A sala da ala de psiquiatria era toda em tom de cinza escuro. Havia uma prateleira cheia de livros do topo até o chão, algumas fotos de paisagens espalhadas por todo o canto e uma janela enorme que dava de frente para um prédio imenso.
O céu, naquele dia, estava nublado e algumas gotículas tentavam atravessar o vidro, junto com o vento de outono. Algumas folhas alaranjadas caíam das árvores, enquanto relâmpagos explodiam entre as nuvens.
A mente de Rhea D'onson viajava diante a tudo aquilo, tanto que ela nem sequer notou a porta se abrindo. Logo, uma mulher de cabelos loiros escuros sentou em frente a ela, com uma xícara de café em uma mão e uma prancheta cheia de papéis na outra :
- Por que eu estou com a camisa de força? Eles acham que eu posso te machucar?
- Não, senhorita D'onson. Creio que isso seja para a sua proteção..
- Pare com essa formalidade, não precisa me chamar de senhorita D'onson. Meu nome é Rhea!
- Como quiser, Rhea! - Respondeu a loura - Eu sou Dona, Donatella Str..
- Striker!
- Como sabe o meu nome?
- Eu sei de muitas coisas sobre você, Dona.
- Como?
- Daqui a alguns, vamos ser grandes amigas. Pois, depois de me conhecer você vai tentar descobrir a causa da minha doença. Você vai chama-la de "Expansão cerebral"
- E o que isso quer dizer?
- A capacidade de usar uma parte maior do cérebro, a parte que nenhum ser humano usa. Pra ser específica, usar a parte que consegue reviver, fisicamente, qualquer memória. - Respondeu Rhea - Em outras palavras..
- Viajar no tempo! - Exclamou Donatella, um tanto eufórica. - Isso é.. é impossível.
- Você ta achando que eu sou louca também, não é
- Não acho! Alguns monges no Tibet meditam durante uma grande parcela de suas vidas. Na tentativa de conseguirem usar 100% do cérebro. - Respondeu Dona - Alguns conseguem até mesmo levitar..
- Não imagina o quanto esses monges se gabam por isso. - Brincou Rhea, sorrindo para a psiquiatra.
- Então, por que não me conta como tudo aconteceu?
- Tudo o que? - Perguntou Rhea.
- Quando percebeu que você podia voltar ao tempo.
- E o que eu vou conseguir com isso?
- Eu não sei, senhorita D'onson
- Você me tira dessa camisa de força?
- Se conseguir me convencer... Talvez você saia por aquela porta sem estar amarrada. - respondeu a psiquiatra.
- O ano era 1996, eu tinha 6 anos de idade na época...
Era primavera e estava ensolarado, a vizinhança em Memphis era calma. O carro do sorveteiro tinha acabado de passar e eu havia comprado um picolé de uva. Quando terminei de chupa-lo, decidi pegar minha velha bicicleta roxa e sair pelo bairro correndo com ela.
O ar fresco esvoaçante batia no meu rosto,enquanto eu subia a rua de cima rumo ao parque. Atrás dele tinha um pequeno bosque por onde eu sempre gostei de andar, pois havia muitas árvores e um campo cheio de girassóis.
Naquele dia eu subi até o ponto mais alto do bosque com a minha velha bicicleta. E de lá dava para ver todo o meu bairro. Então, fechei os olhos e respirei o mais fundo que consegui e dei um enorme impulso, descendo todo o bosque o mais rápido que consegui. Desci tão rápido que nem notei uma árvore enorme que estava em minha frente.
Quando percebi que iria bater , tentei desviar e bati na árvore ao lado. Com o impacto, muitos galhos se partiram e caíram em cima de mim. Dentre eles, uma coméia de abelhas caiu ao meu lado e eu fui picada por centenas e centenas de abelhas.
Eu sabia que iria morrer, a dor era tanta que eu já estava anestesiada. Eu sentia o veneno das abelhas entrando na minha corrente sanguínea, minha boca estava amarga e minhas vistas estavam ficando turvas.
Não demorou muito para que o veneno atingisse a minha traqueia, e logo respirar começou a ser um problema. Eu tinha que aceitar a minha morte, era a única coisa que eu poderia fazer naquele momento.
Eu era só uma garotinha, que mal começou a viver a vida, mas eu sabia que aquilo era o meu fim. Fechei os olhos e esperei meu coração parar de bater, eu estava com medo.
Foi aí então, que nos meus últimos sopros de vida, senti um formigamento que começava na cabeça e depois passou para o resto do corpo, depois senti um som estrondoso e uma forte dor de cabeça que só durou alguns segundos.
Quando abri os olhos, eu estava novamente no ponto mais alto do bosque. Sentada em cima da minha bicicleta roxa. Até hoje eu lembro daquela sensação de morte.
- Você contou para alguém sobre aquilo? - Perguntou Donatella, enquanto anotava tudo em seus documentos.
- Quando contei aos meus pais, eles acharam que eu era esquizofrênica. E começaram a me levar para todos os psicólogos do pais. Eles só pioraram tudo.
- Isso durou muito tempo?
- Só alguns anos! - Respondeu Rhea - Quando fiz 14 anos meus pais morreram e eu acabei indo morar em Washington. Não faz tanto tempo.
- E o que te trouxe a San Francisco?
- Melanie Crosby.
Capítulo 119 de setembro de 2008:Bohemian Bourbon é um bar exageradamente descolado das ruas da famosa Washington, as noites da grande cidade sempre terminavam ou começavam ali, naquele bar, todo revestido com guitarras, uma cabeça de javali grudada na parede, luzes de neon vermelhas e roxas, e um rap monstruoso com a voz do Kanye West saindo das caixas de som.Rhea D'onson havia descoberto aquele lugar por acaso, em uma das vezes em que esteve em brigas envolvendo dinheiro, seu refúgio foi correr para dentro do bar e se esconder em baixo do balcão, enquanto Ricki, o apostador, procurava ela com uma arma em sua mão.- Saia daí, sua ladra! - Ele gritava, v
Capítulo doisO celular tocava freneticamente em cima da escrivaninha, ao lado da cama de Rhea. Por azar de quem estava ligando, ela tinha o sono pesado. Não acordava nem que estivesse acontecendo um terremoto.Mike, seu irmão mais velho, ao contrário dela, acordava por qualquer motivo. Qualquer um, mesmo. Ele que já estava acordado fazia algumas horas, ouviu o celular da irmã tocar e foi ver quem era.Ele entrou sorrateiro e pegou o iphone de Rhea e o atendeu, enquanto fechava a porta do quarto:-Alô? Aqui é Mike D'onson falando.- Senhor D'onson, aqui é Jake Preston, advogado da senhorita Crosby!<
Capítulo trêsDesde criança, Rhea sonhava em ter uma família. Ter filhos, um casamento estável e feliz, e acima de tudo, ela sonhava em ter uma casa confortável.A pequena Rhea D'onson, sempre passava horas e horas imaginando o seu futuro perfeito. Sua casa dos sonhos e sua esposa linda e amável.Ela imaginava, nos mínimos detalhes, uma casa grande. Com o chão e o teto todo revestido de madeira, uma lareira para o inverno, uma piscina não tão grande para as crianças ( ou criança) e por último, mas não menos importante : Uma biblioteca particular.Com a ajuda de Melanie, aquilo tudo foi possível. E ela conseguiu realizar tudo
Capítulo quatroNa privacidade de seu quarto, todo revestido com um papel de parede azul escuro, Rhea escrevia alguns lembretes antes de voltar ao tempo. Algumas coisas a quais ela fez errado da primeira vez e que em hipótese alguma, poderia fazer novamente.Algumas anotações eram tão doloridas que ela mal conseguia conter as lágrimas ao se lembrar de tudo aquilo! - Não posso errar de novo! - Disse Rhea,em voz alta.Com os pensamentos em sua cabeça, ela foi até a janela para dar uma olhada no céu e nas estrelas. De certa forma, ela estava com medo mas pelo o outro lado, a sensação de que ela poderia consertar tudo, lhe alegrava.Mike, seu irm&
Rhea tentava se lembrar dos mínimos detalhes enquanto dirigia sua Harley com Melanie na garupa,tudo deveria ser perfeito e não haver um misero erro sequer. Ou tudo poderia ir para os ares.Já Melanie, ela estava curtindo cada segundo abraçada com aquela garota tão incontrolávelmente atraente e misteriosa. Apesar de ter uma sensação estranha em seu peito, tudo o que ela queria era que aquela noite fosse memorável. Rolasse um beijo ou algo assim :- ESSA É A VELOCIDADE MÁXIMA QUE ESSA MOTO FAZ? - gritou Melanie, perto do ouvido de Rhea. A motoqueira sorriu, enquanto acelerava gradativamente.- TEM CERTEZA DE QUE VOCÊ QUER QUE EU CORRA?- ME SURPREENDA, D'
No banheiro, abraçada com a privada enquanto tentava vomitar para ver se aquele enjôo todo passasse, Rhea ainda se perguntava quem era aquele garoto estranho que à observava do sofá. Como ele poderia saber o que aconteceu?Ao dar descarga e escovar os dentes, para tirar aquele gosto amargo da boca, a motoqueira sentou no sofá ao lado e tentou se lembrar ao máximo, afim de descobrir alguma coisa. Algo à intrigava. Nada fazia algum sentido para ela:- Posso perguntar? Como você sabe o que aconteceu comigo? - Perguntou Rhea, ao garoto.- É um pouco complexo... Mas para resumir, Striker me mandou atrás de você.- Donatella te mandou? O que? Mas como ela poderia.. Vo
As sirenes ecoavam por todo o lugar, um barulho irritante de pessoas gritando e correndo para lá e para cá. Um fugitivo estava em fuga pelos canos do esgoto da maior prisão de Hong Kong :- PEGUEM ELE! - Gritava um dos guardas da prisão, enquanto os outros se apressavam para ocupar todas as saídas possíveis.- VOCÊ NÃO VAI CONSEGUIR ESCAPAR!E eles estavam certos, era impossível escapar! Tudo estava ocupado, e as saídas ocupadas por guardas altamente armados até os dentes, pois a prisão era de segurança máxima :- Ora, Ora, Ora! - Disse o chefe de segurança, ao perceber que o fugitivo não tinha mais escapatória. - Parece que você não tem para onde ir!
A única coisa que Bear sabia sobre San Francisco, era a famosa ponte da cidade. Então, foi nela que ele se concentrou e apareceu reluzente, como um clarão. Caindo no meio dos carros que buzinavam, enquanto se desviavam dele.Ao avistar um táxi, Bear fez sinal para que ele parasse, meio que se jogando em sua frente.O rapaz mexicano que dirigia, começou à xinga-lo em sua língua natal, o que Bear não fez nem questão de saber do que se tratava.O mesmo entrou pela porta de trás, e por um segundo esqueceu que estava na América e falou com o motorista em chinês :- Me desculpe, eu não falo sua língua! -Disse o mexicano em inglês.- M