Prólogo.
Rhuan narrando Eu já deveria ter aprendido que me deixar guiar pela tentação sempre causa problemas, mas quando acordo com o som de um choro de bebê, simplesmente me levanto no meio da madrugada e, sem me dar ao trabalho de colocar uma roupa mais comportada, deixo o meu quarto. Com o coração um pouco acelerado por razões que prefiro não me aprofundar, desde que não posso fazer nada com a possível resposta, caminho sem fazer qualquer barulho em direção à ala dos empregados do palácio. Eu só posso ter tido um tipo estranho de sonho. Bebês? Não há bebês no palácio. Ainda não, mas haverá quando eu me casar, algo que está muito perto de acontecer. Dessa vez, a cobrança será muito maior. No nosso mundo, casamento é quase uma promessa de bebês, crianças que serão criadas como fomos criados: sem liberdade e sem poderem fazer escolhas próprias. E queira Deus que essas crianças tenham sangue quente correndo nas veias e, assim como eu, pelo menos tentem respirar por conta própria, porque viver desse jeito e não ter um pingo de rebeldia, não é viver. Embora a minha rebeldia, e tenho idade o suficiente para não negar a pessoa que eu era, tenha causado alguns problemas no decorrer da minha vida, foi ela que me fez chegar até aqui com a mente sã e ter pelo menos experimentado o gosto da liberdade por um tempo. Eu pensei que estava completamente acostumado a essa altura da minha vida, e deveria estar acostumado, já que nasci em uma prisão, mas, no momento em que uma das escolhas mais importantes da minha vida está sendo feita por terceiros, uma escolha que me prenderá a alguém para sempre, começo a sentir que é impossível não me ressentir do sangue que corre nas minhas veias. Não é como se eu pudesse fazer além do que já fiz, mas todos têm seus limites e sinto que o limite da paciência do rei foi superado. Eu preciso fazer o que é certo. Não pode ser de outra maneira. É por não haver uma escolha que estou andando como um zumbi pelo palácio no meio da madrugada. Por não haver escolha que estou ouvindo algo que não existe. Porque o bebê continua chorando e, se eu fosse um pouco mais jovem, estaria com medo de que fosse uma assombração assolando um palácio. Embora a outra opção seja assumir que de fato há um bebê no palácio, algo pouco provável, porque eu saberia se tivesse, é a única opção válida. Significa que não estou tão a par de tudo que acontece a minha volta como deveria estar. A cada passo que me leva ao lugar onde ela dormia há dois anos, mais o meu coração acelera. Apesar de haver a desculpa dos sons que estão incomodando, sei que não é apenas por isso que estou vindo até aqui. Por alguma razão, o palácio foi construído de uma forma que não há como uma pessoa esperar por privacidade. Na verdade, acho que foi de propósito, porque pessoas como nós não devem ter privacidade, nem dentro da própria casa. Não dizem que somos do povo? Acho que esse conceito é levado mais a sério do que deveria. Por causa disso, meu quarto fica no andar de cima e embaixo está a ala dos empregados. Não foram poucas as vezes em que dormi com o som dos passos dos empregados, enquanto cuidavam dos seus afazeres e andavam de um lado para o outro. Se na adolescência ficava puto e tentava mudar de quarto, há alguns anos passei a prestar atenção nos sons e até mesmo a apreciá-los. Tudo porque, no fundo, tinha a esperança de que conseguiria diferenciar os seus passos entre tantos. A ilusão de que ela era uma das pessoas indo e vindo. Uma ilusão tola, porque a mulher que fodeu com a minha cabeça sumiu há anos. Ou, pelo menos, é o que digo para a minha consciência. Claro que eu poderia a encontrar facilmente se colocasse esforços nesse sentido. Senti muita vontade de a perseguir no último momento, quando me questionei o que qualquer um de nós ganharia com isso. Encontrá-la apenas me faria sofrer pelo que não posso ter, o que não pode ser. Encontrá-la faria com que eu me ressentisse ainda mais de quem sou e do que não posso ser. Quando finalmente paro na frente da porta do quarto que a garota ocupava há alguns anos, percebo que não estou ficando louco, que não foi um pesadelo, e que na verdade realmente há uma criança chorando dentro do quarto. Fico parado durante alguns segundos, apenas escutando os sons, que aos poucos começam a diminuir, sem qualquer tipo de reação. A minha mente fica quase vazia e, no fundo, uma voz bem distante pede para que eu dê meia volta e me afaste. Essa voz sensata implora para que eu não faça o que estou pensando quando ergo o braço e seguro a fechadura da porta. Seguro com força, como se a minha vida dependesse disso. Então abro a porta e entro no cômodo que é três vezes menor do que o meu. Pequeno e simples, mas o que realmente chama a minha atenção é o berço no lado esquerdo. Um berço branco e mais simples do que os poucos que vi na vida. Quase prendendo a respiração e suando por alguma razão, me aproximo do berço e quase caio para trás quando vejo o que sabia que veria: uma bebê chorando copiosamente. Ela chora tanto que o seu rosto está vermelho. Suas mãos estão estendidas, parece que está implorando para que eu o pegue. Com medo de a machucar ou deixar cair, a seguro contra o meu peito e o seu calor aquece o meu coração. Não demora mais do que alguns segundos para que o choro alto e copioso se torne um ruído baixo e com pequenos soluços. — Isso aí, campeã. Não precisa chorar, porque você não está sozinha — falo baixo, quando meus lábios encontram a sua cabecinha de cabelos lisos e castanhos claros, quase loiros. Durante um tempo, não faço ideia de onde vem a necessidade, fico apenas segurando a bebê nos meus braços e sentindo o seu coraçãozinho batendo contra o meu. Quando a criança fica quieta demais, levanto a sua cabeça para checar se não está dormindo. No momento em que o seu olhar encontra o meu, o baque que sofro é tão grande que sinto medo de a deixar cair no chão. Eu estou completamente surpreso, porque, diante dos meus olhos, estou vendo olhos idênticos aos meus. É impossível que exista algo assim sem que haja uma explicação lógica. — Você… — Papa! — Olhando para mim, a menina que deve ter no máximo dois anos balbucia. — Você quis dizer, papai? — Papa — ela repete, agora com um sorrisinho no rosto, muito parecido com o meu. Isso não pode ser possível, pode? Antes que eu tenha tempo de deixar minha mente trabalhar com ideias e suposições que trariam sentido ao fato de eu estar segurando nos braços uma bebê que é uma cópia em miniatura de mim mesmo, escuto a voz que sempre ouço nos meus sonhos. Sempre implorando. Mais rápido. Mais forte. Me faça gozar. Uma voz que eu reconheceria, mesmo se passasse um milhão de anos. — Trouxe a sua mamadeira, amor. A mamãe não disse que não iria demorar? Mamãe? Agarrada a menina, como se ela fosse o próprio ar que respiro, olho para traz em direção à porta e a vejo. Elena. Minha linda, jovem e doce Elena. A mulher que eu não deveria ter tocado. A filha da empregada. E, se eu não estiver ficando maluco, a mãe da minha filha bastarda. A filha que eu não deveria ter. Fale-me sobre escolhas equivocadas e eu poderia te dar uma lição de como fazer, pois, apesar de todos os obstáculos intransponíveis, a minha mente e o meu coração gritam: Essa é a minha mulher. Essa é a minha bebê. Um grito que precisa ser ouvido, mesmo quando sei que não pode ser assim. Porque eu sou o futuro rei e não posso ser pai da filha da empregada. Eu não posso querer que ela seja a minha mulher.Capítulo 1.Elena narrando.Eu vivo dentro de um conto de fadas desde os meus três anos de idade, mas não se engane, porque não é da forma que você está pensando.Moro em um palácio medieval e gigantesco? Moro.Estou sendo rodeada por um rei bondoso e por príncipes belíssimos? Estou.Mas, nesse conto de fada, eu sou a gata borralheira.Na verdade, a filha da empregada, uma das muitas empregadas que fazem parte do quadro de funcionários do castelo, tudo porque o próprio rei Otávio foi benevolente quando permitiu que uma das suas funcionárias trouxesse a filha de três anos para morar aqui quinze anos atrás.Ele não quer que ninguém saiba, mas, por baixo dos seus sorrisos condescendentes e ensaiados, existe um coração que não é de gelo, não cem por cento.E não é apenas por ter permitido que mamãe me trouxesse com ela, mas pude ver pequenos atos de bondade do monarca de perto e não posso deixar de admirar a forma como governa o reino de Solari.Nada disso significa que não tem pulso firm
Capítulo 2.Rhuan narrando.Embora eu seja o futuro rei de Solari, foram raras as vezes em que usei de qualquer autoridade para dar ordens. Mas aqui estou eu: tentando obrigar uma garota a ficar mais um pouco comigo. Apesar de ser muito linda, com o seus cabelos castanhos e olhos castanhos esverdeados, ela provavelmente não passa de uma jovem que não deve ter mais do que vinte anos de idade. Eu poderia a confundir com uma adolescente, mas os seus seios, dos quais não consigo tirar os olhos, deixam claro que se trata de uma mulher feita.Eu estava me sentindo sufocado no salão de baile e então, em determinado momento, um dos poucos minutos em que não estava dançando com uma das minhas pretendentes, encontrei uma maneira de fugir discretamente para fora das paredes que estavam se fechando a minha volta. Pelo menos, era a sensação que eu tinha. Então ela veio até mim e não faço ideia de onde surgiu. Apesar disso, não quero mais ficar sozinho com os meus pensamentos e a minha insatisfa
Capítulo 3.Elena narrando.Eu sei que o meu erro começou no momento em que vi o príncipe no labirinto, não consegui resistir e fui atrás dele. Então, o erro continuou quando permiti que conversasse comigo e o segui até esse salão. Mas o meu maior erro foi olhar dentro da sua alma e perceber traços de vulnerabilidade, quando se mostrou um homem muito diferente daquele que apresenta para todos.Se eu era apaixonada pelo Rhuan que era apenas um príncipe que via de longe e tentava chamar sua atenção, não sei como classificar o que estou sentindo agora, estando tão próxima dele, tendo permissão para enxergar as rachaduras da sua alma.A sua vulnerabilidade me quebra. O sorriso genuíno, que é diferente daquele ensaiado de quando acena para a população, deixa o meu coração aquecido e faz o meu corpo reagir.A verdade é que estou cometendo um erro atrás do outro, mas não consigo voltar atrás. Não consigo parar de errar, afinal, estou tendo o que sempre quis e o que acreditei que nunca pode
Capítulo 4.Rhuan narrando.Apesar do peso das responsabilidades, nunca fui o tipo de pessoa que tem problemas para dormir, mas não lembro qual foi a última vez que tive um sono tão tranquilo e pesado. Dormi como se não houvesse nenhuma preocupação no mundo para mim, como se não tivesse abandonado a minha responsabilidade para viver uma aventura com a bela desconhecida.Então, enquanto começo a ficar consciente de fato, um sorriso rasgado e sonolento surge na minha boca, quando lembro de como ontem à noite, e durante toda madrugada, fui feliz. Elena… Minha linda Elena, jovem e doce demais para alguém como eu. Com o seu corpo e sua bucetinha quente e apertada, ela me fez sentir prazer de uma forma como nunca havia sentido, e não foi por falta de experiência. As melhores fodas que experimentei foram com ela, e não foi apenas pelo sexo em si, mas pela conexão física tão forte e pela paixão que experimentei, de uma forma que senti que poderia passar a minha vida inteira transando com
Capítulo 5.Elena narrando.MOMENTOS ANTES Quando saí dos seus braços ainda durante a madrugada, fui com o corpo completamente dolorido, depois de ter sido usado até a exaustão, mas com vontade de ficar um pouco mais. Porém, cheia de pressa e com medo de que alguém pudesse nos pegar em flagrante, me dei ao trabalho de pegar apenas a minha camisola e, olhando de um lado para o outro, voltei para o meu quarto no palácio.Tudo o que eu queria era tomar banho e me deitar com o sorriso mais do que satisfeito no rosto, porque jamais considerarei o fato de ter entregado minha virgindade para o homem por quem sempre fui apaixonada um erro. Mas, antes de entrar no meu quarto, fui surpreendida pela minha mãe, que me olhou com desconfiança e quis saber por que eu havia desaparecido durante o baile e por que não atendi a porta quando ela bateu. Inventei uma desculpa sobre como estava com dor de cabeça e queria dormir. Quanto a porta trancada, justifiquei que não queria correr o risco de ter n
Capítulo 6.Elena narrando.Um mês depois...— Um cappuccino com caramelo — falo, e coloco a bebida que o cliente pediu no balcão. Antes de pegar o copo, o homem que tem por volta de quarenta anos me olha demoradamente atrás do balcão e joga uma piscada para mim. Apesar da insistência da minha mãe em me ajudar financeiramente, porque o que ela recebe como governanta do palácio é o suficiente para mantê-la e ainda guardar na poupança, que segundo a própria foi feita justamente para suprir as minhas necessidades quando eu me tornasse adulta, não permito que me sustente por inteiro, afinal, sou capaz de trabalhar para me manter e não ser um peso para ela.Então, para que Juana não fique chateada, porque a conheço e sei que realmente ficaria, permito apenas que me ajude com a mensalidade da faculdade, mas pago por todo resto, como moradia, comida e contas. Para que dê tudo certo no final do mês, preciso trabalhar no período da noite como garçonete. Na parte da manhã, vou para a univer
Capítulo 7.Rhuan narrando.— Finalmente o meu irmão foi fisgado! — Ignácio fala em tom de provocação, ao dar um tapinha no meu ombro. Mas ele não está errado, realmente fui fisgado. Pelos motivos errados, mais fui. Fisgado e sem ter como fugir. — Continue me provocando, idiota. Mas não se esqueça de que a sua hora vai chegar. A sua também, Javier. — Claro que vai, mas não antes de você colocar a coleira oficial no pescoço. Por enquanto, é apenas um ensaio — Ignácio continua.Eu e os meus irmãos estamos no jardim do palácio. Não o que é em formato de labirinto, sim o que fica na parte de trás da construção, que geralmente é usado para eventos mais formais e oficiais, como noivados e cerimônias de casamentos. Aqui, tudo o que se vê é verde. Grama verde e bem-cuidada. Árvores frutíferas e que trazem certa doçura e melancolia a tudo o que acontece nesse local. É quase mágico, mas não há nada mágico no que está acontecendo hoje, é tudo sobre dever e praticidade. Hoje é o meu noivad
Capítulo 8.Elena narrando.Dois anos depois...— Amiga, você tem certeza de que é normal? — Eu não deveria achar o desespero da minha prima engraçado, mas como poderia segurar? Há mais de um ano, estou exercendo a função de mãe solo, então me acostumei de certa forma com cada susto que minha pequena princesa dá em mim.Mas não posso negar que é completamente cômico perceber o quanto outras pessoas ficam apavoradas com algo que é corriqueiro para mim.— Prima, está tudo certo. Você sabe que bebês choram, não sabe? Não é sempre que eles ficam calminhos e doces — falo, ao sair da cozinha e sentar ao seu lado no sofá com a mamadeira na mão.— Eu sei que essas coisinhas fofas gostam de abrir o berreiro de vez em quando, mas faz muito tempo que a Mirella está chorando sem parar. Olha só como as bochechas dela estão vermelhas…— Ela está enjoada por causa dos dentes que estão nascendo. Minha bebê está sentindo muito a gengiva, e às vezes nem mesmo os mordedores e os remédios que passo no l