Capítulo 8.Elena narrando.Dois anos depois...— Amiga, você tem certeza de que é normal? — Eu não deveria achar o desespero da minha prima engraçado, mas como poderia segurar? Há mais de um ano, estou exercendo a função de mãe solo, então me acostumei de certa forma com cada susto que minha pequena princesa dá em mim.Mas não posso negar que é completamente cômico perceber o quanto outras pessoas ficam apavoradas com algo que é corriqueiro para mim.— Prima, está tudo certo. Você sabe que bebês choram, não sabe? Não é sempre que eles ficam calminhos e doces — falo, ao sair da cozinha e sentar ao seu lado no sofá com a mamadeira na mão.— Eu sei que essas coisinhas fofas gostam de abrir o berreiro de vez em quando, mas faz muito tempo que a Mirella está chorando sem parar. Olha só como as bochechas dela estão vermelhas…— Ela está enjoada por causa dos dentes que estão nascendo. Minha bebê está sentindo muito a gengiva, e às vezes nem mesmo os mordedores e os remédios que passo no l
Capítulo 9.Rhuan narrando.— Você sabe que está mais do que pronto, filho — o rei fala, ao dar um tapinha no meu ombro, enquanto fazemos uma caminhada pelas terras que ficam em volta do palácio. Ele tem o costume de fazer as caminhadas todos os dias pela manhã. São recomendações médicas por causa da sua saúde, afinal, aos sessenta e oito anos, Otávio não é mais nenhuma criança.No meu caso, vim apenas para acompanhá-lo, porque meus exercícios físicos se restringem a andar à cavalo e praticar esgrima, embora até hoje precise me esforçar para não ficar com uma ereção bizarra todas as vezes em que entro naquele salão. Ainda guardo as lembranças que preferia esquecer, mas, mesmo depois de dois anos, lembro dos detalhes de tudo o que aconteceu naquele lugar. — Estou pronto, papai — falo o que ele precisa ouvir. — Além do mais, está mais do que na hora de acontecer. Apesar de aparentemente estar com medo de falar, como eu se ainda fosse aquele Rhuan que fugia apenas com a simples menç
Capítulo 10.Elena narrando.Duas semanas depois...— Pode falar — digo ao telefone. Estou surpresa desde o momento em que meu chefe disse que tinha alguém no telefone querendo falar comigo. Além de o aparelho ter se tornado apenas um item de decoração, afinal, quem usa telefone hoje em dia, ninguém nunca me ligou no trabalho.As pessoas que poderiam estar precisando de mim, minha tia e minhas primas, estiveram comigo mais cedo. — Aqui é o Otávio. — Ouço a voz masculina do outro lado da linha. — Otávio? Eu não conheço nenhum Otávio… nenhum além do… rei Otávio? — Engasgo. Por que o rei em pessoa estaria me ligando? Meu coração dispara e minha mão começa a ficar suada. — Sim, minha criança, você está falando com o rei — o tom da sua voz é quase paternal. — Vossa Majestade, algum problema? — Não sei como dizer isso, mas sua mãe se sentiu mal… De repente, sinto como se as paredes desse lugar estivessem se fechando a minha volta. Minha mãezinha… — Ela está… — Foi apenas um sust
Capítulo 11.Rhuan narrando.— Sim querida, você pode fazer do jeito que quiser, porque eu realmente não me importo com a cor da toalha que ficará sobre as mesas, muito menos com que tipo de flores você escolherá para a decoração — falo ao telefone, antes de desligar.Eu estou tentando ser paciente, mas faz uns dias que minha noiva tem me atormentado com perguntas aleatórias a respeito da organização do nosso casamento.Entendo que está nervosa e que deseja que tudo seja o mais perfeito possível, digno de uma união real, mas tenho coisas mais importantes com as quais me preocupar, por exemplo, como lidar com a dúvida que está começando a me incomodar.Eu não deveria dar atenção, porque tive dois anos para me convencer, e realmente me convenci a dar esse passo. Abri mão de correr atrás da mulher que realmente queria, porque eu sabia que era impossível que ficássemos juntos, mesmo ciente esse tempo todo de que eu só precisava dar um passo em sua direção. Quando estava tudo resolvido n
Capítulo 12. Elena narrando. Eu sou mesmo uma boba! Passei dois dias inteiros tentando pensar em formas de fugir desse confronto, mesmo sabendo que, uma hora ou outra, ele acabaria me vendo no palácio, mas falhei muito mais rápido do que poderia imaginar. Mas talvez não devesse ser tão dura comigo mesma, pois, se falhei na missão, tive a ajuda da minha pequena, que me acordou no meio da madrugada chorando no berço que mamãe providenciou para ela dormir.Embora tenha pensado em um primeiro momento que era apenas os dentes incomodando mais uma vez, decidi não arriscar. Depois de a fazer cochilar novamente, fui correndo até a cozinha e eu mesma preparei a mamadeira dela. Pensei que Mirella não acordaria, mas ela não só acordou, como também despertou a última pessoa que eu queria que a visse. Eu não sei como reagir ao ver minha filha nos braços do pai. É uma cena que imaginei algumas vezes, mesmo acreditando que não aconteceria. O meu coração está apertado no peito. Minha visão es
Capítulo 13. Rhuan narrando.— Menos agressividade, Rhuan. Lembre-se de que nós estamos treinando e de que sou seu irmão, não seu inimigo — Javier reclama. Depois de ontem, quando acordei com medo de que fosse um sonho e descobri que não era, tirei meu irmão da cama e o trouxe para treinarmos esgrima. Como sempre faz, ele está agindo como um bebê chorão por causa dos meus ataques.Geralmente pego leve, mas estou cheio de energia e minha cabeça está a mil por hora. Minha mente não para. O que acontece é que estou noivo há dois anos e com casamento marcado para daqui algumas semanas. Mas também reencontrei a garota por quem sou louco e não consigo parar de pensar nela. Não consigo parar de desejar procurá-la e ficar ao seu lado durante horas, mesmo que seja apenas para conversarmos. Desejo ter horas ao seu lado, sem pensar em obrigações chatas e em um casamento para o qual nunca estive realmente entusiasmado. Eu preciso da esgrima agora para me segurar e não começar a perseguir
Capítulo 14.Elena narrando. Depois da cena que fiz ao desmaiar quando vi Rhuan segurando a nossa filha nos braços, senti muita vergonha, embora esse sentimento devesse ficar em último lugar na minha lista de preocupações. Faz dois dias que cheguei ao palácio, os mesmos dois dias em que venho tentando evitar o príncipe herdeiro pelos corredores. Deveria estar sendo fácil, considerando os mais de vinte quartos e três salas de estar, mas é impressionante a quantidade de vezes em que vejo o homem. Não é menos do que três vezes por dia.Eu poderia concluir que estou sendo presunçosa por supor que estou sendo perseguida por um príncipe, mas é difícil acreditar que os nossos encontros são meramente acidentais, considerando a questão do palácio ser enorme e tudo mais. Quando posso escolher, opto por quase não sair do meu quarto. Porém, quando não posso evitar, bato de frente, literalmente falando, com o pai gostoso da minha filha. Sim, não é porque estou fugindo dele e morrendo de medo
Capítulo 15.Rhuan narrando.Passei os últimos dois anos me comportando da melhor maneira possível, a altura do que era esperado de alguém na minha posição. Em nome do bom comportamento, levei um noivado morno durante dois anos, mas não me arrependo, porque, apesar de tudo, eu sinto que precisava passar pela experiência de ter tentado.Não só por mim, mas também pelo rei, que no fundo acreditava que eu era incapaz de agir com responsabilidade. Bom, as palavras que saíram da minha boca há alguns minutos deram a ele a certeza de que eu realmente não posso ser exatamente o modelo de filho e de príncipe herdeiro. Depois de ter surpreendido a todos com o aviso de que não haveria casamento, em vez de me sentir chocado com a coragem que tive para fazer o que deveria ter feito há muito tempo, só consegui ficar preocupado com a minha pequena Elena. Eu só conseguia pensar na garota que estava parada perto da porta, segurando uma bandeja com taças de vinho. Ninguém tinha visto ela, nem mesm