da minha vida, foi ela que me fez chegar até aqui com a mente sã e ter pelo menos experimentado o gosto da liberdade por um tempo.

Eu pensei que estava completamente acostumado a essa altura da minha vida, e deveria estar acostumado, já que nasci em uma prisão, mas, no momento em que uma das escolhas mais importantes da minha vida está sendo feita por terceiros, uma escolha que me prenderá a alguém para sempre, começo a sentir que é impossível não me ressentir do sangue que corre nas minhas veias.

Não é como se eu pudesse fazer além do que já fiz, mas todos têm seus limites e sinto que o limite da paciência do rei foi superado.

Eu preciso fazer o que é certo.

Não pode ser de outra maneira.

É por não haver uma escolha que estou andando como um zumbi pelo palácio no meio da madrugada. Por não haver escolha que estou ouvindo algo que não existe.

Porque o bebê continua chorando e, se eu fosse um pouco mais jovem, estaria com medo de que fosse uma assombração assolando um palácio.

Embora a outra opção seja assumir que de fato há um bebê no palácio, algo pouco provável, porque eu saberia se tivesse, é a única opção válida.

Significa que não estou tão a par de tudo que acontece a minha volta como deveria estar.

A cada passo que me leva ao lugar onde ela dormia há dois anos, mais o meu coração acelera. Apesar de haver a desculpa dos sons que estão incomodando, sei que não é apenas por isso que estou vindo até aqui.

Por alguma razão, o palácio foi construído de uma forma que não há como uma pessoa esperar por privacidade. Na verdade, acho que foi de propósito, porque pessoas como nós não devem ter privacidade, nem dentro da própria casa.

Não dizem que somos do povo?

Acho que esse conceito é levado mais a sério do que deveria.

Por causa disso, meu quarto fica no andar de cima e embaixo está a ala dos empregados.

Não foram poucas as vezes em que dormi com o som dos passos dos empregados, enquanto cuidavam dos seus afazeres e andavam de um lado para o outro.

Se na adolescência ficava puto e tentava mudar de quarto, há alguns anos passei a prestar atenção nos sons e até mesmo a apreciá-los.

Tudo porque, no fundo, tinha a esperança de que conseguiria diferenciar os seus passos entre tantos. A ilusão de que ela era uma das pessoas indo e vindo. Uma ilusão tola, porque a mulher que fodeu com a minha cabeça sumiu há anos.

Ou, pelo menos, é o que digo para a minha consciência.

Claro que eu poderia a encontrar facilmente se colocasse esforços nesse sentido. Senti muita vontade de a perseguir no último momento, quando me questionei o que qualquer um de nós ganharia com isso.

Encontrá-la apenas me faria sofrer pelo que não posso ter, o que não pode ser. Encontrá-la faria com que eu me ressentisse ainda mais de quem sou e do que não posso ser.

Quando finalmente paro na frente da porta do quarto que a garota ocupava há alguns anos, percebo que não estou ficando louco, que não foi um pesadelo, e que na verdade realmente há uma criança chorando dentro do quarto.

Fico parado durante alguns segundos, apenas escutando os sons, que aos poucos começam a diminuir, sem qualquer tipo de reação.

A minha mente fica quase vazia e, no fundo, uma voz bem distante pede para que eu dê meia volta e me afaste. Essa voz sensata implora para que eu não faça o que estou pensando quando ergo o braço e seguro a fechadura da porta.

Seguro com força, como se a minha vida dependesse disso.

Então abro a porta e entro no cômodo que é três vezes menor do que o meu. Pequeno e simples, mas o que realmente chama a minha atenção é o berço no lado esquerdo.

Um berço branco e mais simples do que os poucos que vi na vida. Quase prendendo a respiração e suando por alguma razão, me aproximo do berço e quase caio para trás quando vejo o que sabia que veria: uma bebê chorando copiosamente.

Ela chora tanto que o seu rosto está vermelho. Suas mãos estão estendidas, parece que está implorando para que eu o pegue.

Com medo de a machucar ou deixar cair, a seguro contra o meu peito e o seu calor aquece o meu coração. Não demora mais do que alguns segundos para que o choro alto e copioso se torne um ruído baixo e com pequenos soluços.

— Isso aí, campeã. Não precisa chorar, porque você não está sozinha — falo baixo, quando meus lábios encontram a sua cabecinha de cabelos lisos e castanhos claros, quase loiros.

Durante um tempo, não faço ideia de onde vem a necessidade, fico apenas segurando a bebê nos meus braços e sentindo o seu coraçãozinho batendo contra o meu.

Quando a criança fica quieta demais, levanto a sua cabeça para checar se não está dormindo.

No momento em que o seu olhar encontra o meu, o baque que sofro é tão grande que sinto medo de a deixar cair no chão.

Eu estou completamente surpreso, porque, diante dos meus olhos, estou vendo olhos idênticos aos meus. É impossível que exista algo assim sem que haja uma explicação lógica.

— Você…

— Papa! — Olhando para mim, a menina que deve ter no máximo dois anos balbucia.

— Você quis dizer, papai?

— Papa — ela repete, agora com um sorrisinho no rosto, muito parecido com o meu.

Isso não pode ser possível, pode?

Antes que eu tenha tempo de deixar minha mente trabalhar com ideias e suposições que trariam sentido ao fato de eu estar segurando nos braços uma bebê que é uma cópia em miniatura de mim mesmo, escuto a voz que sempre ouço nos meus sonhos.

Sempre implorando.

Mais rápido.

Mais forte.

Me faça gozar.

Uma voz que eu reconheceria, mesmo se passasse um milhão de anos.

— Trouxe a sua mamadeira, amor. A mamãe não disse que não iria demorar?

Mamãe?

Agarrada a menina, como se ela fosse o próprio ar que respiro, olho para traz em direção à porta e a vejo.

Elena.

Minha linda, jovem e doce Elena.

A mulher que eu não deveria ter tocado.

A filha da empregada.

E, se eu não estiver ficando maluco, a mãe da minha filha bastarda.

A filha que eu não deveria ter.

Fale-me sobre escolhas equivocadas e eu poderia te dar uma lição de como fazer, pois, apesar de todos os obstáculos intransponíveis, a minha mente e o meu coração gritam:

Essa é a minha mulher.

Essa é a minha bebê.

Um grito que precisa ser ouvido, mesmo quando sei que não pode ser assim.

Porque eu sou o futuro rei e não posso ser pai da filha da empregada.

Eu não posso querer que ela seja a minha mulher.

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