A filha do tempo 1 - A queda de Gazu
A filha do tempo 1 - A queda de Gazu
Por: Lorenna Liwz
Piloto

A sala da ala de psiquiatria era toda em tom de cinza escuro. Havia uma prateleira cheia de livros do topo até o chão, algumas fotos de paisagens espalhadas por todo o canto e uma janela enorme que dava de frente para um prédio imenso.

O céu, naquele dia, estava nublado e algumas gotículas tentavam atravessar o vidro, junto com o vento de outono. Algumas folhas alaranjadas caíam das árvores, enquanto relâmpagos explodiam entre as nuvens.

A mente de Rhea D'onson viajava diante a tudo aquilo, tanto que ela nem sequer notou a porta se abrindo. Logo, uma mulher de cabelos loiros escuros sentou em frente a ela, com uma xícara de café em uma mão e uma prancheta cheia de papéis na outra :

- Por que eu estou com a camisa de força? Eles acham que eu posso te machucar?

- Não, senhorita D'onson. Creio que isso seja para a sua proteção..

- Pare com essa formalidade, não precisa me chamar de senhorita D'onson. Meu nome é Rhea!

- Como quiser, Rhea! - Respondeu a loura - Eu sou Dona, Donatella Str..

- Striker!

- Como sabe o meu nome?

- Eu sei de muitas coisas sobre você, Dona.

- Como?

- Daqui a alguns, vamos ser grandes amigas. Pois, depois de me conhecer você vai tentar descobrir a causa da minha doença. Você vai chama-la de "Expansão cerebral"

- E o que isso quer dizer?

- A capacidade de usar uma parte maior do cérebro, a parte que nenhum ser humano usa. Pra ser específica, usar a parte que consegue reviver, fisicamente, qualquer memória. - Respondeu Rhea - Em outras palavras..

- Viajar no tempo! - Exclamou Donatella, um tanto eufórica. - Isso é.. é impossível.

- Você ta achando que eu sou louca também, não é

- Não acho! Alguns monges no Tibet meditam durante uma grande parcela de suas vidas. Na tentativa de conseguirem usar 100% do cérebro. - Respondeu Dona - Alguns conseguem até mesmo levitar..

- Não imagina o quanto esses monges se gabam por isso. - Brincou Rhea, sorrindo para a psiquiatra.

- Então, por que não me conta como tudo aconteceu?

- Tudo o que? - Perguntou Rhea.

- Quando percebeu que você podia voltar ao tempo.

- E o que eu vou conseguir com isso?

- Eu não sei, senhorita D'onson

- Você me tira dessa camisa de força?

- Se conseguir me convencer... Talvez você saia por aquela porta sem estar amarrada. - respondeu a psiquiatra.

- O ano era 1996, eu tinha 6 anos de idade na época...

Era primavera e estava ensolarado, a vizinhança em Memphis era calma. O carro do sorveteiro tinha acabado de passar e eu havia comprado um picolé de uva. Quando terminei de chupa-lo, decidi pegar minha velha bicicleta roxa e sair pelo bairro correndo com ela.

O ar fresco esvoaçante batia no meu rosto,enquanto eu subia a rua de cima rumo ao parque. Atrás dele tinha um pequeno bosque por onde eu sempre gostei de andar, pois havia muitas árvores e um campo cheio de girassóis.

Naquele dia eu subi até o ponto mais alto do bosque com a minha velha bicicleta. E de lá dava para ver todo o meu bairro. Então, fechei os olhos e respirei o mais fundo que consegui e dei um enorme impulso, descendo todo o bosque o mais rápido que consegui. Desci tão rápido que nem notei uma árvore enorme que estava em minha frente.

Quando percebi que iria bater , tentei desviar e bati na árvore ao lado. Com o impacto, muitos galhos se partiram e caíram em cima de mim. Dentre eles, uma coméia de abelhas caiu ao meu lado e eu fui picada por centenas e centenas de abelhas.

Eu sabia que iria morrer, a dor era tanta que eu já estava anestesiada. Eu sentia o veneno das abelhas entrando na minha corrente sanguínea, minha boca estava amarga e minhas vistas estavam ficando turvas.

Não demorou muito para que o veneno atingisse a minha traqueia, e logo respirar começou a ser um problema. Eu tinha que aceitar a minha morte, era a única coisa que eu poderia fazer naquele momento.

Eu era só uma garotinha, que mal começou a viver a vida, mas eu sabia que aquilo era o meu fim. Fechei os olhos e esperei meu coração parar de bater, eu estava com medo.

Foi aí então, que nos meus últimos sopros de vida, senti um formigamento que começava na cabeça e depois passou para o resto do corpo, depois senti um som estrondoso e uma forte dor de cabeça que só durou alguns segundos.

Quando abri os olhos, eu estava novamente no ponto mais alto do bosque. Sentada em cima da minha bicicleta roxa. Até hoje eu lembro daquela sensação de morte.

- Você contou para alguém sobre aquilo? - Perguntou Donatella, enquanto anotava tudo em seus documentos.

- Quando contei aos meus pais, eles acharam que eu era esquizofrênica. E começaram a me levar para todos os psicólogos do pais. Eles só pioraram tudo.

- Isso durou muito tempo?

- Só alguns anos! - Respondeu Rhea - Quando fiz 14 anos meus pais morreram e eu acabei indo morar em Washington. Não faz tanto tempo.

- E o que te trouxe a San Francisco?

- Melanie Crosby.

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